Ao o folclorista José Carlos Rossato (Votuporanga / SP),
a quem agradeço a gentileza da revisão
Resumo
O presente texto se refere ao rito da cultura
popular conhecido por encomendação das almas, praticado no período da quaresma
com o objetivo de rogar preces em favor das almas, visando seu progresso
espiritual e alívio das penas. Objetiva ainda exortar aos vivos o cumprimento
dos ideais cristãos para livrar-se das penas infernais. O rito, sempre noturno,
tem como característica marcante o aspecto tétrico, o canto lúgubre e o cunho
lendário envolvendo os mortos. Nas considerações finais o autor expõe sua
opinião sobre o grupo de São João del-Rei, sua cidade natal.
Palavras-chave
Encomedação, almas, quaresma
Introdução
Este
texto é dedicado à exposição do rito quaresmal encomendação das almas, com base
em estudos de gabinete, concernentes à sua ocorrência em diferentes regiões
brasileiras e, sobretudo, na pesquisa de campo na microrregião Campos das
Vertentes, de Minas Gerais (centro-sul do estado / 1996-2003).
Encomendação
das almas, encomenda das almas, recomenda das ... , recomendação ... , reza ...
, alimentação ... , lamentação ... , procissão... , terno ..., terço... e reis ... das almas. A vasta sinonímia reflete
o pensamento popular acerca do significado social desta manifestação
folclórica. Encomenda e suas variantes, falam do objetivo de se encomendar, ou
recomendar as almas, aos cuidados divinos, por meio de preces, no sentido de
aliviar-lhes as penas. Assim acreditam que elas alcançarão a luz celeste e o
descanso. As almas são alimentadas por orações, tal como o corpo, a matéria,
precisa de comida. Ao mesmo tempo seus cantares lamentosos evocam um
recolhimento reflexivo. O conjunto desfila processionalmente e estaciona de
tanto em tanto para cantar. Esses locais são chamados estações, passos, pontos
ou paradas, conforme a região.
Consiste
tal grupo, de herança ibérica, num conjunto piedoso de devotos que a altas
horas da noite, sai pelas ruas no período da quaresma, entoando cânticos
lúgubres em louvor às almas, rogando rezas em seu sufrágio e exortando os fiéis
pecadores a corrigirem seus erros, sob a pena de serem condenados ao inferno.
Há grupos apenas masculinos, outros femininos, além dos mistos. Crianças
habitualmente não participam.
Caminham pelas ruas e não
entram pelas casas. Uma exceção, gaúcha, encontrei em Paixão Côrtes:
"É recebido pelo dono da residência, mas sua
entrada se dá pela porta do fundo, ficando, no entanto, a matraca pelo lado de
fora da porta, para não despertar as almas aflitas dentro das residências. O
acolhimento se dá dentro do maior respeito e sem algazarra. É habitual o
oferecimento de café preto, batata doce, pinhão, amendoim, bolos, roscas, chimarrão,
um traguinho de cachaça por parte do proprietário da casa visitada. Se este por
qualquer motivo não desejar receber os rezadores, coloca esses alimentos no
beiral da janela em um lugar visível e resguardado do alcance dos cachorros".
Não
se dispõe ainda da data certa de sua entrada no país, via Portugal. As notícias
mais remotas que se tem divulgado, datam do começo do século XIX, mas é plausível que a tenham introduzido
antes. As formas mais primitivas, em voga naquela centúria, traziam consigo homens
penitentes, que se auto-flagelam. A auto-flagelação é feita com o chicote
chamado “disciplina”, feito de couro cru ou fio de linho ou algodão trançado,
tendo no extremo cacos de vidro, pregos, lâminas metálicas cortantes. Ao
término do ritual estão enxangües. O sangue escorrido é uma purificação, obtida
pelo ato extremado.
Distribuição
geográfica
Do
século XIX são as citações de Saint-Hilaire (1817), em Itabira e Serro/MG, com
penitentes batendo matracas; na segunda metade, Melo Morais Filho descreveu
tais práticas, também com os penitentes, todos homens, vestidos de buréis
brancos e cabeça encapuzada por cogulas. Assim amortalhados saíam pelas ruas
com flautas, violoncelos, rabecas, cantando de forma medonha. Quem a espiasse
viria um rebanho de ovelhas (as almas) e um frade sem cabeça lhe entregaria uma
vela. Houve em Canudos/BA, entre os seguidores de Antônio Conselheiro, como
registrou Euclides da Cunha no clássico “Os Sertões”. Em Natal/RN, Cascudo
afirmou terem ocorrido até por volta de 1856
[2].
No século XX foram
registrados em Itanhaém / SP, onde Alceu Maynard Araújo os viu, representados
por um grupo de migrantes nordestinos. Foram também noticiados os penitentes em
Ibipetuba / MG (região do Rio Preto, afluente do São Francisco), por Edilberto
Trigueiros; em Pilão Arcado e Xique-Xique, na Bahia, por Oswaldo de Sousa - que
recolheu letra e música ; Juazeiro / PE, por Alceu Maynard Araújo; Sergipe, por
Carvalho Déda; Água Branca / AL, por Tenório Rocha; Cariri cearense: Crato,
Caldeirão, Jardim, Barbalha, Jamacuru (Missão Velha), Brejo Santo, por
Figueiredo Filho.
Creio se possa creditar aos
penitentes a qualidade de modalidade mais primitiva da encomedação das almas,
com alguns ritos e crenças próprias. Praticamente desaparecidos do cenário nacional,
resistem numa área restrita ao sertão do médio Rio São Francisco (região de
Juazeiro / BA, onde foram estudados por Alceu Maynard Araújo) e ainda no Sertão
do Cariri, no Ceará, onde resistem alguns grupos com grande rigidez
doutrinária. A penitência não reside só na flagelação (hoje rara), mas também
em sacrificados jejuns e abstinências sexuais de seus praticantes, orientados
pelos organizadores (líderes, melhor dizendo), configurando-se em alguns
lugares quase como uma seita, de cunho fortemente apocalíptico e dual (bem X
mal), vivendo paralelamente ao catolicismo popular tradicional, sendo por ele
influenciado.
Posto de lado a questão
particular dos penitentes, acerca da encomendação típica (sem flagelação), sua
geografia é a seguinte: ocorre no centro-sul e parece não existir na Amazônia e
interior nordestino (exceto sul baiano), ou pelo menos desconheço fontes
indicativas de sua presença nessa vastidão territorial.
No centro-oeste é rara. Em
Goiás foi citada em Arraias por Rosalina Cordeiro e em Trindade, por Elza de
Freitas. Subsiste em Fátima, na zona rural de Hidrolândia [3].
Em Cuiabá / MT, ao som de rabecão, paravam de tanto em tanto a pedir preces
pelas almas, com a mesma restrição de não espiar o grupo, pois apareceria a
velha que entregaria uma vela para ser guardada, que logo se transformaria num
osso humano[4].
É dispersa no nordeste,
porém em vias de desaparecimento. No Maranhão, em Alto Parnaíba, Domingos
Vieira Filho, certificou-a batendo matracas, agitando roque-roques, cantando em
estilo tétrico, rogando preces para as almas, de casa em casa, que permanecem
de luzes apagadas, portas fechadas e os fiéis de joelhos no chão. Sobrevive em
sua forma típica e bastante preservada no médio São Francisco, trecho baiano
bem ao sul, em contiguidade de ocorrência com o extremo norte mineiro. Aí foram
documentadas em vídeo por Diamantino, em Carinhanha e Malhada [5].
Há em Correntina.
Do Espírito Santo há poucas
notícias disponíveis. Guilherme Santos Neves citou-a em Alfredo Chaves, com o
acompanhamento do casaca, reco-reco típico dos capixabas, com a cabeça de um
boneco esculpida no extremo superior. Em São Mateus e Conceição da Barra, no
norte do estado, para mais amedrontarem, saiam encapuzados, portando velas
acesas, segurando ossos e arrastando correntes.
É
difundida em Minas Gerais. Segundo Totini, no município de Ponte Nova, Zona da
Mata mineira, “as encomendações de almas
nas sexta-feiras da quaresma desapareceram, permanecendo em pequenas partes
rurais como: Sesmarias, Três Tiros e Posses”. Foi abordada em Minas Gerais,
pelo professor Saul Martins. Em Gomes & Pereira encontram-se preciosos
informes analíticos e cantos coletados em Jequitibá, Nova Era, Logradouro e
Vazante. Maria de Lurdes Sacramento estudou-a em Lima Duarte; Terezinha
Sant’Anna em Viçosa; Paniago em Paraguai, município de Cajuri; Carlos Felipe
noticiou-a em Carmo do Cajuru [6].
Notícias orais informam sua ocorrência em Pedra do Indaiá, Itapecirica,
Divinópolis, Juiz de Fora, Santos Dumont e Barbacena. Nada confirmei a respeito
destas. Um recente levantamento (2002-3), efetuado por Oswaldo Giovaninni Jr.,
apontou-as ativas em Cajuri, Santana do Manhuaçu, São Miguel do Anta e São
Sebastião da Várzea Alegre. Em Mariana ainda se pratica, ao que parece, já um
tanto estilizada. É frequente no sudoeste mineiro.
Em São Paulo é divulgada [7].
Alceu Maynard Araújo coligiu dados sobre esta manifestação em Mirandas (Tatuí).
