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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Na minha terra se fala assim - parte 15

Alto -  bêbado, embriagado.

Aluir – bambear, dar uma folga, aliviar algo que está justo, soltar o que está fixo.

Andaço – qualquer virose que atinge muitas pessoas, favorecida por condições climáticas específicas de certas épocas do ano. Infecção que se transmite pelo ar, atingindo muitas pessoas. Contaminação por rotavírus.

Arregaçar as mangas – agir, tomar providências, tornar-se ativo.

Cabreiro – cismado, preocupado com algo, com pensamento fixo em problema, com mal pressentimento.

Cabrito – gíria aplicada sobre um objeto obtido por roubo ou furto. Qualquer objeto tomado de outrem.

Cangote - a nuca, região occipital, parte posterior do pescoço.

Canjerista - Praticante ou adepto do Canjerê. Por extensão e pejorativamente é sinônimo de feiticeiro.[1]

Cara dura – O mesmo que cara de pau. Pessoa que não se envergonha em cometer ilícitos. Mau caráter. Indivíduo que obtém vantagens sobre outros sem se envergonhar do procedimento indevido. Sujeito inconveniente, invasivo na privacidade alheia.

Casar o Chico com a Chica – expressão que indica a similitude ou sintonia de duas pessoas pelo caráter e personalidade, que se unem numa dada situação (casamento, amizade, negócios, trabalho).

Chaleira – bajulador, puxa-saco.

Chapado – bêbado, embriagado.

Chorar a pitanga1- lamentar insistentemente; 2- agredir, bater.

Chutar o pau da barraca – aloprar, dar um surto de nervosismo, perder a paciência, perder a calma, descontrolar-se, perder as estribeiras.

Culé-culé, tudo é porco – expressão usada para indicar que certo grupo de pessoas se irmanam pelo péssimo caráter e personalidade réproba. O mesmo que “Farinha do mesmo saco”.

Cumba – Mandingueiro. Homem que mexe com magia negra (São João del-Rei, 1995; Tiradentes, 1998). Também pronuncia-se “cuba”. Grande conhecedor de segredos místicos. Africanismo. Sendo um feiticeiro muito forte e perigoso acrescem que é um “cumba do papo amarelo”. Registrado também entre os dançantes de caxambu, no Estado do Rio de Janeiro, como o mais elevado cargo hierárquico.  [2]

Cupicho1- subordinado por bajulação, não por hierarquia. Capacho. 2- Indivíduo amasiado.

Currião - Correia, cinto, cinturão. Corruptela de “correião”, correia grande. Na zona rural é costume fazê-lo de couro cru, com ou sem pelo, cortando-o a canivete. Símbolo de firmeza espiritual na linha dos boiadeiros e de força patriarcal, domínio familiar. A correia do pai dentro de uma casa é objeto de grande respeito e ninguém a usa senão o próprio dono. Eram comuns outrora as surras que os pais davam nos filhos valendo-se de lambadas de currião. Uma expressão popular comum é “apertar as correias”, usada diante de uma grande dificuldade, no sentido preventivo.

Cuspindo marimbondo – expressão indicativa de estado de extremo nervosismo. Diz-se de quando alguém esbraveja, xinga muito, lança impropérios.

Dar na telha – ter uma ideia repentina; tomar uma decisão súbita, inesperada.

Dar pau – reprovar.

De primeira – imediatamente, de maneira instantânea, sem pestanejar.

Deixa abóbora lastrar! – expressão indicativa de libertação total de preocupações ou cuidados numa situação; dê o que der; aconteça o que acontecer.

Desvestir um santo para vestir outro – substituir um apoio por outro; tirar de um para dar a outro.

Deus e o mundo – expressão indicativa de totalidade das pessoas; todos.

Encher o cu d’água – alegrar-se ao extremo; estado de satisfação incontida.

Espírito-de-Porco1- Indivíduo mal visto na sociedade, antipático, sempre aprontando coisas deploráveis. 2- Casta de espíritos malignos, que se apossarem de alguém fazem com que a pessoa se comporte a guisa de um suíno: o possesso se abaixa ficando de quatro e emite grunhidos; não reconhece nem respeita ninguém. O espírito de porco afora os casos de possessão é um obsessor poderoso, que traz desgraça e miséria para a vida da pessoa que ele acompanha.  

