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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

São Gonçalo do Amarante: detalhes e peculiaridade do lugar em Festa do Rosário

Ainda sobre a festa congadeira em São Gonçalo do Amarante (ex Caburu) é mister destacar algumas peculiaridades do lugar. Assim, por exemplo, que nos dias atuais, as mudanças sociais e novos rumos que o dia a dia aponta, fizeram incluir na véspera do dia maior, ou seja, no sábado, um momento amplo dedicado às crianças. Uma série de atividades, como uma gincana, lhes proporciona diversão momentânea, sentido de coesão social, oportunidade ímpar para rever as tradições locais da cultura popular e o que é muito importante, aproxima as crianças da maior festa local e por conseguinte do congado, mais significativo ícone da cultura popular local. 

Diversas brincadeiras tradicionais são realizadas sob a tenda armada no largo. Há o balanço, a gangorra, pernas de pau, pichorra, torta na cara e muitas outras. Até bolo confeitado é distribuído livremente. A atividade toma a tarde toda e termina no começo da noite. 

O escuro cai sobre as montanhas e no gramado da vila, alguns sapos aparecem à cata de insetos. Por vezes adentram a rua e terminam infelizmente atropelados... 

A barraquinha funciona com comes e bebes.

Então é a vez do congo vir à rua, em seu último ensaio. Circula a área central e depois se recolhe. Não dançam na véspera de uniforme, mas de roupa rotineira do dia a dia. O uniforme é reservado ao dia maior. A passagem do congo anima a comunidade. O povo chega na janela e de fora das casas para vê-los; aplaudem, prestigiam.

Madrugadinha, bem cedo mesmo, 4 horas, os caixeiros vem à rua. Batem os tambores em um ritmo único, só instrumental. Não há cantoria. Somente uma marcha acelerada. O toque muito típico é conhecido por Vamos embora, Vitalina! ("Vão s'imbora, Vitalina!", dizem...). O sino toca. Foguetes estouram. Todos acordam, ninguém reclama. Se não tiver alvorada lamentam, porque será sinal de descaracterização da festa. 

Depois reina o silêncio. Hora boa de rever o lugar. O romper do dia na Pedra Ramalhuda vale a pena ser contemplado. É um mirante que está reconhecido e protegido pelo município por mecanismo de inventário de patrimônio cultural, na categoria Conjunto Paisagístico Natural (2018). A fauna se evidencia e muitos pássaros cantam em derredor. Dá para perceber com clareza o relevo montanhoso e o vale do Rio das Mortes, enevoado. 

Dá tempo também de visitar a Gruta de São Judas Tadeu, pequena construção em pedra, de cunho devocional, onde uma imagem deste santo foi colocada para acolher as preces devotas. Fica numa grota próxima ao Córrego da Passagem, após a Ponte do Quinzola, saída para a comunidade do Caxambu. É bem cuidada em sua simplicidade e singeleza. 

De volta ao povoado, se vai notando as belezas cênicas. Nas casas o povo toma café. Congadeiros se fardam para o festejo. Pelas nove horas reúnem na rua adiante da casa do Capitão. Logo virão tocando ao largo. Alguns detalhes dos preparativos finais se ajustam neste momento. Vai chegando gente da cidade e das vizinhanças, vindos dos sítios e povoados próximos. Logo há movimentação. 

Por fim o grande atrativo acontece. O congo surge com seus toques: marchas, sambas e desdobrados. O colorido toma conta do lugar. Cumprem o rito religioso de visitar a igreja, o mastro e o cruzeiro e depois vem ao café. É comum a presença de congados visitantes também. Em 2019 vieram de Ritápolis, Barroso e Resende Costa. A sequência festiva acontece. Os atos religiosos na igreja são muito prestigiados e a nave do templo se acha lotada. O amor à religião é chave desta coesão. 

O congado em São Gonçalo do Amarante é a coroação da cultura local. A Festa do Rosário tem a fisionomia do congo e este a identidade da festa. São de tal forma integrados, que não dá para imaginar um sem o outro. A devoção ao Rosário é muito forte e toda a sua expressão transcorre por uma motivação coletiva espontânea, com ações conjuntas realizadas com empolgação e carinho. A tradição vinda com a cultura afro, ora se enraizou. Toda a programação atende aos anseios comunitários, daquela parcela da comunidade envolvida com esta tradição. O formato, como acontece, é o formato que é, que deve ser. Sua modernização exógena implicaria não em evolução, mas em involução, descaracterização. Tudo na festa tem o seu sentido, a sua lógica. É preciso mergulhar em seu sentido mais intrínseco para perceber suas raízes, desde o tempo do cativeiro, até hoje. Com o congo, a evangelização na festa se torna mais eficiente. O fiel dançante se revela na totalidade como povo de Deus. 

A vontade, crianças brincam de bola no largo. 

Crianças se divertem num balanço, na véspera do dia maior. 

Criança experimenta a emoção de uma gangorra, atada a uma árvore no largo.
 
Pernas de pau, brincadeira para a criançada. 

Poente, visto de São Gonçalo do Amarante. 

Grande sapo cururu - no gramado do largo,
no período chuvoso é frequente vê-los à noite. 

Uma das barracas montadas no largo. 


Caixeiros pela madrugada em alvorada, em torno do cruzeiro. 
Não há plateia. Senhora do Rosário os vê e isto lhes basta. 
 
Momento da alvorada festiva. 

Escaravelho na Pedra Ramalhuda. 

Um calango (Tropidurus), na Pedra Ramalhuda. 

Nascer do sol, visto da Pedra Ramalhuda. 

Cruz de via sacra, na estrada do Mestre Ventura, que vai para a Pedra Ramalhuda.


Gruta de São Judas Tadeu - localizada numa grota, junto a uma
nascente, bem próxima do distrito, a caminho do povoado do Caxambu. 

Cruz de fachada, na entrada de uma das casas: tradição muito arraigada. 

Parte do telhado da igreja.

Mastro do Rosário, refletido numa vidraça. 

Final da montagem da barraca de alimentação. 

Bandeirinhas afixadas no cruzeiro. 

Pela manhã... no largo. 

Café da manhã.
 
Café da manhã.  

Congadeiros da comunidades e congado visitante de Barroso
adentram a igreja para louvação. 

Breve descanso do jovem congadeiro. 

Beijando a bandeira do congado visitante, de Ritápolis. 

Bate-papo. 

Congadeiros visitantes de Resende Costa:
desde muito cedo se aprende a tradição. 

Saída da procissão: momento maior!

Da janela frontal do coro, populares lançam papel
picado sobre os andores: "Lá do céu tá caindo fulô!"

Reflexos da tradição: ecos do passado sobrevivendo no contexto cultural. 

Procissão em marcha: cortejo de devoção e tradição. 

O Capitão se ajoelha: rosário é expressão de fé!

Papel picado: gratidão ao santo; homenagem ao sagrado. 

Notas e créditos:

- Texto e acervo: Ulisses Passarelli
- Fotografias: Iago Christino Salles Passarelli, 12 e 13/10/2019

* Revisão: 15/01/2024

Um comentário:


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