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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 26 de agosto de 2014

Quadrinhas de amor - parte 3

Esta postagem apresenta aos estudiosos e amantes da poesia popular mais cinquenta quadras compostas sob a inspiração do amor, parte de uma coleção bem maior, em parte já exposta neste blog e com outros números planejados. 

São quadras anônimas e talvez em alguns casos tornadas propositalmente "anônimas", ou em outras palavras, quiçá apropriadas pelo povo de autores conhecidos e repetidas de boca em boca ou de caderno em caderno, como se fossem de autoria própria. E assim ganham asas e se reconfiguram sob novas influências, variantes, corruptelas e regionalismos. É um processo de folclorização. 

As trovas de amor revelam muitas vezes uma filosofia popular que rege os relacionamentos, mormente os da juventude e adolescência. Outras vezes mostra na sua trama um amor platônico; desilusão, paixão ou tão somente simpatia. Algumas tem desfecho gentil e educado, mas por vezes se fazem grosseiras e até cômicas. Nota-se também em algumas a repetição de fórmulas, tais como os versos-feitos, que aparecem em várias quadras de diferentes procedências. 

O saber popular permite toda esta flexibilidade. Em sua lógica não se prende a fórmulas rígidas. O importante é ser funcional.

Página de um caderno de poesia popular.
Santa Cruz de Minas, 1996. 

Sei que você gosta de mim,
Menina, se tu soubesse,
Embora diga que não.
Como eu te tenho amor,
A boca nem sempre diz
Tua caías em meus braços
O que senti o coração.
Como o sereno caiu na flor.


Menina, minha menina,
O amar e o querer bem,
Quem te fez tão bonitinha?
Todos dois andam junto,
Foi o sol, foi a lua,
O amar passa trabalho,
As estrelas miudinha...
Querer bem padece muito.


Da roseira nasce espinho
O suspiro mais a saudade,
E nasce também a flor;
São dois amor que eu tenho:
Do seu orgulho, carinho,
O suspiro é quando eu vou,
Do seu desprezo, a dor...
A saudade é quando eu venho.


Com A escrevo amor,
Fiz o A pra te amar,
Com P escrevo paixão,
Fiz o Q pra te querer,
Com R escrevo Roberto[1],
Fiz o D pra te deixar,
A letra do meu coração!
Somente quando eu morrer.


Seus olhos são de veludo,
Se eu fosse uma pedra,
Seu sorriso, encantador;
Queria que você sentasse,
Sua boca é meu livro,
Mas como sou gente,
Na faculdade do amor.
Queria que você me amasse.


Joguei uma pedra n’água,
Sua boca é uma rosa,
A onda foi espalhando,
Seu nariz é um botão,
Uma lágrima discreta
Dentro dos teus olhos tem um laço
Veio em meu rosto molhando.
Que prende meu coração.


A paixão e a saudade
Menino dos olhos pretos
São duas fiéis companheiras:
Olhos preto, matadô,
A paixão dura pouco,
Se eu morrer por esses dias
A saudade a vida inteira.
Seus olhos que me matô...


Sua mãe é uma rosa,
Dentro da minha casa,
Seu pai é um jardim,
Corre água sem chover,
Os dois trabalharam juntos
Não sei se são meus olhos
Pra criar você pra mim.
Que chora por não te ver.


Você disse que sou criança
Você disse que sou criança,
Recebi isto com fervor,
Criança sei que sou;
Pois mesmo pequenina,
Um dia você sentirá saudades
Estou morrendo de amor.
Da criança que te amou.


Oh, meu querido
Mandei te retratar
Da minha veneração!
Na parede de meu quarto,
Deus grave suas palavras
Para na hora que não te ver
Dentro do meu coração.
Consolar com seu retrato.


Os pássaros pedem ar,
Os pássaros perderam as penas,
Os presos, liberdade,
Os peixes perderam as escamas,
Eu peço a você,
Eu vivo perdendo tempo,
Amor e felicidade.
Amando quem não me ama.


Moreno dos olhos lindos
O beijo que você me deu
Que um dia encontrei,
É sofrimento para mim,
Não sei o que tu tens
Andarei sempre sofrendo,
Que logo apaixonei.
Até chegar o meu fim.


