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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Folk-lore: tributo a William John Thoms

Exatamente a 167 anos, o inglês William John Thoms, usando do pseudônimo de Ambrose Merton, publicava no jornal londrino O Athenaeum, uma carta na qual aparece pela primeira vez a palavra FOLCLORE. Sugerindo diretrizes de pesquisa, não é sem razão considerado o patrono da Folclorística. Esta postagem, é uma modesta homenagem a este mentor.Abaixo segue transcrito a referida publicação que deu origem ao termo folclore. 

Cenas ao acaso de integrantes da Folia "Embaixada Santa", de Reis, Divino e São Sebastião, do Bairro Araçá, São João del-Rei/MG. 


     As suas páginas mostraram amiúde o interesse que toma por tudo quanto chamamos na  Inglaterra, “Antiguidades Populares”, “Literatura Popular” (embora seja mais precisamente um saber popular do que uma literatura e poderia ser com mais propriedade designado com uma boa palavra anglo-saxônica, Folk-lore, o saber tradicional do povo), que não perdi a esperança de conseguir a sua colaboração na tarefa de recolher as poucas espigas que ainda restem espalhadas no campo no qual os nossos antepassados poderiam ter obtido uma boa colheita.

      Quem quer que tenha estudado os usos, costumes, cerimônias, crenças, romances, refrãos, superstições, etc., dos tempos antigos deve ter chegado a duas conclusões: a primeira, quanto existe de curioso e de interessante nesses assuntos, agora inteiramente perdidos; a segunda quanto se poderia ainda salvar, com esforços oportunos o que Hone procurou fazer com o seu ‘Every-Day Book’, etc. e Athenaeum - com sua larga circulação pode conseguir com eficácia dez vezes maior – reunir um número  infinito de fatos minuciosos, que ilustram a matéria mencionada, que vivem esparsos na memória dos seus milhares de leitores, e conservá-los em suas páginas até que surja um James Grimm e preste à mitologia das Ilhas Britânicas o bom serviço que o profundo tradicionalista e filólogo prestou à Mitologia da Alemanha. Este século dificilmente terá produzido livro mais notável, imperfeito como seu próprio autor confessa na segunda edição de ‘Deutshe Mythologie’: o que é isso? – Uma soma de pequenos fatos, muitos dos quais, tomados separadamente, parecem triviais e insignificantes – mas, quando considerados em conjunto com o sistema no qual os entrelaçou sua grande mentalidade, adquirem então um valor, que jamais sonhou atribuir-lhes o que primeiro os recolheu.

      Quantos fatos semelhantes uma só palavra evocaria, do Norte e do Sul, de John O’Grot à Ponta da Terra! Quantos leitores ficariam contentes em manifestar-lhe seu reconhecimento pelas notícias que lhes transmite todas as semanas, enviando a algumas recordações dos tempos antigos, uma lembrança de qualquer uso atualmente esquecido, de alguma lenda em desaparecimento, de alguma tradição regional, de algum fragmento de balada.

      Tal serviço não seria apenas para o tradicionalista inglês. A conexão entre o Folk-lore da Inglaterra (lembre-se que reclamo a honra de haver introduzido a denominação Folk-lore, como Disraeli introduziu ‘Father-land’, na literatura deste país) e o da Alemanha é tão íntima que essas comunicações servirão provavelmente para enriquecer uma futura edição da Mitologia de Grimm. Deixe-me dar-lhe um exemplo dessas relações: num dos capítulos de Grimm, que trata largamente do papel do cuco na mitologia popular – do caráter profético que lhe deu a voz do povo – e cita muitos casos de derivar predições do número de vezes que seu canto é ouvido. E menciona também a versão popular “ que o cuco nunca canta antes de se ter fartado, três vezes, de cerejas”. Agora, fui recentemente informado de um costume que existia em Yorkshire, que ilustra o fato da conexão entre o cuco e a cereja. E isso, também, em seus atributos proféticos. Um amigo me comunicou que crianças em Yorkshire estavam acostumadas antigamente (e talvez ainda estejam) a cantar uma roda em torno da cerejeira com a seguinte invocação:

Cuco, cerejeira,
Venham cá e nos digam
Quantos anos nós teremos de vida.

Cada menino sacudia a árvore – e o número de cerejas derrubadas indicava o número de anos de vida futura.

     Eu sei que o verso infantil que citei se conhece bem; a maneira porém de aplica-lo não foi anotada por Hone, Brade ou Ellis: - é um desses fatos que, insignificantes em si mesmos, tem grande importância quando formam elos de uma grande cadeia  - um desses fatos que uma palavra do Athenaeum recolheria em abundância para o uso de futuros investigadores no interessante ramo das antiguidades literárias – nosso Folk-lore.

(a)    Ambrose Merton



                (Extraído do Documento da Comissão Nacional de Folclore, n.46, jul./1948. Separata. Ed.Comemorativa do sesquicentenário da criação da palavra FOLK-LORE por William John Thoms (Ambrose Merton) em sua carta publicada em The Athenaeum, Londres, n.982, de 22 de agosto de 1846. Rio de Janeiro: Comissão Nacional de Folclore / IBECC/ UNESCO, 1996.)
          
* * *      

Catarina. Boneca em tecido, de cerca de 60cm, representando uma noiva negra. Vitoriano Veloso ("Bichinho"), distrito de Prados / MG, 1996. Todos os anos uma Catarina era leiloada na tradicional festa de Nossa Senhora da Penha naquela vila colonial mineira. Artesã: Mariana Figueiredo (carinhosamente conhecida por "Dona Mariinha"), vista na foto abaixo, ao lado do esposo, sr.Antônio. A saudosa memória de ambos rendo simples e grata homenagem.



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* Fotos e texto: Ulisses Passarelli.
As ilustrações desta postagem foram inseridas em caráter ilustrativo e não fazem  parte da publicação citada. 

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