Nossa Senhora do Pilar é a padroeira de São João del-Rei, bem como da Diocese sediada nesta cidade.
A devoção a Nossa Senhora do Pilar tem origem ibérica. Conta-se que nos primeiros anos do cristianismo o apóstolo São Tiago Maior em pregação na Espanha, na região de Saragoça, viu maravilhosa aparição da Virgem Maria, sobre uma coluna ou pilar de pedra (mármore ou jaspe conforme a referência), rodeada de anjos. Acontece, que naquela época Nossa Senhora ainda vivia encarnada, por volta do ano 40, sendo pois um extraordinário caso de bilocação.
Em razão de sua aparição sobre o pilar o título logo surgiu e no local se edificou uma igreja.
Tal devoção se esparramou pelo mundo católico através das grandes navegações dos povos ibéricos e foi assim que desembarcou no Brasil. Especificamente no interior de Minas Gerais colonial, nos núcleos de mineração aurífera, como São João del-Rei, foi indubitavelmente trazida pelos bandeirantes paulistas.
E assim ela aqui chegou também em nossos primórdios. Em 1701 o taubateano Tomé Portes del-Rei ganhava o título de Guarda-mor desta região, nosso pioneiro, fundador, patrono e primeira autoridade local, afazendado com sua família no Porto Real da Passagem. Já em 1703 iniciou-se a construção de uma igreja em honra a Nossa Senhora do Pilar, no mesmo Porto Real da Passagem, arredores do atual Matosinhos, São João del-Rei, à época de seu substituto na guarda-moria, seu genro também taubateano, Antônio Garcia da Cunha, pois Tomé fora assassinado por alguns escravos no ano anterior.
No ano seguinte porém, a descoberta de ouro na região do atual Bairro Alto das Mercês e Ribeirão São Francisco Xavier, nesta cidade, trouxe um alvoroço à parca população do Porto e esparramou-se a notícia do descoberto. Grande fluxo de pessoas se deslocou para junto das minas, onde então se fez uma humilde capela improvisada para a santa, no atual Morro das Mercês. A igreja do Porto ficou inacabada.
Em 1708, na Guerra dos Emboabas ela foi incendiada. Felizmente a imagem primitiva foi salva. A igreja inacabada do Porto foi convertida em fortaleza durante a dita guerra e dela não existem hoje vestígios, salvo se alguma futura escavação arqueológica o demonstrar.
Finda a refrega, construiu-se outra capela, no Morro do Bonfim, sob a mesma invocação do Pilar e em 1721 se estabelecia a atual e definitiva Igreja Matriz. Partes aproveitáveis foram transladadas para a igreja definitiva, tal como o altar-mor daquela, possivelmente corresponde ao altar-lateral desta.
Nos meados do século XVIII, o Sargento-mor José Álvares de Oliveira, figura de grande destaque nos primeiros tempos da cidade, membro ativo da Guerra dos Emboabas, em relato memorialístico, refere-se a Nossa Senhora do Pilar sob a enfática e poética expressão de "Nossa Sempre Padroeira", inspiração deste post, tomada por empréstimo à guisa de título.
No final da década de 1960 foi inaugurado no Bonfim um monumento à Nossa Senhora do Pilar, rememorando que naquele bairro houve sua capela por alguns anos. A imagem da santa ainda está lá, de pé sobre uma grande pilastra.
Apesar da antiguidade temporal, a devoção a Nossa Senhora do Pilar é hoje pouco popular se comparada a outras expressões ou títulos marianos. Suas comemorações na cidade tem caráter predominantemente litúrgico, sem manifestações folclóricas e quermesses. Não obstante seja padroeira da cidade e da diocese aqui sediada, é festejada a 12 de outubro, que Brasil afora se comemora o dia de Nossa Senhora Aparecida.
Nossa Senhora do Pilar tem outrossim uma capela própria no arraial do Cruzeiro da Barra, zona rural de São João del-Rei, onde é festejada animadamente em setembro, junto com São José, congregando a população rural dos arredores.
Também em setembro goza de outra festa na região, na sua igreja setecentista no Elvas, município de Tiradentes, alcunhada "Igreja do Gaspar" ou "do Padre Gaspar".
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Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, São João del-Rei, retratada durante a festividade de São Sebastião, 20/01/2014. |
Referências Bibliográficas
MEGALE, Nilza Botelho. 112 Invocações da Virgem Maria no Brasil: história, folclore e iconografia. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 376p. p.302-305.
Referências na Internet
Últimas e derradeiras graças. Acesso em 21/12/2015, 03:20h.
http://www.derradeirasgracas.com/4.%20Apari%C3%A7%C3%B5es%20de%20N%20Senhora/Nossa%20Senhora%20%20do%20Pilar.htm
Notas e Créditos
*Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografia: Iago C.S. Passarelli
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