Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Grutas religiosas em São João del-Rei - parte 2

A tradição das grutas religiosas é muito arraigada em nossa região. Em São João del-Rei essas construções de pedra são especialmente abundantes e queridas. Em torno delas se aglomeram os fiéis das pequenas comunidades para a reza dos terços, para festejos do orago, coroações de Nossa Senhora e por vezes, para recepcionar as Folias de Reis que de passagem por sua área as visitam.

A imagem posta em seu interior é tratada com veneração. Amiúde recebe flores e velas.

Procuram via de regra dar um tratamento urbanístico ao redor, com calçadas de pedras ou concreto magro, instalação de bancos e mesas, jardins, iluminação, grades e lixeiras. Tudo é instalado e mantido pelos devotos da comunidade que assim convertem o aspecto de praças, largos, cantos de rua fora do alinhamento geral. O fato motivado a princípio pelo elemento religioso, termina por ultrapassá-lo pois este espaço se torna uma área de socialização comunitária, uma referência: as crianças para iniciar uma brincadeira marcam de se encontrar na gruta, tal hora; senhoras sentam-se nos bancos na fresca da manhã para fazer um crochê; alguns homens se aproveitam do banco largo ou da mesinha para uma partida de damas ou de xadrez, dominós, dados ou purrinha. Demonstra também o desejo da população pela melhoria do espaço urbano, tomando a atitude de fazê-lo da sua forma e por seu meio, onde o poder executivo municipal deixa a desejar.

A edificação das grutas não raro obedece a regime de mutirão.

Embora existam noutras regiões, aqui são abundantes e sua construção é um fenômeno crescente nas duas últimas décadas. São numerosas na zona urbana de São João del-Rei e começam também a se expandir para a zona rural.

É um fenômeno a ser devidamente estudado. O ponto de partida da investigação talvez seja o caminho inverso ao êxodo rural, que traz a cultura das roças à cidade. As populações distritais, com dificuldades de acesso a vários serviços ou tendo de se deslocar com muita frequência à cidade para acudir às suas necessidades mensais, tem contato na cidade com essas construções singelas e não tarda a instalá-las também nas vilas. Por outro lado existe a questão da própria liberdade religiosa. Nas igrejas existe um sistema hierárquico vigente a ser respeitado e os agentes eclesiásticos controlam as atividades conforme as normas católicas. Ali se congregam irmandades, pastorais, movimentos, cada qual delimitando sua função, espaço, prestígio e influência. Já as grutas não tem isto definido. Seus zeladores podem agir livremente, o que não significa que o façam de forma desenfreada, pois se obedece a uma norma social, e existe coerência com a doutrina religiosa. Contudo, é inegável que estejam mais soltos. O agente leigo trata mais perto de sua comunidade do elemento religioso e busca integrar as atividades da gruta à programação religiosa do lugar. Não é raro que convidem um padre para celebrar uma missa campal nas grutas.

Além da motivação propriamente de pesquisa antropológica, as grutas bem serviriam para desenvolvimento de um roteiro turístico-religioso, demarcadas em mapa, com georeferenciamento, etc. E o estímulo ou incremento criterioso e dialogado com a comunidade seria uma ação a se pensar.

Em São Gonçalo do Amarante (ex Caburu) a gruta foi construída com recursos angariados pela folia do Divino local, em jornada de visita às casas da própria comunidade. Ainda hoje serve também de local onde se concentra o reinado na Festa do Rosário. Os congados vem até ela recolher os reis, rainhas, príncipes e princesas para escoltá-los até a igreja.



Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, 29/05/2013.
São Sebastião da Vitória (São João del-Rei). 

Gruta do Divino Espírito Santo, 10/06/2010.
São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei).  

Gruta de São Pedro, 24/10/2016.
Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei).

Para saber mais sobre este assunto acesse o link abaixo e leia a seguinte postagem, ora revista, ampliada e acrescida de fotografias: Grutas Religiosas em São João del-Rei.

Notas e Créditos

* Texto e fotografias: Ulisses Passarelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário