Bem vindo!

Bem vindo!Esta página foi criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas, tampouco acadêmicas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Antigamente

Pseudo vídeo: apresentação de slides apresentando aspectos antigos ou tradicionais 
do bairro Matosinhos, São João del-Rei/MG.

Créditos

- Edição: Iago C.S. Passarelli.
- legenda: Ulisses Passarelli. 
Notas

- Revisão: 18/06/2025. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma fábula da bicharada: o bicho-folharal


Foi numa época de seca muito forte. Toda água estava esgotando e os animais da mata estavam com sede. Fizeram uma reunião: o tatu, a onça, o tamanduá, o macaco, toda bicharada estava lá. A assembléia decidiu por um mutirão formado por todos aqueles bichos furar um poço na parte mais baixa, na esperança de achar água potável. O coelho foi o único a discordar, negando-se ao trabalho.

Os animais protestaram com razão, porque se ele não ajudasse na labuta não poderia beber. A onça por ser a mais temida deu o veredito: ela mesma tomaria conta do poço. "Ai" do coelho! Se atrevesse beber sem ter trabalhado, o devoraria...

Os animais começaram o serviço custoso. Os tatus logo puseram a cavoucar. Outros bichos carregavam terra, outros mais buscavam paus para escora e assim foi por alguns dias, mas o coelho... nada de ajudar! Só de longe olhando e rindo da serviçada sem fim.

A cisterna ficou pronta depois de muita peleja e a bicharada matou a sede à vontade, sem perseguição alguma. O coelho não apareceu. “Viu só”, comentou a onça com impáfia, “o orelhudo não se atreveu...”

Mas de longe ele observava e deu um jeito de enganar a escolta da onça. Besuntou o corpo todo de mel e depois rolou sobre as folhas secas da mata que grudaram no seu pelo deixando-o irreconhecível. Arrancou uns ramos de samambaia e chuchou-os ao pelo embolotado. Lá foi o coelho disfarçando o andar, num gingado diferente. A onça vislumbrou desconfiada a chegada.

_ Boa tarde!
_ Boa tarde, senhora!
_ Que mal lhe pergunte, mas... quem é o senhor?
_ (Respondeu o coelho com vozeirão gutural, disfarçando) sou o bicho folharal.
_ Folharal?! Uai... mas eu nunca vi o senhor aqui. Donde o senhor é?
_ Eu vim lá de longe daqueles morro. Tô de viagem e lá vou pras banda de lá... Mais tô com muita sede, esse sole bravo, seca danada...
_ Quê isso! Num vai ficar com sede não. Óh, furamo esse poço aqui, os bicho tudo, de menos o sem vergonha do coelho... Mas deixa ele passar por aqui... Mais...e, o sinhôre pode bebê o quanto quisé. É um visitante.
_ Brigado!

Foi lá o coelho, digo, o folharal, e tomando de uma cumbuca, matou a sede o quanto quis enquanto a onça o olhava de baixo em cima, cismada, mas sem atinar o logro.

_ Água boa essa aqui, viu. Fresquinha! Brigado a sinhóra...
_ De nada!
_ oh, num arrepara não mais já tamo na vorta do dia e ainda tenho mais de légua pr’aquele rumo. Eu vô chegâno. Muito agradicido!
_ Vai com Deus, seu Folharal!

Saiu o descarado do coelho naquele requebrado. A onça meio pasmada olhava sua figura no fim da trilha. Quando a distância era já segura, O Bicho folharal voltou-se para a direção da onça e começou a sacudir o corpo todo e arrancar todas aquelas folhas e ramos e vendo-se livre do disfarce, riu demais daquela bruta. E saiu correndo disparado pra grota abaixo, entremeio de moitas e moitas até sumir.

Ficou revoltada, aos urros de estremecer a mata. A bicharada veio saber da nova. Ficaram fulos de raiva. Foi a raposa que deu a idéia da vingança.

