O município de Arantina está situado na Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas, Microrregião de Andrelândia, Região Intermediária e Imediata de Juiz de Fora. A população estimada para 2024 era de 2.991 pessoas, com densidade demográfica de 32,60 hab./km2, área de 89,420 km2. A silvicultura é significativa no município, com produção de madeira em tora, lenha e carvão. Outra fonte econômica de destaque é o gado bovino, notadamente o leiteiro (BRASIL, 2025).
A
drenagem fluvial é feita pelo Rio Turvo Pequeno, da bacia do Rio Grande, região
de terras altas da Serra da Mantiqueira, com ponto culminante na Serra do
Caxambu. Algumas cachoeiras e os pontos altos serranos garantem belas paisagens
para contemplação e entretenimento. Alguns monumentos (torres da antiga cerâmica,
patrimônio ferroviário, capelas e museu) constituem atrativos turísticos
(MINAS, 2025).
Como
resumo histórico consta que:
Ao
redor da estação ferroviária de Arantes, instalada dentro do município de
Mantiqueira (hoje Bom Jardim de Minas), surgiu um pequeno povoado. Em dezembro
de 1943, o lugar foi elevado a distrito, ganhando a denominação de Arantina.
Vinte anos depois, em 01 de março 1962, Arantina ascendeu à categoria de
cidade. O Município situa-se junto à zona turística do Circuito das Montanhas
Mágicas da Mantiqueira, numa região de transição do planalto de Cruzília, a leste,
e o maciço da Mantiqueira, a oeste. Em outubro, a cidade comemora a festa da
padroeira, com missas, procissão e outros atrativos para as crianças da cidade
e dos municípios vizinhos. A produção anual de leite, na sua quase totalidade
são exportados para Bom Jardim de Minas e Andrelândia. A agricultura é a de
subsistência. O alto do Curralinho, com 1379 metros de altitude, é seu ponto
mais elevado. Pertence a Bacia do Rio Grande, região dos Circuitos das Águas,
sua área é de 89,54 Km2. Onde hoje está a sede do município existia um paiol
(utilizado para guardar milho colhido) do Fazendeiro Juca Pereira, dono de
grande parte das terras onde se localizam hoje as cidade de Arantina e o
distrito de Rutilo. Ao redor desse paiol foi erguendo um povoado, que se fortaleceu
com a chegada da ferrovia Centro Atlântica. Uma outra empresa que fez com a
cidade se mantesse em ritmo de crescimento foi a Cerâmica Nossa Senhora
Aparecida, hoje já desativada. O aniversário da cidade é comemorado no dia 01 de março, data sua fundação. Cidades limítrofes, Bom Jardim de Minas, Andrelândia e Liberdade. Gentílico - Arantinense. (BRASIL, 2025).
Arantina
tem por assim dizer uma sólida ligação com a ferrovia, e não sem razão, o
brasão municipal figura o desenho dos trilhos bem ao centro. Da mesma forma,
outros elementos icônicos, como as chaminés da cerâmica, o gado e o esboço das
montanhas estão configurados no brasão. Em complemento, este excerto destaca
elementos históricos:
O
povoamento do lugar teve início no decorrer da segunda metade do século XIX,
com a construção do trecho da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM)
que viria a cortar a cidade. Atualmente destacam-se o artesanato produzido no
município e eventos realizados anualmente, como o carnaval de Arantina. (...) O
povoado se consolidou com a fabricação de cerâmica. Dado o crescimento
econômico, pela lei estadual nº 1.058, de 31 de dezembro de 1943, cria-se
o distrito subordinado a Bom Jardim de Minas, que recebeu seu nome em
homenagem à estação ferroviária. Arantina se emancipou pela lei estadual
nº 2.764 de 30 de dezembro de 1962, sendo instalada oficialmente em 1º de março
de 1963. (WIKIPÉDIA, 2025).
A
cultura popular tem marca forte com as folias de Reis e realização de notável encontro
de companhias reiseiras a 06 de janeiro [1]. Outro
ponto alto é o carnaval arantinense, que conta com significativo prestígio
oriundo dos blocos. Este aspecto encontra-se bastante consolidado e o senso
comum de variadas opiniões populares reafirma que o Bloco do Boi é o destaque. Interessante
observar que são parcas as notícias do folguedo boi no sul mineiro.
Uma
notícia jornalística a propósito informava dessa multidão nas ruas para acompanhar
o carnaval de Arantina e as quatro décadas de tradição do Boi elevavam-se numa
homenagem ao Sr. Zico, tido como primeiro toureiro do bloco (Correio do
Papagaio, 2013).
