Considerações Iniciais *
A história e as tradições da pequena vila de São Gonçalo do Amarante, ex Caburu, que encabeça um distrito homônimo em São João del-Rei / MG, já há algum tempo, tem sido alvo de minha atenção [I]. De formação colonial, o aglomerado de casas circunscrevendo uma praça, tem num extremo o cruzeiro das almas e no outro a capela do santo português, datada de 1732, reformada em 2005** incluindo a reconstrução do campanário, baseado em antigas fotografias.
Este texto visa identificar algumas mudanças sociais do lugar, sobretudo no que diz respeito à cultura popular, disparadas a partir da década de 1970 e acentuadas nos anos noventa. O texto termina enfocando tais transformações no âmbito da principal festividade do lugar, consagrada a Nossa Senhora do Rosário e sua relação com o congado local.
Silhueta das mudanças
O
mundo todo passou por severas alterações nos últimos tempos, ainda com maior
intensidade a partir de 1990. Elas aliás, sempre existiram e impulsionaram o
mundo. Algumas são boas, mas também é certo que no rastro das mudanças veio e
vem uma vasta gama de aspectos negativos. Compete a essas linhas somente listar
algumas alterações no modo de vida da comunidade rural em questão e não
julgá-las.
Os melhoramentos de infraestrutura
chegaram vagarosos e estão ainda aquém das reais necessidades: iluminação,
abastecimento d’água, calçamento, escola, telefonia, transporte etc. Entra e
sai administração municipal e as carências prosseguem. Certo é que os meios de ganho alteraram drasticamente e com
ele todos os aspectos sociais. A agropecuária de subsistência já não é o
bastante. Aos poucos, nas fazendas de maior posse, o aspecto comercial vai
tomando conta de tudo. O trator agrícola desempregou muita gente em nome da
produção. Não há outros meios de ganho senão um modesto artesanato ou a venda
de leite e queijo à porta de uma freguesia cativa em São João del-Rei, no
diário e sofrível ir e vir. Não há estímulo para ficar como trabalhador
diarista no árduo serviço de roça (retiro, capina, limpeza de pastos e regos,
construção de cercas, muros de pedra, currais, retirada de lenha, servente):
enquanto o autônomo na cidade custava ao contratante R$40,00 por dia de serviço
braçal avulso, na roça não encontrava quem pagasse mais de R$25,00 segundo
observação de janeiro de 2011.
Quem não tem terras
para delas arrancar o sustento termina por migrar para o subúrbio e ali
trabalha como pode, em troca de minguado salário. Os jovens vão para a cidade
prosseguir nos estudos e arrumar serviço. Dificilmente voltam para o pacato
lugar após conhecerem os atrativos urbanos. Na sequência, famílias inteiras se
vão. Suas casas ficam fechadas na vila. Só serão ocupadas nos dias festivos e
eventualmente nalgum final de semana.
Na fase seguinte são vendidas à
gente estranha, alheia a tudo que há ali. Encaram as tradições locais como mera
curiosidade. Em geral não tem comprometimento com o lugar.
Como consequência
sociocultural, os mecanismos de transmissão de saberes pela oralidade e pela
demonstração prática, somente, seguem fragmentados. A falta de integração do
estranho que chega, somada a ausência de tantos que se foram, deixou em cacos
as bases de todo o sistema comunitário. Fragmentam-se os costumes e as técnicas
da indústria caseira.
A antiga venda foi demolida. Nela o
homem modesto ia prosear, escorado ao balcão de madeira. Agora há alguns bares,
com mesinhas espalhadas à moda da cidade. A venda era algo mais: uma mistura de
botequim, mercearia, ponto de conversação, centro de informações. O freguês
chegava e primeiro conversava. Depois escolhia o que precisava. O crédito era
usual, na caderneta. Existe agora um supermercado onde as mercadorias são lidas
por sistema de código de barras. Isto não é crítica nem elogio; apenas
informação.
Muitas casas tiveram
descaracterizada sua arquitetura rural, pois a crescente facilidade de acesso
aos materiais das lojas de construção em São João del-Rei fez derrubar telhados
e surgir lajes, trocar janelas por basculantes e o chão rude (concretado, ou
com vermelhão, taco, tábua corrida), ganhou piso vitrificado, etc. A
modernidade chegou e com ela os meios de comunicação de toda sorte. Os
moradores enfim buscam para si o conforto. Para quem mora na cidade é bucólico
ver as casinhas de roça, mas para quem mora nelas a mudança de aspecto e
funcionalidade é muitas vezes um sonho antigo e uma necessidade.
Os velhos fantasmas de nossa rica
mitologia como a mula-sem-cabeça, o saci-pererê, o lobisomem, o caboclo d’água
e outros foram banidos pelo progresso. A bruxa do halloween tem agora mais valor. Mas aqueles espectros tinham
finalidade educativa e só assombravam os fracos de fé e os abusados, os que se
atreviam a transpor os tabus que ditavam a regra da vida social.
