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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 31 de agosto de 2021

Notas de jornal: notícias da velha São João del-Rei e vizinhanças

O acervo hemerográfico da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, em São João del-Rei/MG, guarda um conjunto notável de exemplares de antigos jornais publicados nesta cidade, cuja leitura nos faculta muito mais que uma poética e nostálgica volta ao passado. Em verdade é uma fonte riquíssima de conteúdo para os estudos históricos deste município e circunvizinhança. 

Muitas das notícias nos parecem pitorescas se vistas aos olhos de hoje. No entanto devem ser observadas não exatamente em comparação aos tempos hodiernos, mas de fato no contexto de seu período temporal. Elas retratam um fato imerso numa sociedade que caminhava sob a cultura, economia e visão de mundo daquele tempo. 

Talvez, algumas dessas notícias tenham fugido à pena dos "documentos oficiais". Mas algum tipógrafo, juntando letrinhas de ferro, montou a notícia, que se configura hoje como uma fonte para consulta e pesquisa. Segue pois, ao modo literalmente aleatório, mais uma amostragem livre de notícias jornalísticas locais, em mera exposição ou coletânea, cuja única pretensão é dar um pouco mais de visibilidade a estes fatos perdidos na poeira do tempo. Diante de cada notícia exposta por hifens, segue a referência do nome, número da edição e data do jornal consultado. 

Vista parcial da Rua Getúlio Vargas, em São João del-Rei,
primitiva Rua Direita. Data: 26/05/2020.

*  *  *

- A resolução n.259, de 29/04/1901 autorizou despesas no conserto da ponte em frente à estação do Rio das Mortes [1].

(O Combate, n.87, 13/08/1901). A edição seguinte do mesmo jornal, datada de 15 de agosto, fala em reconstrução da dita ponte. O valor orçado era de 6:498$100. 

A obra foi arrematada pelo Major Carneiro Felippe, único concorrente. A provocação da necessidade de construir uma nova "ponte do Rio das Mortes, chamada do Congo Fino", partiu do Vereador Tenente Euzébio de Rezende, representante distrital de Conceição da Barra. (O Combate, n.95, 31/08/1901).

A imprensa noticiou sobre o andamento da obra: "está sendo realizada por arrematação do Major Carneiro Fellipe, cujas habilitações, como diretor da construção, é uma garantia de perfeição e segurança da obra". (O Combate, n.119, 02/11/1901).

Bênção e inauguração da Ponte do Congo Fino, na Estação do Rio das Mortes, a 49km ferroviários da cidade de São João del-Rei, no dia 25 de novembro de 1901. Pelas 8 horas partiu um trem especial, com um vagão de primeira classe conduzindo as autoridades.

Foram recebidos pela banda do arraial e por descargas de fogos de artifício. A ponte estava enfeitada. A bênção foi dada pelo Padre João Trindade. Leite de Castro entregou simbolicamente a ponte aos cuidados do conselho distrital, ante vivas da assistência. (O Combate, n.128, 30/11/1901).

A qualidade dessa ponte foi testada pouco depois pela força da natureza: três semanas depois, ela resistiu fortemente a enchentes imensas, ficando submersa por três dias, sem sofrer danos. (O Combate, n.133, 18/12/1901).

 

- Igreja de São Gonçalo Garcia [2]: pedido de ajuda financeira e pagamento de anuidades atrasadas, pois “vai entrar em importantes obras”. (O Combate, n.13, 26/09/1900)

 

- Resolução nº317, 25/02/1905, assinada pelo Diretor Dr. João Salustiano M. Mourão, autorizava o agente executivo municipal despender a despesa necessária para conserto, melhoramento ou remoção do atual matadouro [3] municipal com os valores colhidos do imposto de sangue. (O Repórter, n.12, 09/04/1905)

 

- Carneiro Fellipe e o Major José Moreira, Presidente da Associação Beneficente Portugueza, tiveram destacada presença nos festejos em homenagem ao alferes Xavier, em São João del-Rei, no ano de 1901. (O Combate, n.59, 27/04/1901).

 

- Alunos do professor Pinheiro Campos, do Ginásio São Francisco, dentre várias comemorações fizeram "às 13 horas, grande pic-nic no aprazivel local denominado Briguente"[4]Houve também baile, e ainda, concerto pela Orquestra Sinfônica no Teatro; etc. Missa. Visita à usina de eletricidade (no Rio Carandaí). (A Tribuna, n.1.331, 28/06/1936).

 

- Carnaval de 1907: reuniu grande multidão de mascarados na esquina da Rua Arthur Bernardes (ex- Moreira César) e Getúlio Vargas (ex- Duque de Caxias e primitiva Rua Direita), onde um coreto foi armado e nele se alternaram as bandas de música do Asilo de São Francisco e a da Oeste de Minas, que "estiveram esplendidas, executando bonitos e festivos dobrados, saltitantes polkas, ternas valsas e magnificos tangos." Não desfilou o famoso Clube X, aliás, nem no ano anterior, embora prometido para 1908. A agremiação "Dominós Fúnebres" fez um desfile de destaque. "O tiroteio de confetti, bisnagas e lança perfumes esteve fortissimo, entretanto, tudo na melhor ordem." [5] (O Repórter, n.3, 17/02/1907)

 

- Reforma do Largo de São Francisco: a Câmara manda instalar duas lâmpadas de arco voltaico na praça, razão de progresso para o lugar. (O Repórter, n.6, 11/03/1906).