Kilza Setti, citou-as em Itaberá, Rio Branco, Novo Horizonte, São Manuel, Ponte
Nova, São Joaquim da Barra, Vargem Grande do Sul, Tietê, Santa Rosa do Viterbo,
Brotas e Laranjal Paulista. Cita-as também em Embu [8],
e de sua pesquisa constatou-as em Lindóia e Socorro, outrora conhecida por
Pereira.
No
Rio Grande do Sul se preservam em Soledade, sendo “realizadas por um terno,
isto é, grupo de pessoas com a finalidade de rezar, cantar, batendo matracas e
pedindo orações para as almas. O ritual é iniciado nas sextas-feiras da
quaresma, principalmente, na sexta-feira santa.”, informa Marques et all.
Compreendendo
o rito
A
morte como o mais desconhecido momento da vida humana, tem gerado ao longo dos
séculos uma série de crenças, tabus, superstições, práticas, sendo seu folclore
rico e complexo motivo para estudos [9].
Toda uma concepção religiosa
da visão da agonia, da morte e do post-mortem,
se interrelacionam com velhíssimas práticas medievais europeias e mesmo mais
remotas, advindas do paganismo. A encomendação é até certo ponto um rito
coletivo, que alude à mais temida passagem humana.
Suas cantorias visam o
sufrágio das almas do purgatório, dos assassinados, dos afogados, etc., mas,
como bem observaram Gomes & Pereira, dirigem-se também aos vivos,
admoestando-os a seguirem uma boa regra de conduta cristã, como condição para
salvarem desde já as suas próprias almas [10]:
“onde vais, homem perdido? / ofender a
Deus e a ti! / lá no inferno tem um fogo, / ai de ti, se lá cair...”
Depreende-se que o ritual
tenha assim um valor educativo e preventivo. É uma caridade que retorna:
relatam que todos temos necessidade de rezar pelos mortos porque também nós, em
breve, estaremos sepultados e precisaremos de rezas. Se em vida oramos pelas
almas, uma vez falecidos teremos quem reze pela nossa; caso contrário ela
ficará esquecida e não poderá ascender no purgatório, pois creem, que são as
preces recebidas que as fazem progredir, pela misericórdia divina, subindo das
chamas em direção à luz.
O purgatório na concepção
popular é um meio termo entre céu e inferno, com gradações, superiores e
inferiores, respectivamente. É uma versão, ainda que imperfeita, do umbral
espírita.
Outro aspecto funcional é o
da encomenda como expressão de fé nas almas, tal como se tem nos santos como
mediadores do sagrado. Assim, se a folia é uma manifestação consagrada aos
Santos Reis e a congada à Senhora do Rosário, a recomenda é consagrada às
almas. É uma forma devocional de se manifestarem seus devotos a elas, como um
dançador ou promesseiro faria uma dança de São Gonçalo para o santo português
de Amarante. As graças recebidas por intermédio das almas, podem ter a gratidão
do devoto externada sob a forma de uma encomendação de almas.
Embora pouco abordada pelos
estudiosos, tal devoção é muito maior que se supõe, ultrapassando em muito à de
vários santos [11].
A igreja se viu obrigada a abrir concessões para o gigantesco número de devotos
que abraçam essa crença. Nota-se nos livros de intenções de missas, a
quantidade de celebrações pelas almas, pedindo isto ou aquilo, ou em ação de
graças, ultrapassando disparado qualquer outra intenção, como verifiquei
superficialmente em São João del-Rei, embora não tenha realizado estatística a
respeito. Nessa cidade, onde centro minhas observações, a visita dos fiéis ao
cemitério na segunda-feira (dia votivo das almas) é sempre acentuada. Acendem
muito mais velas brancas, em relação aos demais dias da semana. As missas de
segunda-feira costumam ser as que mais enchem as igrejas e em alguns casos
acumulam mais fiéis que as de domingo. Ficou célebre a “missa d’alva”, na
aurora, 5 horas, que se realizava na catedral basílica de Nossa Senhora do Pilar.
Ficou popularmente conhecida por “missa das almas”.
Em Santa Cruz de Minas há uma missa na segunda-feira, dentro do
cemitério.
A popularidade desse culto
se nota nos quintais, onde rezam e acendem velas para as almas. Acredita-se que
não se pode fazê-lo dentro de casa, pois para aí se atraem as almas de todo o
tipo e não é fácil extirpá-las do lar, assombrando os moradores. Somente ao ar
livre se pode louvá-las, ou nas igrejas.
É grande o número das
orações impressas em folhas avulsas, “santinhos”, e ainda nos jornais,
sobretudo às chamadas “13 Almas Benditas”.
Nos terreiros de umbanda também se consideram
as almas. Há pontos riscados e cantados para elas. São inseparáveis da linha
africana, sob o comando dos negros velhos e negras velhas, espíritos de
escravos, e na quimbanda, na linha das almas, chefiada pelo respeitadíssimo Sr.
Omolu.
Outro universo correlato que
não vou adentrar neste texto é o das cantorias de ofícios, excelências,
louvores de anjo (canto às almas de crianças), dos epitáfios e estudos de
aspectos de túmulos, símbolos mortuários, condolências, ritos de velório e
enterro, luto.
A devoção às almas é uma
constante o ano inteiro. De uma ou outra forma ela ocorre. Na quaresma há o
acréscimo especial do rito da Encomendação, que nas ruas encontra na
mentalidade popular um imaginário devocional acerca das almas, já muito
enraizado, posto que se desenvolveu o ano inteiro.
A quaresma é período de
quarenta dias que se sucedem ao carnaval, a começar da Quarta-feira de Cinzas.
Foi sempre o período mais carregado do ano, ocasião que segundo as narrativas
populares surgem toda espécie de assombros, como a mula-sem-cabeça, a bruxa, o
lobisomem, o saci-pererê e outros terríveis seres mitológicos. O respeito do
período era até a pouco muito seguido, graças sobretudo à força dominante do
catolicismo. O recolhimento era uma exigência. Nesse clima de reflexão é que as
encomendas vem à rua.
Quando vem às ruas um destes
grupos ele traz consigo todas as concepções sociais acerca da morte e da
relação entre mortos e vivos, apaziguando suas tensões, evangelizando no
sentido de que ensina em seus versos, a reta conduta como caminho de salvação.
A encomendação é o corolário de todas essas ideias.
O aspecto tenebroso,
condenado por certos sacerdotes e carolas é apenas o reflexo de sua origem
histórica nos próprios métodos da igreja medieval, pregando a existência de um
Deus muito mais punitivo que misericordioso, profundamente medonha em sua
estrutura, catequizando pela imposição contínua do medo da condenação ao fogo,
fosse o do inferno ou o das fogueiras da inquisição.
Notícias de
alguns grupos mineiros
I – São João
del-Rei [12]
Grupo
muito antigo, talvez setecentista. Continua ativo, um pouco alterado. Informa
Aluísio Viegas, que o estudou, que o compositor Manoel Dias[13]
escreveu a música “Encomendação de Almas”, para duas flautas, duas trompas,
baixo e quatro vozes mistas:
“É obra que revela delicada beleza melódica e
harmonia muito transparente. (...) consta de dois movimentos distintos: o
primeiro, 2/4, andante, é interrompido por um moderato 3/4, terminado com poco
allegro 3/4. O segundo, andante 2/4, em mi bemol maior, é o famoso Senhor Deus,
cuja melodia ficou gravada pelos sanjoanenes”.
Tal
peça tem registro no arquivo musical da Orquestra Lira Sanjoanense (fundada em
1776), dessa cidade. A partitura data de 1809.
A outra orquestra sacra
também bicentenária de São João del-Rei, a Ribeiro Bastos, gravou um disco de
vinil (LP – long-playing) [14],
que inclui a referida peça musical. A letra é a seguinte:
Alerta,
mortais, alerta! |
E porque não
duvidais, |
Lembrai-vos
daqueles, |
Dai-lhes,
por piedade, |
Que é tempo
como está visto... |
como é certo
mandar ele, |
que em
pranto desfeito, |
o socorro
vosso, |
Que a Paixão
de Jesus Cristo, |
que oreis
por todo aquele, |
já sentem o
efeito |
por um
pai-nosso |
Sua morte
faz lembrar. |
que ele veio
libertar. |
da triste
agonia. |
e ave-maria! |
É
plausível que tenha existido música mais antiga, porém, se de fato houve ainda
não veio à lume. E se não veio ao conhecimento público esta pelo menos por
enquanto, considero a mais antiga.
O maestro são-joanense
Martiniano Ribeiro Bastos (1835-1912), escreveu em 1908 os “Motetos dos
Passos”, orquestrados para flauta, 1º e 2º oficleides, violoncelos e
contrabaixo, com coro misto a quatro vozes (soprano, contralto, tenor e baixo),
e texto em latim. Tais motetos são empregados nas vias-sacras externas no
centro histórico da cidade e passaram a ser também usados na encomendação das
almas, em data incerta do século XX, em detrimento da original obra de Manoel
Dias de Oliveira, um século mais antiga. Continua arrematada pelo “Senhor Deus,
misericórdia pelas dores de Maria Santíssima”, mas na música dos motetos.
Trompa dá à música uma conotação especial. O
contrabaixo confere-lhe um ar tenebroso. O povo lhe chama rabecão: “oh, são as trompas da encomendação das
almas! – Senhor Deus, misericórdia; elas cantam pela clave de dó; o rabecão
rascante, profundo, faz tremer os corações [15]”.
A
orquestra e coro forma um grupo, com alguns acompanhantes, que anda pelas ruas
a partir das 23 horas, de três sextas-feiras da quaresma, com sete paradas para
canto, a cada dia, rezando-se o rosário entre as paradas. Conservam a matraca,
batida em cada parada, antes e depois dos cantos, conforme observei em 1996 e
2007. Neste último ano houve uma ligeira troca do itinerário do terceiro dia,
passando da Avenida Leite de Castro para o cruzeiro da Gruta do Divino.
Supõe-se que o itinerário desse terceiro dia de encomendas desde o Cemitério do
Quicumbi deve ter se estabelecido apenas após o surgimento daquele (1898). Uma
mudança no itinerário em data anterior aos meados dos anos 1970, invertendo a
direção: antes do centro para o Quicumbi e desde então, do Quicumbi para o
centro.
Meu
pai, David Passarelli, informou-me que nos anos cinqüenta, usavam entre os
instrumentos um harmônio, espécie de pequeno piano portátil, carregado por dois
participantes por meio de alças na lateral do móvel. Um terceiro trazia um
banquinho (tamborete) para se sentar nas encruzas e assim executar a música.
Desconheço outro relato semelhante.
É coerente a existência em
São João del-Rei de uma encomendação acompanhada de instrumentos
clássicos, haja vista a imensa atividade
musical dessa cidade, grande centro da música barroca mineira. Apesar dessa constatação,
populares informam ter havido na cidade outros grupos de encomendação, que pela
descrição, coincidem com os modelos camponeses, com instrumentos rudes,
participantes encobertos por lençóis brancos, etc., o que se pode explicar pelo
êxodo rural.
II – Rio das
Mortes (São João del-Rei)
Durante
toda a quaresma, os encomendadores do Rio das Mortes, em São João del-Rei, a
partir do portão do cemitério, junto á igreja do padroeiro, Santo Antônio de
Pádua, percorrem as ruas às segundas, quartas e sextas-feiras, fazendo sete
paradas, distribuídas entre encruzilhadas, cruzeiros e lugares onde aconteceu
alguma morte que se tornou bem marcante na comunidade. Percorrem também os
lugarejos próximos: Largo da Cruz, Goiabeiras, Estrada Pequena e outrora até na
Porteira da Várzea e Igreja Velha.
Em
cada parada tocam as matracas (hoje duas, embora usassem mais) e dois ou mais
berra-boi (lasca de taquara atada a um cordão, que ao ser girada com vigor
provoca um zumbido tenebroso). O berra-boi não está presente em toda saída do
grupo.
Não
há uniforme. A roupa é a comum, decente e sem cores berrantes.
O ritual começa por volta da
meia-noite, acendendo-se umas velas brancas no lado de fora do cemitério, junto
ao portal. Fazem o chamamento ou chamada das almas: após todos fazerem o sinal
da cruz, tocam-se as matracas e o tirador de rezas e cantos pede ave-marias
pelas almas e diz a intenção específica do terço daquela noite. Rezam. Batem as
matracas. Partem. Caminham rezando o terço, intercalando entre os mistérios jaculatórias
e súplicas, sempre solicitadas pelo tirador e respondidas por todos. Exemplos:
- Ó meu Jesus! - Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno! Levai as almas todas para o céu; socorrei principalmente as que mais precisarem! |
- Ó meu bom anjo da
guarda! - Guardai-nos! |
- Doce coração de Maria! - Seja a nossa salvação! |
-
Ó meu Jesus, doce e manso de coração!
-
Fazei nosso coração semelhante ao vosso! |
-
Divino Espírito Santo! -
Descei sobre nós! |
-
Nhá Chica, serva de Cristo! [16] -
Rogai por nós! |
-
Glorioso Santo Antônio! -
Rogai por nós! |
-
Aflita se viu Maria aos pés da cruz! -
Aflito me vejo; valei-me, mãe de Jesus! |
-
Ó Virgem da Conceição! -
Valei-nos nesta ocasião! |
Nas
paradas o terço é interrompido pelo canto. Sempre inicia com as matracas:
Alerta! alerta!
Pecadores... |
Reza mais um padre-nosso, |
Neste sono, que aqui
estamos; |
e uma Ave... uma
ave-maria... |
veja que a morte é
certa... |
(matracas) |
filhos da Virgem, |
Para as almas dos aflitos, |
da Virgem Maria! |
seja, que estamos, |
(matracas) |
pelo amor de Deus! (matracas) |
Sempre recomeçando do “reza
mais um...”, vão sucessivamente pedindo preces para várias categorias de almas:
do purgatório, benditas, dos afogados, dos queimados, dos inocentes, dos
penitentes, dos acidentados, dos assassinos, do cativeiro, do cemitério, etc. A
cada parada pedem por três destas e seguem rezando o terço até o próximo ponto
onde pararão e pedirão por mais três tipos de almas e assim por diante.
Entre
os mistérios do terço, intercalam outros cantos:
Perdão, meu Jesus! |
Eis me aos vossos pés |
Grande pecador |
Perdão, Deus de amor! |
grande pecador |
lamento com dor |
Perdão, Deus clemente! |
meus enormes crimes |
estou contundido |
Perdoai, Senhor! |
perdoai, Senhor! |
perdoai, Senhor! |
Bendito, louvado seja, |
Os céus cantam a vitória, |
Humildes e confiantes |
a paixão do Redentor! |
de Nosso Senhor Jesus, |
levemos a nossa cruz, |
Que por nós sofreu
martírio, |
cantemos também na terra, |
seguindo o sublime
exemplo |
morreu por nosso amor! |
louvores à Santa Cruz! |
de Nosso Senhor Jesus. |
Bendito, louvado seja! |
Os anjos, todos os anjos, |
O santíssimo sacramento! |
louvando a Deus, para
sempre, amém! |
Ao morrer crucificado, |
Com a cruz é carregado, |
Com o madeiro oprimido, |
teu Jesus é condenado... |
vai morrer crucificado... |
cai Jesus desfalecido... |
Por teus crimes, pecador! |
Vai morrer por teu amor! |
Vai morrer por teu amor! |
Por teus crimes, pecador! |
Vai morrer por teu amor! |
Vai morrer por teu amor! |
São cantos também usados nas vias-sacras. São muito divulgados na região.
Chegando de volta ao cemitério, que é também a última parada, fazem a “entrega” : após fazerem pedidos especiais (coletivos e particulares) às almas, ajoelham-se e com muito respeito e gravidade cantam:
Senhor, Deus! |
misericórdia! |
pelas dores de Maria santíssima! |
misericórdia! |
Canto difundido, com várias versões musicais. Batem-se as matracas. Encerram persignando-se.
A
encomendação das almas é tida como muito antiga no Rio das Mortes. Conta-se que
outrora cantavam em latim e saíam com panos brancos cobrindo a cabeça. Tendo
falecidos os antigos participantes, o latim perdeu-se e os panos foram
abolidos. Contudo o grupo persistiu. Em tempos mais recentes, com a morte de Chico Barraca, antigo organizador, a
manifestação estava prestes a encerrar as atividades. Assumiu-a um jovem de 17
anos, Fábio Júnior de Sousa, o “Binho”, grande incentivador dos movimentos da
juventude. Com efeito, a Encomendação desta vila tem quase a totalidade dos
integrantes na faixa etária abaixo dos trinta anos, a maioria ao redor de
vinte, de ambos os sexos.
Ainda
há bastante respeito, não só dos participantes como da maioria da população,
embora se relatem casos de desrespeito e descrédito de alguns. Outrora, se
alguém os olhasse, paravam de cantar. Guardam-se ainda os preceitos de não
olhar para trás, não deixar o grupo antes da entrega no cemitério e não passar
pelo mesmo caminho da ida quando do retorno para cantar noutros pontos.
Correm
notícias de fatos misteriosos e aparições assombrosas, algumas como lição
educativa pela desobediência às regras: 1) quem olha pela janela ganha de um
integrante um osso humano ou vela e quem entrega é uma alma acompanhante,
fazendo-se de encomendador; 2) na saída, os cachorros ficam agitados, correndo
desnorteados, latindo muito, porque enxergam as almas; 3) um homem saiu cedo da
encomendação, antes da entrega, e não conseguiu abrir a porta de sua casa para
entrar, porque emperrara. A chave, misteriosamente, só abriu a fechadura - sem
nenhum defeito anterior ou posterior ao fato - no momento em que, no cemitério,
os companheiros entregaram a obrigação, batendo a matraca; 4) um bêbado zombou
dos encomendadores que passavam e logo começou a gritar e a gemer. Caía e
revirava no chão, dizendo que estava apanhando. Eram as almas que lhe batiam e
empurravam. No mesmo dia que os assisti e anotei estes dados, em abril de 2000,
notei que alguns meninos que os acompanhavam com as matracas, vez por outra
jogavam, de forma disfarçada, pedrinhas no mato próximo, que embora se
interpretasse como bagunça, o propósito era amedrontar, gerando um barulho
supostamente causado por almas. Um integrante diz que viu três pessoas
acompanhando o grupo atrás, mas não lhes viu o rosto e o fato logo foi dado
como uma visão sobrenatural. Disseram que dias antes, alguns encomendadores
ouviram o tropel de um cavaleiro invisível e ainda que, quando a Encomendação
parou com a morte do antigo organizador, os moradores ouviram lamentoso o canto
encomendador, sem que, contudo, ninguém (encarnado, material) o estivesse
entoando. Eram as próprias almas que estavam a cantar, como que pedindo que não
parassem com aquela piedade religiosa. Depois que se reativou o assombro parou.