De
fato, é fácil observar a popularidade gigante, não apenas no número de
participantes, mas principalmente pela vivência ativa na brincadeira,
fantasiados ou não, mas fazendo coro ao insistente grito, cada vez que o boi
alivia suas correrias:
“_ Cadê o boi?
_
Cadê o boi?”
E
parte de novo o boi embalado em carreira atrás dos foliões, que disparam pela
rua. Em certa medida, guardadas as proporções, faz recordar a festa espanhola
do boi de verdade solto pelas ruas ante as provocações e fugas das pessoas.
Mas
além da alegoria do boi, também existem as mulinhas e bonecas, que igualmente
dão suas trombadas nas pessoas! E o Chico
Pança, com seu jeito rechonchudo atiça o boi e toma suas esbarradas, mas ao
cair nada sofre, posto que o macacão vermelho que veste é recheado de palha
seca de bananeira, que ampara as suas quedas. Muito curioso notar que o Chico
Pança veste-se de vermelho, e segundo uma das lideranças do bloco informou,
sempre foi assim... O vermelho é a cor tradicional dos toureiros, do pano de
provocar o boi. Ao mesmo tempo também recorda que nos rodeios de hoje e nas
touradas de ontem, há e havia um personagem chamado genericamente de palhaço,
vestido de forma extravagante, acolchoado, que faz escaramuças ante o boi a fim
de distraí-lo para livrar peões de sua atenção. Assim, mesmo em formato
descontraído, o palhaço funciona na prática como protetor. O Chico Pança
recorda um pouco disso e induz uma investigação mais aprofundada se acaso representa
uma sobrevivência fragmentada das antigas touradas ou se inspirou nelas.
As
bonecas gigantes são personagens relativamente comuns em folguedos de boi em
várias partes do país. Em Arantina fica nítido sua feitura artesanal, tendo
como base um balaio de taquara, a cabeça feita de uma cabaça, a vestimenta,
pintura do rosto e adereços, tudo evoca um aspecto de originalidade, ligado à
arte popular. Os braços são articulados no ombro, de tal forma, que o brincante
sob a alegoria, puxa por dentro um cordão, que se liga aos braços da boneca e a
faz sucessivamente erguê-los e baixa-los. Dois nomes foram informados para as
bonecas: Passinha e Maria Comprida.
As
mulinhas durante esta observação eram três, armadas ao modo tradicional sob a
estrutura de um balaio emborcado, coberto de tecido imitando o couro da
alimária. No mais, são adereços que imitam cabresto; pernas de fingimento
pendentes nas laterais, e cordões que erguem a estrutura para fixação nos
ombros, como um suspensório. Elas também dão seus esbarrões no povo.
O
boi propriamente dito tem a mesma estrutura tradicional de outros bois, mas
percebe-se que é caracteristicamente alongado. Por isto, em seu próprio giro
esbarra nas pessoas, o que faz parte da brincadeira. Nas costas do boi a giba ou
cupim típico das raças zebuínas é formado pela própria cabeça do brincante que
vai embaixo, coberta pelo tecido como um capuz e o rosto tampado por tecido em
tela, que permite a visão relativa para guiar o brincante.
A
música o tempo todo é formada por percussão. Uma batucada formada por bumbos e
taróis mantém um ritmo contínuo, como uma pulsação para o desfile. Não há canto
típico.
Muita
gente comparece fantasiada livremente, sem um padrão definido. Mas percebe-se certa
quantidade de pessoas vestidas com fardas, a imitar soldados do exército ou dos
bombeiros; fantasias de operários, de anjos, de bailarinas, e também, macacões
de retalhos, lembrando um pouco alguns trajes de palhaços de folias de Reis.
Entre
esses foliões fantasiados com certa frequência observa-se a brincadeira de se
derrubar mutuamente, sem nenhuma belicosidade, mera lúdica, ora por se jogar um
nas costas do outro, ora por meio de uma rasteira.
Também
são comuns os foliões travestidos: homens de mulher, mulheres de homem.
O
boi inicia sua concentração diante de um bar na Rua Emília Marx Lacerda, Bairro
Lagoão. A batucada já ativa atrai participantes e curiosos. Logo mais se
deslocam tocando até uma quadra poliesportiva próxima, onde adentram em
concentração. E não demora que encha de gente! Enquanto isto, em canto
reservado, os personagens se preparam em suas alegorias. Uma turma ajuda Chico
Pança se vestir, revestindo-o de palha. E a alegria completamente descontraída
toma conta do ambiente. Muita agitação, e de tanto em tanto gritam pela
presença do boi.