A atividade musical nesta vila não
parece ter sido tão intensa, em comparação a outros distritos são-joanenses (a
exemplo de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno e São Miguel do Cajuru). É o
que se visualiza parcialmente até este ponto da pesquisa. Mas é sabido que
houve ali uma corporação musical.
Na religião muita coisa mudou e não
faltam relatos neste sentido. A ruptura do sistema tradicional de vida e a
abertura de novas possibilidades de existência trouxeram outras interpretações
do sagrado e a sua antiga concepção é hoje razão de um conflito de gerações, onde
se opõe a saudade dos idosos e o questionamento dos jovens. Agora, por exemplo,
existe espaço para uma igreja evangélica. A dedicação dos católicos às obras da
Igreja já não é a mesma embora, no todo, o povo do lugar seja ainda de muito
mais respeito e religião que aqui na cidade. Subsiste uma Irmandade do
Santíssimo Sacramento.
Quanto aos festejos, pode-se apurar
pela oralidade, que a festa do padroeiro surgiu aproximadamente de uns
sessenta e poucos anos para cá (ocorre em julho, co-festejado com o Sagrado
Coração de Jesus). Não tem nada em si que chame a atenção e se mostra desligada
da cultura local. Parece ter sido enxertada ali e não uma criação dos naturais
do lugar. Seu padrão é o mesmo de tantas outras que ocorrem, seja nos distritos
são-joanenses seja nos de cidades vizinhas, o que direciona o pensamento para
um modelo único implantado pela Igreja ao tempo da romanização, expurgando as
tradições populares. É aquilo que na cidade chama-se de uma forma ambígua de
“festinha de roça”. Mas vendo-a com outros direcionamentos enxergamos a
programação repisando atrações ordinárias: na fase preparatória uma novena,
tocada quase sempre por livre iniciativa dos fiéis, sem padre presente. Por
vezes em vez de novena se faz apenas tríduo. Consta de reza de terço e cantos
religiosos tradicionais. A seguir movimentação nas barraquinhas de
comes-e-bebes e alguma música. No dia maior ocorre a alvorada (com fogos e
sinos – as cinco ou seis horas), missa festiva, procissão (às vezes acompanhada
de banda), leilões, quermesse. Só
muda o santo festejado, no mais as festas rurais são muito semelhantes. Com
pouca exceção o que surge de diferente não é por característica própria, mas
por esforço pessoal de algum festeiro mais empolgado ou de maiores recursos. Dentro desta regra a Festa de São
Gonçalo não consegue atingir o status
de festa principal do lugar, muito embora venerando o próprio padroeiro. Reúne
o povo da vila e cercanias, mas está longe de ter o carisma da Festa do
Rosário. Consta que na década de 1960 houve uma Folia de São Gonçalo do
Amarante, no povoado do Brumado de Cima, a cargo do folião “Geraldo Teixeira”,
que girando nas cercanias recolhia donativos para reverter a essa festa. Mas
não era de fato uma atração dela, pois sua ação se dava mais nas localidades e
caminhos visitando os sítios e fazendas.
São Gonçalo do Amarante no folclore
brasileiro é patrono das mulheres que em idade madura não arranjaram casamento,
em confrontação a Santo Antônio de Pádua, casamenteiro das moças. Protege
também as viúvas (tal como São Pedro), os flagelados por enchentes, os
violeiros (dizem que foi exímio tocador de viola) e as prostitutas (tocava para
elas com maestria e assim as entretendo afastava-as da noitada de sexo).
Contudo na vila ao que parece nada disto é tributado ao santo amarantino senão
o favorecimento em aspectos de saúde contra problemas de pele, patologias ósseas, disfunções ortopédicas e semelhantes. Isto remonta à origem de seu culto em Portugal, em
cuja cidade de Amarante corre em geral a ideia de que é o patrono dos ossos e
protege contra cravos e calos [II].
“A Estrela do Oriente é do tempo dos judeus...”
Neste verso adotado como intertítulo,
transparece o lado lendário acerca da antiguidade dos costumes folieiros, que
seriam “do tempo dos antigos” ou “do começo do mundo”...
A folia é um conjunto de uma dezena de homens, pouco mais ou menos,
que, com instrumentos musicais populares e tendo na dianteira uma bandeira com
estampa de um santo, visita as casas na época determinada, onde, mediante um
ritual simples, com música e cantoria de caráter religioso, recolhem donativos
para uma festa ou para obra de caridade, sempre em nome daquela bandeira, alvo
de grande respeito devocional por parte dos fiéis. As folias são queridíssimas
nos meios rurais e subúrbios e houve diversas neste distrito, ora reduzidas a
uma, que sobrevive graças à dedicação do Mestre Vavá.