Isto
lhes justifica a necessidade de tais cantos e preces. Reafirma perante a
comunidade seu caráter funcional e mantém diante da maioria o respeito ao grupo
e seu espírito religioso, por meio do medo e da fé.
III- Emboabas (São João del-Rei) [17]
Grupo extinto, que percorria além dos caminhos normais de toda encomendação as casas de moradores, cantando sempre de fora. Não se podia abrir porta ou janela. Quando se sabia que por ali passariam, deixava-se de fora um lanche para eles: café, bolo, broa, biscoitos. Usava matraca, berra-boi e réu-réu.
Segunda-feira Santa,
(terça, quarta, etc.) |
Onde Deus fez a
morada? - bis |
Onde mora o cális bento |
E a hóstia
consagrada! - bis |
Alerta, alerta, pecador, |
Reza um pai-nosso com
ave-maria, |
ai, meus irmãos! |
ai, meus irmãos! |
Acorde deste sono que vós
estais, |
Para as almas que estão em
pena, |
ai, meus irmãos! |
ai, meus irmãos! |
Certa vez, chegando o grupo na casa de “Totonho Tapera”, lá estava de pouso o padre “Cristóvão” [18], de Ibertioga, que era capelão rural naquela área. Acordado de súbito, a horas mortas, pelo som tenebroso dos instrumentos rudes e pelo lúgubre canto, levantou muito assustado e perguntou o que havia. Responderam-lhe que era o tal costume de cantar pelos mortos. Muito bravo abriu a janela e xingou os participantes drasticamente. Diante disto, decepcionados, abandonaram o ritual.
IV – São
Gonçalo do Amarante (São João del-Rei) [19]
Grupo extinto. Era formado de cinco a nove pessoas, por vezes mais, só de homens ou de ambos os sexos. As paradas para cantoria eram chamadas pontos, sempre em número ímpar. Em cada ponto era obrigatório pedir pelas almas do purgatório e além dessas, mais três, que podia ser: almas benditas, almas do mar sagrado, dos enforcados, dos que estão em pecado mortal, etc.
Começavam com o sinal da cruz. O tirador de cantos na frente. Com o máximo respeito, saíam às segundas, quartas e sextas-feiras. Era vetado conversar, fumar e beber. Antes de começar o canto batiam a matraca três vezes. A prece final de entrega era considerada fortíssima e muito pesada, capaz de trazer grandes desgraças para quem abusasse com falta de fé ou desrespeito. Sempre terminava na igreja ou cemitério, devendo o participante ir logo para casa, sem extraviar para outro lugar nem conversar com ninguém pelo caminho. Assim procedendo, as almas lhes protegiam; do contrário, castigavam.
_ Alerta! Ô
pecador ... |
- Alerta! Ó
pecador... |
está
dormindo nesse sono adormecido ... |
Escutai quem
está dormindo... |
Lembrai que
é tempo agora |
Lembrai que
é tempo agora, |
e nosso
senhor Jesus Cristo |
O tempo já
chegou... |
morreu por
nós pecadores! |
|
- Seja, pelo amor de Deus! |
- Seja pelo
amor de Deus! |
_ Peço um Pai Nosso |
e uma Ave Maria! |
Pelas almas do purgatório, |
- Seja pelo amor de Deus . |
Salve, êêêêê –
ôh! / Pelo amor de Deus, oi! (reza do fim)
Senhor Deus! Senhor Deus!
Pela Nossa Mãe,
Nossa Mãe Maria Santíssima ...
Misericórdia! ... (entrega)
V – Colônia José Teodoro
(São João del-Rei) [20]
Grupo antigo, da primeira metade do
século XX, à muito desativado. Não obtive informações, apenas o seguinte canto:
“Agora vamos rezar, |
para as almas peregrinas...
ai!” |
VI – São Tiago
Na
cidade de São Tiago é tradição antiga, segundo informes colhidos em 26/03/2001
junto a atual organizadora, Sra. Antônia Geraldo São Tiago, do bairro Cerrado.
Eram
dois grupos, sendo um masculino, outro feminino. O de homens era coordenado
pelo popular Sr. Eduardo, passando depois a José Bruno. Acompanhava-se de
piston, clarineta, saxofone e matraca. Extinguiu-se. O de mulheres ainda se
mantém, passando de d. Maria Rosa a d. Sebastiana, depois a dona Benedita
(“Nenêga”), que era filha da anterior, e atualmente d. Antônia, que
entrevistei.
Consta
que não usavam berra-boi, nem lençóis brancos sobre a cabeça. Não se podia
olhar para trás, nem assistir a sua passagem. Costume mudado. Há casos recentes
de turmas de jovens zombando e mesmo agredindo as encomendadeiras de alma, a
ponto de ser necessária intervenção policial.
Relata-se
o caso ocorrido com um famoso sacerdote nessa cidade, que fora a altas horas da
noite abrir a porta de sua casa para repreender com veemência as encomendadeiras
devido a estar um tanto desorganizado o seu grupo. Não conseguiu de forma
alguma abrir a fechadura. Foi impossível destrancá-la. Não pode xingar. No
outro dia a mesma porta destrancou normalmente, sem problemas. Uma causa
sobrenatural a travara. Comenta-se que daí em diante o próprio padre passou a
defender aquela tradição, dizendo que mesmo estando ela a desejar na
organização, conservava um valor religioso real.
A
cantoria do grupo que assisti não tem acompanhamento instrumental além de uma matraca.
Reúnem-se às 23 horas no portão do cemitério, onde, após acender uma vela, que
ali fica depositada, fazem algumas orações iniciais, bate-se a matraca e
canta-se o “alerta, pecadores!” e depois um rogo à virgem:
S - Alerta, alerta, um pecador! |
Lembremos das benditas almas... |
C - Benditas almas |
do purgatório! |
S - Peço que
reze um pai-nosso... C - Um
pai-nosso e uma ave-maria! S - Pelas almas do purgatório... |
C - Benditas
almas do purgatório! Seja! Seja! Seja! seja, pelo amor de
Deus!!! |
Obs.: S - solista ; C - coro.
Óh virgem
Senhora,
mãe dos pecadores,
lembrai-nos das penas BIS
da eternidade ...
S - Pelas
almas do purgatório...
C - Benditas almas do purgatório!
Seja! Seja! Seja! seja,
pelo amor de Deus!!!
A seguir, de mãos dadas,
rezam um pai-nosso e uma ave-maria. Suplicam:
S - Óh
Maria, concebida sem pecado...
C - Rogai por
nós, que recorremos a vós!
S - Meu
Jesus...
C - Misericórdia!
Batem a matraca. Saem pelas
ruas, cantando e rezando os mistérios do rosário. Após cada canto a matraca é
acionada e assim nas encruzilhadas, onde param a cantar. Cada parada é chamada
“ponto”. O número de pontos a percorrer deve ser ímpar. Os dias de sair à rua
são as 2ª , 4ª e 6ª
feiras da quaresma. Na semana das dores saem todos os dias. Eis os cantos, na
sequência da coleta:
Braços abertos, |
Por nossos pecados, |
que estais nesta cruz; |
morreu numa cruz; |
salvai nossas almas BIS |
salvai nossas almas BIS |
meu doce Jesus! |
meu doce Jesus! |
Segunda-feira santa, |
Bendita sejais, |
onde a Senhora está? BIS |
Nossa Senhora das
Dores, BIS |
Rodeada de anjos, |
rodeada de anjos! |
bendita sejais! BIS |
coroada de flores! BIS |
Bendita sejais, |
Pecador contrito, |
Senhora das Dores, BIS |
serve a seu Jesus; BIS |
ouvi nossos rogos, |
que por seu amor |
mãe dos pecadores! BIS |
vai morrer na cruz! BIS |
Foi
rezada neste ponto a conhecida “Oração da Chaga do Ombro de Jesus” :
“Perguntando São Bernardo ao divino redentor, qual
era a dor que sofrera maior e mais desconhecida dos homens. Jesus lhe
respondeu: “eu tinha uma chaga profundíssima no ombro sobre o qual carreguei
minha pesada cruz; essa chaga era mais dolorosa que as outras. Os homens não
fazem dela menção porque não conhecem, honra pois essa chaga e farei tudo o que
por ela me pedires.”
Na
sequência rezou-se a “Paixão de Jesus Cristo” :
“Em Jerusalém prenderam Jesus, o nosso salvador.
Cuspiram na face e a força do braço o chicoteou. Como sofreu o nosso redentor!
Foi sob o madeiro que crucificaram o nosso salvador. Soldados romanos trouxeram
a cruz. Jesus a levou. Por todas as ruas daquela cidade o Cristo arrastou. E
quando chegou no calvário, deitaram Jesus de braços abertos, no grande madeiro
em forma de cruz e sob seus pés e também suas mãos, os cravos pregaram o nosso
salvador, entre dois ladrões, que eles levantaram. O fel da amargura na boca do
mestre alguém colocou e um dos soldados com a lança seu lado esquerdo furou.
Foi feito assim ao nosso redentor e depois de três dias saiu do sepulcro e
ressuscitou”.
