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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 6 de agosto de 2016

Quadrinhas de amor - parte 5

Dando seguimento à série de exposição da coletânea de trovinhas românticas, o blog apresenta mais uma postagem com cinquenta quadras populares. Até cerca de duas décadas ou pouco mais faziam parte do galanteio, escritas em cartas e bilhetes enviados aos pretendidos, numa época que não se dispunha de recursos eletrônicos como hoje, nem redes sociais e mecanismos de mensagem digital. As jovens colecionavam trovas anotadas em cadernos próprios, reserva para o uso na ocasião propícia. 

Nas outras edições desta temática, lincadas ao final desta postagem o leitor se depara com outras coletâneas de quadras e de informações complementares sobre este assunto. 


Sentadinha na graminha,
Da sua casa na minha
Molhadinha de sereno,
Tem vinte e cinco passadas;
Vou escrever uma cartinha
Se eu não te quisesse bem
Mandar pro meu moreno.
Não trazia elas contadas.


Esta carta vai te ver,
A folha da ... (bananeira, ameixeira, etc.)
Vou também te visitar;
De tão verde amarelou;
Como não posso ir
A boca desse menino,
Mando ela em meu lugar.
De tão doce açucarou.


Vai cartinha venturosa
Coqueiro tão alto
Por esse caminho sem fim,
Tá correndo ouro na ponta;
Vai ver se meu amor
Os olhos desse moreno
Ainda gosta de mim.
Tá correndo por minha conta.


Quando essa carta chegar
Encosta na parede
Em suas mãos de marfim
Que a parede larga pó;
Você olha no galho de flor
Encosta no meu peito,
Dá um suspiro pra mim.
Que eu sou firme a você só.


Pega aqui na minha mão
Não quero sua camisa
Vou te dar meu desengano;
Nem o seu botão do peito;
Peço a Deus que você seja
Quero só que você dê
Meu amor por muitos anos.
A sua mão direita.


Bota fogo na fundanga
Da roseira nasce a rosa,
Tira esse mal de mim;
Da rosa nasce o perfume;
Numa fumaça que sobe,
Do perfume nasce o amor,
Traz meu amor pra mim. [1]
Do amor nasce o ciúme.


Escrevi seu nome na areia,
Do céu quero a estrela,
A onda veio e apagou;
Da terra quero a flor,
Escrevi que te amo,
De você quero um beijo
Você veio e me beijou.
Dado com muito amor.


Esta noite eu tive um sonho,
Você disse que me amava,
Na praia do mar sereno,
Um dia tão gentil;
Sonhei que estava beijando,
Pena que aquele dia
Um lindo rosto moreno.
Era primeiro de abril. [2] 


Na folha da bananeira
Teu olhar me domina
Seu nome vou escrever
Teu rosto me deixa louca,
Se eu não for feliz contigo
Teus lábios me adormecem
Com outra não quero ser. [3]
Com um só beijo na boca.


Se você ama a Deus
Dos pássaros da mata
Que morreu por tanta gente,
O mais lindo é o beija-flor;
Porque não ama a mim
Da casa da minha sogra,
Que morro por ti somente.
O mais lindo é o meu amor.


Neste dia de festa
Desde que te conheci
Se quiseres ser feliz,
Começou meu sofrimento,
Me dê um beijo na testa
Pois seu rosto encantado
Ou debaixo do nariz.
Não me sai do pensamento.


Um dia você me deu o fora
O teu sorriso é lindo
Pensando que eu choraria,
Só me traz felicidade
Não choro por pai e mãe
Por viver longe de ti
Vou chorar por porcaria... [4]
Vivo sempre com saudade.


Brilham cinco estrelas no céu
Todo amor que morre
Brilham cinco rosas no jardim
Me deixa sem ar,
Brilham mais seus olhos
Todo amor que começa
Quando olham para mim.
Me ensina a respirar.


Deitado na cama
Amo e não sou amado,
Teu lindo nome escrevi
Quero e não sou querido,
Soletrando letra por letra
Mas um consolo tenho
Sorrindo adormeci.
Amo e não sou fingido.


