Bem vindo!

Bem vindo!Esta página foi criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas, tampouco acadêmicas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 3 de agosto de 2025

A Festa de Ogum e o Boi de Ronda: um breve relato - parte 2

O Boi de Ronda foi criado em abril de 2024, como um grupo cultural no âmbito da Tenda de Umbanda Ogum de Ronda, de São João del-Rei/MG, que tem sua sede provisória na Caieira (Bairro São Judas Tadeu/Jardim Central). Esta comunidade umbandista é a responsável por tal manifestação cultural e a mantém, por seus membros e com a ajuda de colaboradores externos convidados. O contexto original é o ato de resgatar a tradição dos ranchos de boi, que estão na maior parte inativos no município; no entanto, fora do ambiente carnavalesco, para ser revivido no meio religioso de matriz africana, sob a égide do Orixá Ogum e das entidades da Linha dos Boiadeiros. 

Desta maneira, fez sua primeira apresentação pública na Festa de Ogum em sua Tenda de origem em 28 de abril de 2024. No mesmo ano, apresentou-se também na Festa de Exu, tanto em sua Tenda, quanto em outra, amiga e parceira, a Tenda Espírita Umbandista Pai Benedito d'Angola, respectivamente no último sábado e último domingo de agosto de 2024. A Festa de Exu desta última acontece em plena Serra do Lenheiro, na paragem denominada Mesa do Tiriri, com previsão de repetir-se neste ano de 2025 na mesma data, onde o boi deverá se apresentar novamente. 

Já em 2025, o Boi de Ronda foi apresentado a 26 de abril, no grande pátio do ilê da Tenda Espírita Umbandista Pai Benedito d'Angola, na Travessa da Rua Jair Braga Machado, nº70, no Barro Preto de Baixo, Bairro Tijuco, em São João del-Rei, durante a Festa de Ogum, conforme fotografias que constam nesta postagem. 

Os participantes trajam-se de roupas brancas, camisetas uniformizadas da Tenda; homens com faixa estampada de ocelos atada à cintura; mulheres de pano chitado à cabeça. Dois participantes, munidos de chapéu boiadeiro e de varas de ferrão, campeiam o boi o tempo todo, que rodopia, avança, recua, investe, dança movido por um dos umbandistas oculto no interior da alegoria (Tripa ou Miolo). Adiante do grupo vai um estandarte de produção artesanal. Instrumentistas executam acordeon, violões, viola, pandeiro, meia-lua, triângulo, agogô, chique-chique. As cantorias evocam na maior parte cantos de terreiro - pontos (zuelas ou curimbas) de boiadeiros - evocando a linhagem espiritual protetora, entremeadas às quais ouve-se interjeições de incentivo aos movimentos do animal e alguns aboios curtos. 

"Boiadeiro meu: 

é de Minas Gerais;

pra ficar sem boiadeiro

meu sertão não vive em paz!"

Entre as cantigas merece destaque a Marcha do Boi, quando, o solista, com versos improvisados, canta suas frases poéticas, às quais o coro sempre responde o mesmo: "_ êh, boi!" 

_ "Lá na serra tem pedra!  _ Êh, boi!

_  Lá no mar tem onda!   _ Êh, boi!

_  Caeira o quê que tem?  _ Êh, boi!

_ Ai, tem o Boi de Ronda!  _  Êh, boi!"

Neste momento, a cantoria envolve os circunstantes, pois, variando os versos, emite agradecimentos, saúda, tece características do boi, incentiva os boieiros. Na sequência, o boi é posto no laço e puxado para junto do boiadeiro, que lhe crava um punhal no peito. 

"Se matar esse boi,

o mocotó é meu... 

pra pagar a carreira

que esse boi me deu!"


"Eu mato o boi, baiano!

O couro é meu, meu mano!"

O boi se deita, como se tivesse morrido, mas de fato está ferido. Um participante chega com uma bacia esmaltada e colhe o "sangue" do boi (vinho tinto derramado). O vinho é bento e distribuído em pequenos copos aos participante e assistência, que o consomem em dose mínima, na crença de seu poder curativo e de fortalecimento espiritual, posto que dotado de axé. Vencida esta etapa, começa a "ressurreição" do boi: o boiadeiro o rodeia, com baforadas de charuto e um bate-folhas, feito de diversas ervas. Aos poucos o boi vai se tremendo todo, se ergue, volta a dançar, curado da ferida cruenta, ainda com mais vigor para a sua despedida, ante vivas e aplausos. 

"Levanta, meu boi,   BIS

e vem trabalhar!"

Embora recente em sua composição, o Boi de Ronda é antigo em seu formato, e segue despertando atenções e curiosidades por onde passa. 

01- Aspectos devocionais.

02- O boi dançando no abaçá do terreiro. 

03- O boi no pátio. 

04- Roda de boieiros. 

05- O boi e o sanfoneiro. 

06- Sangria do boi. 

07- Agôgô e caixa - esta sob cuidados do grande colaborador Jailton Antônio Braga, 
Zelador de outro terreiro, a tradicionalíssima Tenda Espírita Pai Joaquim de Angola. 

08- Benzedura para reanimação do boi.

09- Porta-estandarte e violeiro.

10- Boiadeiro traz o boi. 

11- Fogueira ritual durante o encerramento. 

Créditos

- Texto: Ulisses Passarelli. 