Diante
do cruzeiro foi cantado:
Pecadores redimidos |
Dolorosa e aguda espada |
Junto ao filho para o
Egito, |
com o sangue do Senhor, |
traspassou meu coração |
eu fugi com dor atroz; |
atendei, vede se há, |
quando a morte do meu
filho |
quando Herodes o buscava |
dor igual à minha dor... |
me predisse Simeão... |
para dar ao vil algoz... |
Chegar ao céu |
Chegar ao céu |
Chegar ao céu |
quando o dia clareou! BIS |
com Maria e José! BIS |
meus irmãos pecador; BIS |
Para ver as horas |
Visitar Jesus |
para beijar os pés |
que Jesus suspirou! BIS |
que veio de Nazaré! BIS |
os pés de meu Senhor! BIS |
A
primeira quadra é o refrão. Cantou-se ainda:
Repetiram
o “alerta”. E então, tomando a primeira quadra como refrão, cantaram:
Oh Jesus, vos adoramos, |
Com sincero coração! |
É de vós que esperamos BIS |
A eterna salvação! |
Jesus se fez criança |
Viveu na oficina |
na gruta de Belém |
do mundo, Criador, |
de paz e esperança |
pregou sua doutrina |
fonte de todo o bem. |
de paz e amor. |
Fugiu para o Egito |
Por Pedro foi negado |
com Maria e José |
e Judas o vendeu |
com o coração aflito |
na cruz esteve pregado |
depois voltou a Nazaré. |
e por todos nós morreu. |
Diante
do cruzeiro entoaram este bendito de Santa Cruz com variantes regionais:
Bendita, louvada seja, |
Os anjos do céu contentes, |
No mais alto calvário |
no céu a divina luz |
cantando a Jesus |
morreu nosso Bom Jesus, |
e nós também na terra |
e nós também na terra |
dando o último suspiro |
louvemos a Santa Cruz! |
louvemos a Santa Cruz! |
nos braços de uma cruz! |
Posicionaram-se para beijar o sagrado cruzeiro:
Vamos, meu pecador, |
para beijar a Santa Cruz, |
cheguemos, ajoelhemos, |
adoremos a Jesus! |
Bendito, louvado seja, |
Deus te salve, casa santa! |
o rosário de Maria, |
Onde Deus fez a morada. |
se não fosse ela BIS |
Onde o mora o cálix
bento BIS |
muitas almas se perdia... |
e a hóstia
consagrada! |
Faz-se então a entrega, momento sacratíssimo, postando-se de joelho diante do templo fechado:
Senhor Deus! |
Senhor Deus! |
Bendito e louvado seja |
Misericórdia! |
Pela sagrada
paixão e morte! |
O santíssimo
sacramento! |
Senhor Deus! |
Misericórdia,
Senhor Deus! |
A puríssima
Conceição |
Pequei,
Senhor! |
pelas dores
de vossa mãe, |
Da Virgem
Maria, senhora nossa |
Misericórdia! |
Maria
santíssima, misericórdia!... |
Concebida
sem pecado original! |
Encerraram o ritual. De pé, cantaram uma música do repertório das missas:
Aqui diante do altar |
O nosso prazer em viver |
viemos te ofertar |
nas tuas mãos queremos
por; |
as nossas vidas senhor! |
vamos contentes |
E falar do nosso amor |
guiados por tua luz |
eis nossas vidas |
já não somos nós a viver |
é toda tuas senhor! |
mas vive em nós Jesus! |
S - Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo!
C - Para
sempre seja louvado!
S - Vamos em
paz e que o senhor nos acompanhe!
C - Graças a Deus!
O batido da matraca encerrou a encomenda. Persignaram-se. Recolheram aos lares.
VII –
Conceição da Barra de Minas [21]
É
tradição antiga no lugar. São desconhecidas datas exatas sobre ela. Dos antigos
coordenadores ficaram destacados na memória popular os nomes dos populares Zico Galdino, José Paulino e Zé Tobias. Há horas tantas foi
desativada, segundo registro do emérito professor concepcionense, Antônio Gaio
Sobrinho em virtude da misteriosa aparição de um bezerro assombrado, que os
teria acompanhado desde o cemitério e depois
pulado o muro da matriz da Conceição, infundindo medo nos
encomendadores, pois correu notícia que aquele era o demônio e “foram baldadas
as tentativas para expulsá-lo de lá, pois o estranho animal havia,
misteriosamente, desaparecido deixando em todos o mais profundo pavor.” O
período de paralisação esteve em torno de 12 a 15 anos aproximadamente, segundo
a oralidade.
Em
1999 a tradição foi reativada por antigos participantes, a pedido de pessoas
das comunidades religiosas do lugar. É chefiada pelo sr. Vicente Cirilo Ribeiro
(Vicente Cristino). Na cantoria o Sr. Vicente faz a 2ª voz, sendo a
primeira de Luiz Dirceu (Lico da Dinha). São os dois tiradores que encabeçam o
grupo. Muitas outras pessoas se destacam, dentre elas, cantando o difícil
bendito e no mesmo canto, o Sr. Antônio das Graças Cruz (Procópio). Nesses
cinco anos vem eles conservando plenamente ativa a encomendação.
Saem
às ruas 4ª e 6ª feiras da quaresma, terminando na
quarta-feira santa. Próximo do período de encerramento podem eventualmente saírem
às segundas. O horário de início é sempre a meia-noite, do portão do cemitério,
segundo a marcação das badaladas do sino da matriz (de Nossa Senhora da
Imaculada Conceição), sempre o último ponto de parada de todos os dias. Entre
os dois extremos tomam diferentes itinerários a cada saída, com paradas
variáveis, sem relação entre números pares ou ímpares de pontos: igrejas,
encruzilhadas, passinhos. Param sempre defronte. Nunca dão as costas antes de
encerrar.
Não
há qualquer uniformização. Alguns usam bonés livremente, inclusive quando
cantam, havendo apenas o gesto respeitoso, quase mecânico, de suspendê-lo e
repô-lo à cabeça, cada vez que fazem o sinal da cruz. Não há distinção de sexo
nem de idade à participação. O grupo em si tem de 15 a 20 participantes, pois
não sai às ruas sempre com todos os integrantes. Fora estes, um bom número de
pessoas acompanham o grupo, por devoção ou curiosidade. Contei pelo menos 30
destes. O único instrumento indispensável é a matraca. Desconhecem o berra-boi.
Em certas ocasiões, conforme a disponibilidade dos músicos da banda, comparecem
tocadores de aerofones. Na ocasião destas anotações estavam presentes uma tuba,
um piston, um clarinete e um trombone. O chefe relatou que tem dias que só vem
a tuba; noutros, só há matraca.
No
portão do campo santo se reúnem os participantes. A iluminação parca, o
horário, o frio moderado, a névoa sutil, as badaladas do sino, as antigas
estórias de assombração, o medo da morte e do desconhecido, o local e o
objetivo em si, favorecem a formação de um clima tenebroso, que contextualiza
perfeitamente a tradição na penumbra da hora morta, o que jamais se alcançaria
apresentando a encomendação num palco, por exemplo. Veja-se ainda que acima do
portão de ferro há um frontão com uma alegoria em alto relevo, de argamassa, de
um crânio humano tendo sob o mento dois ossos (tíbias) cruzados, símbolo da
morte. A esquerda da caveira, em tinta preta, há uma lúgubre inscrição em
latim: hodie mihi cras tibi. A
direita, na mesma cor, outra inscrição, em português, que é a tradução daquela:
“hoje por mim, amanhã para ti” . Estas expressões medonhas fazem parte de toda
uma concepção barroca da morte.
Batida
a meia-noite na torre da igreja, disse o chefe: “começamos nossa encomendação,
com Jesus e as almas”. Todos fizeram o sinal da cruz. Ele bateu a matraca e de
imediato, começaram o canto.
S - Alerta, pecadores! |
S - Três ave-maria! |
C - Alerta, pecadores! |
C - Três ave-maria! |
S - Acordai, quem está
dormindo! |
S - Pelas almas do
purgatório... |
C - Acordai, quem está
dormindo! |
C - Pelas almas do
purgatório... |
S - Rezai três pai-nosso! |
S - Seja, pelo amor de
Deus! |
C - Rezai três pai-nosso! |
C - Seja, pelo amor de
Deus! |
A tuba toca sozinha na parte
solista; na coral entram os demais instrumentos acompanhantes. O chefe bate a
matraca encerrando o canto. Uma pessoa, em tom acutíssimo, inicia o bendito:
S - Bendito! |
S - Que veio! |
C - Louvado seja! |
C - Do céu à terra! |
- A paixão do redentor! |
- Padeceu por nosso amor! |
É o
mesmo bendito que recolhi em Alpinópolis / MG, mas cantado de forma diversa: há
um profundo contraste entre o tão agudo “bendito!” e o grave e pesado “louvado
seja!”. Repete-se. Então o coro acresce, agora com toque instrumental - “A
paixão do redentor!” O mesmo com o outro terceto.
Bate-se
de novo a matraca, fazem o sinal da cruz e partem para outro ponto, onde
repetem tais cantos. Somente na porta da
matriz, encerram com este canto:
Perdão, meu Jesus! |
perdão, Deus de amor! |
perdão, Deus clemente! |
perdoai, senhor! |
O
chefe pede: “rezemos um pai-nosso e uma ave-maria a Nossa Senhora da Conceição
por todos presentes.” Reza-se em voz alta. (Esta é a única hora em que se ouvem
orações, pois no pedido do canto, os acompanhantes e moradores das casas
vizinhas ao ponto de parada é que devem rezar em voz baixa, enquanto se
processa o canto). Bate-se a matraca e está encerrada a encomendação.
VIII -
Restinga (Bias Fortes) [22]
Começavam
batendo a matraca e tocando o zúbi-zúbi (= berra-boi). Depois cantavam:
1-
Chamamento das Almas:
Ai, ai! |
Ai... ai... ai! |
Ai, ai! |
Ô meu Deus do céu! |
Ai, ai! |
Manda as companhia |
Ai, ai! |
para cumprir obrigação... |
Com este canto as almas
comparecem para receberem as rezas. Só o devoto verdadeiramente pesaroso as vê.
