Após a importante novena e demais cerimônias e atrativos prévios, passou mais um Pentecostes e com ele mais uma edição do Jubileu Perpétuo em honra ao Divino Espírito Santo Paráclito, a vigésima de "resgate, na Paróquia do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei/MG. Eis que a popular Festa do Divino, persevera às adversidades e sobrevive congregando fé e cultura, devotos e visitantes.
Nela o fiel redescobre sua raiz cultural, sentimental e espiritual; o folieiro glorifica seu dia maior; o congadeiro se irmana em ritmos e cores graças à fé comum. Cada devoto parece ser uma conta do mesmo rosário. A Igreja é o elo que fecha e harmoniza toda essa composição.
Muitos, com olhos em lágrimas, beijam a bandeira quando a folia os visita, até mesmo enxugam o choro com seu pano, que cada vez se sacraliza mais, energizado por tantas águas, sorrisos, beijos, flores e perfumes depositados, preces sublimadas ao contemplá-la. Diante de uma folia nossa reza perfura as nuvens e chega à corte celeste, porque nosso coração se purifica. A melodia das folias nos remete ao mundo rural, à ancestralidade no campo. Desperta o caipira dentro de nós, aquela vontade de estar num ranchinho lá no sertão, à luz do luar. Folia é poesia!
Na Festa do Divino o imperador faz as honras da casa. Acolhe, abençoa, equilibra tudo com seu cetro sagrado, qual um bastão de liderança. Imperador pondera, orienta. Ordena com um sorriso. Unifica.
A equipe da cozinha se desdobra num trabalho muito árduo de produção do alimento; poucos cozinheiros (as) assistem a festa, tão grande sua labuta, mas garantem seu êxito, pois não há Festa do Divino sem fartura alimentar. É assim desde sempre, nas suas imemoriais origens.
Reis e rainhas com suas capas esvoaçantes e coroas luzidias se posicionam para o recolhimento do reinado. Enquanto isto, no templo, fieis se sucedem em preces e veneração, admirando a beleza dos andores, diante dos quais não param de produzir selfies, fixação perene da cena de sua integração ao sagrado.
Outros mais, nas barracas, comem, bebem, conversam, riem. Alegram-se. Ambulantes circulam vendendo picolés, algodão doce, pipocas. Outros trabalham, catando latinhas de refrigerante descartada,s afim de vendê-las para reciclagem.
Sinos dobram. O incenso ascende e rescende. Santa Missa chama aos filhos de Deus para ouvir a palavra bendita da salvação. Pentecostes se impõe como um clamor pascal. Todos os padres da diocese deveriam ter ouvido o sermão do Bispo Emérito, Dom Waldemar Chaves de Araújo, esclarecendo e valorizando o papel da cultura popular na identidade coletiva e na evangelização. Prédica notável! Lição de valores e respeito!
Fé e cultura de mãos dadas são partícipes da construção coletiva da identidade e do bem comum. Juntas se potencializam em sinergia.
A coroa recai sobre um jovem imperador. Esperanças se renovam rumo ao futuro. A festa deve seguir, perseverar... superar. A procissão inunda as ruas de preces e ecos de tambores; devotos se alternam na condução dos andores! Assim mesmo, poeticamente, como uma rima afetiva. Não há Festa do Divino sem emoção. Seria uma falsificação fria e grosseira se não gerasse a empolgação que semeia. Pedidos especiais são muitas vezes são feitos nesse momento de carregar nos ombros o andor pesado. é como uma penitência, mas no melhor sentido que a palavra comporta. Cavaleiros na dianteira ostentam o estandarte rubro. O Divino embandeirado abre alas. Chegada esfuziante! Bênçãos... "Ide em paz, e o Senhor vos acompanhe!"
Mastros vem ao chão: "Ai, vem do céu, bandeira!" canta o capitão. Ano que vem tem mais. Esperamos. E que seja cada vez melhor.
O sábado, véspera de Pentecostes, 03/06/2017:
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Festa do Divino, festa da alegria. Folia de Coqueiros (Nazareno/MG). |
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A corte do imperador se prepara: a Procissão do Imperador Perpétuo vai descer mais uma vez rumo ao Santuário de Matosinhos. |
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A procissão parte, avermelhando as ruas de graças afogueadas: irmãos do Santíssimo, bandeireiros, folias... |
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Folia do Elvas (Tiradentes/MG) em cantoria sob a voz do Embaixador "Natal". |
Mestre Matias: excepcional vitalidade na prática da tradição.
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Um ícone da festa: o Mordomo da Bandeira, sr. Mário Calçavara, na charrete segue fielmente, como faz todos os anos, desde 1998. |
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A "Rua da Prata" (Padre José Maria Xavier) é tomada: louvores em versos de folia. |
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Cavaleiros abre o cortejo procissional atravessando a Ponte do Rosário. |
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O Imperador Perpétuo, Santo Antônio, no interior da liteira. |
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O Folião Ventura em carinhoso e respeitoso gesto com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, exposta no trajeto, junto à Gruta do Divino. |
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O Pároco dirige as preces na área da Gruta do Divino. |
Notas e Créditos
* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Fotografias: Iago C.S. Passarelli
*** Obs.: confira na próxima postagem uma sequência de fotografias do dia maior
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