As duas devoções mais expressivas do grande bairro de Matosinhos, em São João del-Rei/MG, são ao padroeiro Bom Jesus de Matosinhos e ao Divino Espírito Santo e já serviram de motivo inspirador para alguns estudos [1]. Um dos maiores conhecedores de nossa cultura, o competente pianista sr. Abgar Tirado [2], em texto alusivo às tradições religiosas do nosso centro histórico, abriu um parágrafo para lembrar que ...
"Em outro contexto, são também de respeitável tradição, além de outras, as festas religiosas do bairro de Matosinhos, especificamente a Festa do Divino Espírito Santo e a do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, ambas mais que bicentenárias e celebradas com grande brilho."
De fato outras devoções merecem seu festejo ao longo do ano. São mais recentes, datadas da segunda metade do século XX, como as da Semana Santa (anos sessenta), de São Cristóvão (fins dos anos setenta), do Menino Jesus de Praga (começo de década de oitenta) e várias dos anos noventa em diante. Essas festas possuem uma estrutura muito parecida entre si. Bandas de música surgem eventualmente, quando os festeiros conseguem uma. Poucas tem características folclóricas. A maioria tem pequeno porte.
Ainda há aquelas que não têm festa própria. Contudo tem seus fiéis e seu valor histórico-religioso.
Eis a listagem comentada em rápida revista, por ordem alfabética.
Padroeiro da comunidade de igual nome, localizada no Bom Pastor de Cima (ou seja, à esquerda da Avenida Josué de Queiroz, sentido Matosinhos – Trevo do Elói). Festejado em abril. No programa de 1999 constou: às 19 horas, missa ou celebração da palavra, comunhão, reflexão do tema. Isso no decurso do tríduo preparatório. No dia maior, 25 de abril, houve procissão com a imagem do Bom Pastor às 18 horas, seguida de missa festiva, barraquinhas e leilão.
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Aspecto do amplo espaço ao longo da Rua Jornalista José Beline dos Santos
onde estão o cruzeiro luminoso, a estátua do Bom Pastor e a Gruta de Nossa Senhora Aparecida,
locais de atividades comunitárias. 12/01/2014. |
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Vista da estátua de Jesus, o Bom Pastor, de cimento. 12/01/2014. |
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Aspecto do interior da Gruta de Nossa Senhora Aparecida. 12/01/2014. |
2- Cristo Rei
Padroeiro da comunidade homônima, situada no Bom Pastor de Baixo (direita da Avenida Josué de Queiroz, sentido Matosinhos – Trevo do Elói). Festejado em novembro na comunidade, centrado o festejo na Escola Municipal Pipocas de Mel (atual Bom Pastor). Conforme programa de 1998, obedecendo ao tema proposto, houve tríduo preparatório com um sub-tema para cada dia, com orações próprias e missas. No dia maior, 22 de novembro, às 18 horas houve procissão com a imagem de Cristo Rei, seguida de missa festiva. Encerrou-se com movimento de barraquinhas.
Igreja de Cristo Rei, em construção no Bom Pastor de Baixo.
02/06/2016 (esquerda) e 05/01/2017 (centro e direita)
3- Menino Jesus de Praga
Padroeiro da comunidade Pio XII, no bairro de mesmo nome, limite sul do Grande Matosinhos, que sob a coordenação do estimado Imperador Paulo Zini, alcançou muitos avanços. Na sua festa em 2008, a Comissão Organizadora da Festa do Divino participou de um dia da novena e ao fim prestou justa homenagem ao referido sr. Paulo.
O Menino Jesus de Praga é festejado desde 1980, sempre em novembro. Consta de novena temática com celebrações diárias. Tem sua oração e hino próprios. No dia maior, alvorada e, pela tarde, missa e procissão com sua imagem. Realiza-se na sua capela própria. Há movimento de barraquinhas no salão ao fundo.