Não pode olhar para traz, só para frente. Já à meia-noite, entoavam no
cruzeiro, de joelhos:
2-
Resgate da Alma:
Ô Miguel tu vai no inferno |
Ela está sofrendo, |
leva três anjos na guia, |
já pagou o que ela fez; |
vai buscar aquela alma |
agora chegou a hora |
e traz à tua companhia! |
e chegou a sua vez! |
IX - PONTE
NOVA (Bias Fortes) [23]
1-
Alerta:
Alerta! Alerta,
pecadores..., |
Alerta! Alerta! Ai, |
Deste sono esdrumecido; [adormecido] |
deste sono pecadores; |
Reze um Pai-Nosso com Ave-Maria |
reze um Pai-Nosso com
Ave-Maria |
Para as almas de nossos
conhecido. |
Para as almas de nossos
devedores. |
2-
Resgate da Alma:
- Ô Miguel, ô Miguel! |
- Eu daqui não saio, [24] |
leva três anjo na guia, |
nem que passa quinze ano |
vá buscar aquela alma |
Que ainda ontem fez três
dia |
para a nossa companhia! |
dessa alma me reclamando! |
-Ôh de casa! Ôh de casa! |
- Ô gente venha ver |
(O inferno estremeceu...) |
o milagre de Maria: |
Vim aqui buscar uma alma |
ontem estava no inferno |
que Jesus Cristo me deu! |
hoje no céu de alegria! |
- Vai-te embora, ô Miguel, |
- Os anjos vão na frente, |
Que essa alma eu não te
dou, |
os pecados vão atrás, |
Que ainda ontem fez três
dia |
que é para nós não penar
tanto |
que essa alma aqui chegou! |
quando o mundo se acabar! |
X -
ALPINÓPOLIS [25]
Bendito, louvado
seja! BIS |
Pai-Nosso! Ave-Maria! - bis |
A Paixão do Redentor! |
Rezemos por devoção, -
bis |
Deus desceu do céu à
terra, BIS |
Para aquelas benditas
almas, - bis |
padeceu por nosso amor! |
que no purgatório
estão! - bis |
Segunda-feira Santa, |
(Refrão:) |
Nossa Senhora estava, |
Nossa Senhora, Nossa
Senhora das Dores, BIS |
com se Filho Bento, (*) |
rodeada de anjos, BIS |
bendita, seja! |
coroada de flores! |
(* ) Terça: Filho doente; quarta: idem; quinta:
morto; sexta: sepultado. Encerra assim:
Sábado, para as dez horas, |
Domingo alegre! (batendo matraca) BIS |
Nossa Senhora estava, |
Os anjos também! |
com seu Filho sepultado...
|
No Reino da Glória, BIS |
Bendita sejai! |
para sempre, amém! |
XI - PONTE
ALTA (Delfinópolis) [26]
1) Alerta:
Alerta! Alerta,
pecadores... |
Alerta! Alerta,
pecadores..., |
Deste sono que vós dorme! |
deste sono que vós dorme! |
Veja lá que Deus não
dorme, |
Olha que o sono é irmão da
morte, |
Pecadores quer dormir... |
a cama é a sepultura! |
2)
Pedido de reza:
Reze
lá um Padre-Nosso,
junto
com Ave-Maria,
para
aquelas benditas almas,
que no
purgatório está-ah, ai...!
XII - MATA DOS
MARQUES / RIBEIRÃO DA MATA GRANDE (Delfinópolis) [27]
1) Alerta:
Alerta! Alerta,
pecadores..., |
Alerta! Alerta,
pecadores..., |
deste sono que vós tais. |
deste sono que vós tais. |
Olha que Deus não dorme |
Veja lá que o sono é irmão
da morte |
nós também não dormirá... |
e a cama é a sepultura... [28] |
2) Pedido de
reza:
Reza
lá um Pai-Nosso,
junto
com Ave-Maria,
pras
almas dos afogados; (*)
reza pelo amor
de Deus...!
(*) Repete-se mudando as almas dos afogados pelas do purgatório, dos queimados, dos assassinados, dos que morreram nas estradas, almas benditas, etc.
3) Bendito da Semana Santa:
Segunda-feira Santa, |
Sexta-feira Santa, |
a Senhora estava, |
a Senhora estava, |
com seu Filho no braço, |
coberta de luto, |
bendita, sejais! |
bendita, sejais! |
Terça-feira Santa, |
Sábado Santo, |
a Senhora estava, |
a Senhora estava, |
de joelho no chão, |
com seu Filho
ressuscitado, |
bendita, sejais! |
bendita, sejais! |
Quarta-feira Santa, |
Domingo alegre! |
a Senhora estava, |
Os anjos também! |
com seu Filho doente, |
Leva nós na glória! |
bendita, sejais! |
Para sempre, amém! |
Quinta-feira Santa, |
(Refrão: ) Bendita, sejais! |
a Senhora estava, |
Nossa Senhora das Dores! |
com seu Filho morto, |
Rainha dos Anjos, |
bendita, sejais! |
Coroada de flores! |
4) Bendito de Igreja:
Bendito! Louvado seja! |
É o Santíssimo Sacramento! |
Os anjos, todos os anjos! |
Louvando a Deus, para sempre, amém! |
5) Canto de
Retirada:
Em
vem o Anjo Gabriel, BIS
com
seu rosário na mão,
convidando
pra rezar o terço, BIS
-
meus irmão devoto! -
meia-noite da
Paixão.
Só
participavam homens (cerca de onze), sem lençóis para encobrir. Saíam na Semana
Santa, de segunda à sexta, iniciando e encerrando num cruzeiro, sem ultrapassar
a meia-noite. Tinham matraca e berra-boi. Aceitavam comer o lanche deixado de
fora das casas para eles, mas não deixavam sobras.
XIII - MUMBUCA
(Passos) [29]
1)
Alerta:
Alerta!
Alerta, pecadores...,
acordai
quem tá dormindo;
veja
lá que Deus não dorme
é bem que vós
não dormisse...
2)
Pedido de reza:
Reze lá em penitência, |
Reze lá um Pai-Nosso, |
quando Deus conserva bem,
oi! |
junto com Ave-Maria, |
Reze um Padre-Nosso com
Ave-Maria |
pras almas do Purgatório |
pras almas de nosso
conhecido. |
rezem pelo amor de Deus,
oi... |
XIV - PASSOS [30]
1) Alerta:
Alerta! Alerta,
pecadores... |
Alerta! Alerta,
pecadores... |
Acordai quem está
dormindo. |
Acordai quem está
dormindo. |
Veja bem, que Deus não
dorme; |
Veja bem que o sono é
irmão da morte; |
nós também não dorme
não... |
e a cama é a sepultura... |
2) Pedido de
Reza:
Peço que reze um
Pai-Nosso, |
Peço outro Pai-Nosso, |
junto com Ave-Maria; |
junto com Ave-Maria, |
Para as almas do
purgatório. |
Para aquelas benditas
almas |
Reze pelo amor de Deus... |
da obrigação... (*) |
(*) As almas que fazem benefícios aos encarnados; os espíritos benfazejos. Prosseguem o canto mudando os pedidos para as do purgatório, as inocentes, dos afogados, dos queimados, dos que morreram nas estradas.
3) Bendito de Igreja:
Bendito! Louvado Seja! |
É o Santíssimo Sacramento! |
Os anjos, todos os anjos, |
louvando a Deus, para sempre, amém! |
4) Bendito: (com batido contínuo da matraca)
Bendito, louvado
seja!
O
Santíssimo Sacramento!
A
Virgem Maria,
senhora
nossa,
concebida
sem pecado,
o Senhor Jesus!
5) Canto Religioso: (com batido contínuo da matraca)
Nossa Senhora do
Carmo |
Foi achar lá em Roma |
Nós rezamos esta oração |
tem seu jardim de
flor, |
Empezinho no altar; |
Para o Senhor daquela cruz, |
que os anjos passeava |
Com o cálix de ouro na
mão |
que nos leva para a glória |
no Domingo do Senhor! |
Missa nova vai rezar. |
Para sempre amém, Jesus! |
Juntaram as três
Marias |
Óh Deus salve São
Francisco |
numa noite de luar, |
é no Reino Portugal; |
procurando Jesus Cristo |
vem me ajudar vencer |
nunca que puderam achar... |
essa batalha real. |
6) Beira do Rio:
Na beira do
rio |
Não chora,
Menino, |
Senhora
lavava |
Fostes bem
nascido |
a Senhora
estava |
não chora,
meu amor! |
São José
estendia, |
fostes bem
criado, |
lavando o
manto |
A faca que
corta |
Menino
chorava |
filho de uma
rosa, |
do seu bento
filho. |
dá o talho
sem dor |
do frio que
fazia. |
de um cravo
encarnado |
7) Bendito da Semana Santa: (Prosseguem em repetições mudando apenas Terça-feira da Luz, Quarta, etc.)
Segunda-feira
da Luz,
Pilatos
prendeu Jesus.
Tremeu
a terra, tremeu a cruz,
só não tremeu
coração de Jesus!
8) Jaculatória
(recitada)
:Quem rezar esta oração, livra todas as
almas do inferno, por toda geração!
