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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Festa do Rosário em São Gonçalo do Amarante, 2016

Aproxima-se mais uma festa em honra a Nossa Senhora do Rosário no município de São João del-Rei, deste vez no distrito de São Gonçalo do Amarante, cujo tríduo preparatório principia hoje às 19 horas na imponente e bicentenária igreja de seu padroeiro. 

A mais dias houve a visita da imagem da santa festejada às residências dos congadeiros, nas quais vias de regra se reúne a família em prece do terço. Houve também um terço comunitário celebrado na Gruta do Divino, naquela vila. 

Como já acontece a muitos anos o dia maior será no segundo domingo de outubro, data já fixada em tradição, este ano caindo no dia 09. Madrugadinha, 05 h, os caixeiros percorrem as ruas, rodeiam o mastro, o cruzeiro, vão à igreja, tocando céleres um ritmo muito peculiar, específico da alvorada, que tem o pitoresco nome de "vamos'imbora, Vitalina!". Só neste momento podemos ouvi-lo. Embora este seja o horário que consta na programação, mesmo antes se reúnem, como aconteceu o ano passado, iniciando pouco depois das 4 horas da madrugada. O pacato lugar é acordado também pelo repicar do sino do campanário e por girândolas de fogos de artifício. 

Por fim se recolhem para um breve descanso e o café da manhã. Ao visitante esta é uma hora ideal para uma visita ao Cruzeiro da Pedra Ramaiuda, um mirante próximo, cerca de um quilômetro, na saída para extinta Estação de Mestre Ventura (da EFOM - Estrada de Ferro Oeste de Minas). O cruzeiro foi erguido com recursos arrecadados pela folia de Reis do distrito e situa-se em meio a uma bela paisagem aberta, junto a uma pedreira em cujos interstícios medrou uma árvore de óleo-vermelho (pau de óleo). A altitude possibilita uma visão ampla do horizonte, avistando-se as serranias em derredor. Por aproximação pode-se assim dizer: adiante, se enxerga a Serra de Santa Rita (além do Rio das Mortes vê-se inclusive a cidade de Ritápolis); a do Lenheiro, pela direita e na retaguarda; a do Caxambu, pela esquerda. O nascer do dia gera aí um cenário transcendental, em natureza generosa. O local é usado para práticas religiosas pela comunidade, incluindo a cerimônia da via-sacra.

Entre 8:30 e 9 horas o congado se reúne na Travessa Cava Funda. É a rua paralela ao largo, abaixo. O antigo congo se prepara para sair. O apito põe ordem e a cantoria irrompe abençoando o momento da partida:


"Na hora de Deus, começo, 
Pai, Filho, Espírito Santo!
Deixa-me benzer primeiro
pra livrar de algum quebranto..."


O verso traduz a crença popular e firma o início da marcha pelas ruas. A primeira visita é à igreja. Depois ao mastro e ao cruzeiro. A bandeira do Rosário segue na dianteira, abrindo alas. O nome formal da guarda é "Congo-vilão Nossa Senhora do Rosário", como consta em sua bandeira e no entendimento dos dançantes é um "Cacique", que acreditam ser um congado muito antigo, de modelo ancestral. A despeito dos epítetos, esta guarda é em sua totalidade das características um congo autêntico e nada possui de elemento que em si remetam aos congados de modelo vilão ou aos de caboclos (cacique). O Capitão é o experiente Lourival Amâncio de Paula, ícone e baluarte da cultura popular local.

Neste ínterim sobe à praça o outro congado do lugar, sob a bandeira de Nossa Senhora Aparecida, que carinhosamente é conhecido por "Congado das Mulheres", em contrapartida ao grupo mais antigo, eminentemente masculino. Oficialmente o nome é "Congada Azul e Branco de Nossa Senhora Aparecida", sob o comando do Capitão Domingos Sávio dos Passos.

Aparecem também grupos visitantes à comunidade, outros ternos vindos da sede do município ou de municípios vizinhos e este ano está programada a presença do "Pilão de Nhá", vindo de outro distrito são-joanense, o Caquende, apresentando seus cantos e danças de origem rural. O grupo participará da missa inculturada das 15:30 horas.

A celebração do rosário é um dos momentos de fé mais relevantes da comunidade são-gonçalense que se esforça sobre medida para sua concretização. Ora é vinculada à Paróquia do Senhor Bom Jesus do Monte, mas já o foi da de São José Operário e primitivamente à de Nossa Senhora do Pilar. Do ponto de vista cultural é uma oportunidade ímpar para se conhecer ao vivo e in loco uma das tradições mais arraigadas desse lugar. 





Sequência de flagrantes da aurora no Cruzeiro da Pedra Ramaiuda. 

Cartaz da Festa de Nossa Senhora do Rosário, 2016,
em São Gonçalo do Amarante.
Papel Couché, 29,5 x 41,7cm.

O antigo Congo de Nossa Senhora do Rosário em seu ritual de dança ao redor do cruzeiro
da comunidade de São Gonçalo do Amarante. 

Sob a bandeira de Nossa Senhora Aparecida, a Congada Azul e Branco
congrega as mulheres na força da fé e da tradição. 

Congados visitantes no largo da Igreja de São Gonçalo do Amarante.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 11/10/2015

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