_Oh, vão fazê assim: nóis cavuca uma cova e dona onça deita nela de barriga pra cima. Cubrimo ela tudo de capim e fôia seca. Fica lá paradinha...  sem mexê nada, só com um furinho no mei’ das  fôia pra mode respirá. Aí vamo ispaiá nutícia que a terra tá revortada co’a seca e vai escancará a boca e mostrá seus dente, que devora tudo quanto é bicho morto no chão. O cuêi’ é munto curioso e vai chegá pra vê. Aí a sinhora arreganha a guela que impurro ele lá dentro. Daí é só mordê. Esgana ele! Disaforado!
_ uai, sô... Muito boa idéia! Cumé que num pensei nisso...
_ Ah,com todo respeito, eu sô a raposa num é a toa...
Assim fizeram. Os animais em roda, circulando o lugar onde a suposta boca da terra iria se abrir.
_ Chega aqui perto cuelho, óia ali que a terra lá vai rachando... Chega aqui pertinho, pr’ocê vê!
_ Não, daqui mesmo tá bão. Tá dano pra vê...
_ Ah lá os dente pontano! Óia que bruto, cuêi’ !

Ele esticou o pescoço e vendo que era uma presepada da onça com a raposa, abaixou ligeiro pegou uma grande pedra e jogou na garganta da onça. E deu o fora o mais rápido que pode. A onça se debatendo sufocada esperneava de dor sem poder reagir e nenhum bicho teve coragem de chegar perto para acudir. O coelho sumiu no mundo. Nunca mais voltou naquela região.


Notas e Créditos

* Informante: Luís Pereira dos Santos, povoado da Candonga (Tiradentes / MG), 2007.
** Adaptação textual e desenho: Ulisses Passarelli.

Alimentação

Pseudo vídeo: apresentação de slides retratando as relações culturais que envolvem a alimentação, 
no  cenário festivo do Jubileu do Divino em Matosinhos, São João del-Rei/MG. 

Créditos

- Edição: Iago C.S. Passarelli.
- legenda: Ulisses Passarelli. 
Notas

- Revisão: 18/06/2025. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Rasoura dos Passos

É COM MUITA SATISFAÇÃO QUE COMUNICO O RETORNO DAS POSTAGENS DESTE BLOG, INFELIZMENTE, SUSPENSAS DESDE JANEIRO DESTE ANO, EM DECORRÊNCIA DE PROBLEMAS TÉCNICOS NO COMPUTADOR. POR ISTO PEÇO DESCULPAS AOS CAROS LEITORES E LHES AGRADEÇO PELAS VISITAS, QUE, A DESPEITO DA FALTA DE NOVAS  POSTAGENS NESTE PERÍODO, AINDA ASSIM, SE MANTIVERAM EM BOM NÍVEL. CONTINUAREI NA MESMA LINHA DE PRODUÇÃO ATÉ A HORA QUE DEUS QUISER. AMÉM! 

PARA INICIAR ESTA SEGUNDA FASE, INCLUI O TEXTO "RASOURA DOS PASSOS", EM MEMÓRIA DAS COMEMORAÇÕES QUARESMAIS DE SÃO JOÃO DEL-REI, RECÉM PASSADAS. AS FOTOS SÃO RECENTES MAS O TEXTO EM SI NÃO. O RITUAL PORÉM PROSSEGUE, ANO A ANO. A PAR DESTE POST,  SUGIRO QUE LEIAM TAMBÉM  O "RASOURA DAS DORES", POSTADO EM JULHO DE 2012, POIS AMBAS AS RASOURAS ACONTECEM NO MESMO DIA, EM IGREJAS DIFERENTES. SEGUE IGUALMENTE INCREMENTADO POR FOTOS DESTE ANO. ESPERO QUE AGRADEM. 

BEM VINDOS DE NOVO. VISITE, DIVULGUE E VOLTE SEMPRE A ESTA PÁGINA. 



Imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos em seu andor aguardando o momento da rasoura, na Igreja de São Francisco de Assis e a Rasoura das Dores contorna o Largo do Carmo,
em São João del-Rei/MG

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RASOURA DOS PASSOS

 Ulisses Passarelli

               Dentro da monumental Igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei, exala-se um odor diferente, que muitos consideram sagrado. É o rosmaninho, aquela planta colhida nos pastos úmidos e de terra boa, que se cobre de roxas flores na quaresma. Desfolhado no tabuado bicolor do assoalho, confere um ar pitoresco ao templo. Retribui o pisoteio dos fiéis soltando o seu aroma. Aliás, diz o povo: “quem passá pelo rosmanin’ e não chêrá, para o céu não irá”.
                O santo de Assis e todos os outros, estão encobertos de cortinas roxas, marcadas na frente por uma cruz amarela, agalonada. Todas as atenções se voltam para o Senhor dos Passos, visível em seu grande andor, lá no presbitério. Tem dois círios acesos na dianteira. Hortências lhe adornam a feição pesada. Enfim, carrega naquela imensa cruz preta, todos os pecados da vil humanidade.
                Os fiéis, arrependidos e com todo o respeito, ajoelham-se ante a grande imagem, da qual sai longa fita roxa, que repousa sobre um genuflexório e termina num escapulário, onde estão bordados estigmas da Paixão. Ali, uns após os outros, depositam o ósculo devoto. É possível ver que com discrição, muitos dão uma ou três voltas em redor do andor, e ao passar pela cruz, cuja base está suspensa por um gancho de ferro – o sirineu – (lembrando o Simão bíblico, que ajudou a segurá-la), em vez de rodeá-la por detrás, beijam-lhe e passam por debaixo, o que simbolicamente é uma limpeza dos males. Este ato em si mesmo configura-se em si mesmo como folclórico, típico da espontaneidade da cultura popular. Ao mesmo tempo Cristo está também carregando a nossa cruz, um pesado fardo pecaminoso.
                A igreja está repleta. Os bancos são tomados. De fora, muitos estão no formoso adro, conversando enquanto aguardam. De dois janelões frontais pende longa flâmula roxa com quatro letras douradas: S P Q R,  iniciais da arrogante expressão latina “Senatus Populus Que Romanus” (senado e povo romano), símbolo do poder de mão de ferro, emblema da ignóbil condenação. Mas ao povo isso pouco importa e preferem dizer que são iniciais de “sal, pão, queijo e rapadura”, ou ainda com mais gaiatice, “São Pedro quer rapadura”.
                Chega a banda militar, afinadíssima. Dá gosto ver o esmero do uniforme, os coturnos pretinhos de graxa, a disciplina.
                Lá dentro, o coral tudo de preto, como num luto à antiga, se posiciona atrás do andor e entoa o comovente “Miserere”, de Manoel Dias de Oliveira. Segundo a sua misericórdia, o Senhor dos Passos nos olha. Seu olho é de vidro, mas parece vivo, carregado de Paixão e acho que também de dó de nós, que não sabemos o que fazemos. Perdoai-os, Pai!
                A irmandade toda na dianteira. Opas e chamas bruxuleantes deixam em passos lentos o templo. Varas de prata emblemáticas reluzem. Sua excelência reverendíssima vem também, cingido de mitra e munido de báculo. Os sineiros se esforçam no movimento insistente do pesado sino. Seu badalo está enfeitado de um penacho de fitas roxas, que varrem o beiral de pedra da torre a cada giro. Para quem sente, ele não ecoa no bronze, mas no coração. O sol de março dá um brilho incomum às orquídeas em buquê, na mão do Mestre. Tais catléias, algumas pessoas cultivam em especial para essa ocasião.
                O povo acompanha. A banda também, com sua melodia fúnebre. O Senhor balanceia, ferido, cheio de escárnio, com a imensa cruz no ombro. “Abre a porta gente, lá en’vem Jesus! Ele en’vem cansado com o peso da cruz... Vem de porta em porta, vem de rua em rua, vem salvar as almas, sem culpa nenhuma...”, dizem uns versos do cancioneiro popular, que nessa hora me correram à lembrança.
                Ah! Lembrei. Tem também o insigne Padre Pedro Teixeira, o mais barroco dos nossos sacerdotes, com sua capa de asperges sob o pálio, trazendo à mão o Santo Lenho. A sua passagem o povo se persigna.
                A pequenina procissão retorna para a celebração da Santa Missa. Pequena no tamanho, mas não na solenidade. A orquestra se posiciona, gemem os violinos. Comungamos e o Senhor nos conforta...
  
