O imenso ciclo de festas congadeiras em honra ao rosário continua na região e pelas vizinhanças. Este fim de semana, dia 23 de outubro, foi a vez da comunidade de Conceição da Barra de Minas, comemorar seu dia maior (*).
Precedido de um tríduo, nesse dia a praça diante da histórica igreja estava com ampla movimentação de concepcionenses e visitantes, reinando a concórdia e a boa ordem do ar festivo. O mastro demarcava no largo o espaço do sagrado, sinalizando o domínio da cultura popular nesse festejo. De seu topo pendiam cordões floridos descendo do quadro do registro. A beleza singela desse elemento simboliza para o dançante o marco do início dos festejos e o elemento telúrico que carreia graças do infinito ao plano terrestre:
"Lá do céu tá caíno fulô!
lá do céu tá caíno fulô!"
Lá do céu, cá na terra,
Ôh... tá caíno fulô!"
Fulô é corruptela de flor e mais que isso, é sinônimo e "eufemismo" de graça. Graça gasta eufemismo? O congadeiro tem sua poesia própria.
O congado do senhor Vicente Cirilo Ribeiro ("Vicente Cristino") subiu desde cedo do Bairro São José, que o sedia. O capitão e seus soldados são assaz conhecidos na região toda pela excelência de seu catupé, que tem a bandeira do Rosário, e, mais que isso, pela educação aprimorada, gentileza, forte devoção e espírito de irmandade. É o grande anfitrião, que de braços abertos acolhe a todos.
Os grupos visitantes vão chegando e são acolhidos no largo: vieram de Prados, de Ritápolis, de Tiradentes e São João del-Rei/Santa Cruz de Minas. O bom café foi servido.
De retorno, foram acolhido na igreja onde teve vez a celebração de uma animada e bem celebrada missa inculturada, tão propícia a esse evento religioso. A igreja lotada se engalana de fitas e flores; o batuque do congado domina a sonoridade; o Revmo. Pároco Padre Saulo José Alves, prima ao presidir a celebração, pela qualidade evangélica, simpatia e respeito pela cultura. Seu incentivo pode ser sentido o tempo todo e em verdade abre as portas da continuidade da tradição. Com ele segue ao comunidade. Nos vértices do triângulo desse patrimônio imaterial estão o padre, o capitão e o povo; a redor, como num círculo, a Prefeitura, que por meio de sua Secretaria de Cultura é forte apoiadora do evento. Eis a receita do sucesso e a esperança de continuidade. Quem dera em todo lugar fosse assim...
Ao final da missa, uma rasoura antecedeu ao almoço.
Este foi marcado pela fartura, bom tempero e confraternização, servido numa escola da cidade.
Após a refeição e os agradecimentos, um cortejo se formou rumo às imediações da Igreja de Santo Antônio, onde o rei e a rainha aguardavam seus súditos, cingidos de capa, coroados, de cetro à mão, com direito à regalia do guarda-sol. Foram saudados e conduzidos ao rosário, onde o padre os recepcionou, agradeceu, abençoou e adentraram ao templo para o ritual da chamada, no meio da tarde.
Então os congadeiros visitantes começaram a se despedir, "até para o ano, se Deus quiser". Os congadeiros da terra ainda tinham mais função: logo mais, às 18 horas participaram da procissão.
No rosário o devoto se encontra e realiza. No rosário a cultura fervilha. Este foi o segundo ano consecutivo que Conceição da Barra de Minas festejou com a presença de guardas visitantes, pois antes a festa era limitada ao congado local.
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Fotos 1 a 5 - Mastro de Nossa Senhora do Rosário
fincado na praça diante da igreja da mesma invocação: feito de um bambu verde, encimado pelo quadro,
com cordões floridos como ornamento, demarca o território sagrado da cultura popular,
objeto devocional do congadeiro que guarda por ele o maior respeito. |
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Foto 6 - A Igreja do Rosário recepciona os congadeiros visitantes. |
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Foto 7: o capitão anfitrião: rosário é fé, alegria, união, respeito, cultura. |
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Foto 8 - Moçambiqueiros. |
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Foto 9 - Exemplar significativo do patrimônio cultural de
Conceição da Barra de Minas. |
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Foto 10 - Congadeiras de Ritápolis. |
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Foto 11 - Congado de Conceição da Barra de Minas diante da Igreja do Rosário, no momento da rasoura. |
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Fotos 12 e 13 - Capitão de São João del-Rei saúda o congado de Tiradentes. |
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Foto 14 - Congadeiros (as) descem para o almoço. |
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Foto 15 - Dentro da cozinha, o capitão de moçambique entoa sua jomba de gratidão pelo alimento recebido. A equipe de cozinheiras segura a bandeira da guarda. |
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Foto 16 - Rei e Rainha visitantes, da cidade de Prados. |
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Foto 17 - Reinado na rua, em marcha sob o guarda-sol, escoltado e acompanhado por congadeiros. Ao fundo a Igreja de Santo Antônio de Pádua.
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Foto 18 - Missa inculturada na Igreja do Rosário: congado anfitrião faz animação musical. |
Notas e Créditos
* No mesmo dia aconteceu a Festa do Rosário na comunidade de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei), com a participação de sua congada centenária.
** Texto: Ulisses Passarelli
*** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 23/10/2016
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