- “13 de maio. Corre, amanhã, mais um aniversario da Lei aurea, que extiguiu a escravidão no Brasil. Segundo disposição municipal, de 19 de Setembro de 1906, o commercio deve, ao meio dia, cerrar suas portas, em comemoração ao grande acontecimento.” (Jornal O Repórter, n.14, 12/05/1907).
- “No dia 13 do passado mez de maio, no visinho arraial do Rio das Mortes, por iniciativa do liberto Antonio Francisco Tavares, foi festejada de maneira condigna a gloriosa data nacional da libertação dos captivos. Houve missa em acção de graças pelo auspicioso anniversario e por intensão de Izabel, a Redemptora, Terço e Te-Deum, não tendo sido esquecido o velho monarca, que teve requiem por seu descanso eterno. Não é tarde para darmos noticia deste facto que tanto ennobrece os sentimentos dos libertos do Rio das Mortes. Convem salientar que desde muitos annos, é a data ali festejada com suas mesmas festas que estamos agora noticiando.” (Jornal O Repórter, n.19, 13/06/1907)
As duas breves notícias acima, extraídas de antigos jornais de São João del-Rei (*) revelam uma esquecida parcela das antigas comemorações da data da libertação dos cativos, o fim oficial da escravidão no Brasil. Ainda traz em si a curiosidade da segunda notícia, um réquiem pelo velho monarca, em pleno regime republicano!
A data merece ser festejada. Esta humilde postagem nascido do improviso é uma sincera homenagem à memória dos cativos, que tanto sofreram e lutaram.
"No dia 13 de maio,
assembleia trabalhou;
negro velho era cativo
e a princesa libertou!"
(canto de moçambique, parte do "Lamento do Negro",
muito difundido entre várias guardas)
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Grilhões abertos. Elemento decorativo e simbólico da portada da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, São João del-Rei/MG. A confraria mercedária tinha originalmente ligação com alforria de escravos. 17/09/2014. |
Recitativo do Moçambique "Nossa Senhora Aparecida" junto
ao andor de Nossa Senhora da Lapa, no altar-mor do Santuário do
Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei,
durante a Festa do Divino. Canto:
"Bate a gunga, negro! BIS
Capitão foi quem mandou...
Nos pés de Nossa Senhora,
é lá que no negro chora,
é lá que o negro implora, BIS
cantando em seu louvor!"
(Capitão Luís Maurício, Passa Tempo/MG)
Neste ensejo compartilhamos um link que nos remete a um conto da escravidão, que como tantos outros é o reflexo das influências culturais afro-descendentes legadas à formação da cultura popular brasileira:
Notas e Créditos
** Texto, fotografia e vídeo: Ulisses Passarelli
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