                                                                                                               (Quaresma de 2006)

Imagem do Senhor dos Passos e de fiéis passando por baixo de sua cruz. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli, quaresma de 2006
** Fotografia e foto-montagem: Iago C.S. Passarelli, março/2013

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Folia do Divino do Bom Pastor

Feliz ano novo!!! 2013 seja para todos um ano de paz, saúde e prosperidade, na graça de Deus! São votos de TRADIÇÕES POPULARES DAS VERTENTES. 


Folia do Divino.
Bairro Bom Pastor, Matosinhos, São João del-Rei / MG. 
Folião e Embaixador: "Didinho". 04/06/2011.
(Durante a Procissão do Imperador Perpétuo, entre as igrejas de São Francisco de Assis e Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Esta é uma das três toadas tiradas por esta folia). 

Notas e Créditos

* Vídeo, edição, acervo e texto: Ulisses Passarelli. 


domingo, 30 de dezembro de 2012

Folia do Divino da Rua São João



Folia do Divino, Rua São João, Bairro Tijuco, São João del-Rei / MG, 04/06/2011.
Folião e Embaixador: Antônio Ventura. Durante a Procissão do Imperador Perpétuo - Santo Antônio - quando todas as folias marcham cantando rumo a Matosinhos,  o Mestre Ventura na sanfona, executa uma toada bem típica desta região mineira. O tom da resposta é característico de São João del-Rei e arredores.


Notas e Créditos

* Vídeo, edição e acervo: Ulisses Passarelli. 
** Clique aqui para assistir outro vídeo desta folia.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Felicitações

Feliz Natal!!! Boas festas!

São os votos do TRADIÇÕES POPULARES DAS VERTENTES a todos os leitores deste blog.
Que a graça de Jesus irradie iluminando a humanidade. 

Antigo cartão de natal, de acervo familiar. Foto: Ulisses Passarelli.


domingo, 23 de dezembro de 2012

Quem conta um conto aumenta um ponto...


É com muita satisfação que se inicia através desta estória, a postagem de narrativas populares _ contos, fábulas, lendas, mitos e causos _ que fazem parte do universo do folclore, mais especificamente da literatura popular, no caso, a oral, conservada geração após geração. 

No passado, antes do advento da televisão, quando as novelas e outros programas hodiernos não tomavam das famílias todo o tempo de convívio e conversa, as mães, avós, padrinhos, amigos se socializavam muitas vezes, compartilhando narrativas, lembranças, que construíram parte do imaginário de muitas crianças, contribuindo eficazmente no seu processo educativo. Por todas as partes do mundo, a literatura oral é uma riqueza da cultura popular, eivada de regionalismos, mas também paradoxalmente universal em seus temas. Transmitem crenças, interdições, conselhos, lições de vida, entretenimento, identidade e origens. 

O título escolhido evoca também a oralidade, pois é um ditado tradicional.

O conto que ora apresento para inaugurar estas novas postagens, ouvi-o algumas vezes de minha sogra, Elvira Andrade de Salles, em Santa Cruz de Minas / MG, pelo fim dos anos noventa. Narra um fato extraordinário acontecido com um rapaz bastante preguiçoso que adorava comer queijo e banana. Redigi com minhas palavras, sem contudo adulterar nada dos detalhes e desenrolar da narrativa original e o ilustrei com um esboço que ousei rabiscar, como fazia na infância.

Acompanhem, que em breve novos posts com esta temática estarão disponíveis no blog, para apreciação, estudo e registro. 

