Siracusa, Itália 283 – 304. Luzia, cristã, mártir, santa. Defendendo sua virgindade, foi perseguida ao tempo do Imperador Diocleciano. Santa popularíssima no Brasil é festejada a 13 de dezembro. As comunidade dedicam-lhe trezenas, novenas e tríduos, com muito fervor, além de outras rezas, objetivando, sobretudo, a proteção das “vistas” – da visão, dos olhos. É tida como protetora deste sentido e dos órgãos visuais. Conta-se que Luzia tinha lindíssimos olhos, causa de muito assédio. Para conter seus admiradores arrancou-os, e os ofereceu em uma salva. No dia seguinte, milagrosamente, enxergava com novos olhos.
Em São João del-Rei / MG,
encontram-se algumas tradições acerca desta santa. O povo apela ao seu socorro
nas enfermidades ópticas com preces e benzeções. Uma oração:
┼ “Gloriosa
Santa Luzia,
Símbolo de
castidade,
Remédio precioso
das minhas vistas:
Por caridade...
(reza-se uma Ave Maria)
Gloriosa Santa
Luzia,
Dai minha
vista...
Por caridade!”
Quando um corpo estranho cai na
conjuntiva, logo o povo lembra-se da Mártir de Siracusa:
┼ “Santa Luzia
passou por aqui,
com seu
cavalinho
comendo capim”.
Ou
:
“(...)
Com seu
cavalinho
Fazendo
assim...”
E quem benze vai com a polpa do dedo
polegar descrevendo movimentos circulares sobre o olho fechado da pessoa
afetada, fazendo a pálpebra deslizar sobre o globo ocular. Repete-se três
vezes. É solução conhecida em São João del-Rei.
Também desta cidade:
┼ “Corre, corre
cavaleiro,
Vá na rua de São
Pedro,
Vá buscar Santa
Luzia
Para tirar o
cisco de meus olhos.”
E o benzedor pergunta: “_ Cadê?”, e o devoto responde: “_ Foi embora!”, e sopra-lhe os olhos. O
processo se repete três vezes e deve se completar com um Pai-Nosso e uma Ave
Maria. É fórmula muito divulgada.
Respeitamos as cruzinhas antes do
primeiro verso, como faz o povo quando porventura anota algumas de suas rezas.
Pedem que façamos o mesmo quando nos informam orações. Demonstra a benignidade
da fórmula devota e que deve ser iniciada com uma persignação (Nome do Pai).
Na zona rural deste município, no
distrito chamado Caburu (atual São Gonçalo do Amarante), cantadores-tocadores
reúnem-se com outros da povoação da Boa Vista, distrito do município de
Conceição da Barra de Minas, e saem à noite, pela escuridão dos caminhos, com
uma Folia de Santa Luzia. É um grupo folclórico formado por uns dez a doze
homens, cada qual tocando um instrumento: violões, cavaquinho, pandeiros, caixa
e às vezes, triângulo e chocalho. A música é chorosa e os versos são cantados
em dísticos por um “tirador” e repetidos em coro pelos demais participantes
(“folieiros”). Esta repetição é chamada “resposta”. Termina com um prolongado
“ai, aaaaai...!” perdendo-se no ar com o fôlego da garganta. Alguns do coro
cantam em falsete, sempre tendo um folieiro cuja voz sobressai pelo tom em
falsete, sempre tendo um folieiro cuja voz sobressai pelo tom muito agudo,
sobretudo ao término da resposta. Ele é o “requinta”. As rimas entre os
dísticos subsequentes são ocasionais. O organizador do grupo é chamado
“folião”, ou “mestre-folião”. Imediatamente após o canto, a caixa bate “seco”,
ecoando o seu som peculiar dado pelo couro de boi retesado no aro do tambor.
Durante o canto ela não bate.
É um grupo baseado nas outras folias locais, principalmente as de Reis e as de São Sebastião. Levam uma bandeira de pano vermelho, ao centro da qual há uma estampa de Santa Luzia, que é o “registro” da bandeira. Ao seu redor há muitos enfeites, tais como fitas coloridas e flores (naturais e artificiais). É objeto de máximo respeito. Vai sempre à frente do grupo. Chegam de surpresa nas casas que visitam, na calada da noite, e encostam a bandeira na porta. O canto inicia pedindo abertura da casa.
Os moradores abrem a porta, pegam a
bandeira, beijam respeitosamente e levam-na para dentro. Enquanto a folia canta
na sala versos alusivos à santa e homenagem aos donos da casa, quem recebeu a
bandeira leva-a por todos os cômodos, passando inclusive seu pano santo sobre
as camas para abençoar.
O tirador canta o pedido de esmola
para a bandeira. Seu responsável, o “bandeireiro”, recolhe o óbolo e coloca-o
em um embornal de pano vermelho, espécie de sacolinha. Cantam então em
agradecimento, despedem-se e partem para outra casa.
“Vou pedir Santa
Luzia, ai,ai!
Para lhe dar
muita saúde, ai,ai!”
Não se nega esmola. Daria muito
azar. A visita da folia é uma bênção preventiva que afasta todos os males,
principalmente doenças dos olhos. A folia sai no mês de dezembro e as esmolas
são revertidas à Capela de Santa Luzia, na Boa Vista, para ajudar nas despesas
da animada festa. É a padroeira do lugar.
Santa Luzia também está na quadra
popular, como esta, de Santa Cruz de Minas:
“Santo Antônio
Pequenino,
Tinha os olhos
de véiaco;
Namorou Santa
Luzia
Espiando pro
buraco...”
“Véiaco” (velhaco) quer dizer
espertalhão. Essa intimidade com o santo é muito querida de nosso povo e só vem
a provar a grande popularidade de Santa Luzia (e também de Santo Antônio),
verdadeiro centro de atenção e devoção, motivando rezas, benzeções e crenças
por grande parte do Brasil. [1]
Em São João del-Rei, na Igreja de São Gonçalo Garcia, acontece a Festa de Santa Luzia, em dezembro. O conjunto de fotografias abaixo, retrata alguns momentos marcantes de seu Dia Maior.
Missa de Santa Luzia. |
Devotos tocam na imagem e passam os dedos sobre os olhos. |
Saída da procissão. Da torre cai papel picotado e pétalas de flores. |
Banda Municipal Santa Cecília toca um dobrado na saída da procissão. |
Devota com vela acesa acompanha a procissão. |
Procissão em marcha pela Avenida Nossa Senhora do Pilar. |
Da torre sineira ecoa o som do bronze anunciando o festejo a toda a cidade. |
[1] - Todo o texto até este ponto foi transcrito e adaptado para esta postagem a partir da seguinte publicação: PASSARELLI, Ulisses. Santa Luzia passou por aqui... CMFL Notícias. n.20. Belo
Horizonte: Comissão Mineira de Folclore, abr.1997. p.7-8.
Nenhum comentário:
Postar um comentário