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Capela do Menino Jesus de Praga, Pio XII, Matosinhos, 2004. |
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Salão da Conferência do Menino Jesus de Praga, construído na frente e em contiguidade à capela da mesma invocação. Pio XII, Matosinhos. 02/06/2016. |
A história dessa invocação remonta aos tempos do Império Árabe, quando os mouros tinham domínio sobre a Península ibérica. Quem a narra é Nilza Megale :
"Almansor, califa de Córdoba, invadiu a Lusitânia, devastando os campos, destruindo a ferro e fogo vilas e cidades, martirizando os cristãos e profanando a clausura das casas religiosas. Após assolar as províncias entre o Minho e o Douro, o representante de Maomé dirigiu-se no ano de 983 para Quintela, atacando e destruindo o convento das freiras beneditinas de Aguiar da Beira, que foram aprisionadas e levadas em cativeiro. Algumas religiosas que conseguiram escapar esconderam em sombria lapa situada nas proximidades uma pequena imagem de Nossa Senhora. Séculos depois, em 1498, uma menina chamada Joana, muda de nascença, encontrou a imagem e a escondeu na cesta que trazia o pão e as maçarocas que fiava. Julgando ter achado uma boneca, com ela brincava vestindo-a e cobrindo-a de folhas silvestres. Nesse inocente passatempo foi surpreendida pela mãe, que irritada lançou ao fogo a santinha. Joana, recuperando milagrosamente a fala, protestou, retirando das chamas o objeto de seus desvelos, e contou como havia encontrado a linda efígie no fundo de uma gruta, na escarpada serra de Quintela. A mãe, atônita, sentiu que seu braço direito estava paralisado e só recuperou os movimentos quando ela e a filha foram à caverna e, colocando a imagem no antigo lugar, se prostraram de joelhos aos pés da Virgem, que daí em diante se tornou conhecida pelo título de Nossa Senhora da Lapa. Devido aos estupendos milagres ali realizados, mais tarde foi construída sobre as pedras da gruta um suntuoso templo, que até os nossos dias atrai a devoção dos povos circunvizinhos."
Consta que Joana era pastora. O rebanho de cabras e ovelhas de que tomava conta tinha por hábito pastar junto àquela gruta onde foi localizada a imagem. Seria de muito boa virtude e obediência aos pais .
A devoção a Nossa Senhora da Lapa foi trazida ao Brasil pelos portugueses, com maior destaque para Salvador/BA (Convento de N. S. da Lapa) e Rio de Janeiro / RJ (Igreja da Lapa do Desterro e Igreja da Lapa dos Mascates ou Mercadores).
Ao redor de São João del-Rei, além de sua presença em Matosinhos, existe uma capela de que é orago na zona rural de Lagoa Dourada, povoação do Olho d’Água, junto ao leito do “Caminho Novo” da Estrada Real. A autorização para a sua construção foi concedida pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Antônio de Guadalupe, por provisão episcopal de 07/06/1733.
A Virgem da Lapa, desde o começo dos festejos em Matosinhos, tinha seu dia próprio na terça-feira após Pentecostes. Sua festa era seqüencial à do Divino (Domingo de Pentecostes) e a do Bom Jesus de Matosinhos (segunda-feira). Seu desenvolvimento era como o dos demais dias, como se pode conferir facilmente pela consulta aos antigos jornais.
É uma das mais antigas devoções do bairro, posto que, segundo consta, sua imagem existe em Matosinhos desde 1773, patrimônio doado pelo vigário Padre Dr. Matias Antônio Salgado.
Tudo leva a crer que a imagem seja portuguesa. A iconografia é a mesma de Nossa Senhora da Conceição. Diferencia-se apenas por não ter a lua debaixo dos pés, o que me parece ínfimo. Já vi imagens da Virgem da Conceição sem a lua e nem por isso chamadas Senhora da Lapa. Essa confusão não só me aflige como também a quase todos, tanto que por muitos anos do século XIX ao XX, a imagem de Matosinhos, foi chamada “Nossa Senhora da Conceição da Lapa”, nome considerado errôneo pelos estudiosos. Em 1923 aparece expressamente citada apenas como Nossa Senhora da Conceição, sem qualquer uso da palavra lapa . Parece-me antes, e seria de se pesquisar, que a imagem original portuguesa encontrada numa lapa (gruta, caverna, loca), seria iconograficamente uma Virgem da Conceição. Por ter sido encontrada numa lapa ganhou tal nome. Aqui no Brasil da mesma sorte, a imagem da Conceição achada no Rio Paraíba do Sul, ganhou o nome de “Aparecida” porque apareceu das águas; “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”, ganhando depois o manto característico. No mais, Nilza Megale, descreve a iconografia da Mãe da Lapa de alguns lugares que não é bem como a de Matosinhos. Seja como for, a nossa é a da Lapa, pelo menos no que se refere à tradição.