Filar – roubar; tomar para si; tirar. Filão: quem se aproveita em vantagens sobre outros.

Garibar – aprimorar, dar acabamento, detalhar, caprichar. “Dar uma garibada”.

Goró – bebida alcoólica: beber um goró; tomar um goró.

Juntar a fome com a vontade de comer – expressão indicativa de que a aproximação de duas pessoas possibilitou o complemento uma ao outro para que acontecesse algo vantajoso para ambos; geralmente tem sentido pejorativo, referindo-se a união de gananciosos.

Largo – pessoa de muita sorte; sortudo: “O largo do Zé ganhou a televisão na rifa”.

Limpa trilho – glutão, quem come demais e com falta de educação.

Língua de trapo – “língua solta”; falador, caluniador, quem fala o que pensa sem medir consequência das palavras; quem levanta falso de alguém.

Mafuá – ambiente bagunçado, sujo, mal frequentado.

Na lata – com absoluta franqueza; cara a cara; sem disfarces. “Falar na lata”.

Não vale um tostão de mel coado – expressão indicativa de falta total de valor humano, pelo caráter e personalidade; não vale nada.

O Filho chora a mãe não vê – expressão que indica local de sofrimento ou situação complexa.

Passar os cinco dedos – furtar; roubar.

Pendenga – pendência, situação mal resolvida.

Perder as estribeiras – esbravejar, xingar. Ação intempestiva.

Picar a mula – sair às pressas, repentinamente; escafeder-se; fugir; viajar.

Poeira – Feitiço. Jogar poeira: enfeitiçar alguém. “Não joga poeira, olha lá! Ai, não joga poeira, olha lá!” (Congado catupé, SJDR, Cap. Luís Santana, 1995).

Ponto de bala – excitação máxima; estado de prontidão.

Queimar campo – contar mentira; avantajar-se sem motivos concretos. “Fulano queima campo debaixo de chuva!”

Renquém – desqualificado; sem valor; de má qualidade. Pronúncia: “renqüém”.

Sobrou – caiu, despencou. “Sobrou do galho da árvore”.

Tanjão – folgado, largo. Quem usa roupas sem ajuste ao corpo.

Tarugo1- pedaço robusto de madeira; 2- qualquer coisa espessa, grossa; 3- pessoa obesa (pejorativo).

Tirar o pai da forca – pressa extremada, afobação, atitude precipitada.

Torosco – pedaço grande e grosso de algo.

Vendendo almoço pra comprar a janta – penúria; miséria financeira.

Vício – cio; desejo sexual incontrolável: estar no vício (com a libido elevada ao extremo).

Zambi-zambi – com tonteira, enfraquecido, cambaleante, desequilibrado: “Saiu da cama zambi-zambi”.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli



[1] - Canjerê - Religião mediúnica afro-brasileira, já praticamente absorvida por outras mais abrangentes, como a Umbanda e a Quimbanda. O Canjerê assemelha-se à Umbanda, contendo porém elementos musicais-coreográficos, danças ao som de atabaques, como os Candomblés. Um ponto de desafio de congado catupé (São João del-Rei, l997) diz: “Êh, canjerê! / Bate palma qu’eu quero vê!” . Luís da Câmara Cascudo no seu “Dicionário do Folclore Brasileiro” registra a palavra como sinônimo de feitiço, prática religiosa afro-brasileira e ainda uma dança folclórica sem cunho religioso. Põe ainda as pronúncias “Canjirê” e “Conjerê”. Termo africano, banto.  
[2] - Ver: FRADE, Cáscia. “Preto quando pinta, tem trinta vezes trinta”: um pequeno estudo sobre os velhos caxambuzeiros fluminenses. In: Estudos de Folclore em Homenagem a Manuel Diégues Júnior. Coordenação de Bráulio do Nascimento. Rio de janeiro: Comissão Nacional de Folclore; Maceió: instituto Arnon Mello, 1991. 306p.il. p.67-77.
Escreveu essa autora: “Cumba – é o que melhor conhece a dança, entende e exerce a magia inerente ao Caxambu. É o mais idoso do grupo.” 

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