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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




sábado, 1 de abril de 2017

Dia da Mentira: desordem e ruptura

Primeiro de abril é conhecido por Dia da Mentira desde longa data, conforme um costume de origem europeia, que os colonizadores do velho mundo nos trouxeram. Neste dia é bastante comum se contar mentiras, fazer pilhérias, pregar peças de puro motejo, sempre simulando ser o fato narrado uma verdade, mas realmente é uma inverdade. 

As crianças são especialmente adeptas das brincadeiras deste dia, aprontando troças com muito bom humor sobre colegas. Alguns mais espertos, já desconfiados pela data, descobrem a farsa e desmascaram o brincalhão; outros mais são vitimados e sob assuada dos colegas tem que aguentar a onda de zombaria que se abate sobre ele. 

Nas escolas dizem a um que a diretora o chama e logo volta da diretoria sob apupos; a outro, que teve nota baixíssima numa certa prova e põe crédito, mas logo descobre a trapalhada que lhe armaram e assim vai. 

Adultos também embarcam na brincadeira, sobretudo entre amigos próximos, colegas de trabalho, gente da mesma empresa. É o cônjuge que descobriu a existência de um amante, é o patrão que viu na câmera de segurança uma brincadeira indevida; é o inimigo que simula reaproximação; é o convite para uma festa que não existe... tudo mentira de primeiro de abril. Na cultura popular ela tem licença livre nesse dia e corre solta, sem punições, sem censuras. 

Ainda nos anos setenta em São João del-Rei, quando um moleque caía numa destas ciladas, logo os demais punham-se ao motejo cantarolando: "É primeiro de abril! Sua calça caiu, seu pai não viu e sua mãe vestiu!!!" Era a revelação da trama deixando ora envergonhada ora enfurecida a criança vitimada. 

Sobre a origem do Dia da Mentira explica o mestre folclorista Luís da Câmara Cascudo sua procedência europeia, francesa, posteriormente difundida com grande amplitude: 


"até a segunda metade do séc. XVI o dia primeiro de abril começava o ano. Abril, aperire, abrir. O Rei Carlos IX, por uma ordonnance do Roussillon, Dauphiné, em 1564, determinou que o primeiro de janeiro iniciasse o ano na França, daí por diante. Com as consequências da transferência de festas e solenidades do Ano-Novo, muita gente ficou perturbada com o desaparecimento das datas tradicionais, retardando entendimento e uso."


Logo, primeiro de abril ficou sendo o falso dia de ano-novo, motivo para presentes irreais e festas simuladas. O costume de brincar com o assunto permaneceu, perdida a motivação inicial. O primeiro de abril é a data que rompe com a ordem reinante, derruba momentaneamente a regra social da verdade, como se fosse um protesto contra ela.  


Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli

Referências bibliográficas

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro; Ediouro, [s.d.]. 930p. Verbete: Primeiro de Abril.

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