Sua peanha é maciça, cheia de rostos de anjos barrocos. A parte que representa Maria é oca (o que favorece o conjunto por diminuir o peso total). O panejamento é muito detalhado. A coroa antiga, em prata maciça, cinzelada e martelada, está hoje no acervo do Museu de Arte Sacra da cidade. A coroa que agora usa é de liga metálica (chumbo, antimônio, estanho), sendo banhada a prata. Após a restauração ganhou um par de brincos e as cores, dizem, estão mais intensas.
Em todos os antigos jornais que pude pesquisar ou em quaisquer outras fontes e documentos nem tampouco na tradição oral, jamais achei uma só referência, ou simples alusão, citação ou trecho que dê margem a qualquer interpretação, em que se possa afirmar com segurança, que essa imagem saía outrora em procissão nas festas. Se de fato saía em procissão não se registrou ou esse registro se perdeu ou não o localizei. Não sei muito menos de alguém que o tenha achado. Mas pode ser que se encontre com o decorrer das pesquisas.
Tantos detalhes foram dados sobre o assunto, supostamente desnecessários, para se registrar um fato: se a Comissão do Divino não pôs essa imagem no andor antes (desde 1998 quando a festa foi retomada) é tão somente porque não dispunha dela, pois estava em restauração e não porque preferira a do Rosário, desrespeitando a memória histórica da festa. Tão logo a imagem chegou, foi incluída nas comemorações. A do Rosário se tornou satélite, sem sair na procissão, senão acompanhando a retaguarda do cortejo imperial, unicamente por ser a padroeira dos congados, o que outrora não era necessário por possivelmente não haver congados na festa antiga. A presença do Rosário foi uma homenagem aos congadeiros e um meio deles se ambientarem à Festa do Divino, à qual não estavam habituados em nossa região antes do resgate.
Quando da reintrodução da imagem restaurada na festa, a Comissão do Divino se empenhou muito em trabalhar a divulgação dessa devoção que já estava apagada. Graças a um trabalho consciente e de paciência, bem fundamentado, foi resgatada uma devoção perdida. Nos jornais, entrevistas, até no boca-a-boca sua devoção foi se espalhando. Foram feitos santinhos, com sua imagem estampada, contendo no verso e folhas internas, sua história, hino e oração, esta escrita por mim. O hino foi gentilmente composto pelo professor Abgar Antônio Campos Tirado a pedido dos festeiros. Desde então, a cada ano, o imperador procede à sua coroação e alguns festeiros carregam o seu andor ao redor do altar, sob aplausos, palmas e vivas, enquanto o Coral Coroinhas de Dom Bosco, da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar executa o referido hino, acompanhado ao teclado por seu compositor.
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Nossa Senhora da Lapa. Fotografia: Murilo, Master Foto, 2004. |
5- Nossa Senhora de Fátima
Festejada em maio, no salão comunitário da Vila Nossa Senhora de Fátima, tendo por dia maior o décimo terceiro. Conta com a mesma estrutura das demais festas comunitárias.
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Salão de Nossa Senhora de Fátima, em Matosinhos. 12/01/2014. |
6- Santa Clara
Realizada em agosto no salão da Conferência de Santa Clara (fundada em 27/01/1974), desde os anos noventa. Conta com novena, celebração da palavra, reflexões sobre o tema. No dia maior, há procissão luminosa com sua imagem. Encerra-se com missa.
Com a criação da Paróquia de São Judas Tadeu, em outubro de 2009, a comunidade de Santa Clara passou para a sua jurisdição.
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Salão de Santa Clara. 13/04/2014. |
7- Santana
Foi na quarta-feira, subseqüente à terça da Lapa, que acrescentaram a sua festa. O ano de 1891 é o mais recuado que encontrei, com referência a esse dia extra.
