Os Guias de Criança
A Bíblia Sagrada nos diz: “Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários e que reduz ao silêncio vossos inimigos” (Salmo 8, 3)
Segundo acredita a doutrina da umbanda em geral, “erês” ou “ierês” são espíritos infantis, de crianças desencarnadas, que em vez de se dirigirem para uma nova reencarnação, tornaram-se entidades espirituais (guias), trabalhando nas tendas ou terreiros para a caridade. Agem muito bem no desmanche de feitiços de qualquer espécie. Em essência os erês são referidos como espíritos de elevada pureza, que ao se manifestarem apresentam-se sob forma arquetípica infantil. Daí o médium que lhes serve de aparelho à incorporação comporta-se tal como uma criança, menino ou menina
Tais guias possuem nomes próprios, a maioria no diminutivo. Na umbanda, por exemplo: Ismael, Benjamim, Pedrinho, Luizinho, Joaquinzinho, Joãozinho, Chiquinho, etc. - são os “meninos” - Mariazinha (da Praia, da Cachoeira, do Jardim ...), Terezinha (... de Angola), Izildinha, Iarinha, Odetinha, Estrelinha, Aninha, etc. - as “meninas”.
Trabalham com velas azuis e rosas ou com essas duas cores conjugadas na mesma vela. Eventualmente usam velas de outras cores, como branco, amarelo e verde.
Seu dia votivo é a quarta-feira, junto com os pretos velhos, a quem atendem como supervisores nos trabalhos, chamando-os sempre de "vovôs".
São espíritos brincalhões, alegres, cheios de molecagens sadias, agindo em seus aparelhos ("cavalos") de forma pueril: brincam no chão com carrinhos e bonecas, chupam bico (chupeta), pedem balas, confeitos e maria-mole. A brincar, desfazem trabalhos de magia negativa, agindo em nome de São Cosme e São Damião.
As insígnias principais são a chupeta e o estilingue.
Os alimentos preferidos são doces de todo tipo, balas, confeitos, jujubas, pipocas, cocadas, pés-de-moleque, arroz-doce, maria-mole e refrigerantes. Tem predileção por bala de mel e bala de goma com a qual fazem as mais fortes firmezas.
Os trabalhos são entregues em jardins floridos sem espinho ou em campos gramados, sob uma árvore; eventualmente em cachoeiras.
A data da festa própria é 27 de setembro, coincidindo com o dia de São Cosme e São Damião, na maioria dos terreiros de umbanda e 12 de outubro nalguns barracões de candomblé, dia de Nossa Senhora Aparecida e das crianças.
Surgem também nos barracões de candomblé sob a designação coletiva de “erês”, representando espíritos protetores das iaôs (filhas de santo): Sambangola, Pé-de-Pavão, Beké, Estrelinha, Cavunje, Chico-Chico, Deuandá, Bom-Nome, Mbámbi, Dourado, Cardeal, etc., segundo o Dicionário de Câmara Cascudo.
Via de regra, no candomblé se ligam ao orixá Ibeiji e na umbanda geralmente a Oxalá, como uma falange, embora haja um ramo doutrinário que os considerem numa linha própria, comandada por Yori. Alguns erês vibram eventualmente no enfeixamento de energético de outros orixás. Diferenciam-se ainda da visão do espiritismo, que segundo algumas concepções se diz que as crianças ao morrerem reencarnam rapidamente; enquanto o catolicismo popular, que crê se transformarem em anjos, dada a inocência. Está óbvio para a umbanda, que não são todas as crianças falecidas que viram entidades. Em alguns lugares são relacionadas aos santos gêmeos
São Crispim e São Crispiniano e ainda à entidade Alabá, irmanada a Doum.
Existem interpretações de alguns terreiros que certos espíritos de crianças e adolescentes trabalham na esquerda, chamados “Exus Mirins”.
Na Linha do Oriente há “Gogique e Gogideque”, moleques da Índia, que trabalham mais no catimbó. (Cascudo, Meleagro, p.88).
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Firmeza para erês na Cachoeira do Bom Despacho, Serra de São José, Santa Cruz de Minas/MG. |
Referências Bibliográficas
Bíblia Sagrada. 6.ed. São Paulo: Ave Maria, 1965. 1602 p. + anexos.
CASCUDO, Luís da Câmara. Meleagro: pesquisa do catimbó e notas da magia branca no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1978. 208p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d]. 930 p.il.
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotografia: Iago C.S. Passarelli, 06/12/2015.
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