Aconteceu este final de semana em Aparecida / SP (13 e 14 de janeiro) a 15ª edição do Encontro Nacional de Companhias de Reis. Mesmo sendo totalmente fora da área geográfica focada por este blog, o assunto mereceu atenção em razão do crescente interesse participativo de folias do Campo das Vertentes.
O evento tem elevado potencial para ampliar o seu desenvolvimento e o interesse turístico, como aconteceu com a Festa de São Benedito (em abril), naquela cidade do Vale do Paraíba (*).
Já o encontro de folias é relativamente recente; contudo, é tradicional a visita das folias de diversas regiões a Aparecida, de forma aleatória em outras épocas do ano. O encontro congrega esta atividade espontânea e dá-lhe impulso. O presente texto não objetiva descrever a festa como faz este blog de costume acerca dos eventos que comenta. A tônica é outra: é indispensável pontuar que no encontro de Aparecida os foliões de Santos Reis são legitimamente romeiros; não é um encontro como os outros. As companhias reiseiras empreendem a viagem que é esperada e planejada o ano todo, atravessando o sul mineiro e as gargantas escarpadas da Mantiqueira, via Cruzeiro ou Piquete. Em Aparecida visitam a Igreja de São Benedito e o Santuário Nacional; cantam pelas ruas, praças, comércio, presépios. Costumam inclusive se hospedar.
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Folias atravessam a passarela entre as catedrais antiga e nova, cantando os reis. Em primeiro plano uma companhia mineira, de Santana de Pirapama.
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A participação inclui uma troca significativa de experiências com outras folias: cantar e ouvir, ensinar e aprender. Grupo a grupo, os mestres expõem o seu saber, absorvido por outros que os observam, evoluindo na prática, compartilhamento e vivência. Tanto mais, o encontro é oportuno aos foliões na aquisição de novos instrumentos musicais nas lojas locais; medalhas de santos, imagens, terços e outros objetos sagrados, que fazem parte de seu universo ritualístico e de seu cabedal de crenças.
Além desses aspectos gerais alguns detalhes chamam a atenção. Talvez o mais proeminente e digno de parabenização seja a entrada conjunta das folias de Reis no Santuário Nacional, após um concorrido cortejo desde a Catedral velha, via passarela. Os demais visitantes, outros romeiros que não são das folias, demonstram entusiasmo e curiosidade, prestigiando os grupos com salvas de palmas, ou proliferando sua imagem por incontáveis fotografias e filmagens.
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Aspergindo água benta sobre as folias que deixam o Santuário após a celebração da missa.
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Essa recepção se reveste da maior importância para os grupos enquanto estímulo à sua continuidade, reconhecimento de seu valor cultural e essência religiosa e ainda pelo prestígio que lhes confere a visibilidade ante a atenção midiática e através da imensa assistência.
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Grupo de Pastorinhas de Sete Lagoas/MG adentra o Santuário. |
Destaca-se também a Procissão de Santos Reis, que conta com um andor de ornamentação primorosa e a participação de vários grupos de folias em cortejo.
O encontro de Aparecida proporciona a ambientação de uma romaria aos foliões. O contexto transcende o de outros encontros.
Finalizando, registra-se a presença no encontro da "Embaixada do Bom Pastor", folia de Reis oriunda de São João del-Rei, da comunidade do Bom Pastor, Bairro de Matosinhos, sob o comando do experiente Mestre "Didinho".
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Bandeireiro e bandeira da folia de Cordisburgo/MG. Presença de retratos 3 x 4 e fita com inscrição, configurando graças alcançadas (ex-votos). |
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Bandeira de uma folia de Alfenas/MG. Os nós nas fitas indicam pedidos de devotos. |
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Observando a cantoria da folia de Nova Resende/MG. |
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Folia de Itaguara/MG atravessando a passarela. |
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Palhaços ou marungos, de Machado e Santo Antônio do Monte/MG entrando abraçados no Santuário em gesto de irmandade e respeito. |
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Prestigiando a entrada das folias no Santuário: jovens marungos de Ibirité/MG. |
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Um dos pitorescos mascarados da folia de Juruaia/MG, assemelhando-se a uma Catirina. |
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Um dos palhaços da folia de Serrania/MG. Ao fundo, público prestigiando a saída das folias do Santuário. |
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Agradecendo uma oferta, os foliões de uma companhia de Barrinha/SP cantam para devotas que seguram sua bandeira. |
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No grande presépio dos jardins do Santuário Nacional, folieiros de Sete Lagoas / MG respeitosamente reverenciam após o canto ritual. |
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Folia de São Tomé das Letras/MG cantando no presépio da praça da catedral antiga. Os marungos, de joelho, suspendem a máscara. |
Notas e Créditos
* Em tal festa, uma multidão de romeiros desembarca no Santuário Nacional, incluindo um número enorme de congados, sobretudo mineiros e inclusive do Campo das Vertentes, em demanda para a igreja do popularíssimo santo. Essa Festa de São Benedito já é centenária, firmada na tradição.
**Texto: Ulisses Passarelli
*** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 13/01/2018
**** Agradecimentos especiais ao folclorista Affonso Furtado e ao pesquisador de música Daniel William Dias Nascimento, que possibilitaram nossa presença nesse festejo.
Última revisão: 27/10/2024
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