Eis que, portanto, ele foi estabelecido com mais de um século de atraso em relação aos demais e assim não logrou êxito no gozo do mesmo grau de popularidade. Nunca foi uma festa consistente, persistindo irregular, à sombra do festejo principal.
Desconheço a razão exata da escolha dessa santa para esse dia. Seja qual for o motivo isso pouco importa porque já então o objetivo era ter mais um dia para os jogos. A santa era só um pretexto para haver mais um dia de festa, como facilmente se depreende da leitura dos jornais de época. Chega a ser referido num ano em que durante esse último dia a igreja nem chegou a abrir.
A palavra “Santana” é uma contração de Santa Ana, a mãe de Nossa Senhora, portanto, avó de Jesus Cristo. Era filha de Santa Emerenciana. Caso interessante, formando uma trindade feminina, como bem observou Pedro Paulo Correia em conversa a respeito que efetivamos a anos.
Santana casou-se com São Joaquim. Engravidou com idade avançada, quando já se deduzia sua infertilidade. É considerada padroeira das avós cristãs. A sua imagem em geral mostra uma senhora madura, por vezes idosa, tendo ao lado uma menina, a quem mostra um pergaminho, com ensinamentos religiosos. Algumas imagens a figuram sentada numa grande cadeira, dando-lhe um ar nobre. Dizem Santana Mestra, refletindo assim os ensinamentos do sagrado com que preparou sua filha.
É muito respeitada nas religiões afro-brasileiras em sincretismo com Nanã-burukê, a “Avó dos Orixás”. Sua cor votiva é o roxo e o lilás.
Na festa atual tem seu dia consagrado na quinta-feira antecedente a Pentecostes, quando sua bandeira branca, onde está estampada e adornada de rendas alvas e fitas roxas, faz a entrada destacada na missa.
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Bandeira de Santana. Acervo: CODIVINO (Comissão Organizadora da Festa do Divino), Matosinhos, São João del-Rei. Fotografia: Iago C.S. Passarelli, 04/06/2017. |
8- Santa Terezinha
Festejada em sua igreja, datando dos meados do século passado. Ocorre em outubro. Segue o mesmo esquema das demais, com novena temática, missas, procissão da santa e como característica ocorre a bênção das rosas.
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Igreja de Santa Terezinha,em Matosinhos. 12/01/2014. |
9- Santo Antônio
Comemorado a 13 de junho em dois pontos distintos da paróquia: Carvoeiro e Vila Santo Antônio.
Na comunidade do Carvoeiro tem sua capela própria, com animada festa. Conta com grande movimentação das famílias rurais, missa, procissão, bênção dos pães, leilão, barraquinhas e animação por músicos populares, tais como sanfoneiros e outros. A folia do bairro Bom Pastor comparece ininterruptamente desde 1999.
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Salão de Santo Antônio, inaugurado em 13/06/2001, com obras sob a direção
de Antônio Geraldo, conforme placa afixada sobre a porta. Foto: 13/04/2014. |
A outra festa ocorre na Vila Santo Antônio, desde 1992, inicialmente nas dependências da residência da família Serpa: o casal sr. José e sra. Guiomar e seu filho Antônio da Silva. São os verdadeiros baluartes desse evento, contando com a inestimável ajuda de vizinhos e amigos. Em 2001, com a inauguração do salão comunitário, na Rua Antônio Firmino dos Santos, a festa para lá se transferiu, continuando os Serpa a serem os principais organizadores. Justiça seja feita também, dentre outros, ao sr. Antônio Geraldo, notável batalhador da comunidade, e à sra. Maria Perpétua de Castro, empenhada coordenadora local. O andamento geral segue ao padrão das demais festas comunitárias, com características próprias da bênção dos pães, distribuição de pequeninas imagens de Santo Antônio (em metal fundido), levantamento de mastro. Sua procissão é concorrida e as ruas são bastante enfeitadas. A partir de 2005 incorporou mais uma atração com a presença do congado do bairro.
Co-festejado com São Sebastião (ver São Sebastião).