A Festa de São Sebastião (em janeiro) foi criada numa ocasião na qual
necessitavam obter verbas para a reforma da igreja, diga-se de passagem,
malfadada, pois há relatos de que o forro tinha pinturas, então ocultas sob um
branco corrido. As folias trabalharam muito por esta festa. Do Natal a seis de
janeiro como Folia de Reis e daí a vinte de janeiro como Folia de São
Sebastião. A arrecadação se soma à reversão em valores dos leilões de prendas e
gado. Essa festa agrega melhor os valores do mundo rural que a do padroeiro,
certamente porque a expressão devocional a São Sebastião é muito mais ampla, também
por lhe ser creditada a proteção sobre roçados e criações, contra as doenças,
as pestes. Por conseguinte seus leilões são sempre concorridos, pois não faltam
doações de mantimentos e víveres, como ação de graças e como meio de assegurar
as benesses do “Santo Mártir Guerreiro”. Seu padroado é muito expressivo:
protetor contra fome, peste e guerra. Ecoa fácil na alma devota.
Houve noutros tempos a Folia do Divino, mas não se tem
notícia da festa correspondente. Uma das mais antigas relatadas, das primeiras
décadas do século XX foi a de “Zé Franguinho”, célebre folião que também saía
para Reis e São Sebastião. Segundo Sr. Vavá, atual folião do lugar, Zé Franguinho
vinha com a folia das bandas do Caxambu e fazia passagem por São Gonçalo do
Amarante. Anos mais tarde mudou-se para São João del-Rei.
Mas aconteceu um fato
com a bandeira do Divino que mostra de forma inequívoca a seriedade atribuída
às folias. Seu grupo era muito íntegro e passando pelo largo gramado ao centro
da vila, um carneiro ali pastava calmamente. Ao ouvir a cantoria chegou perto
da bandeira e deitou-se ante ela, dobrando os joelhos. Daí por diante, na
jornada daquele dia não os deixou mais, andando lado a lado à bandeira e
deitava-se diante de cada casa que cantavam até encerrarem a jornada. O fato
foi tido como um sinal sagrado e naturalmente a fama da força espiritual do
folião correu por toda parte [III].
Anos mais tarde houve a Folia do
Divino do “Antônio Bombom” e “Zé Lucas” e ainda uma terceira, na década de
1960, por promessa, do “Geraldo Teixeira” (Geraldo Marcelino da Silva, + 2005), no Brumado de Cima. A
arrecadação das Folias do Divino locais se revertia para caridade e obras
religiosas, já que não havia Festa do Espírito Santo. Vavá, nascido em 41, começou na folia do “Geraldo
Teixeira” (Geraldo Marcelino da Silva), por volta de 1968 e nela andou por uns sete
anos. Bandeira de São Gonçalo do Amarante. A seguir houve a folia de “João
Candinho” (bandeira de São Sebastião), que também foi festeiro do rosário. Depois a do
“Miguel Gambá” e “Miguel Pacífico”, que vinha do Palmital, no Caxambu. A seguir
surgiu a folia do “Faixa Preta”, “Francisco Teodoro”, “Zé do Miguelzinho”
(também bandeira de São Sebastião). A seguir a de Santa Luzia, da comunidade da
Boa Vista, cujo primeiro folião foi “Antônio Mariano”, carvoeiro, morador da
Colônia. Depois Vavá a assumiu e ficou por dois anos. Grande incentivador era “Dinho
do Zé Coqueiro”. Esta folia parou. A seguir Vavá montou uma folia de São
Sebastião em São Gonçalo do Amarante e mais tarde começou a sair para Santos
Reis e por fim para o Divino, a pedido do “Sininho”.
Em 2005, à maneira do que ocorrera em São João
del-Rei, a Folia de Reis passou também a sair no tempo entre a Páscoa e
Pentecostes para o Espírito Santo, como Folia do Divino, igualmente sob a
organização do conhecido “Vavá” (Lourival Amâncio de Paula). Chegaram a
levantar nesse ano uma Festa do Espírito Santo, da qual participou assim como
várias outras folias são-joanenses; mas no ano seguinte já andou fraca, pelo
que, de 2007 em diante não houve mais, muito embora a folia ainda saía às ruas
com a bandeira do Paráclito, revertendo ofertas para obras locais: a construção
de uma gruta votiva ao Divino Espírito Santo e de um cruzeiro na Pedra
Ramalhuda, de equipamentos de cozinha para a Festa do Rosário e de um barracão
comunitário para servir aos festejos.
Por outro lado já não sai a Folia de
Santa Luzia, de dezembro, que recolhia donativos para a Capela de Santa Luzia,
no povoado da Boa Vista.