João Queijo-banana


Este é um Conto de Encantamento, segundo a terminologia adotada por CASCUDO, que explanou sobre eles: 

"Caracteriza-os o elemento sobrenatural, o encantamento, dons, amuletos, varinha de condão, virtudes acima da medida humana e natural. (...) Entre todos os contos, os de Encantamento são os que apresentam maior percentagem europeia. Quase todos nos vieram de Portugal, já possuindo convergências de outras estórias que ainda mais se diferenciaram no Brasil."

Ainda segundo suas palavras, muitas vezes quem vence no final é ... 

"o amarelo(*), o mais triste e fisiologicamente indicado para a mais lógica de todas as derrotas. (...) os auxílios são sempre extra-terrenos. O herói não tem maiores aliados dentro da humanidade. Os objetos mágicos decidem."

Assim o nosso João Queijo-banana; assim o vencedor na estória "O Preguiçoso e o Peixinho", que o citado autor transcreveu, sendo uma versão baiana do presente conto, colorido com outra desenvoltura mas com a mesma essência: um preguiçoso salva um peixe mágico que lhe propicia favores extraordinários, que garantem seu casamento com a princesa do reino. Eis o tema, o âmago da estória, conhecida também de acordo com CASCUDO em Portugal ("João Mandrião", "O Peixinho Encantado", "O Preguiçoso da Forneira", "Pedro Preguiça"), na Rússia, Grécia, Itália, Alemanha e América Espanhola. 

* * *

      João era o único filho de uma senhora que fazia de tudo para sustentar a casa. Enquanto trabalhava muito, ele, muito preguiçoso, só queria comer muito queijo e banana, que adorava. Daí seu apelido. Certo dia porém sua mãe adoeceu. Acamada não podia mais trabalhar para o sustento da casa e João Queijo-banana teve quer fazer sua parte. Resmungando foi buscar lenha para fazer o almoço.

        Lá no mato decidiu cortar bastante lenha pois assim não teria de voltar de novo para buscar mais. Fez um feixe enorme, amarrado de cipó, mas mesmo com grande esforço não deu conta de carregá-lo.

      Cansado com o esforço, chegou ao córrego para tomar água. Viu um peixinho se debatendo numa pequenina poça isolada e prevendo que morreria logo pela ação do sol, resolveu pegá-lo. Soltou o peixe no córrego e logo de uma sacudida do rabo afundou e tornou a emergir, pondo a cabeça para fora da água, falou com João:

_ Muito, obrigado!
_ Você fala?!
_ Sim, sou um peixe encantado. E meu agradecimento por ter me salvado é te conceder os pedidos que você quiser. Basta pedir o que quiser e falar alto: “Valha-me, meu bom peixinho!”
_ Sendo assim, meu primeiro pedido é carregar esse bruto feixe de lenha para casa porque eu não estou aguentando.
_ Sobe nele. Monta como se fosse num cavalo. (João obedeceu). Agora fala a frase...
_ Valha-me, meu bom peixinho!

        O feixe de lenha ganhou vida e de um arranco danado, saiu estrada afora galopando e João Queijo-banana, montado nele mal podia se segurar, com seus pinotes, qual um burro bravo.

        No caminho a estrada passava diante do castelo e da janela do alto da torre a tristonha princesa avistou a passagem do estranho cavaleiro: que figura bizarra! Levantando um poeirão, lá ia o João gritando, se esforçando pra não cair. A princesa não se conteve soltou muitas gargalhadas.

        Ocorre que ela sofria de terrível melancolia, motivo pelo qual a muitos anos não dava um único sorriso. Seu pai se preocupava muito com isso mas sentia-se impotente pois tudo que fora tentado falhou. Quando o rei ouviu a filha dando risadas, correu para ver se era verdade. Contentíssimo explicou-lhe o ocorrido e logo o rei colocou seus soldados atrás de João, ordenando sua presença imediata no castelo.

        Trouxeram-no de sua casa. O rei lhe intimou a casar com sua filha, pois dera sua palavra que daria a mão da princesa ao homem que a fizesse rir. Se recusasse teria de enfrentar a pena de morte. Não tinha como escapar e João gostou da ideia mas ficou muito preocupado porque sendo pobre teria de recepcionar a toda a corte com um grande banquete no dia do casamento, marcado imediatamente.