Enquanto
isto um fato marcante é o arremesso de farinha de trigo. Deliberadamente se
jogam farinha, no rosto, na cabeça, até no ar, que fica por alguns segundos, um
pouco embaçado pelo pó suspenso. Em especial essa guerrilha de farinha que os
informantes garantiram ser muito típica e tradicional, remete de imediato à
imagem do velho entrudo, já relatado no século XIX no Rio de Janeiro,
artisticamente nas aquarelas do francês Jean Baptiste Debret. Mas não só no Rio
de Janeiro, mas de fato o entrudo foi muito popular em várias partes do Brasil;
e assim, em Arantina, esta reminiscência se evidencia.
Ainda pode atestar a popularidade do
Bloco do Boi o fato dele sair às ruas por dois dias durante o carnaval, no
domingo e na terça-feira. Neste último dia, ao se recolher, costuma-se dizer
que vão matar o boi, forma figurada de dizer que ele sairá das vistas do
público, posto que seja recolhido até o outro carnaval.
A presença de jovens é muito
marcante no Bloco do Boi, uma presença maciça. Muitas crianças acompanham e do
ato do aprendizado pela observação, resultou há cerca de quinze anos o
surgimento do “Bloco do Bezerro”, que é uma cópia do Bloco do Boi, no entanto
em vez de juvenil é sua versão infantil. Com isto a transmissão do conhecimento
toma forma de maneira eloquente, materializada em uma agremiação própria. Até
uns anos o Bloco do Bezerro acontecia no mesmo dia do Bloco do Boi, apenas que
era de tarde enquanto o do boi à noite. Mas de uns tempos para cá passou a
acontecer no sábado e segunda-feira, alternando assim os dias, o que garante
que durante a festa toda tem boi.
Quanto à idade do Bloco do Boi não
se pode apurar precisamente a data. Um informante[2],
confirmou que tendo morado em Arantina em 1975 presenciou a manifestação
cultural, o que a remete a meio século para trás. Um dos organizadores[3]
informou a década de 1960 como sendo a da criação, tendo surgido em Arantina
mesmo, sem ter copiado de outro lugar, assegurou. A data oscilou em 1964 ou
1969, não soube dar precisão. O mesmo também disse que o Bloco não tem um organizador
específico ou liderança única. É uma ação entre amigos, um divertimento
coletivo preparado livremente pela comunidade.
O Bloco do Boi desfila em uma grande giro pelas ruas da cidade. Uma faixa de pano vai estirada na dianteira, segura por dois foliões. O nome do bloco vai escrito entre desenhos de boizinhos. A rua se lota, como uma massa humana centrada no boi, um rancho de alegria agitando a todos por onde passa.
Referências
MINAS. Arantina. 2025. Disponível em: https://www.minasgerais.com.br/pt/destinos/arantina Acessado em 03 mar. 2025.
WIKIPÉDIA.
Arantina. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arantina Acessado em 03 mar. 2025.
BRASIL.
Arantina. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2025.
Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/arantina/panorama Acessado em 03 mar. 2025.
Tradição
dos blocos carnavalescos garantem o sucesso do carnaval de Arantina. Correio do
Papagaio, 28 fev. 2013. Disponível em: https://correiodopapagaio.com.br/arantina/noticias/tradicao_dos_blocos_carnavalescos_garantem_o_sucesso_do_carnaval_de_arantina Acessado em 03 mar. 2025.
Créditos
Texto, fotos e vídeos (02/03/2025): Ulisses Passarelli
Agradecimentos aos informantes, sobretudo, a Ariany Fonseca, pelo acolhimento e a
Betânia Nascimento Resende, pelo apoio fundamental à concretização dessa pesquisa.
Vídeos
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Folião jogando farinha. |
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Detalhe da cabeça de uma das bonecas. |
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Pessoal da batucada. |
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O núcleo do bloco em pose fotográfica, reunidas as alegorias. |
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A boneca Maria Comprida em movimentação. |
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Multidão pelas ruas, acompanhando o Bloco do Boi. |
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O boi investe no povo. |
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Detalhe de uma das mulinhas. |
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Chico Pança. |
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O boi. |
[1] Informante:
Ariany Aparecida Costa Oliveira Fonseca, advogada, Arantina, em 02/03/2025.
[2] Informante:
Luthero Castorino da Silva, ferroviário aposentado, São João del-Rei, em
01/03/2025.
[3]
Pedro Iuri, descendente de alguns fundadores do Bloco do Boi: Mário Miquelino
(seu avô) e Joaquim (seu tio), que juntamente com trabalhadores da ferrovia se
juntaram para iniciar a brincadeira. Ver: https://www.facebook.com/watch/?v=1571054890360757
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