Os caminhos sinuosos da Festa do
Rosário
Vicente Fagundes, Geraldo Fagundes, Antônio Fagundes,
Raimundo Fausto de Paula ("Raimundo Sabino", pai do capitão Juca), Valdemar
Fagundes, Inácio Fagundes, José Francisco Sales ("Faixa Preta" ou "Zé Virgínio"), José Leonardo de
Paula ("Juca") e agora Lourival Amâncio de Paula ("Vavá"). Diversos capitães estiveram
na dianteira do congo antigo. Eventualmente nos períodos que por motivo de
força maior perigava a tradição, substitutos eventuais deram sua força na
dianteira do centenário congado: João Basílio, Saturnino, Luís Santana, Léo.
Um sintoma das mudanças foi a
criação de mais uma guarda ou terno de congado no final de 2006, a partir de
uma dissidência da antiga, pelo Capitão Domingos Sávio
dos Passos. Com o nome “Congada Azul e Branca de
Nossa Senhora Aparecida” é um grupo com dominância feminina e de jovens e em
tudo discerne da secular guarda de congo que ali existe. Popularmente ficou
conhecida como “Congado das Mulheres”. Com características mistas, aproxima-se
mais dos catupés da cidade que do congo da roça, segundo o modelo regional. O
congo nunca aceitou mulheres, senão na qualidade de rainha e cozinheira. O novo
terno abriu espaço para elas, até então excluídas por força de uma tradição
ancestral. Ambos tem tido uma vivência razoável, com algumas rusgas iniciais e
camaradagens atuais rastreáveis.
A questão identitária se abateu
sobre o grupo antigo. Antes, quando não saía à parte alguma só festejando ali
mesmo, era simplesmente nomeado “congo” ou, por extensão, “reinado”. No momento
que começou suas saídas, se confrontou com outras formas de congado. Aí surgiu
a necessidade de se auto identificar, para o discernimento ante os demais
(moçambiques, marujos, etc.). É quando apareceu ou pelo menos se notabilizou a
designação “congo-cacique Nossa Senhora do Rosário” e ainda “congo-vilão Nossa
Senhora do Rosário” embora a rigor não tenha elementos de guardas de caboclo ou de vilão.
Aliás, o nome mais tradicional de
todos está em ocaso: reinado, que alude bem a importância da realeza na festa,
hoje apenas figurativa.
No aspecto propriamente do
repertório vê-se pouca mudança. Muito embora alguns cantos estejam em ocaso,
versos novos introduzidos tem ainda pouca aceitação. Entre um capitão e outro
pode haver pequenas mudanças de letra, ligadas à pronúncia ou interpretação
pessoal. Quanto à música me relatou uma senhora sexagenária que os conhece
desde a infância que seu ritmo está visivelmente acelerado. Era mais marcial,
como se pode depreender de sua explicação. O modo de repicar a caixa por
caixeiros mais velhos é mais variado de motivos que a forma hoje dominante.
Confirmei isto a partir de informação oral, através de avaliação ao vivo e por
gravação.
No que tange ao festejo consagrado a
Nossa Senhora do Rosário, o que se pode dizer, sem sombra de dúvida, é que,
esta é a festa mais importante do lugar e certamente a mais antiga. É a ocasião
em que o congo dança pelas ruas, com seus homens tocando sanfonas, violões,
caixas, pandeiros, reco-recos, trajados de branco, com saiotes multicores e
cabeça encobertas por capacetes floridos donde esvoaçam fitas. Tradicionalmente
não tem sentido fora do contexto da festa. É ela que climatiza seu universo
mítico, que sintoniza os devotos dançantes ao padroado da Virgem do Rosário. A
recíproca é verdadeira, pois também a Festa do Rosário sem o congo se torna
vazia de seu ícone mais expressivo, seu item mais genuíno, identificador, que a
torna legítima. Não há ferrovia de um só trilho. Congo e festa são os dois
trilhos da mesma estrada da fé, que o escravo construiu para expressar sua
devoção. Não podem se excluir. São como o anel e o dedo, a roda e o eixo. Um
sem o outro se torna neutro, insosso. Tanto é verdade que congadeiros e
moradores antigos, não conseguem traçar os comentários isoladamente de um ou de
outro. Misturam-se como um só. A circunscrição não é clara [IV].
A tradição oral informa a existência
dessa festa e de seu congo desde “o tempo do cativeiro”, mas não localizei
documentação escrita a respeito. O homem negro era seu agente único no passado.
Não faltam testemunhos disso. Escravo ou forro, da costa ou crioulo, era feito
pela gente do lugar. Mas é certo que com o passar dos anos foram se esvaindo de
alguns elementos constitutivos. Eis como ocorrem hoje.
