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Bem vindo!Esta página foi criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas, tampouco acadêmicas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Queima do Judas no Caburu em 2025

A Queima do Judas já foi tratada com maiores detalhes em outras postagens deste blog. Observa-se em toda Mesorregião Campo das Vertentes que arrefeceu acentuadamente. Poucos lugares ainda a conservam; cenário de declínio, intensificado desde o início do século XXI. No próprio distrito em tela, incluso no município de São João del-Rei/MG, onde é muito tradicional, foi realizada anualmente até o ano de 1999, a partir do qual se descontinuou. Somente em 2014 (ver links no final desta postagem) foi reativada, depois de muito incentivo, totalmente às custas da comunidade local e sob o seu formato tradicional. Mas foi uma iniciativa isolada e nos anos subsequentes a manifestação cultural não aconteceu. Mais uma vez houve uma reativação, em 2025, quando no Sábado da Aleluia houve a Queima do Judas e o Boi Malhado saiu no largo, conforme mostram as fotografias desta postagem. 

A versão de 2025, em linhas gerais, seguiu ao mesmo formato daquela de 2014: 

- organização estritamente comunitária, sob a gestão de algumas lideranças do lugar, que se prontificaram livremente a assumir os desafios dos preparativos; 

- o boneco Judas de estrutura artesanal, recheado de bombas e palha de bananeira para enchimento, vestido de roupa velha, cabeça moldada em papel-machê (nitidamente mais aprimorada que a de 2014, graças a um artista local); 

- boneco pendente em uma árvore de embaúba, conforme reza a tradição, afixada a propósito ao centro do largo; 

- brincadeiras para as crianças, à guisa de gincana: corrida do saco, pau de sebo mirim e pegada de balas; 

- outro pau de sebo, bem mais alto, para os adultos; 

- presença do Boi-malhado (versão local do Rancho do Boi) vindo da Travessa Cava Funda para o largo, ao som de pandeiro, caixas e acordeon, pivô de muitas brincadeiras com as crianças, de avanços e recuos, simulacros de ataques marcados por rodopios e corridas; 

- leitura do Testamento do Judas, produzido sob anonimato, obedecendo a um formato fixo, de rimas simples, distribuindo a herança do Judas, coisas que ele deixa para as pessoas do lugar, sempre com muita verve e ironia, não raro em sentido chulo; 

- explosão do boneco, a partir da queima do pavio, concluindo-se com foguetório. 

Em relação a 2014, não houve em 2025 o artefato pirotécnico chamado "avião" ou "aviãozinho", que consiste em um longo arame (que parte do coreto até o boneco) e serve de guia que conduz pendente um mecanismo que imita de maneira simplista a forma de uma aeronave, e contendo um pavio, quando aceso, corre pelo fio de arame e ateia fogo no Judas. Por outro lado, as brincadeiras com as crianças foram muito mais aprimoradas, o que se mostra uma medida importante pelo efeito lúdico e de aprendizado, estimulando o senso de pertencimento. A leitura do testamento teve também o adicional cômico do personagem vestido de terno completo, pasta de documentos à mão, imitando um tabelião de cartório, que despertou risos na assistência. 

Segundo informações orais de populares  que participavam da manifestação cultural, no passado o boi era muito mais agressivo e o que hoje é um ataque simulado, era de fato uma corrida de pega, valendo chifrada e cabeçada, que mandavam ao chão a criança ou jovem que abusava no desafio e provocação. Contaram que houve época de ser um boi bastante grande, que era movido por dois dançantes ao mesmo tempo. Mas as narrativas confluem para afirmar que tanta animação passado tinha por combustível a cachaça... Inclusive, certa vez, os dois colegas metidos debaixo do boi, encontrando-se muito embriagados, caíram com o boi dentro de um valo, sob a zoada dos circunstantes! E não dando conta de retirá-lo, saíram do valo com muita dificuldade, deixando o boi lá dentro. E naquele ano acabou a brincadeira. Hoje, entretanto, a realidade é outra: o boi dança com mais tranquilidade, sem derrubar ninguém e sem a bebedeira dos dançantes, o que preserva a brincadeira de forma sadia e sem riscos.  

1- O boneco Judas enforcado na árvore de embaúba.

2- Programação da festividade afixada na porta de um bar local, 
como forma de divulgação e convite aos moradores.


3- Crianças correm para pegar balas e confeitos, lançados em pegada.
 
4- Tentativas de subir o pau de sebo e ficar com o prêmio. 

5- Crianças aguardam a largada da corrida do saco.
 

6- Detalhe do Boi Malhado.
 
7- Largo em festa. 

8- Boi Malhado, os tocadores e o Judas na árvore.


9- Um representação bem humorada de um "Tabelião do Cartório",
que vem ler o Testamento do Judas.


10- Leitura do Testamento do Judas, do alto do coreto. 


11- Momento da explosão do Judas. 

12- Fogos de artifício em comemoração ao bom êxito da festividade. 


Créditos

- Texto e fotografias 2, 4, 7 e 10: Ulisses Passarelli.
- Demais fotografias: Betânia Nascimento Resende.  

Notas

- Sobre este mesmo festejo em sua edição anterior, de 2014, ver:

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