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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 8 de dezembro de 2012

A nova igreja


Uma comissão composta pelos srs. Waldemar Marques (presidente), Jorge Salomão (vice-presidente), Alfie Lopes (secretário) e José Batista da Costa (tesoureiro), foi formada em 04 de outubro de 1966, para cuidar dos meios da edificação de uma nova igreja. A bênção da pedra fundamental, pelo bispo Dom Delfim, ocorreu a 09 de setembro de 1968.

Teve assim início a construção em estilo moderno, ladeando a velha, barroca. Pesquisadores já deram maiores detalhes acerca deste triste episódio e não carece repeti-los. A sólida construção veio abaixo e fora daqui repercutiu-se a notícia da demolição. A Comissão Promotora das Comemorações do Centenário da Guerra da Tríplice Aliança, oficiou à sede diocesana rogando não se destruir o templo antigo. Respondeu o bispo [1]:

São João del-Rei, 8 de junho de 1966
Exmo.Sr. General Dióscoro Gonçalvez Vale
DD. Comandante da ID / 4
Belo Horizonte

L.J.C. et M.
Recebi, com o maior aprêço, o veemente apêlo no sentido de obstar a planejada demolição da igreja de Bom Jesus de Matozinhos, desta cidade, apresentado por V. Exa. em nome da Comissão Promotora das comemorações do centenário da Guerra da Tríplice Aliança, que vem, num elogiável programa de civismo, propugnando por medidas que representam a defesa do que é patrimônio de todos nós brasileiros. Na oportunidade, informo a V.Exa. que o referido assunto está sendo estudado e, que, logo que se tenha uma decisão, comunicarei a V. Exa. Esperando em Deus, que tudo seja resolvido satisfatoriamente, apresento a V. Exa. os protestos de alta estima e profunda consideração, subescrevendo-me, de V. Exa. servo em J.C. Delfim Ribeiro Guedes - Bispo de São João del-Rei.

            A intervenção do general se baseava num fato histórico e militar. A mesma fonte informa:

São João del-Rei foi dos municípios que mais concorreram com voluntários [para a Guerra do Paraguai]. Aquela comuna não se limitou a mandar seus filhos para a campanha. Recebia festivamente e tratava muito bem as companhias de voluntários que por ali passavam, como se deu, por exemplo, com as do Sul de Minas, que se destinavam a Uberaba. Interessante é que existe em São João del-Rei (embora haja o propósito de demoli-la) uma igreja histórica, a do Bom Jesus de Matosinhos. (...) os grupos de voluntários de São João del-Rei ali assistiam à missa, antes da partida. Os grupos de voluntários de Passos e de outros lugares que por São João passavam, pernoitavam na igreja e, no dia seguinte, ali mesmo assistiam à missa, antes de continuar a marcha.

            Um dos pretextos é que estava ruindo, baseado no mau estado do telhado, ao qual bastava uma reforma. A imprensa divulgou que o telhado da sacristia tinha caído [2]. Nenhuma providência foi tomada para corrigir o problema. Publicou-se (e era voz corrente), que a igreja não era tombada pelo patrimônio [3]: “esta afirmação pode ser comprovada pelo telegrama recebido pelo Padre Jacinto, pároco daquela região, telegrama este mandado pelo diretor do Patrimônio Histórico Nacional, sr. Rodrigo de Melo Andrade”.

O próprio pároco afirmava a falta de tombamento da igreja, como se pode averiguar por seu próprio depoimento num documentário acerca da devoção ao Bom Jesus [4].

Em não sendo tombada uma igreja, a intervenção ou demolição compete unicamente à decisão do clero; mas no caso de ser, depende de autorização legal dos órgãos competentes. Ocorre porém que a igreja era tombada pelo patrimônio, através do processo nº 68-38 do SPHAN, inscrito no Livro de Tombo de Belas Artes, v.1, folha 2, de 04/03/1938. 

            A conclusão da obra durou alguns anos. Em 1977 estava quase pronta [5]:

Padre Jacinto Lovatto Filho, pároco de Matosinhos, vem supervisionando os últimos trabalhos de acabamento da grandiosa igreja do Bom Jesus, daquele bairro, que teve a sua construção iniciada no dia 4 de outubro de 1965, Dia de São Francisco. A nova igreja, com 1.420 m2 de área construída, em forma de cruz, está recebendo agora a parte de mármore em todas as paredes. O altar está centralizado na cruz, sendo que na parte do fundo se encontra o símbolo da Santíssima Trindade e um globo com a imagem de Bom Jesus abençoando-o.Vitrais laterais são em número de vinte e oito, com vidros importados da Bélgica, adquiridos há alguns anos. O piso do corpo do templo será revestido em paviflex. Padre Jacinto reuniu os recursos financeiros para a construção da Igreja com a ajuda dos fiéis da paróquia, que pagam uma mensalidade e, principalmente, das festas ali realizadas periodicamente. Para administrar a execução da obra, foi constituída uma comissão de construção da igreja composta por: Presidente – Waldemar Marques; Vice-presidente – Jorge Salomão; Secretário – Antônio Silveira e Tesoureiro – Pe. Jacinto Lovato.