         Voltou para casa cabisbaixo. Contou o ocorrido para sua mãe até que se lembrou do peixinho.
        Chegou o dia do casamento. O reino estava em festa e a hora se aproximava. A mãe de João Queijo-banana apavorada pois já pensava na morte de seu filho, que não conseguiria fazer a festa adequada. Mas ele a acalmou ...

_ Valha-me, meu bom peixinho!

       Apareceu tudo pronto, num instante! Roupas novas, mesa posta com fartura, tudo do bom e do melhor... O encanto funcionou.

           Houve a festa. Festança. João casou-se com a princesa e viveu na riqueza o resto de sua vida. 




Referências Bibliográficas

CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura Oral no Brasil. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1984. 435p. p.256-273.


Notas e Créditos

* Amarelo: covarde, medroso, ocioso - conforme o contexto.
** Texto e desenho: Ulisses Passarelli

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Congo do Caburu antigamente...

Antigas fotos do Congo de São Gonçalo do Amarante (ex-Caburu), distrito de São João del-Rei / MG, de autor e data não identificados, gentilmente cedidas para reprodução pelo festeiro do Rosário daquela vila, Dorival Caim de Paula, filho do atual Capitão, Lourival Amâncio de Paula. A eles agradeço e ofereço. 


Congo, ao tempo do ilustre Capitão Inácio Fagundes, vendo-se vários membros do Reinado. 


Congo, quando era regido pelo célebre Capitão Vicente Fagundes. Nesta época os congadeiros usavam um lenço sobre a cabeça para melhor suportar o capacete, tal como como ainda se faz no grupo do Rio das Mortes, outro distrito são-joanense. O capitão usava um peitoral. Estes detalhes da indumentária desapareceram hoje. 


O Congo sob a capitania de Valdemar Fagundes, outro saudoso Capitão daquela família baluarte do reinado na vila. 


Congo de São Gonçalo regido pelo distinto Capitão Raimundo Sabino. 


Congo marchando pelo largo de São Gonçalo do Amarante, batalhão do rosário. 

Nótulas geográficas sobre São João del-Rei

São João del-Rei está situada na Mesorregião Campos das Vertentes, do centro-sul de Minas Gerais e polariza uma das três microrregiões dessa área: Microrregião de São João del-Rei. Em relação às quatro capitais do sudeste, dista aproximadamente 184 km de Belo Horizonte, 331 do Rio de Janeiro, 470 de São Paulo e 575 de Vitória. Sua posição geográfica é de 21º 08’ 07” de latitude sul e 44º 15’ 41” de longitude oeste. A população total do município, segundo o senso do IBGE, ano 2000, é de 86.258 habitantes, assim distribuídos: 

zona rural

DISTRITO
POPULAÇÃO (nº de habitantes)
São Miguel do Cajuru
1.114
Emboabas
1.129
Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno
2.586
São Gonçalo do Amarante
810
São Sebastião da Vitória
2.003
SUB-TOTAL:
7.642


zona urbana


BAIRRO
POPULAÇÃO (nº  de habitantes)
Bonfim
4.116
Centro
7.958
Colônia
7.002
Fábricas
9.139
Jardim Central
2.253
Matosinhos
18.671
Senhor dos Montes
6.335
Tijuco
14.881
Sem especificação
8.261
SUB-TOTAL:
78.616
         
Vista parcial de São João del-Rei tomada da "Estrada do Cascalho",
no final do Bairro Tijuco. Ao fundo, a Serra de São José. 10/11/2013. 
A população em 2010 era de 84.404 pessoas, das quais 79.790 na zona urbana e 4.614 na rural. Do total, 40.494 são do sexo masculino e 43.910 do feminino. Os domicílios somam 33.373. A densidade demográfica é de 57.67 hab/km2 [1] .

A estimativa de populacional segundo o site do IBGE para 2014 foi de 88.902 pessoas (acesso em 04/06/2015, 15:20 h).