Quando o céu da imensidade
Quando eu te amava
Cobre a tarde da beleza
Era a flor do meu canteiro.
Vê-se a imagem da saudade
Agora, que te odeio,
Sobre o altar da natureza. [5]
É o porco do meu chiqueiro...


Amo uma linda menina
Queria ser um cigarro
Que tanto me faz sofrer
Para seus lábios encontrar
Meu maior desejo
Mas como não sou
É nos braços dela viver.
Quero seus lábios beijar.


Felicidade, meu bem,
A paixão e a saudade
É tudo que agente sente,
São duas fiéis companheiras:
Quando gosta de alguém
A paixão dura pouco,
Que também gosta da gente.
A saudade, a vida inteira...


Sou jovem criança
Quem ama sofre calado
Que neste mundo apareço
Ocultando sua dor;
Amar e não ser amado
Não há silêncio mais lindo
Isto não mereço.
Que o silêncio do amor.


O cravo também se muda
Amo a rosa branca
Do jardim para o deserto
Que nasceu em teu jardim;
De longe também se ama
Amo tua mãe querida
Quem não se pode amar de perto.
Que criou você pra mim.


Meu caro beija-flor,
O sol prometeu à lua
Que mora na pedra oca:
Uma fita com dois laços,
Toda menina bonita
Eu prometo a você
Merece um beijo na boca.
Muitos beijos e abraços. [6]


Se o dia escurecer
O coração é ingrato,
E a tarde chover
Só faz aquilo que sente,
Lembre-se que são meus olhos
Faz agente gostar
Que choram por não te ver.
De quem não gosta da gente.


Eu não quero mais amar
O mundo não é dois mundos,
Pois faz a gente sofrer;
O céu não tem várias cores,
Pois aquele que a gente ama
Quem te deu um coração,
Nunca sabe agradecer.
Não pode ter dois amores.


Sei que você não me quer
Sua boca é pequena
Sei que você não me ama,
Tão pequena e singela
Mas quero que seja feliz
Eu não sei como cabe
Nos braços de quem te ama.
Tantos beijos dentro dela.


Da amizade ao amor,
O jasmim para ser gostoso
Do amor à saudade,
Tem que ser pesado,
Da saudade à tristeza
O beijo para ser gostoso
De quem ama de verdade.
Tem que ser demorado.


Sua boca é uma rosa
Quer saber meu nome,
Seu nariz é um botão,
Vá à noite no jardim.
Dentro dos teus olhos tem um laço
Meu nome está escrito,
Que prende meu coração.
Numa folha de jasmim.


Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Agradecimento especial: Cida Salles, pela cessão do caderno com anotações das quadras, colhidas em Santa Cruz de Minas entre 1994 e 1996. 
*** Veja também neste blog as outras postagens desta série clicando nos links abaixo: 

QUADRINHAS DE AMOR - parte 4




[1] - Fundanga: o mesmo fundenga, pólvora. Esta quadra nitidamente é uma referência a rituais de terreiro. Nalgumas casas de umbanda usa-se queimar pequena porção de pólvora, quase sempre polvilhada sobre um ponto de entidade riscado no chão, com o intuito de descarregar as energias mais pesadas e negativas que acompanham o consulente. Enquanto a fumaça da queima sobe, o sujeito da trova faz seu pedido.
[2] - Primeiro de abril: tradicionalmente conhecido por Dia da Mentira, quando se usa pregar peças, contar pequenas mentiras por divertimento, armar situações supostamente verdadeiras só por gracejo.
[3] - Esta quadra é um tanto mais rara por se referir a um desejo do homem, muito embora facilmente adaptável para uso feminino. Na imensa maioria o escrito parte da mulher.
[4] - Trova de amor do grupo dos desencantos, desilusões, relativamente numerosas. Algumas são chulas e sarcásticas, senão mesmo, ácidas. “Dar o fora” é rejeitar (expressão popular).
[5] - Rima incomum nas trovas populares: ABAB (rima alternada, cruzada ou entrelaçada) enquanto a imensa maioria adota o esquema ABCB (rima misturada). É visível a influência erudita na forma e no enunciado, absorvida na mesma funcionalidade.
[6] - A poesia popular romântica considera o sol e a lua namorados desencontrados... um surge no céu, outro se vai. 

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