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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Festa do Rosário em Prados, 2016

Desta vez foi Prados a comemorar Nossa Senhora do Rosário com as danças congadeiras. Tem festa em honra a esta invocação mariana em muitos lugares entre setembro e novembro, embora outubro seja especialmente nominado "Mês do Rosário" e o dia específico da santa seja 07 de outubro. Esta extensão temporal dos festejos vem a calhar para as guardas de congado pois torna possível que viajem para muitas localidades nesse período para participar de várias festas. Dentro dessa perspectiva, no último domingo, dia 16, o congado de Prados recepcionou os visitantes de Resende Costa, Coronel Xavier Chaves, Conceição da Barra de Minas e São João del-Rei, que se irmanaram no mesmo objetivo laudatório.

Desde já se diga de passagem que o cenário encanta aos olhos e estimula a contemplação: um belo casario histórico evocador da arquitetura do ciclo do ouro, muito bem cuidado, ruas limpas, o povo prestigiando nas esquinas, calçadas, alpendres, varandas, sacadas, no adro da igreja... a festa envolve o pradense e o visitante.

Prados surgiu das bateias, almocafres, carumbés, das grupiaras e cascalheiras, do trabalho aurífero, por volta de 1704. Tricentenária, pois, se sintoniza com Tiradentes e com São João del-Rei para compor um conjunto de cidades históricas das Vertentes, as três coetâneas, com pouca diferença de data, alvo de discussões infindáveis entre os especialistas.

Do êxito dessa festa também se deve boa percentagem à dedicação dos congadeiros daquele município, que mobilizando a comunidade tem se esforçado intensamente para manter a tradição, desde que foi retomada no começo da década passada, posto que havia paralisado.

E, outro tanto, se deve ao pároco, Padre Dirceu de Oliveira Medeiros, entusiasta consciente do valor da cultura popular, cujo apoio e respeito que nutre aos grupos culturais bem serviria de modelo a ser seguido por todo o clero.

Curiosamente nessa cidade a festa se desenvolve no seu dia maior na parte da manhã; um tanto original, posto que noutros lugares é à tarde. O modelo agrada posto que logo após o almoço libera os congadeiros para retorno às suas casas, sendo bem menos cansativo, poupa-os do imenso calor da tarde que se verifica nessa quadra do ano e ainda do risco de chuvas pesadas pegarem a procissão de surpresa no meio da rua.

Assim sendo, logo após a missa matutina, de caráter festivo, muito concorrida, na imponente Matriz de Imaculada Conceição, cada congado agrupado no extenso adro, adentra cantando e dançando na nave da igreja, sem pressa, desenvolvendo sua louvação e lá dentro, recebe do sacerdote a bênção e é aspergido por água benta, sob aplausos dos fiéis. Saem pela porta lateral e de volta ao adro se organizam em cortejo. Neste ano observou-se todos os catupés na dianteira e o moçambique atrás, na retaguarda, como de costume, fechando. Cruciferário na frente, ao meio, porta-lanternas abrindo cada ala da procissão, que segue para a bucólica Igreja do Rosário, levando os andores de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário, sob os cantares e tambores.

Serpenteando pelas antigas ruas, dos imponentes casarões os moradores apreciam, aplaudem, fotografam. Por toda parte se nota a alegria e a fé das pessoas, rezando com seus terços na mão, passando contas e mais contas, balbuciando ave-marias na intensão de...

A chegada ao adro do rosário é especialmente festiva e o sino anuncia efusivamente a entrada do cortejo. Dois mastros estão ali fincados, estampado no alto São Benedito e a Senhora do Rosário. Deles parte ornamentação até a igreja. Os congados lotam o adro e o povo junto a ouvi-los. Cada terno faz sua saudação e adentra o templo com toda fé e respeito, expressa na plenitude de sua musicalidade. As imagens também dão entrada e a palavra sacerdotal enaltece a santidade e parabeniza os esforços conjuntos em prol da comemoração. O incentivo é algo essencial. 

Findas as passagens de cada um na igreja, seguem para o almoço coletivo no pátio da escola próxima, preparado com o carinho de costume por uma equipe de cozinheiras, que por fim recebem a gratidão dos versos e beijam as bandeiras de cada guarda. 

Os congadeiros se confraternizam e despedem, "até para o ano, se Deus quiser!"

Prados é uma cidade que se tornou afamada por seu patrimônio cultural. Também pelo artesanato, de que é um centro muito significativo. As peças em madeira, os típicos bichos entalhados, são muito primorosos. O trabalho em couro vem de longa data - selaria, produção de calçados. O carnaval se agiganta em animação pelos desfiles e pelo tão arraigado boi-mofado. As festas religiosas transcorrem com brilhantismo. A música é uma marca da cidade, sobretudo por sua afamada corporação musical. Pelo Natal até o Dia de Reis, é a vez das folias, seja a local, seja a distrital das Folhas Largas, tão antiga. A Ponta do Morro, onde termina a Serra de São José está logo ali, com uma riqueza natural notável. História, cultura, hospitalidade. Muito se poderia apontar de Prados, cidade que merece ser conhecida e preservada em todos os sentidos de seu rico manancial. 

Igreja de Nossa Senhora do Rosário enfeitada e com mastros,
 no dia maior de sua festividade. Prados. 

Capitão de moçambique saúda capitão de catupé: respeito e consideração
são premissas na Festa do Rosário. 

Congado de Resende Costa. 

Congadeiros de Prados no adro da Matriz da Conceição. 

Capitão do congado de Coronel Xavier Chaves.

Congadeiros diante do andor de São Benedito. 

Congadeiro se persigna diante da imagem de São Benedito.
Sanfoneiro e capitão da guarda de Conceição da Barra de Minas. 

Rei e Rainha no adro do Rosário. Prados. 
Detalhe do mastro de São Benedito. 

O sino anuncia, congrega, festeja... Torre da Matriz de Prados. 

Pessoas observam da balaustrada do adro do Rosário
a chegada da procissão.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 16/10/2016

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