A fé e a cultura são como uma janela que se abre para o mundo ... Na força do barroquismo a devoção católica são-joanense se construiu. Foi consolidada de pouco em pouco, em cada repetição anual. Foi assim que as festas religiosas ganharam prestígio e solidez.
É nas festas que vemos claramente a delicadíssima inter-relação de todo o patrimônio: material e imaterial, que se traduzem num só, como obra humana. É nestas ocasiões que se percebe como a ocupação do espaço urbano foi em certa medida sacralizada pela disposição estratégica de igrejas, cruzeiros e passinhos. Quando passa uma procissão serpenteia pela rua é como se uma linha imaginária unisse esses pontos, tal como aqueles jogos de traçar desenhos unindo pontinhos entre riscos. Uma vez unidos, a conexão do profano cotidiano com o sagrado festivo se firma em aliança. Então o povo de Deus se sente rejubilado e com energia para voltar à labuta que a vida impõe na aurora seguinte.
A alma da cidade é barroca, pelo menos a do Centro Histórico... São João del-Rei ainda é do ouro. Seu reflexo ainda reluz do passado ao presente apontando que o futuro deve preservar essas tradições. A identidade do Centro Histórico é esta, plenamente funcional.
Para entender é preciso vivenciar. De longe só se imagina. De perto, só se vê. Necessita entrar de fato e sentir com todos os sentidos. Ver a habilidade dos sineiros e ouvir o eco do bronze lá na torre; é mister observar os gestos dos devotos estendendo mãos, persignando-se, fechando os olhos na hora da prece; o cheiro de incenso no ar; fogos de artifício; opas e hábitos de irmãos de vários sodalícios; música de banda e orquestra; velas acesas; multidão conglomerada por um objetivo comum: a fé motriz.
Numa festa do porte dessa das Mercês todos os elementos constitutivos se somam e mesclam exacerbando com muita beleza a tradição religiosa da cidade.
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1- Andor de Nossa Senhora das Mercês em São João del-Rei: uma cascata de flores cai de seu buquê. |
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2- Na primitiva Rua Direita, tendo a majestosa Igreja do Carmo como plano de fundo, o andor marcha entre lanternas perfiladas. |
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3- Na chegada ao templo mercedário, um chuva de papel picado saúda o andor que traz a imagem da Mãe querida. |
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4- O andor de São Pedro Nolasco galga a escadaria. |
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5- Um espetáculo pirotécnico rico e muito bem sincronizado ilumina o céu são-joanense e impressiona os devotos. |
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6- A multidão de fiéis acorre à festividade e lota o largo. |
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7- O incenso rescende; velas bruxuleam; lábios balbuciam preces.
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8- São Raimundo Nonato em seu andor. |
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9- A fé e a cultura são como uma janela que se abre para o mundo. |
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: 1, 2, 8 - Ulisses Passarelli; 3, 4, 5, 6, 7, 9 - Iago C.S. Passarelli
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