            A bênção na nova igreja foi dada em 01 de janeiro de 1980. A placa comemorativa, afixada na fachada da igreja, à esquerda de quem entra, diz:

Casa de Deus – Porta do Céu – Gên. XXVIII, 17 Esta igreja matriz do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, hoje consagrada e inaugurada, foi construída no período de 04-10-1965 a 31-12-1979, pela inspiração e direção do pároco, cônego JACINTO LOVATTO FILHO, com a ajuda da generosidade do povo desta cidade, especialmente deste bairro. A comunidade agradece a Deus pela preciosa dádiva. São João del Rey, 01/01/1980.

A história prossegue. Deu esse padre um novo impulso às festividades jubilares do padroeiro. Ao seu tempo tornaram-se famosíssimas na cidade as “Barraquinhas de Matosinhos”, assim apelidadas as quermesses desse jubileu. Quem as alcançou, como este autor, não exita em testemunhar sua excelência. Mesmo assim estiveram sumidas da imprensa. Uma pequena notícia surge nos anos setenta [6]:

Muito animada a festa do senhor Bom Jesus de Matozinhos, que teve início dia 27 de agosto e vai até o dia 14 de setembro. As barraquinhas tem estado todos os dias muito movimentadas, e a novena, que se iniciou domingo, contou com grande número de fiéis. A procissão solene dar-se-á dia 14, às 16:30 horas, percorrendo as principais ruas do bairro.

            Eis portanto que o cônego Jacinto Lovatto Filho [7], legou para Matosinhos obras importantes e contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento social do bairro. É fácil constatar isso da boca dos fiéis que vivenciaram seu trabalho. Seu paroquiato tinha tudo para ser excelente, mas com lástima há de se considerar que foi maculado de forma indelével, pelas desnecessárias demolições [8]. Esse fato, que nunca será demais repetir para a posteridade, recai como uma sombra sobre a história da cidade e servirá de admoestação contínua, para a defesa do nosso patrimônio, como serviram outrossim, o desaparecimento do Aqueduto dos Arcos, do Pavilhão de Matosinhos, dos inúmeros casarões que se foram, da primitiva fonte luminosa da Avenida Presidente Tancredo Neves, da Ponte da Misericórdia, dentre outros tristes exemplos.
            Após esse pároco atuaram os seguintes sacerdotes nessa matriz:

-          padre Adelmo José da Silva (pároco – desde 05/01/1986);
-          padre João Rodrigues de Paula (vigário paroquial);
-          frei Jordano Noordermeer (vigário cooperador);
-          padre Sílvio Firmo do Nascimento (vigário paroquial);
-          padre Delçon José de Oliveira (administrador paroquial – desde março/abril de 1989);
-          padre Pedro Teixeira Pereira (pároco solidário, jan.–jun./1991) [9];
-          padre Lourival de Salvo Rios (vigário paroquial).

            Em 1985 é criada a paróquia de São Sebastião, sediada na igreja desse mártir em Santa Cruz de Minas. Com isto, um imenso território é desvinculado definitivamente de Matosinhos. A nova paróquia abrangia toda Santa Cruz de Minas, as colônias do Marçal e Giarola, além de César de Pina e Águas Santas [10].

          As festas de Matosinhos embora com melhorias religiosas, inclusive por exemplo o surgimento das comemorações da Semana Santa e São Cristóvão, continuavam desaparecidas da imprensa. Uma notícia isolada surge em 1987, sob o título “A grande Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matozinhos” [11]:

A paróquia do Senhor Bom Jesus de Matozinhos está em festas realizando o jubileu do seu padroeiro. A novena dará início dia 05/09 às 18:30 hs e irá até o dia 13/09. Haverá a celebração da exaltação a Santa Cruz e missas de hora em hora a partir das 6 horas e finalizará com uma grande procissão às 16 horas. Após o término desta haverá bênção e distribuição da sagrada eucaristia. Já estão funcionando no adro da igreja matriz as tradicionais barraquinhas. A novena contará com a participação de vários padres da Diocese sob a coordenação do pároco Padre Adelmo José da Silva e a colaboração carinhosa de Frei Jordano e Pe. João Rodrigues. No que diz respeito à parte administrativa, está sendo reformada a casa paroquial e anexo está um escritório, onde se desenvolverá um trabalho de pároco a nível pessoal com os paroquianos. Também está sendo construída no Bairro da Vila Santa Terezinha, uma funcional e aconchegante igreja, já que a capela antiga se encontrava em estado precário e não atendia às necessidades dos moradores do bairro. Do ponto de vista pastoral induz o leigo a se conscientizar de que ele é uma peça importante na formação da unidade cristã e renovada. O jovem vigário (sic), Padre Adelmo José da Silva, ordenou-se no dia 07/05/1985 e tomou posse na paróquia no dia 05/01/1986. A sua dedicação e carinho, conquistou a todos os paroquianos neste pouco espaço de tempo em que ele está à frente da maior paróquia da Diocese; paróquia esta que conserva suas tradições mas que sob a orientação do jovem pastor, se renova de uma forma moderada, vencendo as dificuldades sendo ele acima de tudo uma luz e guia para o seu rebanho. Ao Padre Adelmo e seus auxiliares, os nossos agradecimentos e que o Sr. Bom Jesus e a Virgem da Piedade os protejam sempre. Raimundo Correa - Presidente

            Estava próximo do fim mais uma fase da vida paroquial.

* Ulisses Passarelli


[1] - In: Revista de História e Arte. Belo Horizonte: Instituto de História, Letras e Arte, l966. Ano 3, n. 7.
[2] - Estado de Minas, 28/02/1970.
[3] - Jornal de Minas, n.11, 12/09/1969.
[4] - Devoção ao Sr. Bom Jesus de Matosinhos, São João del-Rei, WM Filmagens, 2004. (DVD).
[5] - Tribuna Sanjoanense, n.190, 09/09/1977.
[6] - O Raio, n. 235, 08/09/1976.
[7] - Faleceu em 25/07/2004. Sepultado no dia seguinte, no Cemitério das Mercês. Sobre seus dados biográficos básicos ver o livro de José Cláudio Henriques.
[8] - Ao seu tempo foram demolidas também as capelas primitivas da Colônia do Marçal (N.S.da Conceição) e Santa Cruz de Minas (S.Sebastião) e edificaram-se os templos atuais. Sobre a do Marçal sabe-se que sua construção foi longuíssima e somente em 2002 ganhou a pintura externa e em 2003 o calçamento do adro com bloquetes. Em agosto/2004, iniciou-se a construção da torre. Sua bênção deu-se em 08/12/2005, quando ficou pronta, graças aos esforços do seu primeiro pároco, padre Antônio Claret Albino. No ano seguinte são construídos a cúpula e os dois medalhões externos com temas marianos. A criação desta paróquia em 1999 desvinculou da de Santa Cruz de Minas o território contido no núcleo colonial, César de Pina e Águas Santas. 
[9] - Atualmente este sacerdote ainda celebra em Matosinhos, todas as sextas-feiras, 15 horas.
[10] - Santa Cruz de Minas pertencia à paróquia de Santo Antônio, da cidade de Tiradentes, até a criação da paróquia de Matosinhos, quando então, passou para seu controle. Era na ocasião um arraial, com poucas casas ao redor da capela de São Sebastião, cuja pedra fundamental foi benta em 29/06/1937, pelo padre José Bernardino da Silveira, que rezou ali a primeira missa (campal). O terreno para a construção foi doado pela prefeitura de Tiradentes. Fincou-se um cruzeiro no local, donde veio o nome do lugar. Só foi elevada a vila em 30/12/1962 (lei estadual nº 2.764). A emancipação política deu-se a 21/12/1995 (lei estadual nº 12.030). O município foi oficialmente instalado a 01/01/1997, sendo primeiro prefeito o sr. José Antônio dos Santos, que exerceu dois mandatos consecutivos. O primeiro pároco foi o padre Claudir de Possa Trindade, em 1985. Substituiu-lhe o padre Antônio Claret Albino, em 1997 e a este o padre Pedro de Jesus Wiermann, em 1999. Em 1990 estava em construção a capela do Sagrado Coração de Jesus, na COHAB, na mesma jurisdição eclesiástica.
[11] - Tribuna Sanjoanense,  n. 542, 21/08/1987.

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