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Cartaz da Festa de São Sebastião e São Benedito na Avenida Santos Dumont, Matosinhos, 2017. Papel couché, 40 x 59cm. Fotografia: Ulisses Passarelli. |
Padroeiro dos motoristas. Festa iniciada no bairro em 1977, segundo se diz, tradição trazida da Igreja de São Gonçalo Garcia, onde há uma imagem sua. Contudo a festa prosseguiu naquela igreja, como prova esta nota do ano seguinte : “realiza-se no próximo dia 23, domingo, às 16 horas, na Igreja de São Gonçalo Garcia, missa em homenagem ao patrono dos motoristas, São Cristóvão. Após a missa será realizada a procissão”.
Os responsáveis iniciais dessa festa em Matosinhos faleceram, exceto o sr. Gilberto de Sousa, grande incentivador do evento. Outro grande festeiro foi o sr. Salim Eustáquio, dentre outros.
Saída do andor de São Cristóvão. 04/08/2013.
A festa mantém as características iniciais, contudo não há mais barraquinhas, nem a missa sobre uma carreta, estacionada num posto de combustíveis da BR-265. Nesse local existe a imagem de São Cristóvão, entronizada numa gruta artificial de pedras. Era usada na festa. Em 1990 passou a se adotar nova imagem, em madeira, confeccionada pelo artista sacro Osni Paiva.
A imagem segue em procissão após a missa, num andor em forma de carroceria de caminhão, montado sobre um reboque. A procissão motorizada conta com muitos carros de passeio, motocicletas, caminhonetes, peruas, caminhões – todos tocando buzina – pelas ruas principais da cidade. Um caminhão a guisa de abre-alas, segundo observação de julho de 2005, seguiu na dianteira, com uma cruz branca, de madeira, armada em pé na carroceria, ladeada da bandeira do Brasil por um lado e a da diocese por outro. Na saída há foguetório e toques festivos de sinos. Os devotos se amontoam sobre as carrocerias. Na esfuziante chegada ocorre a bênção das chaves dos veículos e coletam-se donativos. Segundo o citado sr. Gilberto, foi com essas coletas que compraram o órgão do santuário e as cadeiras do coro.
Procissão de São Cristóvão, 2004.
Festejado a partir de outubro de 2004, na Vila Jesus Silva, Comunidade São Geraldo, da Paróquia de Matosinhos. Realizou-se um tríduo preparatório, com pregações. No dia maior houve missa e procissão.
Padroeiro do Movimento Emaús. Sediada na matriz, festejou-se em 2002 e 2003 com características de uma festa junina convencional. Foi abolida. Continua uma festa junina em Matosinhos, totalmente profana, realizada na praça desde então com características não folclóricas.
Não tem festa própria.
Invocado para o alívio e cura de males do sistema urinário. Por isto sua imagem, em Matosinhos, traz a inscrição “contra dor de pedra”, ou seja, de pedras nos rins, cálculos renais.
Sua imagem de roca, presente na Igreja de Matosinhos é obra oitocentista, atribuída ao versátil artista são-joanense Joaquim Francisco de Assis Pereira (1813-1893), que além de santeiro, era também armador, pintor, prateiro e ourives, com diversas obras espalhadas pelas igrejas da cidade .
Imagem de São Libório após restauração.
Foto de Francisco José de Resende Frazão, 2011,
gentilmente ofertada pelo mesmo, a quem agradeço.
Matosinhos tradicionalmente só tinha uma festa anual: a que se realizava em Pentecostes e dias subsequentes. Contudo notícias esparsas, do começo do século XX, dão conta de uma Festa de São Sebastião, cujo porte e fama eram infinitamente menores que a supradita.
A imagem de São Sebastião já era citada no inventário de 1903 pelo tesoureiro, Miguel Arcanjo da Silva. Corre notícia oral que ela foi levada para a Igreja de Santa Terezinha na ocasião da construção da nova matriz.
Informações sobre essa festa são praticamente desconhecidas em sua fase antiga. Os jornais noticiam com freqüência a festa deste mártir que se realizava na Igreja do Pilar, à qual Matosinhos se filiava. Não se dava importância a uma festa secundária da capela do subúrbio. Contudo em 1910 surge a menção :
"Realiza-se a 2 de Fevereiro proximo, no poetico arraial de Mattosinhos, a festa que os devotos costumam promover alli em honra do Martyr São Sebastião. Ás 10 horas da manhã haverá missa com musica e á tarde procissão, sermão e solemne Te Deum. São Procuradores os srs. Samuel Gonçalves e Ovidio Silveira."