É nítido, por exemplo, o
“branqueamento” do grupo. O processo ora se intensifica, mas seu início não é
recente. A questão étnica se revela no bem-vindo trabalho antirracismo e
anti-discriminação, que prega a igualdade, conduzindo negros, pardos e brancos
a fazerem parte indistintamente do congo num espírito de irmandade, como vem
sendo, embora no todo ainda seja reconhecido na linguagem popular como “dança
de negro”. Mas na mesma visão popular há o indicativo do congo com poucos
negros como sendo descaracterizado, o que denota uma ambiguidade.
Está hoje ausente a figura do
“meirinho”. Era o congadeiro auxiliar do capitão, intermediário entre ele, o
festeiro e os demais dançantes. No passado ficaram famosos pelas orações fortes
que conheciam. Sabiam benzer e eram muito respeitados como “curadores”. A memória
popular ressalta os nomes de “Candinho, o Velho” (pai dos famosos folieiros da
família Cândido Gonçalves, a conhecida “folia dos Candinho”) e Antônio
Inocêncio da Caridade (avô paterno de Luís Santana, conhecido capitão e folião
de São João del-Rei. Antônio foi meirinho ao tempo do capitão Vicente
Fagundes). O último meirinho foi Geraldo Elói de Lacerda. Atuou durante a
capitania de Faixa-preta e Juca, até 1999. Desde então o cargo está vago.
Havia no começo do século XX em São
Gonçalo do Amarante, uma rezinga de mouros e cristãos. Era representada na hora
que iam recolher os reis e rainhas. Um homem todo de vermelho, o “mouro”, com
uma espada em punho, tentava tirar com sua arma a coroa da cabeça da majestade,
pelo que era impedido pelo “cercador”, trajado de azul e também de espada em
punho. Os dois esgrimavam enquanto o congo seguia cantando [V]. Mouro era irmão do capitão
Inácio Fagundes: Israel do Carmo Fagundes. O Defensor era Gonçalo Severo,
forasteiro. Isso foi no tempo do capitão Antônio Fagundes e festeiro dessa
época era João Candinho, também renomado folião. Este episódio desapareceu por completo faz
muitas décadas, mas persiste intacto no vizinho congo de Santo Antônio do Rio
das Mortes Pequeno, no mesmo município.
Por aquela época havia uma parceria
entre esses dois congos. Muito parecidos entre si. As informações orais apontam
para a irmandade de ambos e uma possível contemporaneidade. Segundo se diz,
quando a festa era no Rio das Mortes, os congadeiros de São Gonçalo iam para lá
dar um reforço e vice-versa. A tradição oral diz mesmo que antes da família
Fagundes assumir o Congo o responsável era o Capitão Cristóvão do Rio das
Mortes, que capitaneava os dois grupos. Uma velha notícia jornalística de 1936 informa
a presença de diversos congados na festa do Rio das Mortes [VI]. Ocorre que atualmente e desde longa data apenas o
congo do Rio das Mortes faz parte da Festa do Rosário naquela vila. Os
dançantes da atual geração chegam a dizer que foi sempre assim. A velha
cooperação acabou. Qual o porquê? O que houve no passado capaz de gerar este
afastamento? Não consegui elucidar esta questão. O certo é que ambos os congos
se isolaram, cada qual em sua vila respectiva de tal sorte que em suas festas
apenas eles próprios se apresentam.
Assim persistiu por décadas. Em Santo Antônio do Rio
das Mortes Pequeno o congo ainda se mantém isolado, mas já direciona rumo a um
rompimento como foi visto em janeiro de 2007 com sua presença no cortejo
comemorativo da instalação do título de “Capital Brasileira da Cultura”,
conferido a São João del-Rei, quando se misturaram a outros congados e folias e
mais recentemente, em maio de 2008 e 2009, e em 2015, estiveram presente no dia maior do
Jubileu do Divino no bairro de Matosinhos, junto com vários outros congados.
Mas em São Gonçalo do Amarante o cenário caminhou mais rápido para uma nova
realidade.
Na década de 1980, por dois anos consecutivos houve
uma Festa do Rosário no povoado do Fé, no mesmo distrito, a cargo do congo de
São Gonçalo do Amarante.
Em 1992 dificuldades moveram a festa para o fim de outubro.
No ano
seguinte, após grande insistência do festeiro do Bairro São Geraldo, em São
João del-Rei, para lá rumou o congo. Contudo a experiência não parece ter sido
positiva, devido a uma tensão surgida na presença de um certo moçambique. Em razão
disto o terno de novo se recolheu.
O atual festeiro, Dorival Caim de
Paula, em entrevista a mim concedida em 07/03/2007, trouxe muitos
esclarecimentos sobre as mudanças. Dorival completara 36 anos no mês anterior à
nossa conversa. É filho do atual capitão, Lourival Amâncio de Paula.