XV - CAMPOS GERAIS [31]
Ocorria
na zona rural deste município, onde os participantes encobriam a cabeça de
panos brancos e usavam jogar grãos de milho nos telhados das casas diante das
quais cantavam. O informante supunha que este ato seria talvez para acordar os
moradores [32].
Considerações finais
Faço-as
segundo constatações tomadas em São João del-Rei, minha terra natal.
Pelo fato da música seguir a
uma partitura, conservada em arquivo; pelo uso de instrumentos ausentes em
grupos folclóricos; pelo canto coral, há de se convir e eu concordo, que a
música da encomendação de almas nesta cidade não é folclórica. E só.
Felizmente, porém, o lado
verdadeiramente folclórico dessa encomenda ainda é mantido: o ritual. E não há
mal ou ofensa alguma que o seja, posto que, todos encerram em si uma parte do
conhecimento das tradições populares. Não há vergonha em que seja folclórico, numa
parte ou no todo. É uma questão de conceito e opinião, portanto muito subjetiva
e nada acrescenta de útil à compreensão do fato nem à sua real conservação. O
ritual folclórico parece-me que lhe aumenta o valor e digo mais, esta só é uma
encomendação autêntica porque conserva este lado folclórico. A sua música e
letra atuais não lhe conectam à raiz histórica. A letra dos motetos é perfeita
para as vias-sacras, mas não digo o mesmo para a encomendação. E não vai aqui
nenhuma crítica ou juízo de valor, nem ao compositor, nem aos intérpretes, pois
todos são muito capacitados e enaltecem nossa terra. Devo reconhecer a beleza e
o valor da composição e a perícia de sua execução por músicos das corporações
da cidade, mas apenas penso que ela não é adequada para a encomendação. A
composição de Manoel Dias de Oliveira deveria oportunamente retomar o seu
papel, pois é em minha modesta avaliação mais apropriada.
As mudanças sociais tendem a
extrair das encomendações sua áurea misteriosa. Mesmo em cidades
tradicionalistas e fortemente católicas como esta, onde a tônica do grupo ainda
é barroca, as alterações são visíveis. Muitas pessoas acompanham o grupo por
mera curiosidade, sendo que antes ninguém podia observá-los. Mulheres
ingressaram no coro e instrumental, sendo que de antanho só homens tocavam e cantavam,
alguns fazendo falsete para compensar a falta de vozes femininas. Isto não é
crítica. É apenas constatação.
Agora a quaresma parece um
tempo comum. Ainda na década de 1980 não havia nenhuma festa ou baile nesse
período. No decênio seguinte acelerou-se o desrespeito ao silêncio do período e
à quebra de seus tabus. Na atualidade, as casas noturnas não se recolhem ou
então, diminuem muito pouco a atividade [33].
Como resultado, as ruas estão cheias de gente à procura de diversão na hora da
encomendação e lhes assiste a passagem com total indiferença.
Nas esquinas, os bares estão
com as mesinhas na calçada cheias de gente bebendo e conversando, com som ligado
em alto volume. Carros passam correndo e a encomenda tem de encostar. Pessoas
escancaram as janelas para assisti-los. Alguns na “contramão”, atravessam por
entre os encomendadores sem cerimônia, nem sequer pedindo licença. As luzes e a
agitação da noite moderna desambientaram o grupo.
Muitos acompanhantes
conversam, até durante rezas e cantos. Uns riem. O aspecto religioso, contudo
se mantém, teimoso. Isto testemunhei. Agora, apenas por ouvir dizer, soube que
alguns participantes nessa cidade estavam desanimados para 2007, posto que além
dos problemas supracitados, na hora do término, tinham receio da volta para
casa, não mais devido a assombrações, mas por causa da violência urbana.
Jornais tem algumas vezes
abordado a encomendação com vistas a valorizá-la, transmitindo informações de
ordem histórica e religiosa, além do itinerário. Reafirmam o seu lado
folclórico, mas ao meu ver, lamentavelmente, nem sempre há exatidão nalguns
dados, talvez por lapso da fonte consultada:
“São João del-Rei a única cidade mineira, e talvez a única do
país, (não há registro da prática ritual em nenhuma outra cidade) a praticar o
ritual em sua forma erudita praticamente inalterada” [34]
; “São João del-Rei é a única cidade que
conservou esta tradição mantendo
inalterado o seu contexto religioso e penitencial, isento de superstições” [35]
; “em São João del-Rei é tradição o rito
de Encomendação das Almas. Grupos (sic) de
homens, mulheres e crianças (sic) saem
à noite com um pano branco cobrindo a cabeça (sic)” [36].
Perguntaram-me sobre o
futuro desse grupo. Repito o que respondi. Penso que se manterá graças à
dedicação e sabedoria de seus abnegados participantes, sobretudo dos
organizadores, todos, pessoas deveras capacitadas, a quem muito se deve pela
conservação de nossas tradições. Mas também acho e com tristeza que a
encomendação corre o risco de se tornar, ao menos por aqui, uma atração
quaresmal, um espetáculo musical de horas mortas, por causa do desrespeito
galopante, não de seus integrantes, mas do meio urbano no qual está inserida.
Não é possível guardá-la numa redoma de vidro blindado, à prova dos novos
tempos. Ano a ano, a quaresma perde o seu recolhimento. Não só aqui, mas em
muitos lugares, isso poderá ser facilmente averiguado. Já chamei a atenção
publicamente para toda essa problemática
[37].
Concordo
pois com as palavras de Jota Dangelo, em sua coluna semanal “Pelas Esquinas” [38]:
“Não sei mais o que significa Quaresma
para mim. Já houve tempo que ela era semanas de mistério, de mulas-sem-cabeça
tirando fogo com os cascos, no galope desenfreado sobre os pés-de-moleque do
Largo da Câmara”.
Conclusões
Apesar da devoção às almas ser bastante difundida e ativa,
a encomendação em si, como uma de suas expressões devocionais, se encontra em
ocaso. As francas alterações sociais do presente, cada vez mais, desambientam a
encomendação das almas, mesmo em suas comunidades originais. Os aspectos
lendários, primando pelo temor impresso como castigo ao pecador ou ao
transgressor das regras, vão se tornando distantes referências, narradas pelos
idosos. As luzes da modernidade, a tecnologia, o avanço das ciências, vão
espantando os medos para locais ermos e trazendo o ceticismo e o materialismo.
A encomendação das almas torna-se dia a dia anacrônica, sobrevivendo senão
parcamente, nos lugares mais recônditos, cada vez mais esvaída do seu ar de
mistério, de sua essência espiritual e de seus referencias simbólicos.
Encomendação das Almas. Março/2000.
Distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno,
São João del-Rei/MG. Autor: Ulisses Passarelli.
Apêndice
Aproveitando o ensejo transcrevo o notório poema “Encomendação das Almas”, de 1959, escrito por Altivo de Lemos Sette Câmara, do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei [39]. No paralelo entre vivos e mortos evocado pela encomendação, o autor admoesta com seu estilo tão peculiar, que só há uma eternidade. Seus competentes versos fazem refletir. No cemitério ninguém é dono da verdade. Os que julgam saber tudo, que não compreendem a essência e a verdade das tradições também terminam no mesmo lugar. A elitização ali acaba.
Noite tardonha de quaresma,
ora vamos
Pequena orquestra e coro rumo aos cemitérios
A implorar no vão da estreita porta:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Dois levam o contra-baixo, o rabecão profundo
Que muge como um boi longe do tempo.
Ante portas estaca a comitiva e bate
Bate rebate a ossuda matraca
Na noitidão mortiças lanternas são acesas
Clangloram as trompas e as vozes deploram:
“Senhor Deus, misericórdia!”
A música é tão triste e cada um sozinho
Alma velha fechada em vida sem ventanas.
À parte, fumo. Que frio! São as almas? Oremos:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Quem é lá, detrás dos brancos muros?
Sementes da eternidade, grãos meio nasciturnos?
Quem vem lá? Ninguém secunda. É de Morte. Oremos:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Descemos, subimos chão de quebrada memória.
A lua minguante é uma lanterna gelada
No alto dos ciprestes, do outro lado das grades,
Lua de neve e trigo, para órfãos e cardíacos.
E o fantasma da derrota ora usa nossa boca e ora:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Sopra vento sul, rumo Lenheiro-Ibituruna.
Passou por este vale Fernão Dias Pais.
Esmeraldas não tinha. Ouro? Sorveteu-se. Foi-se.
Na serra as betas são velhas bocas ocas.
Rapou o ouro El-Rey, ficamos com o desdouro.
Herdeiro de buracos lá meu povo implora:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Dos cemitérios sobe o rumor do miserére
Té a boca das betas, lá é só restouro.
Não tem vivalma! Clangloram as trompas:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Ossos particulares nos jazigos ricos (memento homo)
Ossos gerais nos ossuários pobres (quia pulvis es)
Todos somos iguais na morte (et in pulveren)
Que a eternidade é uma só (reverteris)
Para os vivos o limpo som da flauta
É jato de água pura, um refrigério.
A flauta do Melico lembra um assovio de anjo...
Cuidado! Descemos ladeira velha, calçada de pedra
ferro.
Da urbe colonial passamos à nova cidade
Pela ponte do Rosário, arcos de granito escravo.
Em S. Francisco é a tradição que conta:
Aqui, xingando, burilou pedra sabão,
Bolinou anjos azuis o mestre Aleijadinho.
A forca foi no Morro. Lá, sem ar
Quem balançou a corda, pêndulo no vácuo?
Foi na chapada do Matola o pelourinho:
Quem sangrou no suplício? Negro escravo
“Senhor Deus, misericórdia!”