- Fotografias: Viviane Lins (02 a 07); Ariany Fonseca (01, 08 e 09); Betânia Nascimento Resende (10). 

Notas


- Sobre este mesmo assunto, leia também neste blog: A Festa de Ogum e o Boi de Ronda: um breve relato - parte 1.  

domingo, 6 de julho de 2025

Cruz da Cristina

A Cruz da Cristina é uma estrutura religiosa estabelecida à margem da estrada municipal não pavimentada, que interliga a cidade de São João del-Rei até a extinta Estação Ferroviária de Mestre Ventura (EFOM). Oficialmente é chamada Estrada Alcides Aquiles dos Santos, mas nos meios populares é chamada de “Estrada da Trindade”, por atravessar este povoado, em plena área de tombamento do Complexo Serra do Lenheiro. Também passa pelos povoados do Mumberra, Brumado de Cima, a sede do distrito de São Gonçalo do Amarante, a Pedra Ramalhuda e por fim na área da referida estação, à margem esquerda do Rio das Mortes, aliás, já demolida há vários anos. 

Tal estrutura, a Cruz da Cristina, é composta atualmente por uma cruz chantada no solo, uma gruta artificial dedicada a Nossa Senhora Aparecida, ambas contidas num pequeno adro cercado e de piso em concreto magro. Na pesquisa, não foi encontrada fonte escrita que relatasse sua origem. É na memória popular que foram localizadas as únicas informações. 

Esta estrutura atende aos aspectos da religiosidade popular, pautada na informalidade e em seu aspecto atual foi um trabalho de construção dirigido pelo congadeiro local, Sr. Geraldo Rosário de Oliveira, natural de São Gonçalo do Amarante. Narrou o mesmo que seu avô paterno, Américo Oliveira, nascido em 1890, quando tinha 11 anos ainda se lembrava de ter visto em São Gonçalo do Amarante uma andarilha, mulher branca, de cabelos longos, talvez uma pessoa especial, da qual nada se sabia, se não que era conhecida por “Cristina”, sem notícia de sobrenome, família ou de onde tinha vindo ou por qual razão estava ali. Aparentava ser de meia-idade, entre 40 e 50 anos. Foi então, que numa noite de intensa tempestade por volta de 1901, estando ela andando na estrada, caiu morta, não se sabe exatamente a causa, se passou mal com o frio, se foi atingida por um raio ou se faleceu de outra causa. Localizado seu corpo, o mesmo foi recolhido em um cobertor e trazida ao distrito, como quem se fosse carregada numa rede de dormir. Rezaram por ela e foi sepultada no cemitério local, que à época, ainda era na frente à igreja, como uma extensão de seu adro. O cemitério mudou de local em, 1946 e muitos corpos foram exumados e levados para lá, mas não todos, de modo que não se tem certeza se o dela foi ou não transladado. As informações foram transmitidas ao informante através de seu avô e de seu pai (nascido em 1925) e são repetidas parcialmente por outras fontes orais.

O local exato de sua morte tem algumas controvérsias, dizendo alguns ser o local exato onde está a cruz, que era marcado pela existência de uma árvore grande, já inexistente, e outros no interior da grande voçoroca que tem atrás dela, onde Cristina teria caído. A piedade popular logo cuidou de erigir uma cruz no local, que ganhou o nome de Cruz da Cristina. Segundo Geraldo Rosário de Oliveira esta cruz, que durou muito anos era de madeira forte, tinha aspecto rústico, pois fora lavrada a machado. Não obstante, com o tempo a podridão a acometeu, e por fim, uma queimada que atingiu a pastagem local a destruiu.

Uma segunda cruz, nova, também de madeira, a substituiu no mesmo local. Esta era feita de madeira aparelhada em maquinário, sem pintura e tinha afixada ao centro uma plaqueta escrita apenas com o nome Cristina (fotografia 1). Mas sendo de estrutura mais delgada, teve menor duração e terminou da mesma forma.

Veio então uma terceira cruz de madeira, que permanece nos dias atuais. Em torno desta é que Geraldo Rosário de Oliveira liderou o movimento de estruturação com gruta e adro, tal como está hoje.

Sobre o alcance de graças, relatou que o dono do terreno, em prece na intenção de conseguir comprar um carro, quando conseguiu, ao verificar o documento para transferência, observou que a propriedade do mesmo era de uma mulher chamada Cristina, coincidência que a crença popular atribui a uma intervenção da alma da andarilha. Um outro senhor, precisava vender um terreno e não estava conseguindo; rezou para ela e logo negociou as terras. Dentre outros casos. Acredita que sendo ela andarilha e portadora de algum problema neurológico tinha pureza, no sentido de iluminada, o que sugestiona a possibilidade de intercessão pelos devotos.

Além dele, mais uma fonte oral (Lelê) informou que no dia de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), a comunidade se reúne na Cruz da Cristina para rezar um terço na intenção dela. No entanto, ao longo do ano todo, pessoas visitam o local e cada um por si faz suas orações.

Ainda outra fonte relatou com satisfação ser um local sagrado, onde as pessoas param a fim de rezar individualmente “é um lugar sagrado, que todo mundo respeita graças a Deus!” (José Afonso).

Edevaldo de Paula, outro informante natural de São Gonçalo do Amarante, também congadeiro, confirmou que Cristina era uma andarilha e complementou: “como vários que apareciam no Caburu. Zé do Bichinho, a Naná Doida. O Zé do Bichinho andava com um saco e comprava as coisas na venda com folha de café. A Cristina foi achada morta depois de uma noite de tempestade”, afirmou.           

Onde a Cruz está instalada o terreno relativamente ao derredor tem pequena inclinação. É coberto por pastagens naturais, com algumas árvores e arbustos típicos de cerrado e com ilhas mais vegetadas (capoeira ou capão). Na paisagem se destaca na linha do horizonte a presença marcante da Serra do Lenheiro, compondo o cenário. A declividade por detrás da Cruz da Cristina termina em uma grande voçoroca, que em tese, no caso de se expandir, pode futuramente ameaçar o bem.

Um muro de pedras de grande dimensão situa-se no entorno da Cruz da Cristina, há cerca de cento e noventa metros seguindo a estrada em direção ao Brumado de Cima. Outra estrutura visível é uma antiga cava, ora sem uso algum, vinte metros pelo campo, além da Cruz da Cristina em direção ao distrito de São Gonçalo do Amarante, correspondendo ao antigo caminho de acesso, anterior à estrada.  


Cruz da Cristina: vista geral e detalhe da cruz e da pequena gruta de pedras. 
São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei/MG). 

Créditos

- Texto e fotografias (13/11/2022 e 12/12/2024): Ulisses Passarelli.

Referência

PASSARELLI, Ulisses (Elaboração); SEEHAUSEN, Pedro Luiz Diniz Von; COLOMBO, André Vieira Colombo, FRÓIS, Marcus Vinícius de Carvalho. Cruz da Cristina: Inventário de Patrimônio Cultural (IPAC), São João del-Rei: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo / Prefeitura Municipal, 2024. 38p.il. 

terça-feira, 24 de junho de 2025

Festa Julina no povoado do Mumberra

O Mumberra é uma comunidade rural situada no município de São João del-Rei, no entorno imediato do Complexo Serra do Lenheiro e contida em sua área de proteção [1]. A distância do centro da cidade, medida a partir do Obelisco é de aproximadamente 11.320 m, a maior parte por via não pavimentada, que segue em direção oeste, através do Bairro Tijuco. Sua economia é baseada na agropecuária de subsistência. Situa-se no distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno a cuja sede se interliga através do leito da Ferrovia do Aço, que passa à margem da comunidade. Há uma capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, benta em 2012 e um salão inaugurado em 2011 (onde aconteceu a dança da quadrilha e show), sob gestão da Associação Comunitária dos Produtores Rurais e Agricultura Familiar do Mumberra.

No Mumberra acontece uma animada festa julina, fortemente marcada pelas características culturais rurais do lugar. No ano de 2024 ela aconteceu a 13 de julho, especificamente com renda em prol do término da Capela de Nossa Senhora da Conceição, do vizinho povoado do Brumado de Cima. Esteve muito movimentada, mostrando-se com características típicas, dentro dos padrões tradicionais. Teve concorrido jogo de víspora, quadrilha animada ao som de sanfona, pandeiro e percussão, fogueira, comes e bebes característicos, tais como os típicos quentão e canjica.

O senso de pertencimento às tradições rurais estava nítido na festividade, pois além da presença dos moradores locais, percebemos a presença de pessoas dos povoados vizinhos, confraternizando com descontração e harmonia. Tais fatores fortalecem a identidade cultural do povoado e estimulam a formatação de produtos turísticos ligados ao segmento rural.

1- Observando a festa. 

2- Capela de Nossa Senhora Aparecida. 

3- Lenha empilhada para a fogueira. 

4- O jogo da víspora atrai muitos participantes. 

5- Prendas a serem arrematadas na víspora. 

6- Crianças se divertem à vontade, denotando o ambiente familiar e respeitoso.  

7- Sanfoneiro comanda a música da quadrilha junina. 

8- Quadrilha junina no interior do salão. 

9- Mídia de divulgação digital do evento. 

10- Mídia de divulgação digital do evento. 


Créditos

- Texto e vídeo: Ulisses Passarelli.
- Fotografias: Betânia Nascimento Resende (1) e Ulisses Passarelli (2 a 8)

Notas

[1] Proteção municipal: perímetro oficializado pelo Decreto nº10.169, 08/11/2022; tombamento homologado pelo Decreto nº 10.649, 19/09/2023. 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Congado, Patrimônio Cultural reconhecido!

A legislação brasileira manifesta, principalmente através do artigo nº 216 da Constituição Federal, que a preservação do Patrimônio Cultural brasileiro é uma prerrogativa governamental, com ajuda da população. Tal patrimônio é formado pelas ações e memórias, a cultura e as artes, que representam os diferentes povos que formaram a nacionalidade brasileira. Existem instrumentos legais para esse reconhecimento formal, como, por exemplo, o inventário, o registro e o tombamento, além de outras formas de acautelar este patrimônio.

O município de São João del-Rei, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, já fez o reconhecimento dos seus congados pelo processo de registro nº058/19, através do Decreto 8.438, de 18/11/2019, categoria "Celebrações", incluindo todos os grupos locais. Em especial o congo do Caburu (distrito de São Gonçalo do Amarante) teve, além disso, um inventário individual, no ano de  2018. A aprovação coube ao CMPPC - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural. Também temos a Lei nº5.993, de 13/09/2023, que estabelece o Dia do Congadeiro, na data do 13 de maio, e a semana que o envolve, como Semana Municipal do Congado. 

O Estado de Minas Gerais, através do IEPHA, promoveu um cadastro dos congados em seu território: "Reinados e Congados de Minas Gerais", um cadastro que ainda está aberto, para os grupos que não se cadastraram. Através do CONEP - Conselho Estadual de Patrimônio, foi aprovado por unanimidade em  03/08/2024 a inscrição no Livro das Celebrações do registro "Caminhos, Expressões e Celebrações do Rosário em Minas Gerais".

Agora é a vez da União, representada pelo IPHAN, que chancelou o reconhecimento dos congados com um registro federal, anunciado formalmente em 17/06/2025, um avanço enorme para a salvaguarda do patrimônio imaterial. Um reconhecimento que demorou a vir, verdade o seja, mas chegou! O processo "Saberes do Rosário - Reinados, Congados e Congadas" foi aprovado na 109ª reunião de seu Conselho Consultivo.

Ou seja: oficialmente, os congados são de fato e de direito Patrimônio Cultural federal (todos), estadual (no caso de Minas Gerais) e municipal (os de São João del-Rei). Uma grande conquista, que merece ser celebrada. Mas também traz para os congadeiros, a responsabilidade de prosseguir a tradição dos antepassados e aos governos a imensa obrigação de contribuir para a manutenção, como coresponsável, através das ações de salvaguarda. Celebremos, mas vamos ficar de olho e cobrar as medidas justas em prol desse patrimônio imaterial.

Coronel Xavier Chaves, 20/05/2018. Autora: BNR.


São Gonçalo do Amarante (São João del-Rei), 08/06/2025. Autor: PRV.  

Solar da Serra (São João del-Rei), 08/10/2011. Autor: ICSP. 

Barbacena, 20/05/2018. Autor: ICSP. 

Ibituruna, 20/05/2018. Autora: BNR. 

Carrancas, 20/05/2018. Autora: BNR. 

Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno (São João del-Rei), out.1998. Autor: UP. 

Créditos

- Texto: Ulisses Passarelli. 

- Fotografias: conforme siglas das legendas - BNR: Betânia Nascimento Resende; UP: Ulisses Passarelli; ICSP: Iago C.S. Passarelli; PRV: Paulo Ricardo Valente. 

Notas

- Link para cadastro dos congados mineiros: 

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdNjPmheHs8FPvYV28wtf_PWUIfQJ1wjnrlx6piY6uJHx8fxQ/viewform?pli=1

- Link para a Lei do Dia do Congadeiro / Semana do Congado: 

https://www.saojoaodelrei.mg.gov.br/Salvar_arquivo_Leis.php?INT_ARQ=101489#:~:text=Fica%20institu%C3%ADda%20a%20Semana%20do,como%20Dia%20Municipal%20do%20Congadeiro.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Ceres... Que estátua é esta?

Chafariz de Matosinhos: incógnitas...


No centro da Praça de Matosinhos um belo monumento metálico oitocentista, jaz esquecido de maiores cuidados. É um chafariz que há muito tempo não jorra água, encimado por uma misteriosa estátua que recentemente tem suscitado discussões variadas, instigando os pesquisadores a reescrever sua história, calcada em novas pesquisas e reflexões.




Tradicionalmente é chamada “Deusa Ceres” em São João del-Rei/MG. Ora, em Valença/BA, há uma estátua-chafariz absolutamente idêntica, fundida na mesma fôrma, igualmente chamada Deusa Ceres.

Na mitologia romana, Ceres era a Deusa da Agricultura, filha de Saturno e Cibele. Simbolizava o amor maternal e dava força ao crescimento das plantas. Teve com seu irmão Júpiter, uma filha chamada Prosérpina, que esposando Plutão, foi parar no inferno. Uma das versões diz que no desespero, Ceres clamou a Júpiter pelo retorno da filha, mas sendo impossível só lhe foi concedido estar com ela durante uma quadra do ano, justo no inverno, quando então, Ceres recolhia seus poderes e os campos de cultivo descansavam, sem plantio e sem colheita.



         Alguns elementos históricos dessa estátua em São João del-Rei estão a merecer maior esclarecimento:

- qual a sua data exata: 1887 como se tem dito? Onde está a comprovação?
- foi mesmo a Câmara Municipal que a encomendou? Onde está o documento? Qual seu valor financeiro? Como chegou aqui?
- quais os detalhes de sua saída de Matosinhos e depois seu retorno?
- ela é mesmo representativa da deusa romana?

         Não faz muito, Antônio Gaio Sobrinho em artigo contrariou a origem direta de Turim, Itália, ao trazer a público a existência de uma pequena inscrição “Val d’Osne”, referente à famosa fundição francesa.


Com o trabalho de pesquisas sobre Matosinhos já pronto, recomeçaram as discussões sobre origem e identidade desta estátua. As pesquisas de Flávio Frigo e Francisco José de Rezende Frazão, muito contribuíram para as novas reflexões e considerações sobre este monumento. As novidades puxaram novas consultas à internet, ora apenas pinceladas, mas obrigando em futuro próximo a reescrever toda a história deste monumento. Fica consignada a gratidão à confiança destes estudiosos de nossa história.


         A arte da estátua francesa neoclássica, existente no Bairro Matosinhos é devida a Mathurin Moreau (Dijon, 1822 - Paris, 1912), um artista pleno, de traços acadêmicos, com muitas obras espalhadas no novo e velho mundo. A estátua tem a inscrição da fundição Val d'Osne, onde trabalhava o artista supracitado, na região metalúrgica do Alto Rio Marne, em Champagne-Ardenne, que no período oitocentista celebrizou-se na fabricação de peças primorosas: Sociètè anonyme des hauts-fourneaux et fonderies du Val d'Osne.



         Elementos decorativos evocam o ambiente natural dos faunos de cuja bocarra escancarada jorrava água: folhas paludícolas, juncos e uma cobra devorando rã, possível símbolo agrário da renovação da vida. Ainda mais, um elemento chama a atenção: uma flor, compatível com uma magnólia, símbolo da femininidade, inspiração de delicadeza e beleza.


         Mesmo em São João del-Rei uma outra peça da mesma fundição pode ser vista: seca, sem jorrar água, um chafariz-lampião com quatro carrancas de fauno, idênticas às de Matosinhos, enfeitam o centro do Largo do Carmo, em pleno centro histórico.



         Frazão me alertara que outras peças históricas existem em São João del-Rei com semelhança estilística aos monumentos da Val d’Osne na cidade, quais sejam, os dois lampiões que hoje ladeiam o jardim anexo à Prefeitura Municipal, na Avenida Hermillo Alves.



         Segundo seu comunicado pessoal foram para aí trazidos na gestão do prefeito Milton Viegas, do Largo da Câmara e da Estalagem (Praça Nossa Senhora de Fátima, Bairro Tijuco), este já em precário estado de conservação, demandando enchimentos em madeira para recomposição.

         O mesmo informante e estudioso supra, em sinal de amigável confiança, afirmou-me, baseado em fotografia de época, que a estátua “de Ceres” ou que outro nome tenha, esteve antes de 1915 no Largo do Rosário, bem onde, até hoje se encontra o busto do exímio compositor musicista Padre José Maria Xavier, aliás o primeiro da cidade, instalado justo nesse ano.


         É sabido que a estátua de Matosinhos esteve também por certo período fora do bairro, transferida para o Morro da Forca (Bairro Bonfim). Mas não foi localizada a data de seu translado.

         Peças literalmente idênticas à de Matosinhos estão no Rio de Janeiro (Passeio Público, entre a Lapa e a Cinelândia) e em algumas cidades espanholas, italianas e francesas, às vezes com quatro bacias de água.



         Em alguns lugares fixou-se com o nome de Ceres (a exemplo de Valença/BA)[1], noutros, como uma alegoria do verão, fazendo conjunto com outras estátuas representando as demais estações[2]. A estátua pode ser também interpretada como figurativa de um jovem, ou seja, com características masculinas[3]. Na Espanha, de iconografia idêntica à nossa é chamada “Segadora”[4] em Montoro e Vegadeo, além de Avilés (Astúrias), ressaltando o caráter feminino da estátua. Este nome é uma referência ao seu arco de ceifar trigo (segadeira).

         A elucidação concreta passará necessariamente pelo catálogo de peças da fundição. Afinal, mesclando características femininas e masculinas, segundo o ponto de vista, a estátua representa o quê de fato: a Deusa Ceres, o verão, uma segadora ou um jovem trabalhador rural, um rapaz camponês? As peças feitas nesta fôrma eram vendidas com que nome pela Val d’Osne? Aguardando as respostas a estas incógnitas, as pesquisas devem prosseguir.

Créditos

- Texto: Ulisses Passarelli.
- Fotografias e montagens fotográficas: Iago C.S. Passarelli, 2012 e 2013.

Notas 

- Em 2023 o fontanário "Deusa Ceres" ou "Verão" passou por intervenção, com processos de higienização, remoção de oxidação, tratamento da camada pictórica, recomposição de pequenas partes perdidas ou danificadas. Em 2024 foi trasladada do centro da praça para a plataforma da Estação Ferroviária Chagas Dória, onde ora se encontra, em tese, mais protegida (por gradeamento da plataforma ferroviária). 

- Outras fontes sugeridas à consulta:
Chafariz com a Estátua da Deusa Ceres, Inventário de Patrimônio Cultural. São João del-Rei: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo / Prefeitura Municipal, 2013. 

- Revisão: 06/06/2025. 


[3] SOBRINHO, Antônio Gaio. Seria mesmo a deusa Ceres? O Grande Matosinhos, n.98, maio/2012.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

São Sebastião da Vitória: breve compilação de informações e notícias

Panorama Histórico

 

O distrito de São Sebastião da Vitória situa-se na área sudoeste do município de São João del-Rei, cerca de 22 km da sede municipal, via rodovia federal BR-265. É uma área de morros altos, que formam um platô ou chapada, onde se assentou seu povoamento, em uma área de vegetação aberta (cerrados). Suas informações históricas são esparsas e fragmentadas, dificultando a montagem de um resumo, o que demanda mais pesquisas.

O movimento sertanista trouxe os bandeirantes “paulistas” para o atual território de Minas Gerais à busca de preciosidades minerais e a fim da preação indígena, num intenso processo escravista. De início o caminho que atravessava o atual sul mineiro ia até Ibituruna e de lá à região do Porto Real da Passagem, na travessia do Rio das Mortes, para então tomar o rumo nordeste (Caminho Geral do Sertão). Praticamente na virada dos séculos XVII para XVIII, um atalho foi aberto até Carrancas e daí ao Rio Grande, em um ponto de travessia que aproximadamente corresponde hoje às comunidades de Capela do Saco e Caquende, rumando em direção aos marcos geográficos da Serra do Lenheiro e Serra de São José. Não muito longe da travessia do Rio Grande, há uma localidade que foi batizada Tijuca ou Tijuco, nome que se refere aos atoleiros, lamaçais. A partir daí o caminho do tal atalho passava na área do atual distrito de São Sebastião da Vitória (SÃO JOÃO DEL-REI, 2022).

Não se sabe precisamente quando o povoado primitivo foi formado. Talvez desde tal época; mas falta documentação comprobatória. O roteiro traçado em 1732 por Francisco Tavares de Brito mostra o povoado da Tijuca, mas não mostra São Sebastião da Vitória (SÃO JOÃO DEL-REI, 2023). Falta em verdade documentação antiga sobre tal distrito, pelo que sua vida no século XVIII, caso já existisse é desconhecida. De acordo com uma tradição oral, no decorrer da Guerra dos Emboabas (1707-1709), aconteceu uma batalha na qual os emboabas derrotaram os paulistas. A região elevada onde tal fato teria acontecido foi demarcada com pequenas bandeiras, donde surgiu um povoado ainda hoje chamado Bandeirinhas, sito no atual território distrital de São Sebastião da Vitória, cerca de 6 km do distrito. O episódio inspirou o surgimento do topônimo Vitória (SACRAMENTO, 2000; SÃO JOÃO DEL-REI, 2013).

Apenas no final do XIX é que se tem notícia concreta do povoado de Vitória. Foi na década de 1880 que a incipiente comunidade resolveu erigir uma capela sob o orago de São Sebastião, obtendo para isto a devida licença junto à Arquidiocese de Mariana[1].

José Antônio de Ávila Sacramento em fundamental estudo histórico e social deste distrito, escreveu:

“Em São Sebastião da Vitória, dentre todas as outras fazendas, destacava-se a antiga Fazenda da Vitória, pertencente a Francisco Ribeiro da Silva, vulgo “Chico Nenê”, porque se acredita que foi dentro dela que começou o arraial. O filho mais velho de Francisco e Possidônia, Eugênio Ribeiro da Silva, vulgo “Papageno”, pode ser considerado o “fundador” do atual distrito de São Sebastião da Vitória, que começou a florescer ao redor de sua residência, nas terras recebidas de herança paterna. Nos primórdios, segundo relato de Sebastião Alexandrino de Ávila, o arraial era simples, com poucos fogos e almas. Havia a rua principal, comprida, atravessando o povoado. Outras duas ruas, menores, denominavam-se “Rua de Baixo” e “Rua do Pito Aceso”, além de uma ruela, o “Beco do Sr. Messias”. A “Rua do Pito Aceso” era assim conhecida porque nela moravam alguns negros idosos, oriundos da Fazenda do Rincão e da Fazenda Vitória (de “Chico Nenê”). Aqueles negros se reuniam à tarde-noite, na porta de seus casebres de pau-a-pique, contavam casos de assombração, trançavam laços e cordas em couro e fumavam seus abrasados cachimbos de barro e cigarros de palha, daí o nome de pito aceso! Durante a noite era costume organizarem-se danças nos terreiros, aos sons de cordas e percussão” (SACRAMENTO, 2023).

O primitivo povoado foi elevado a distrito em 1900, de início chamado apenas de Vitória (Victoria, segundo grafia da época); somente mais tarde foi acrescida a expressão devocional, recebendo o nome que hoje ostenta – São Sebastião da Vitória, a partir de1953. Em sua área territorial este distrito contém além da comunidade que o encabeça, os seguintes povoados: Caquende, Engenho de Serra, Cruzeiro da Barra, Bandeirinhas, Tijuco (de Baixo e de Cima), Januário, Valo Novo, Baía e parte da comunidade do Córrego do Pescador.

São Sebastião da Vitória teve um desenvolvimento profundamente ligado à economia agropecuária, de forte cunho rural (PASSARELLI, 2015-A e B). Com marcante presença de fazendas e sítios, este aspecto ruralista pode ser em parte avaliado nesta nota:

“Dos pastos da Victoria, municipio de S. João d’El-Rey desappareceram há dias uma besta côr de pinhão, regulando sete palmos de altura, marchadeira, e com pequena esfoladura sobre o lombo direito – muito manteúda e fina de corpo. Quem della der noticias em S. João d‟El-Rey, ao sr. Luiz d’Angelo & Irmãos ou aos srs. Grippi &Irmãos será gratificado” (O RESISTENTE, 1901) .