Começou aos oito anos acompanhando-o nas folias, tocando pelas roças a noite
inteira, pandeiro ou reco-reco. Tocou até os treze anos de idade. Gostava do
congo, mas não participava. Aos dezesseis começou no congo e não saiu mais nas
folias. O festeiro de então era seu primo, Valdomiro Geraldo de Paula e o então
capitão José Francisco Sales, o “Faixa-preta”. Com a morte de Valdomiro em 1994,
Dorival assumiu a festa em 1996, já que em 95 não houve festejo.
Noutros tempos a cada ano havia um
festeiro. Depois, por falta de substitutos o tempo foi dilatando para dois ou
três anos de “mandato”. Chegava há ter um ano ou mais sem haver festa por falta
de festeiro. Valdomiro ficou sete anos no cargo e Dorival permanece desde 1996.
Manteve a princípio a estrutura recebida, mas
logo idealizou mudá-la. Conforme já esclarecido, no modelo festivo no decurso
do século XX, apenas o terno local participava da festa, conforme me
asseguraram e cheguei a presenciar. E ele não saía para outra festa, salvo as
exceções já apontadas. Em 1998, Dorival levou a guarda a Conceição da Barra de
Minas, ocasião em que se formou o congado daquela cidade (catupé). No ano de
1999, em maio, o congo foi ao Bairro de Matosinhos, em São João del-Rei,
participar da Festa do Divino, momento em que se confraternizou com muitas
outras guardas de congado e recebeu como homenagem uma bandeira de Nossa Senhora
do Rosário, pois a deles há muito já estava ausente. O então capitão recebeu o
título de capitão-mor daquele ano. Esta saída deu sem dúvidas um grande impulso
à nova fase que se esboçava para eles e já então ingressaram cada vez mais
nesse esquema. No mesmo ano viajaram para Barbacena e a sua Festa do Rosário
teve a presença de dois catupés visitantes, o de Conceição da Barra de Minas e
o da Içara (São Tiago). Daí por diante não parou mais, fazendo muitas viagens e
recebendo grupos visitantes. Em 2007, por exemplo, compareceram 11 congados,
além de 3 folias (a local, comandada também por Vavá e duas da cidade - a do
Geraldo Elói, das Águas Férreas, e a do “Didinho”, do Bom Pastor). Houve Missa
Inculturada (Afro), que foi muito concorrida, celebrada pelo padre Antônio
Luciano (de Lavras), coordenador da Pastoral Afro-brasileira da Diocese de São
João del-Rei. Pela primeira vez fincaram dois mastros, um para cada guarda do
lugar.
A festa ganhou uma nova dimensão e passou a receber
turistas e também barraqueiros da cidade vendendo comes-e-bebes e
quinquilharias, situação que antes não acontecia, pois agregava apenas os
naturais do lugar, parentes que moravam na cidade e gente das fazendas
vizinhas.
O congo desde então admite outras festas e apresentações,
ou seja, tocar fora do contexto da festa para efeito de filmagens, encontros,
festivais, etc [VII].
O festeiro Dorival promoveu ainda o registro em
cartório do terno de congo e no seu ver, alcançou respeito para o mesmo, frente
à comunidade e aos outros ternos. Agora existe uma associação – ASCONGO –
formalmente organizada, promotora dos festejos.
A festa era no passado bastante conhecida e esperada e
não carecia de divulgação. Sempre em outubro já contava com a concorrência
natural. O correr dos anos e da nova realidade exigiu o uso de estratégias para
atrair o povo do lugar que se mudou para a cidade na peleja do regime
assalariado. Avisos ao fim das missas, anúncios pela emissora de rádio e um
programa impresso, que se distribui e afixa em lugares visíveis ao público, na
vila e na cidade, cuidam de atrair assistência. O programa impresso mudou
bastante ultimamente, com melhoria da qualidade do papel e da arte gráfica,
além de uma maior dimensão, melhorando sua visualização[VIII]. Surgiram também notícias jornalísticas [IX].
O rei e a rainha bancavam a festa. Com a morte dos
antigos, os coroados atuais apenas contribuem com espórtulas que não são
suficientes para arcar com todas as despesas. Não há mais nenhuma rainha da
geração antiga e o rei mais velho, tio de Dorival (irmão de seu avô paterno), Sr.
Antônio Alves de Paula Filho[X],
faleceu há pouco. A bem da verdade, a maior parte do reinado atual vive na
cidade e vem apenas para o dia maior. Outros vivem esparramados pela vila e suas
cercanias, a exemplo da saudosa senhora Conceição Matutina da Costa, do povoado
da Boa Vista e da empolgada Maria José da Silva e seu esposo José Marcos de
Oliveira, moradores do Brumado de Cima. Além dos adultos há as crianças, que
ocupam cargos de príncipe e princesa.
