Em
geral as principais representações materiais do Paráclito são em forma de pomba
e de língua de fogo, inspiração livre nas escrituras bíblicas. Pomba e fogo
aparecem artisticamente aplicados sobre uma pintura em estandarte, bandeira,
flâmula, quadro, painel, medalhão ou escudo e em especial a pombinha branca
aparece esculpida ou moldada sob a forma de imagem. É tal como o vemos no
retábulo ou no forro de várias capelas e igrejas e ainda, na arte popular,
figurando airosa nos estandartes de procissões e nas bandeiras de grupos de
folia do Divino e ternos de congado.
Perpassando
estes elementos vemos que o artista executor da imagem ou da pintura, nas mais
diferentes flâmulas e na imaginária, se vale de alguns artifícios para fixar a
simbologia agregada ao Espírito Santo. Muitas vezes é acrescida de elementos
simbólicos que reforçam as impressões populares pela adição de efeitos.
Entendo-os assim:
efeitos luminosos (halo, fachos, raiadas, línguas de fogo, brilho,
clarão);
efeitos de santidade (auréola, resplendor);
efeitos de poder (coroa, cetro);
efeito de pacificação e esperança (ramo verde no bico, interpretado como de uma
oliveira);
efeitos sacramentais (1- figuração de água – lembrança do batismo de
Cristo no Rio Jordão; 2- pombinha ao centro de uma custódia – representação
bastante generalizada);
efeitos de divindade (1- pintura de nuvens se afastando para aparição da
pomba; 2- nuvens em torvelinho ao seu redor, acinzentadas em cataclismo; 3- céu
se abrindo como se tragado de um plano superior donde emana luz, representado
em gradação branca-amarela-laranja);
efeito de efusão (vento representado como tracejado paralelo
branco-azulado-cinzento, saindo da pomba
em direção à Terra);
efeito de movimento (quase sempre a pomba está de asas abertas, voando em
graciosa lateralidade ou em fase de descida. Por estar voando suspensa confere
a ideia de estar acima de nós, de um ser superior).
O
lado místico se revela pela própria condição de uma devoção não antropomórfica,
ou seja, existe uma dificuldade em confeccionar uma imagem do Divino ou
pintá-lo, pois que o Espírito Santo não apareceu sob forma humana; não é como
os santos, que foram gente. Daí o artista buscar os artifícios acima enumerados
para melhor fixá-lo a partir da abstração natural.
A
imagem do Divino Espírito Santo existente no Santuário Diocesano do Senhor Bom
Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei, é extremamente significativa por sua
origem e elementos simbólicos, além de ser uma belíssima obra de arte
religiosa.
Ela
é do século XIX. Foi doada pelo Imperador do Divino Tomaz Antônio Gonçalvez.
Tem a forma de custódia. Atrás dela existe a seguinte inscrição: “Feita nesta cidade de São João del-Rei, em
maio de 1868, por Manoel Pereira Maya, natural de Piracatu [2], por mandado do Imperador do Espírito Santo
Thomaz”. A inscrição foi descoberta numa restauração. Naquela ocasião foram
retiradas dezesseis lâmpadas coloridas, com as respectivas boquilhas, que um
inconsequente fixara nas raiadas da imagem, descaracterizando-a. O acréscimo de
gosto duvidoso fora realizado na segunda metade do século XX. Atrás, sobre a
dita inscrição, um terrível emaranhado de fios punha a peça sacra sob o risco
de incêndio, por um muito plausível curto-circuito. Considere-se que é feita de
madeira. Retomou sua autenticidade.
Nela
vemos a pombinha presa à peça principal por um pequeno gancho nas costas, o que
a torna pendente de fato, pelo que, em procissão, conforme o balancear do
andor, parece mesmo que está voando... Como plano de fundo existe o recorte de
um triângulo equilátero, simbologia representativa da Santíssima Trindade, da
qual o Espírito Santo é a Terceira Pessoa. Acima dela está esculpida uma coroa
e dois cetros cruzados, elementos da realeza simbólica, poder, reinado, império,
súditos que são os fiéis do Espírito Santo, o povo de Deus. O fato de serem
dois cetros talvez ultrapasse a pura estética da composição: lembremos que se
hoje temos apenas o Imperador do Divino, na festa do passado também tínhamos a
Imperatriz. É plausível que os dois cetros possam ser alusão ao casal imperial.
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Pintura do Divino na bandeira da Folia do Divino "Embaixada Santa", São João del-Rei/MG, 04/04/2012. |
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Bordado representativo do Divino numa antiga dalmática. Acervo do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, São João del-Rei/MG, 25/03/2012.
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Bordado representativo do Divino numa antiga dalmática. Acervo do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, São João del-Rei/MG, 25/03/2012.
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Medalhão aplicado a um estandarte de procissão. Acervo da Comissão Organizadora da Festa do Divino, Matosinhos, São João del-Rei/MG, 28/05/2012.
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Quadro de mastro fincado diante da Igreja de Santa Teresinha, Matosinhos, São João del-Rei, durante a Festa do Divino.
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Bandeira de congado, Moçambique Divino Espírito Santo, Piracema/MG durante do jubileu em Matosinhos, São João del-Rei, 28/05/2012.
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Imagem do Divino, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, São João del-Rei/MG, 18/05/2013.
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Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Ulisses Passarelli (bandeira e dalmáticas) e Iago C.S.Passarelli (bandeira de moçambique,estandarte, quadro de mastro, imagem)
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