O amor é como um punhal,
É triste a dor da saudade
De dois cortes fatais,
Ao despedir de alguém.
Quem ama sofre muito,
Quem parte, parte chorando,
Quem não ama sofre mais ...
quem fica, chora também.


Hoje eu vi uma abelha[2],
O vento quando é forte
Pousada, tonta de amor,
Joga folha no chão;
Em tua boca vermelha,
O amor quando acaba
Pensando que era uma flor.
Deixa dor no coração.


Enquanto o mundo for mundo
Se entre duas pedras
Enquanto Deus governar,
Pode nascer uma flor,
Enquanto você desistir,
Então, por que entre nós
Outro, não hei de amar.
Não pode nascer um amor?


A folha da bananeira
Eu tive um sonho esta noite,
Tem quatro ou cinco recortes
Sonho de tanta alegria,
Hei de te amar
Sonhei que me casaram a força
Até na hora da minha morte.
Logo com quem eu queria.


Quando vires a tarde fria,
Quando ver o dia triste,
Não pense que vai chover
A tarde querendo chover,
São meus olhos tristes
Lembre-se que são meus olhos
Que choram por não te ver.
Que choram por não te ver.


Subi no pé de lima
Não te ofereço rosas
Chupei lima sem querer;
Porque tem espinho;
Espetei no espinho
Mas te ofereço meu coração
Pensando que era você.
Com todo amor e carinho.


Se amar for pecado
Sou um jardineiro imperfeito,
Quero ser um pecador,
Pois, no jardim da amizade,
Para ser crucificado
Quando planto um amor-perfeito,
Nos braços do meu amor.
Nasce sempre uma saudade...


De saudade ninguém morre,
Meu amor me deu um beijo,
Vive sempre a sofrer,
O meu corpo estremeceu,
Creio que é verdade,
Depois de nove meses
Pois vivo sempre a sofrer.
O nosso filho nasceu...


Com Deus me deito,
As letras pegaram fogo,
Com Deus me levanto,
Corri para salvar;
Breve eu terei
Salvei a letra ... [3]
Você ao meu canto[4].
O resto deixei queimar.


Quando eu tinha 11 anos
Minha vida é um céu
Só pensava em brincar,
Quando estou do teu lado,
Agora que tenho o dobro
Vira inferno,
Só penso em te amar.
Quando estamos separados.


Ribeirão que corre água,
Se eu fosse uma rainha,
No fundo corre areia,
Te daria o meu reinado,
Se amar fosse crime,
E se fosse uma andorinha,
Eu estaria na cadeia.
O meu ninho do telhado.


Quando eu te amava
O teu rosto é lindo,
Você era a flor do meu canteiro.
Teu sorriso encantador,
Agora que te odeio,
Não me canso de falar,
Você é o porco do meu chiqueiro.
Eu você é meu amor.


Do céu quero uma estrela,
Esta noite eu tive um sonho,
Do jardim quero uma flor,
Na praia do mar sereno:
Dos teus lábios quero um beijo
Sonhei que estava beijando
Do teu coração quero amor.
Seu lindo rosto moreno.


* Texto: Ulisses Passarelli
** Informante: Maria Aparecida de Salles, Santa Cruz de Minas, 1996.
*** Leia também: 



[1] - Verso que permite a flexibilização da letra inicial para ajustar a qualquer outro nome.
[2] - Leia sobre o folclore das abelhas na postagem: As abelhas na cultura popular
[3] - Enuncia-se a letra inicial do nome do amado.
[4] - Paródia de uma conhecidíssima oração do tipo ensalmo: “Com Deus me deito, / com Deus me levanto, / na graça de Deus,/ do Divino Espírito Santo.” Ela enseja também outra paródia, de cunho antes humorístico que desrespeitoso, da mesma procedência desta série de quadras: “Com Deus me deito, / com Deus me levanto, / eu na beirada, / a negra no canto.”

3 comentários:

  1. você diz que sou criança mas criança eu não sou;um dia você vai se lembrar da criança que te amou.

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  2. gosto da rosa porque enfeita o meu jardim e gosto da sua mãe porque fez você pra min

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