Acerca dos capitães sabe-se que eram
todos negros, invariavelmente da família Fagundes. Em estudo anterior já
apontei sua cronologia. O último deles foi o Sr. José Leonardo de Paula, o
popular “Juca”, que assumiu em 1999 e o deixou em 2001, por problemas de saúde,
nas mãos do Sr. Altamiro Domingos Costa, tio de Dorival, que já era dançante.
Em outubro do mesmo ano Juca reassumiu e se manteve à frente até 2005, quando
lamentavelmente faleceu a cinco de dezembro deixando-nos uma triste nota de
saudade. Era filho do antigo capitão Raimundo Sabino. Assumiu aquele que já era
2º capitão desde a década anterior, o Vavá. Carismático, diplomático e educado, não descende dos Fagundes, embora sua família esteja envolvida
com o congo há muito tempo e é hoje uma das maiores responsáveis pela
preservação das tradições locais. Ele
próprio já soma 55 anos de participação no congo (jan./2010). Em 2009 questões de saúde puseram Vavá
em repouso e, na Festa do Divino, o congo foi capitaneado pelo jovem “Léo”
(Leonardo José de Paula), filho de Juca. Seus gestos com o bastão de comando
rememoram o estilo do pai e do avô.
Uma questão delicada é que os congadeiros
já não moram apenas na vila. O grupo novo tem uns três componentes que moram na
cidade, mas o antigo, com cerca de trinta e cinco dançantes, tem pelo menos
metade morando na zona urbana. Isto criou dificuldades de ordem prática como a
impossibilidade de se fazer ensaios com todos os congadeiros presentes, pelo
que já não dançam algumas velhas coreografias. Nas saídas da vila o ônibus vem
de lá trazendo metade dos congadeiros enquanto a outra parte aguarda na Praça
dos Ferroviários, em São João del-Rei. Na cidade, fora do contexto sociocultural
da pacata vila, alguns dançantes migrados vãos aos poucos desviando sua linha
de interesse e devoção e se afastam do congo. Por outro lado, gente que não é
natural de lá ingressa no congo por gosto ou curiosidade e acaba em parte
tampando a lacuna dos que se ausentaram. Outro aspecto é que nesse emaranhado
de novidades, alguns dançantes mais tradicionalistas se desgostaram e saíram do
grupo porque a seu ver ele já não preenche os quesitos funcionais que esperavam.
Houve também mudanças temporais. O
prazo habitual deixou de ser uma regra. As dificuldades encurtaram o tempo das
preces preparatórias, de nove dias (novena) para três (tríduo). Com o mastro, outrossim,
ocorreu algo semelhante: não fica mais um mês no largo – 15 dias antes e outro
tanto após a festa. A condicionante é a possibilidade de uma saída para outra
festa, ocasião propícia, já que reunida uma parcela dos dançantes, aproveita
para erguê-lo ou descê-lo, no tempo que der.
A peleja para
angariar fundos é gigantesca. Em junho de 2009,por exemplo, o festeiro promoveu
uma quadrilha pela data de Santo Antônio para arrecadar fundos para a
edificação de um barracão para a Festa do Rosário, junto ao campo de futebol. O
festeiro queixou-se que do lado da Igreja não conta com nenhum apoio, mas muita
cobrança. Semelhante reclamação ouvi de congadeiros de Santo Antônio do Rio das
Mortes Pequeno, sujeitos à mesma paróquia.
As transformações comunitárias em São Gonçalo do Amarante
poderiam ser observadas sob outros ângulos e revelariam sutilezas que escaparam
ao viés deste texto.
No tempo e no espaço as mudanças vividas nesta vila se
assemelham de forma surpreendente àquelas tão bem estudadas em Pinhões
(distrito de Santa Luzia / MG), pelo professor José Moreira de Souza, cuja
leitura é fundamental [XI]. Várias de suas observações e conclusões podem ser
facilmente transpostas para São Gonçalo, guardadas as devidas proporções de lá ser
território satélite de uma área metropolitana.
Outras alterações no contexto social poderiam ser
vislumbradas. Todavia as que foram aqui apresentadas talvez sejam suficientes,
por oras, para embasar a demonstração do esquema festivo do passado comparado
ao atual.
Alguma mudança
ocorreu de “forma natural”, como mera consequência dos “novos tempos”, da era
tecnológica, digital e capitalista. Outra parte, entretanto, foi providência
arrojada do atual festeiro para alcançar valorização e horas extras às
manifestações culturais do lugar. Uma e outra acabam sujeitas à balança do
julgamento.