Motetes cantamos em sete cemitérios
Chegamos ao Quicumbi já gastos como écos. Longe...!
Ali no Porto foi morto Tomé Portes. Vixit!
Eu volto amolentado, zonzo de gastura.
“Senhor Deus, misericórdia!”
As Fábricas fiam silêncio. E os trilhos frios
Da estrada-de-ferro se encontram no finito.
Batem de novo os saltos no granito urbano.
Na ponte da Cadeia dissolve-se a fúnebre seresta.
Só relembrança resta na rota da memória:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Que é a morte? Sono de osso nú, sem carne de sonho?
Ou um paraíso dado, sem queda nem lembrança?
Ou nada? Ou nada? Ou nada? Ausência pura!
O inferno é aqui mesmo.
Seja o que for, meu bem, é de morte. Oremos:
“Senhor Deus, misericórdia!”
Ah...! Eu? Eu? Não vale a pena.
Um dia voarei com asas de neblina e poeira
E cançado de tudo porei aos pés de Deus
O que levar da vida no oco da mão: areia.
“Senhor Deus, misericórdia!”
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VIEIRA FILHO, Domingos. Folclore do Maranhão.
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[1] In:
Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de São João del-Rei, v.12, 2007. O texto foi revisto para a publicação neste blog e incluída a fotografia, que não fazia parte da publicação original.
[2] O folclorista Severino
Vicente, descobriu em suas pesquisas de campo e gentilmente me informou em out.
/ 2004, da existência de um grupo ativo de Penitentes na cidade de Luís Gomes /
RN.
[3]Gentil informação pessoal de
Jadir de Morais Pessoa, da Universidade Federal de Goiás, out. / 2004.
[4] MENDONÇA, Rubens de. Roteiro
Histórico & Sentimental da Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá. Cuiabá:
Igrejinha, 1977. P.124.
[5] DIAMANTINO, Dêniston F. Encomendação
das Almas. Belo Horizonte: Opará, 2001. Vídeo-documentário, VHS, 20 minutos.
Registra também o grupo mineiro de Lavra Nova, perto de Ouro Preto.
[6] FELIPE, Carlos. Agora,
silêncio: está começando uma Encomendação das Almas. Estado de Minas,
Belo Horizonte, 22 mar. 1986. Caderno 2.
[7] ALMEIDA, Benedito Pires de.
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XIDIEH, Oswaldo Elias. Semana Santa
Cabocla. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros-USP, 1972.
[8] Cf.: JORDÃO, M.F. O Embu
na História de São Paulo. Embu: Prefeitura Municipal, 1960.
[9] SANT’ANNA, José. Cuide da
vida, porque a morte é certa. Anuário do 33º Festival do Folclore, 10-17
ag. / 1997. Olímpia.
JUNQUEIRA, Bié. Rito de passagem da vida, da
morte ao céu. Anuário do 35º Festival do Folclore, 8-15 ag. / 1999. Id.
[10] Inf. Aloísio dos Santos,
1998. Tal quadra pertencia ao repertório das antigas Encomendações de São João
del-Rei.
[11] O fiel das almas vive quase
à margem do catolicismo oficial. É bom contudo lembrar das Irmandades de São
Miguel e Almas, freqüentes nas cidades históricas, como forma aceita
(oficialmente) de trabalho em favor das almas. São Miguel Arcanjo é
popularmente o guardião das almas e seu condutor, levando-as pelos caminhos do
além e pesando suas faltas e acertos no julgamento divino, daí ser representado
com uma balança à mão. Nossa Senhora do Carmo é também relacionada às almas,
acreditando-se que os fiéis que são seus devotos e usam seu escapulário, ao
morrerem, terão suas almas resgatas pela Virgem do purgatório no primeiro
sábado após a morte.
[12] Já publicado em: Tradição,
Boletim da Subcomissão Vertentes de Folclore, n.6, mar. / 2000. Adaptado para
este texto. Na fonte original há mais informações sobre as formas devocionais:
as alminhas, caixas de esmolas, etc.
[13] Manoel Dias de Oliveira
(1735-1813), Capitão da Ordenança do pé
dos homens pardos libertos do distrito de Lage da Freguesia de São José do Rio
das Mortes, natural de Tiradentes/MG. Verdadeiro baluarte da música barroca
brasileira. A seu respeito ver: SANTOS FILHO, Olinto Rodrigues dos. Capitão
Manoel Dias de Oliveira para documentação para uma longa vida. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, v.8, 1995.
[14] Gravado em 1983, pelo
estúdio Tacape, de São Paulo. Parte da série Memória Musical. Intitulado “Festa
de Passos / Encomendação das Almas”.
[15] CARVALHO, José Alencar de
Ávila. Convocando o “sargento” Altivo Sette. Gazeta de São João del-Rei, n.31, 20/02/1999.
[16] Nhá Chica: cognome de
Francisca de Paula de Jesus (1810-15/06/1895), são-joanense natural da vila do
Rio das Mortes, falecida em Baependi / MG, de vida muito virtuosa. O povo a
considera santa. Já foi beatificada pelo Vaticano. Para maiores detalhes ver:
SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. São João d’El-Rey poderá ter a primeira
santa nascida no Brasil. O Grande Matosinhos, São João del-Rei, ASMAT,
n.50, jan. / 2004.
[17] Informante: Sebastião
Teodoro da Silva, 04/04/2002, natural daquela vila. Hoje reside em São João
del-Rei.
[18] Segundo o prof. Abgar
Antônio Campos Tirado, em informação pessoal gentilmente concedida em
05/03/2007, por aproximação de data, possivelmente, o nome correto desse
sacerdote seria Cristófaro (e não Cristóvão citado por meu informante) de Sousa
Barros, ordenado a 07 de agosto de 1921, em Mariana por Dom Silvério Gomes
Pimenta.
[19] Informante: José Francisco
Sales, fev./1997.
[20] Informante: Luís Santana,
dez./1996. Referenciou a presença de flauta e clarineta.
[21] Informantes: os dois
tiradores de cantos, em 21/03/2003.
[22] Informante: Júlio Prudente
de Oliveira, octagenário, natural de Santa Rita do Ibitipoca. Grupo antigo e
extinto. Informações prestadas de memória em julho / 1997. Falecido.
[23] Informantes: Elvira Andrade
de Salles - U ag./2004 - (cantos) e José
Maria do Nascimento (instrumentos). Naturais da zona rural de Bias Fortes,
respectivamente dos povoados de Guilherme e Ponte Nova.
[24] Variante: “Embora eu num vou / nem que passa...”
(etc). Recolhi também uma versão de Juiz de Fora/MG.
[25] Versos transcritos de
gravação gentilmente cedida por Sebastião de Pádua Queiroz, 29/07/1997, de
Passos. Radialista.
[26] Informante: Feliciano
Batista da Silva, em 28/07/1997, sexagenário, grande vivência rural, morador da
Rua dos Boiadeiros, Passos. Capitão de
Moçambique.
[27] Informantes: Luzenir
Eurípedes dos Reis / Sebastião dos Reis , em 25/07/1997. Casal morador do
Bairro da Penha, Passos, de grande vivência rural.
[28] Algumas versões
complementam um dístico rimando: “O lençol é a mortalha / que encobre a
criatura!”
[29] Informante: Henrique
Américo Marques de Oliveira, 29/07/97, rurícola, com 94 anos na citada
data.
[30] Versos transcritos de
gravação gentilmente cedida por Sebastião de Pádua Queiroz, do Jardim Vila
Rica, 29/07/1997.
[31] Inf.: Vítor Claret Pereira,
em 27/07/1997, morador do Bairro da Penha, Passos. Natural de Campos Gerais.
Não fora seu apoio não teria sido possível executar tal pesquisa no sudoeste
mineiro. A ele dedico este texto com grata admiração.
[32] Pouco provável. Parece
antes um ritual. Gomes & Pereira nos dão notícia do cunho propiciador de
boas colheitas, que se esperava dos espíritos evocados, como primitiva função
pagã das preces às almas, anteriores ao cristianismo. Em Portugal ofertam
espigas nas alminhas, espécie de oratório consagrado às almas. Uma oferenda
tradicional entregue nos cruzeiros pelos umbandistas é o Mingau das Almas,
feito de leite e farinha de trigo, sem açúcar, bem fluido. Moedas jogadas sobre
o telhado são também oferendas às almas (São João del-Rei e Candonga
(Tiradentes), 2004).
[33] Cf.Gazeta de São João del-Rei, n.444, 03/03/2007.
[34] PRUDENTE, Raquel. Fiéis
saem às Ruas para Encomendação das Almas: rezas e cantos em homenagem aos
mortos. Gazeta de São João del-Rei,
18 mar. 2000, n.86. p.7.
[35] Folha das Vertentes, n.1, mar./2004.
[36] ACI del-Rei, n.44, mar./2007.
[37] Em palestra do Instituto
Histórico e Geográfico de São João del-Rei, 04/03/2007; na imprensa televisiva
em entrevista concedida ao “Jornal Regional” da TV Campos de Minas, canal 11,
Rede Minas; na imprensa escrita, em entrevista para Lurdinha Lara, jornal Folha
das Vertentes, n.73, mar./2007, nesta.
[38] Cf. Idem n.31.
[39] Poema gentilmente cedido
pelo prof. Francisco José de Rezende Frazão, a quem agradeço. Publicado em São
João del-Rei junto com outros poemas. O
título deste que foi transcrito nomeia a brochura.
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