Pular corda é mais que uma brincadeira. É também ginástica, teste físico de habilidade, rapidez e coordenação motora. Já por isto, iniciada na infância, por vezes a extrapola e alcança a idade adulta até em treinamento de atletas.
Mas para os limites deste blog, o que por enquanto interessa para abordagem é o desenvolvimento em si do ato. Consiste em girar uma corda em movimentos ritmados, contínuos, desenvolvendo um giro em sentido vertical por sobre a cabeça do brincante, que deve pular para permitir que a corda passe sob seus pés, suba atrás das costas, passe no alto da cabeça, desça em direção aos pés, que, com novo pulo se supera o giro que se completa. E assim indefinidamente.É a habilidade de pular sobre uma corda que passa célere. Quando não se consegue ela embaraça nos pés e a pessoa perde a vez de brincar, devendo cedê-la para outra. Brincantes habilidosos conseguem permanecer pulando sem errar por longo tempo ou até mesmo quando se acelera a passagem da corda.
A passagem da corda é pela força do impulso do braço. Isto se chama "tocar corda".
A pessoa pode pular corda sozinha, usando de uma mais curta, ela mesma toca e pula, individualmente. Há pessoas muito habilidosas, que conseguem fazê-lo com notável destreza e velocidade e aumentando a complexidade sabem mudar a rapidez e direcionamento para variar o pulo.
Pode-se brincar em duplas: usa-se uma corda maior, amarrada uma extremidade a uma estrutura fixa (poste, árvore, coluna...); a outra extremidade fica com a criança que toca a corda. A segunda criança pula, mas é de praxe alternar quem toca e quem pula.
Mas a forma mais comum é em trios: duas crianças tocam juntas a corda, cada uma segurando num extremo e a terceira pula, depois alternando as posições.
Por vezes várias crianças pulam, alternando a vez de cada uma. E a brincadeira varia: se a corda é longa o bastante, brincam quatro ao mesmo tempo: duas tocam e duas pulam juntas, exigindo perfeita sincronia para uma não atrapalhar a outra. É comum nesses casos pularem lado a lado, ou uma virada para a frente e outra para trás, ou ainda alternarem habilidosamente, vis a vis e depois costas a costas. Até três pulando juntas é possível, desde que a corda tenha tamanho suficiente. Mas é ainda mais difícil.
O ato em si de pular se soma em alguns casos à cantiga, cujo ritmo do enunciado, um tanto recitativo, dita também o ritmo que se deve tocar e por conseguinte pular a corda. O canto como marcação. Eis alguns exemplares, muito disseminados no Campo das Vertentes, mais exatamente colhidos em Santa Cruz de Minas, embora não lhes sejam exclusivos *:
"coroa, coroinha,
do rei, da rainha,
_ Um!
_ Dois!
_ Três!"
(agacha e gira no momento que a corda passa sobre a cabeça)
"Aonde você quer casar?
_ Na igreja?
_ Na macumba?
_ Na Polícia Militar!"
(sai e dá lugar a outra. A corda não pára nem para sair nem para entrar)
"Com quem você quer casar?
_ Solteira?
_ Viúva?
_ Solteira mosqueteira da vovó!"
(idem)
"Um homem bateu em minha porta
e eu... a-brí!
Senhoras e senhores,
pulem num pé só! (pula-se com um só pé, recolhendo o outro)
Senhoras e senhores,
dá uma rodadinha! (gira-se)
e vai...
pro olho...
dá... rú... á!"
(sai às pressas...)
"Salada, saladinha,
bem temperadinha,
com sal!
Pimenta!
Fogo!"
(não sai. Ao enunciar bem enfático "Fogo!" as crianças que tocam a corda aumenta a velocidade de maneira repentina e intensa e mantém até que a que está pulando erre. Ganha quem ficar mais tempo)
"_ Comadre ... (fulana),
vamos passear?
_ Vamos!
_ Tem cachorro?
_ Não!
_ Pode entrar."
(fórmula para iniciar: quando diz "pode entrar" a criança entra sob o giro da corda que já está em movimento)
Notas e Créditos
* Informante: Maria Aparecida de Salles, 1994-1997
** Texto: Ulisses Passarelli
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