A visão
tradicionalista ou puritana condena o modelo atual como distorcido, o que de
fato é, em certa medida, uma verdade. Mas sob outro ponto de vista, do lado
oposto da moeda, está a real necessidade de se adaptar a festa às atuais
condições que regem a vida da comunidade envolvida. E o festeiro mais que
ninguém sabe a fundo a verdadeira luta que é a cada ano para manter a
comemoração do Rosário. Ele entende o que tem de fazer para driblar as
dificuldades colossais, sobretudo na obtenção de recursos financeiros para
prosperidade da festa. É mesmo de se pensar em qual situação ela estaria sem
essas transformações. Pelo que não vai aqui crítica ou defesa, mas apenas
exposição das diferentes nuances que envolvem este momento crítico do lugar,
onde as profundas alterações vivenciadas por seus naturais agem diretamente
contra o seu modo secular de vida, convertendo seu saber a novas formatações
que reproduzem apenas parcialmente a profundidade de seu universo mágico, cuja
força motriz mitológica e devocional está fragmentada.
Está óbvio, que todas as mudanças
impressas na vida socioeconômica dessa vila fazem já parte de sua caminhada
histórica. A intensidade foi capaz de afetar as manifestações culturais do
lugar. Apenas aquelas com maior poder adaptativo puderam resistir, ainda que
fragmentadas em seu conteúdo simbólico.
Enfim, poder-se-ia esticar este
assunto a perder de vista e diferentes estudiosos o abordariam sob outros
prismas e dificilmente se poderiam contemplar todas as suas vertentes.
Notas e Créditos
* Para acessar a publicação original deste texto em agosto de 2012 clique no link: TRANSFORMAÇÕES
** Sobre a reforma da igreja conferir em jornais de São João
del-Rei, por exemplo, Folha das Vertentes,
n.45, jan./2006 e Jornal de Minas,
n.49, 30/11/2004.
*** Texto e fotografias: Ulisses Passarelli
[I] - PASSARELLI, Ulisses. São Gonçalo do Amarante. Gazeta de São João del-Rei, n.366, 03/09/2005.
[II] - Cf. DIAMANTINO, Dêniston F. A vida e a dança de São Gonçalo. Belo Horizonte: Opará Vídeos, 2001. Documentário VHS, 27 min.
[III] - Informante: Luís Santana, São João del-Rei, nov. / 1998.
[IV] - Para maiores detalhes sobre o congo e sua festa ver: PASSARELLI, Ulisses. Notas sobre o distrito de São Gonçalo do Amarante. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, v.10, 2002. 180p.il. p.87-125.
[V] - Cf. PASSARELLI, Ulisses. Mouros & Cercadores. Carranca, Belo Horizonte, ag. / 1999. n.46, p.6.
[VI] - Cf. PASSARELLI, Ulisses. Dez antigas notícias sobre o antigo o folclore são-joanense. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n.11, 2005.
[VII] - Em agosto de 2006 este congo foi o único grupo convidado a um reinado promovido nas Águas Gerais, Bairro Tijuco, São João del-Rei, na Capela de Santa Rosa de Lima. A festa foi em formatação próxima à do Rosário de São Gonçalo do Amarante, mas o mastro foi de Santa Rosa. No ano seguinte participou de filmagens diante da Catedral do Pilar e no armazém ferroviário, relacionadas à divulgação do título são-joanense de “Capital Brasileira da Cultura – 2007”, para exibição no Discovery Channel. No fim do mesmo ano tocou na praça de São Gonçalo no contexto do mesmo evento, com a outra guarda do lugar e da folia local, além da banda municipal.
[VIII] - Em 1992 o programa foi impresso em papel-jornal, no formato 21,5 x 31,5 cm, em cor amarela, com escritos em azul escuro, sem ilustrações; em 1998 o programa saiu em papel-sulfite, tamanho 21,5 x 33 cm, branco, escritos em preto, com figura em silhueta da imagem de Nossa Senhora do Rosário da sua igreja em São João del-Rei; em 2007, usou-se o papel-couché, formatação de cartaz, 32,5 x 47,5 cm, branco com aplicação de cor azul nos escritos e em três fotografias: de Nossa Senhora do Rosário, da igreja e do congo, todos do próprio lugar, com efeito de envelhecimento. A disposição dos elementos pouco mudou: cabeçalho no alto, anunciando o título da festa, local e data; programação ao centro; logo abaixo horários dos ônibus para a vila; no rodapé, quadrículas comerciais para patrocinadores. Nas laterais fotos; no contorno geral, vinheta.
[IX] - A título de exemplo ver: GAZETA DE SÃO JOÃO DEL-REI, n.475,06/10/2007.
[X] - Sr. Antônio era o mais tradicional e entusiasmado rei de São João del-Rei. Faleceu ao completar 70 anos de reinado. Sua última participação foi na Festa do Divino de 2008, da qual se tornara uma figura emblemática.
[XI] - SOUZA, José Moreira de. Pinhões: mito e folclorização. Revista da Comissão Mineira de Folclore, Belo Horizonte, n.24, dez.2004. 161 p.il. p.85-109.
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