 

- (Festa de Ramos) "Com a pompa de sempre, realisou-se no Domingo, o officio de Ramos e a noite teve logar a Procissão do Triumpho que fez o gyro costumado entrando na Matriz, de onde havia sahido." (O Combate, n.161, 26/03/1902) [6].

 

- (Bonfim): uma nota dá conta de vandalismo na Capela do Bonfim, pintada de pouco tempo e alvejada com frases obscenas escritas por indivíduos inescrupulosos em suas paredes. (A Tribuna, n.648, 21/05/1925). 

 

- (Botequim do Theatro) "Segundo deliberação da Câmara, em sua última sessão, vae ser posto em hasta publica o arrendamento annuo do Botequim do Theatro. A base do preço é de seis mil réis (6$000) por dia ou parte do espetáculo, sem mais pagamento algum." (O Combate, n.121, 07/11/1901).

 

- A Câmara Municipal lança edital para serviços, pondo em hasta pública o serviço de limpeza urbana, "e para o transporte de carnes verdes [7], devendo as carroças de lixo trazer tampa de madeira ou de zinco." (O Combate, n.132, 14/12/1901).

 

- O carnaval de 1902 correu desanimado. No coreto da esquina da Rua Direita, armado no meio da rua, tocou a banda militar, do 28º, durante três dias. Foi feito um passeio para o desfile dos mascarados, pouco numerosos naquele ano. No Club Sanjoannense o baile à fantasia esteve ótimo, tocando a Orquestra Ribeiro Bastos. (O Combate, n.149, 12/02/1902). 

 

- A lei n.83, de 29/01/1901 prorrogou por um ano o prazo de concessão da exploração de manganês, mica e areias, em São João del-Rei, concedido a Geraldo Rodrigues da Fonseca, para fazer a instalação definitiva. Não há citação ao local exato da atividade. (O Combate, n.87, 13/08/1901).

 

- A lei n.86, de 29/04/1901 ratificou contrato da luz elétrica firmado entre o agente executivo municipal e o cidadão Dr. Francisco de Assis Fonseca, em, 23 de fevereiro do mesmo ano. (O Combate, n.87, 13/08/1901).

 

- A resolução s/nº, de 23/06/1901 dispensou pagamento de licença para realização de um espetáculo equestre realizado a 02 de abril daquele ano em benefício da Igreja do Rosário. (O Combate, n.87, 13/08/1901).

 

- No dia 17 de setembro de 1901, o operário José dos Santos, da Ferrovia Oeste de Minas, teve a mão direita esmegalhada na plaina a vapor nas oficinas ferroviárias, resultando em amputação. (O Combate, n.103, 19/09/1901).

 

"Em Carrancas, districto da cidade de Lavras, preparam-se grandes festas em Junho e para ellas estão se apromptando os populares divertimentos das Cavalhadas [8] Ha grande animação para taes festas." (O Combate, n.160, 22/03/1902, nota sem título)

 

Texto, pesquisa, notas e fotografia: Ulisses Passarelli

 


[1] Estação do Rio das Mortes: mudou sucessivamente de nomes para João Pinheiro e Congo Fino. Sua área geográfica hoje pertence ao município de Conceição da Barra de Minas, emancipado de São João del-Rei em 1962.

[2] Originalmente edificada na segunda metade setecentista, provisão de 1772. No ano de 1900, em razão das dimensões da capela primitiva não atenderem adequadamente aos fiéis e pelo mal estado de conservação, foi profundamente modificada, dando lugar à edificação atual.

[3] Atual matadouro: ficava na entrada do atual bairro São Judas Tadeu, junto ao Córrego da Tabatinga, próximo à saída dos trens rumo a Antônio Carlos. Foi transferido para o bairro Matosinhos, em 1910.

[4] Briguente, ou Brighentti, referência a uma família de migrantes italianos; antropônimo aplicado a uma parte do núcleo colonial de São João del-Rei: Parada do Briguentti ou Colônia do Brighentti. O costume dos piqueniques era muito usual na cidade, desde o final do século XIX e seguiu até meados do seguinte, rareando aos poucos nas décadas seguintes. Era buscado o contato com a natureza em locais aprazíveis, havendo comes e bebes, música e confraternização. Eram especialmente célebres os piqueniques na Casa da Pedra, nas duas serras (Lenheiro e São José) nas Gameleiras (Bairro Tijuco) e no Alto do Senhor dos Montes.

[5] Elementos lúdicos característicos do chamado “entrudo”, que contemplava também o arremesso de farinha e água nos foliões do momo.

[6] Uma antiga tradição da cultura popular orienta a queimar as palhas do domingo de ramos em casos de tempestades para abrandá-las ou  nas ocorrências de assombrações domésticas para pacificar e proteger o lar.

[7] Carne verde: designação então usada para se referir à carne fresca.

[8] Cavalhadas: auto tradicional, de origem ibérica, cujos participantes se apresentam montados a cavalo, divididos em dois partidos: os mouros (trajados de vermelho) e os cristãos (vestidos de azul). Entre embaixadas e simulacros de batalhas, desenvolvem ricas coreografias. Foi de uso muito arraigado em Minas Gerais, sobrevivendo em poucas localidades. Origens remotas evocam as justas, as cruzadas e as novelas primitivas do território lusitano.  

* Revisão: 15/01/2024

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