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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




segunda-feira, 6 de julho de 2015

Erês

Os Guias de Criança

A Bíblia Sagrada nos diz: “Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários e que reduz ao silêncio vossos inimigos” (Salmo 8, 3)

Segundo acredita a doutrina da umbanda em geral, “erês” ou “ierês” são espíritos infantis, de crianças desencarnadas, que em vez de se dirigirem para uma nova reencarnação, tornaram-se entidades espirituais (guias), trabalhando nas tendas ou terreiros para a caridade. Agem muito bem no desmanche de feitiços de qualquer espécie. Em essência os erês são referidos como espíritos de elevada pureza, que ao se manifestarem apresentam-se sob forma arquetípica infantil. Daí o médium que lhes serve de aparelho à incorporação comporta-se tal como uma criança, menino ou menina

Tais guias possuem nomes próprios, a maioria no diminutivo. Na umbanda, por exemplo: Ismael, Benjamim, Pedrinho, Luizinho, Joaquinzinho, Joãozinho, Chiquinho, etc. - são os “meninos” - Mariazinha (da Praia, da Cachoeira, do Jardim ...), Terezinha (... de Angola), Izildinha, Iarinha, Odetinha, Estrelinha, Aninha, etc. - as “meninas”.

Trabalham com velas azuis e rosas ou com essas duas cores conjugadas na mesma vela. Eventualmente usam velas de outras cores, como branco, amarelo e verde. 

Seu dia votivo é a quarta-feira, junto com os pretos velhos, a quem atendem como supervisores nos trabalhos, chamando-os sempre de "vovôs".

São espíritos brincalhões, alegres, cheios de molecagens sadias, agindo em seus aparelhos ("cavalos") de forma pueril: brincam no chão com carrinhos e bonecas, chupam bico (chupeta), pedem balas, confeitos e maria-mole. A brincar, desfazem trabalhos de magia negativa, agindo em nome de São Cosme e São Damião. 

As insígnias principais são a chupeta e o estilingue.

Os alimentos preferidos são doces de todo tipo, balas, confeitos, jujubas, pipocas, cocadas, pés-de-moleque, arroz-doce, maria-mole e refrigerantes. Tem predileção por bala de mel e bala de goma com a qual fazem as mais fortes firmezas.

Os trabalhos são entregues em jardins floridos sem espinho ou em campos gramados, sob uma árvore; eventualmente em cachoeiras.

A data da festa própria é 27 de setembro, coincidindo com o dia de São Cosme e São Damião, na maioria dos terreiros de umbanda e 12 de outubro nalguns barracões de candomblé, dia de Nossa Senhora Aparecida e das crianças.

Surgem também nos barracões de candomblé sob a designação coletiva de “erês”, representando espíritos protetores das iaôs (filhas de santo): Sambangola, Pé-de-Pavão, Beké, Estrelinha, Cavunje, Chico-Chico, Deuandá, Bom-Nome, Mbámbi, Dourado, Cardeal, etc., segundo o Dicionário de Câmara Cascudo.

Via de regra, no candomblé se ligam ao orixá Ibeiji e na umbanda geralmente a Oxalá, como uma falange, embora haja um ramo doutrinário que os considerem numa linha própria, comandada por Yori. Alguns erês vibram eventualmente no enfeixamento de energético de outros orixás. Diferenciam-se ainda da visão do espiritismo, que segundo algumas concepções se diz que as crianças ao morrerem reencarnam rapidamente; enquanto o catolicismo popular, que crê se transformarem em anjos, dada a inocência. Está óbvio para a umbanda, que não são todas as crianças falecidas que viram entidades. Em alguns lugares são relacionadas aos santos gêmeos São Crispim e São Crispiniano e ainda à entidade Alabá, irmanada a Doum.

Existem interpretações de alguns terreiros que certos espíritos de crianças e adolescentes trabalham na esquerda, chamados “Exus Mirins”.

Na Linha do Oriente há “Gogique e Gogideque”, moleques da Índia, que trabalham mais no catimbó. (Cascudo, Meleagro, p.88).


Firmeza para erês na Cachoeira do Bom Despacho,
Serra de São José, Santa Cruz de Minas/MG. 

Referências Bibliográficas

Bíblia Sagrada. 6.ed. São Paulo: Ave Maria, 1965. 1602 p. + anexos.

CASCUDO, Luís da Câmara. Meleagro: pesquisa do catimbó e notas da magia branca no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1978. 208p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d]. 930 p.il.

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografia: Iago C.S. Passarelli, 06/12/2015.

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