 

De forma mais notável, foi a tradição dos produtos lácteos que afamou São Sebastião da Vitória. Apesar de ter vastas áreas com amplos plantios em seu território mais sulino, o agronegócio, apesar de importante em sua economia, não deu ao distrito a fama que os laticínios trouxeram. É um forte produtor de queijos e manteiga de elevada qualidade, de produção solidificada há mais de um século, como evidenciou esta nota jornalística: “Mais uma fábrica de manteiga abre-se, por estes dias, na Victoria, de propriedade do sr. Antonio Baptista do Nascimento Junior.” (O REPÓRTER, 1905-A). Mais um exemplo: “simplesmente esplendida, uma das melhores que vem ao mercado desta cidade, é a manteiga “Victoria”, da fábrica do sr. Carlos Alberto Alves, estabelecido no arraial de São Sebastião da Victoria, deste município.” A nota prossegue ressaltando o asseio da fabricação e recomendando seu consumo (O REPÓRTER, 1905-C). 

Para além do leite, manteiga e queijos, o distrito se destaca pela produção de pães de queijo, dos mais afamados da região, a ponto de já terem gerado o evento “Festival do Pão de Queijo”.

A memória distrital passa também pela figura humana do Padre Antônio Domingos Batista Lopes, mais conhecido apenas por Padre Lopes, que tinha elevado espírito de liderança junto à comunidade. No aspecto religioso ganhou renome sacerdotal pela eloquência dos sermões e virtudes que cultivava, a ponto de muita gente de outras localidades e mesmo outros municípios levarem seus filhos recém-nascidos para serem batizados por ele; ou seja, mesmo que fora de sua paróquia, por acreditarem que sua bênção vinha munida de muita força espiritual. Já na área social ele foi reconhecido e ainda é lembrado por ter trazido para os moradores muitas melhorias, ações e atividades, que a rigor deveriam ser feitas pela prefeitura. Mas na ausência ou deficiência do poder público contavam com sua iniciativa. Isto o fez muito popular e respeitado na comunidade. Também foi o responsável pela ereção da nova igreja matriz.

A travessia do distrito pela rodovia federal, ao longo dos anos, contribuiu muito para reconfigurar seu aspecto, tanto na modernização das edificações quanto na economia do setor terciário, com surgimento de comércio de peças automotivas, mecânicas automotivas, restaurantes e bares para servir a caminhoneiros e outros viajantes. Assim o distrito cresceu bastante, para além da tradição dos laticínios. Nem sempre este crescimento se viu acompanhado de assistência adequada pelo poder público municipal. Assim, em 2006, por exemplo, se no segundo semestre construíram uma quadra poliesportiva (PASSARELLI, 2007), mais ou menos na mesma época foi divulgada uma denúncia de poluição por efluentes de esgoto no Córrego Tapera, fruto do transbordamento de uma fossa séptica coletiva, por falta de manutenção (FOLHA DAS VERTENTES, 2006).

No campo da cultura popular a manifestação mais marcante é a da folia de Reis, ou melhor dizendo, a folia de São Sebastião, com pelo menos um século de existência, mas que atualmente enfrenta muitas dificuldades para sobreviver. Ainda nos anos noventa, o encontro com a folia que vinha do povoado do Tijuco reunia muitos fieis e amantes da cantoria folieira diante da igreja para assisti-las no dia do padroeiro. Mas ora a folia antes com muitos participantes, sofre com dificuldades de arregimentar tocadores. Há mais tempo, nos anos 60 e 70 havia também o grupo de pastorinhas e o de encomendação das almas, há muito desativados.

A música de bandas é marcante e ainda muito ativa no distrito.

 

Resumo cronológico

 

- 28/04/1880: o Padre José Bonifácio dos Santos solicitou ao Bispo de Mariana, Dom Antônio Maria Correia de Sá Benevides, autorização para construir uma capela no povoado, que já tinha o nome de Vitória (SACRAMENTO, 2000; SÃO JOÃO DEL-REI, 2013);

- 04/10/1884: inauguração da primeira Capela de São Sebastião, em Vitória (SACRAMENTO, 2000; SÃO JOÃO DEL-REI, 2013), cuja comissão responsável pela construção era composta por: Antônio Francisco da Silva, José Procópio de Carvalho, João Pedro de Ávila, Francisco Severo, Olímpio Moreira de Carvalho e Pedro Minas Camargo (SÃO JOÃO DEL-REI, 2013);

- 15/01/1900: Lei municipal nº70 criou o distrito de Vitória (BARBOSA, 1971; BARBOSA, 1930);

- 1901: a Câmara Municipal reconheceu os poderes das autoridades eletivas representantes do recém-criado distrito da Vitória. Nessa circunstância tomou posse e prestou juramento o vereador especial, Capitão Manoel de Sousa Guerra Junior (O COMBATE, 1901-A);

- 1901: nomeação para Vitória do Sr. Salathiel Ribeiro de Paiva para o cargo de subdelegado e confirmação de seus suplentes: Primeiro Suplente – Isidoro Ribeiro de Carvalho; Segundo Suplente – José Bueno da Silva; Terceiro Suplente – João Baptista de Carvalho (O COMBATE, 1901-B);

- 1902: aconteceu uma festa religiosa dedicada a São Benedito, promovida pela esposa do Major José Procópio, por uma promessa feita pelo restabelecimento de um filho (O COMBATE, 1902);

- 1905: a lei municipal nº133, de 24/08/1905, autorizou a criação e manutenção de uma escola pública em Vitória até que o Estado construísse a sua própria. A escola seria dedicada aos alunos do sexo masculino e o nome do professor contratado seria submetido à aprovação da Câmara. A despesa total autorizada foi de um conto de réis (O REPÓRTER, 1905-B);