A área do município é de 1.447 Km2. Além da sede, o restante da área está dividida em cinco distritos, que levam os nomes das vilas que os encabeçam: Emboabas, Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, São Gonçalo do Amarante, São Miguel do Cajuru e São Sebastião da Vitória, locais de muitas tradições.

Economicamente o que movimenta a cidade é o comércio e a prestação de serviços. O turismo tem sua contribuição, mas deseja-se que se torne mais forte. A indústria é pequena para a necessidade municipal, destacando-se a metalúrgica e têxtil. Predominam as micro-indústrias. É especialmente importante a produção de peças de estanho. A agro-pecuária com algumas exceções é de pequenas proporções e de efeito mais de subsistência ou de pequenas vendas. É polo microrregional de 4º nível. A exploração mineral que deu origem à cidade persiste, rendendo areia, caulim, argila, ouro, calcário, estanho, ocre.

Geologicamente predominam rochas do período pré-cambriano e nas áreas baixas - calhas fluviais (aluvião) - depósitos quaternários. A altitude municipal média está entre 900 e 1.100 metros, registrando-se extremos: 860m (estação ferroviária), 1.218 (Serra do Lenheiro), 1.283 (Serra dos Matolas) e 1.338 (Serra dos Olhos d’Água - ponto culminante do município).

A microrregião situa-se no Planalto do Sudeste, complexo da Mantiqueira. Destaca-se na microrregião a Serra das Vertentes, que tem rumo oeste, (Lagoa Dourada e Resende Costa), funcionando como divisor de águas do Rio Grande, São Francisco e Doce. De cada face sua, vertem águas para uma dessas bacias hidrográficas.

O clima é mesotérmico, Tropical de Altitude, variando as temperaturas médias entre 15,5º C (julho - mês mais frio) e 22,2º C (fevereiro - mês mais quente), atingindo porém picos. A média anual fica em 19,2º C. Na prática, temos verões chuvosos, com intervalos quentes entre os períodos de chuva (veranicos) e o inverno seco e frio (chegando a cair geada). Primavera e outono são relativamente nítidas e reconhecíveis pelo clima ameno intermediário. O índice pluviométrico anual é de 1.437 mm.

A vegetação já muito degradada misturava áreas de cerrado, campo de altitude (altimontanos) e rupestres, que são ainda usados para a pecuária extensiva; e mata tropical de encosta, quase extinta e outras vezes convertida em pequenas capoeiras, com o corte das árvores principais ou tendo mesmo aspecto secundário. Resistem raras matas de galeria (ciliares) ao longo dos rios. O cerrado foi em grande parte derrubado, convertido em lenha e mourão, desde a variedade típica até áreas restritas de cerradinho, cerradão e carrascal. Nas áreas baixas predomina a vegetação paludícola de várzeas e brejos.

A hidrografia tem como artéria principal o Rio das Mortes, que nascendo na Serra da Conceição (denominação local da Serra da Mantiqueira), a 1.200 metros de altitude, município de Santa Bárbara do Tugúrio, flui em sentido geral leste-oeste, indo desaguar na margem direita do Rio Grande, formador do Paraná, após o percurso total de 270km. Corta a microrregião de uma ponta a outra. Para ele convergem muitos outros rios menores, a saber: margem direita - Rio Carandaí, Rio Santo Antônio, Rio do Peixe, Rio Pirapitinga; margem esquerda - Rio Elvas e Rio das Mortes Pequeno. Além disto há muitos córregos, riachos, fios d’água. GUIMARÃES (1988) estudou magnificamente o assunto. Em São João del-Rei o destaque é para o Córrego do Lenheiro que atravessa a cidade de um extremo ao outro. O Lenheiro faz parte ativa de nossa história. Para ele convergem vários regatos. Outro destaque é o Ribeirão da Água Limpa que atravessa o Bairro de Matosinhos e capta as águas do Lenheiro.

Notas e Créditos


* Texto e foto: Ulisses Passarelli

[1] - Wikipedia, 18/04/2012.