Jaguara situa-se imediatamente ao sul da Rodovia BR-265, a apenas 4 km de distância. Está a 19km de Nazareno, 40km de São João del-Rei e a 7km do Caquende, nas margens da Represa de Camargos (que barrou o Rio Grande).
Hoje cercada por grandes plantações no passado foi uma zona de matas cerradas, da qual existem alguns capões vestigiais. A comunidade em si consiste de pequenas propriedades rurais e um aglomerado de casas numa encosta de terras férteis. Bem ao centro há uma pedreira e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, padroeira local. Há também um pequeno cemitério, no alto do morro sobranceiro. Na parte baixa se destaca o campo de futebol, na várzea do córrego citado. Junto dele, uma pequena bica de água potável, sempre procurada para dessedentar os viandantes.
Possuiu uma forte tradição de carreiros e tropeiros, que as mudanças sócio-econômicas esfacelaram e hoje se encontra desaparecida. A região intermediava comércio de produtos agropecuários com outras comunidades no lombo dos burros cargueiros no gemido do carro de bois.
A festa da padroeira é um destaque local, em julho, e ainda a Festa da Consciência Negra, em novembro, que congrega a convite grupos culturais vindos de outras paragens, tais como congados, capoeiras e o grupo Pilão de Nhá (este do Caquende).
O local fica nas imediações do Caminho Velho da Estrada Real (Caminho Geral do Sertão), que atravessava o Rio Grande entre a Capela do Saco (Carrancas) e Caquende (São João del-Rei). Ora, o roteiro para as minas traçado na obra de Francisco Tavares de Brito, datado de 1732, conforme citação de LIMA JÚNIOR (1995), revela que após Carrancas se chegava ao Rio Grande e depois o ponto seguinte era Tijuca e depois Rio das Mortes Pequeno e São João del-Rei. Por estas informações se deduz que o tal caminho ao transpor o Rio Grande seguia para a região da atual São Sebastião da Vitória (distrito são-joanense), ao lado da qual existe o povoado do Tijuco, certamente o mesmo citado neste roteiro.
A palavra Jaguara é de origem indígena. SAMPAIO (1987) ensinou sobre a palavra jaguar: "corr. ya-guara, aquele que devora ou dilacera, o devorador. Forma primitiva no tupi: yauara. No guarani, yauá. Alt. Jaguá, Jaguara." Como se sabe, jaguar é onça. Já a forma "jaguará" explicou da seguinte forma: "corr. Yaguá-rá, tirado da onça, a ficção de onça. É o nome de um folguedo, que se fazia, entre os catecúmenos, com o disfarce de uma onça, envolta de palhas e folhas secas. Pode ser também de Jaguar-ã, a onça erguida, ou de pé. Bahia." (p.265). Além do sentido de onça, jaguar e suas variantes podem também significar "cão" (p.167, nota de rodapé 238). No folguedo do bumba-meu-boi e em vários reisados, um dos personagens mais populares é o "jaraguá" ou "jaguará", um estafermo que representa um ser fantástico, de silhueta alta, esguia, revestida de pano, terminando por uma caveira de equino ou muar, presa a um mecanismo que faz seus dentes bater estrepitosamente movida por um indivíduo metido debaixo desta fantasia. O jaraguá dança aos corrupios, batendo queixada, avançando na molecada de forma bravia. A partir da palavra jaguar existem muitas derivações, todas de alguma forma aludindo à imagem da onça ou do cachorro.
Outra fonte de informação é ORTIZ (1996, p. 308), que ensinou:
"Um dos primeiros descobridores de ouro na região do rio das Mortes, no final da última década seiscentista, foi Gaspar Vaz da Cunha, apelidado Jaguaretê ou o Jaguara, também morador em Taubaté, onde foi juiz ordinário. Aqueles anos acampou ele com a bandeira no citado território aurífero, onde os índios lhe mostraram o metal precioso no capim, sob a forma de folhetas e grãos. Aí instalou ele suas lavras."(grifo do próprio autor)
O sufixo "etê" no tupi significa verdadeiro, legítimo, autêntico. Jaguaretê é portanto o jaguar verdadeiro, a onça legítima.
Comenta o autor que o dito Jaguara depois voltou para Taubaté, onde, no ano de 1700 ganhou uma sesmaria em Piracuama, próximo a uma das gargantas da Mantiqueira que dava passagem ao território de Minas. Teria então aberto uma via para facilitar acesso à área do ouro: "Em 1703 fez abrir um caminho, provavelmente cortando essa sesmaria, unindo o bairro de Pindamonhangaba ao Sapucaí e varando o sertão até as campinas de Capivari." A seguir voltou ao Rio das Mortes, onde estabeleceu moradia no começo dos setecentos, "dedicando-se às atividades mineiras e revelando-se intransigente inimigo dos emboabas."
Esclarece ainda ORTIZ (1996, pp. 221-222) que Gaspar Vaz da Cunha foi capitão e que em 1678 foi juiz ordinário e de órfãos. Sua esposa chamava-se Vitória de Siqueira, "de quem deixou geração".
Cruzeiro, ponto de devoções populares. |
Exemplar típico da arquitetura rural. |
Refrigério dos dançantes à sombra das árvores locais. |
Detalhe de um rosário de tentos. |
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo recebe os moçambiqueiros. |
Capitão "Borracha" mata a sede na bica d'água junto ao campo de futebol. |
Antiga residência de tropeiro. |
Velha árvore junto à pedreira. |
Aspecto do casario. |
Besouro preto: um grande escaravelho. |
Crianças da comunidade em alvoroço, se preparam para a participação nas comemorações quilombolas. |
Uma moradora da comunidade durante a festa. |
A água secou... Velha bica de servidão pública, onde se colhia água e lavava roupa. |
Pequeno roçado à beira da rua. |
Aspecto de uma rua na Jaguara. |
Em vigorosa marcha de rua, o moçambique de São João del-Rei, Bairro São Geraldo, marca sua presença na Festa da Consciência Negra, batendo os toques (ritmos) de jomba e carijó. |
No intervalo da função, Sá Rainha aprecia a festa olhando de um alpendre. |
Componentes do grupo Pilão de Nhá, vindos do Caquende. |
DANGELO, André G.D. (Org.). Origens Históricas de São João del-Rei. Belo Horizonte; BDMG Cultural, 2006. 127p.il. p.103-104.
LIMA JÚNIOR, Augusto de. Caminhos Antigos de Minas Gerais. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, v.8, 1995. 132p. p.119-128.
ORTIZ, José Bernardo. São Francisco das Chagas de Taubaté. 2.ed. Taubaté: Prefeitura Municipal, 1996. Coleção Taubateana, n.10. 858p. v.2: Taubaté Colonial.
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 29/11/2015.
*** Para saber mais sobre esta comunidade quilombola leia também:
COMUNIDADES DA JAGUARA E PALMITAL SÃO CERTIFICADAS ...
20 DE NOVEMBRO - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
JAGUARA - FEDERAÇÃO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário