Faz certo tempo surgiu na cidade de Coronel Xavier Chaves um evento pré-carnavalesco, que muito se afamou e cresceu. A proposta de tal evento acertou em cheio na visibilidade e atrativo de visitantes, tornando-se um dos grandes momentos do ciclo do momo na região das Vertentes. Não obstante este aspecto e a diversão que proporcionava, logo a expansão trouxe consigo os problemas de um carnaval de massa.
Neste ano contudo, a municipalidade apostou de forma arrojada numa outra forma de carnaval. O tradicional. Não que ele não existisse, mas focou-se nele em detrimento do evento massivo. A proposta foi de um carnaval para dentro e não para fora; para o xavierense, com o que ele tem de melhor e assim o vimos claramente in loco. É de se imaginar o dilema de tal decisão, que decerto não agrada a todos, mas certamente beneficiou aos milhares de moradores. Foi visto um verdadeiro resgate do carnaval tradicional, da cultura popular autêntica, não só um mero ato de economia, mas efetivamente de ação planejada de valorização do que há no município.
Entendemos como atitude de coragem, que também abre discussões. Entretanto é sempre bom perguntar que tipo de turismo se quer, chamar isto à reflexão. Por toda parte há inúmeros exemplos que os eventos gigantes trazem consigo problemas proporcionalmente enormes e chega a hora de rever se de fato isto é bom ou é o que se quer.
O carnaval típico, tradicional, tem também o seu potencial turístico. Não atrai o grande volume de visitantes, mas a qualidade dos visitantes. O próprio povo fez o seu carnaval, de corpo e alma, com plenitude de sua criatividade e lavor artístico. No palco, os artistas da terra tiveram voz e vez, com toda capacidade e sucesso. Na grande tenda, moradores e visitantes se irmanaram indistintamente dançando com alegria e relembrando os carnavais dos velhos tempos, com muita tranquilidade. O boi-de-caiado, manifestação folclórica de raízes muito antigas e típicas do lugar ganhou as ruas sob a liderança do grande Mestre Zé Carreiro, verdadeiro ícone da cultura local. A comunidade mostrou seu valor afro pelas danças, vestimentas e pela afirmação de identidade na participação conjunta e harmônica, demonstrando empoderamento do território onde está inserida. O bloco veio bem mais forte que no ano anterior, por exemplo, conforme observamos.
Ruas limpas, seguras, bem cuidadas, praças impecáveis, patrimônio cultural preservado, gente receptiva, pacífica e alegre. Carnaval típico do interior mineiro. Boa infraestrutura de evento.
A opção de olhar para si e enfrentar as adversidades é uma atitude de responsabilidade social e de amor à cultura. Apostar na raiz de saberes do lugar e no potencial dos moradores é uma proposta louvável para uma administração pública, mesmo que não agrade por unanimidade.
** Fotografias (04/03/2019) e texto (05/03/2019): Ulisses Passarelli
*** Revisão: 12/02/2024
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