Outra referência, ora de 1912 :
"No pittoresco arrabalde de Mattosinhos foi á 4 do corrente festejado o glorioso Martyr São Sebastião, contando do seguinte os respectivos festejos: no dia 2 houve na capella o triduo que se realisou ás 7 horas da tarde; no dia 4 ás 11 horas houve missa com musica e ás 5 da tarde procissão do glorioso Santo, que percorreu o espaçoso largo do pittoresco arrabalde, havendo á entrada um sermão e em seguida Te Deum Laudamus. Após a missa e á tarde, depois de encerradas as solemnidades da egreja houve um leilão de prendas cujo producto foi applicado as festividades. Em todos os actos tocou a corporação musical RIBEIRO BASTOS. A concurrencia foi extraordinaria tendo sempre reinada a mais absoluta ordem. O serviço dos trens foi muito bem feito e não houve reclamação alguma."
"Realiza-se amanhã, a festa de São Sebastião, em Chagas Dória, na capella de senhor Bom Jesus de Mattosinhos. Conforme está annunciado no programma, haverá missa cantada ás 10 horas e à tarde procissão e leilão. Da parte musical se encarregou a orchestra Lyra S.Joannense."
"Proseguem hoje as festividades iniciadas hontem, em Mattosinhos, em honra a São Sebastião. Haverá missa solemne e, á noite, leilão de prendas. Tocará no coreto a banda do 11º Regimento."
Mais uma citação coetânea
:
"Estiveram animadas as festas de Mattosinhos em honra a São Sebastião. Houve missa cantada, procissão, leilão de prendas, etc. Embora tardias, mostrou o povo de Chaga Doria a sua fervorosa devoção e principalmente, o seu espirito religioso."
Não se realiza mais na matriz.
Atualmente com a formação da Comunidade São Sebastião, na Avenida Santos Dumont, em Matosinhos, este santo é aí festejado, no primeiro fim de semana após 20 de janeiro, nas dependências da quadra coberta Frei Jordano Noordermeer, junto ao campo de futebol do Siderúrgica F.C., desde o ano 2001. A partir do ano seguinte, São Benedito começa a ser co-festejado na mesma ocasião. Conta com tríduo. Reúne grupos folclóricos (folias de São Sebastião e catupés). Há missa inculturada, procissão e levantamento de mastros (São Sebastião e São Benedito). Em 2012 esta festa foi transferida para abril.
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Aspecto da Novena Perpétua de São Peregrino. Santuário do Sr.Bom Jesus de Matosinhos. Foto: Iago C.S. Passarelli, 18/02/2014. |
20- Nossa Senhora Rainha da Paz
Festejada com intensa programação e grande concorrência popular na comunidade do Lombão. Sua festa comporta vários shows. Em 2013 foi construída uma igreja a ela consagrada, a partir da ampliação de um salão comunitário, na esquina das ruas Pedro Farnese e Isabel Zacarias de Paiva.
Vistas da Igreja de Nossa Senhora Rainha da Paz. 05/01/2017.
* Texto e fotografias (exceto nos casos de indicação contrária na legenda): Ulisses Passarelli
- MENEZES, Giane de Carvalho.
Congada e moçambique em Piedade do Rio Grande: passos da folia e da fé. Volta Redonda: [s.n.], 2008. 84p.il. (com um capítulo dedicado ao Jubileu do Divino são-joanense)
SILVA, Marcelo Geraldo da. A Festa do Divino como atrativo turístico de São João del-Rei. São João del-Rei: IPTAN – Faculdade de Turismo, 2005. Monografia.
TEIXEIRA, José do Nascimento. Festa do Divino como bem da cultura imaterial. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 2006. Tese. Pós-graduação em Gestão Empresarial. (parte do conteúdo adaptado para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n. 12, 2007, sob o título “Festa do Divino Espírito Santo em São João del-Rei”).
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A Opinião, n. 128, 11/02/1912.
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A Bigorna, n.1, 08/03/1923.
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