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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Brincadeiras infantis - parte 6: pular corda

Pular corda é mais que uma brincadeira. É também ginástica, teste físico de habilidade, rapidez e coordenação motora. Já por isto, iniciada na infância, por vezes a extrapola e alcança a idade adulta até em treinamento de atletas. 

Mas para os limites deste blog, o que por enquanto interessa para abordagem é o desenvolvimento em si do ato. Consiste em girar uma corda em movimentos ritmados, contínuos, desenvolvendo um giro em sentido vertical por sobre a cabeça do brincante, que deve pular para permitir que a corda passe sob seus pés, suba atrás das costas, passe no alto da cabeça, desça em direção aos pés, que, com novo pulo se supera o giro que se completa. E assim indefinidamente.É a habilidade de pular sobre uma corda que passa célere. Quando não se consegue ela embaraça nos pés e a pessoa perde a vez de brincar, devendo cedê-la para outra. Brincantes habilidosos conseguem permanecer pulando sem errar por longo tempo ou até mesmo quando se acelera a passagem da corda. 

A passagem da corda é pela força do impulso do braço. Isto se chama "tocar corda". 

A pessoa pode pular corda sozinha, usando de uma mais curta, ela mesma toca e pula, individualmente. Há pessoas muito habilidosas, que conseguem fazê-lo com notável destreza e velocidade e aumentando a complexidade sabem mudar a rapidez e direcionamento para variar o pulo. 

Pode-se brincar em duplas: usa-se uma corda maior, amarrada uma extremidade a uma estrutura fixa (poste, árvore, coluna...); a outra extremidade fica com a criança que toca a corda. A segunda criança pula, mas é de praxe alternar quem toca e quem pula. 

Mas a forma mais comum é em trios: duas crianças tocam juntas a corda, cada uma segurando num extremo e a terceira pula, depois alternando as posições. 

Por vezes várias crianças pulam, alternando a vez de cada uma. E a brincadeira varia: se a corda é longa o bastante, brincam quatro ao mesmo tempo: duas tocam e duas pulam juntas, exigindo perfeita sincronia para uma não atrapalhar a outra. É comum nesses casos pularem lado a lado, ou uma virada para a frente e outra para trás, ou ainda alternarem habilidosamente, vis a vis e depois costas a costas. Até três pulando juntas é possível, desde que a corda tenha tamanho suficiente. Mas é ainda mais difícil.

O ato em si de pular se soma em alguns casos à cantiga, cujo ritmo do enunciado, um tanto recitativo, dita também o ritmo que se deve tocar e por conseguinte pular a corda. O canto como marcação. Eis alguns exemplares, muito disseminados no Campo das Vertentes, mais exatamente colhidos em Santa Cruz de Minas, embora não lhes sejam exclusivos *:  

"coroa, coroinha,
do rei, da rainha,
_ Um!
_ Dois!
_ Três!"
(agacha e gira no momento que a corda passa sobre a cabeça)

"Aonde você quer casar?
_ Na igreja?
_ Na macumba?
_ Na Polícia Militar!" 
(sai e dá lugar a outra. A corda não pára nem para sair nem para entrar)

"Com quem você quer casar?
_ Solteira?
_ Viúva?
_ Solteira mosqueteira da vovó!" 
(idem)

"Um homem bateu em minha porta
e eu... a-brí!
Senhoras e senhores,
pulem num pé só! (pula-se com um só pé, recolhendo o outro)
Senhoras e senhores,
dá uma rodadinha! (gira-se)
e vai...
pro olho...
dá... rú... á!"
(sai às pressas...)

"Salada, saladinha,
bem temperadinha,
com sal!
Pimenta!
Fogo!"
(não sai. Ao enunciar bem enfático "Fogo!" as crianças que tocam a corda aumenta a velocidade de maneira repentina e intensa e mantém até que a que está pulando erre. Ganha quem ficar mais tempo)

"_ Comadre ... (fulana),
vamos passear?
_ Vamos!
_ Tem cachorro?
_ Não!
_ Pode entrar." 
(fórmula para iniciar: quando diz "pode entrar" a criança entra sob o giro da corda que já está em movimento)

Notas e Créditos

* Informante: Maria Aparecida de Salles, 1994-1997
** Texto: Ulisses Passarelli

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