-1909: criação de uma escola mista sob a administração do Estado, sendo a primeira professora Ernestina Pacheco de Barros (SACRAMENTO, 2000);

- 1910: inauguração de um posto dos Correios em Vitória (A OPINIÃO, 1910);

- 19/01/1913: inauguração do sistema de abastecimento de água em Vitória (CINTRA, 1982);

- 07/08/1921: criação da associação religiosa Damas do Sagrado Coração de Jesus, pelo Padre Francisco Goulart, vigário de São Miguel do Cajuru; posteriormente convertida em Apostolado da Oração (SACRAMENTO, 2000);

- 25/03/1925: a capela de Vitória, até então filial da Matriz de São Miguel Arcanjo, do distrito de São Miguel do Cajuru, ganhou sua independência administrativa eclesiástica, por meio de decreto canônico, sob autoridade do Arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, que a elevou a paróquia, sendo seu primeiro pároco o então vigário do distrito de Conceição da Barra, Cônego João Batista da Trindade (SACRAMENTO, 2000; NASCIMENTO, 2011) [2].

- 1933: a partir de doação de terreno do Sr. Olímpio Moreira, foi construído um prédio para estabelecimento de ensino, “Escola Estadual Nascimento Teixeira”[3] (SACRAMENTO, 2000);

 - 18/04/1952: Padre Antônio Domingos Batista Lopes toma posse da paróquia, trabalhando por longos anos de forma marcante. Tomou a frente, sempre com apoio dos fiéis para trazer diversos melhoramentos para o distrito, como por exemplo, a primeira iluminação elétrica, graças a gerador a diesel instalado na Casa Paroquial, no ano seguinte à sua chegada; melhoria do abastecimento de água, por carneiro hidráulico e posteriormente bomba a diesel, só substituída pelo definitivo em 1977, pelo Prefeito Octávio de Almeida Neves (SACRAMENTO, 2000);

- 1953: criação da associação religiosa Filhas de Maria (SACRAMENTO, 2000);

- 12/12/1953: a Lei Estadual nº 1.039 criou o distrito de São Sebastião da Vitória (FJP, 2017);

- 19/03/1963: início da construção da nova matriz, sob a direção do Padre Antônio Lopes (SACRAMENTO, 2000). Outras fontes apontam datas anteriores para o início da dita obra: 1962 (NASCIMENTO, 2011) e 1961 (SILVEIRA, 2025);

- 19/01/1964: bênção inaugural da nova matriz com translado solene da imagem do padroeiro, São Sebastião, da igreja antiga para a nova. Já neste ano acontece a primeira comemoração oficial da Semana Santa, com as novas imagens adquiridas pelo pároco (SACRAMENTO, 2000). A igreja antiga foi então consagrada à devoção a Nossa Senhora das Vitórias (SÃO JOÃO DEL-REI, 2013);

- 19/06/1969: inauguração da balsa interligando Capela do Saco (Carrancas) e Caquende (São João del-Rei). O Bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes celebrou uma missa sobre a balsa. A seguir discursaram os prefeitos de ambos os municípios, concluindo-se com churrasco de confraternização (A COMUNIDADE, 1969);

- 1965: criação da Irmandade do Santíssimo Sacramento (SACRAMENTO, 2000);

- 1976: estabelecimento de uma delegacia (SACRAMENTO, 2000);

- 1978: início do serviço de telefonia (SACRAMENTO, 2000);

- 2006: construção de uma quadra poliesportiva pela Prefeitura Municipal (PASSARELLI, 2007);

- 2006: a 20 de janeiro é fundada a Corporação Musical Aquiles Rios, que dá continuidade à tradição musical do distrito e cujo nome homenageia o músico, regente e fundador de bandas, Sr. Aquiles da Silva Rios (1919 – 1995). A Corporação tem sido muito ativa desde então, tanto no ensino quanto na produção musical. É formalmente reconhecida como integrante do Patrimônio Cultural do município (SÃO JOÃO DEL-REI, 2024), sendo um bem inventariado (SÃO JOÃO DEL-REI, 2022);

- 2006: Lei nº 4.058, de 06 de setembro, considera de utilidade pública, o Conselho Central São Sebastião da Vitória (ATOS OFICIAIS, 2006);

- 2006: Lei nº 4.063, de 04 de outubro, considera de utilidade pública, a Corporação Musical Aquiles Rios e Banda Lira São Sebastião (ATOS OFICIAIS, 2006);

- 2022: a quase centenária manifestação cultural do distrito, Folia de Reis “Embaixada de São Sebastião” (fundada em 1924), é acautelada na condição de Patrimônio Cultural Imaterial, sob o estado de Registro Provisório (CMPPC, 2022);

- 2023: é aprovado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, a 13 de dezembro, o Inventário de Patrimônio Cultural do grupo “Pilão de Nhá”, do povoado do Caquende, caracterizado pela manutenção de tradições coreográficas, ritualísticas, dança e cantos rurais, típicos dos lavradores tradicionais (SÃO JOÃO DEL-REI, 2023). Através deste procedimento tal grupo cultural passou a ser reconhecido formalmente como integrante do Patrimônio Cultural do município (SÃO JOÃO DEL-REI, 2024).

Anexo

Lista parcial de leis municipais relativas ao Distrito de São Sebastião da Vitória (SÃO JOÃO DEL-REI, 2025):

1) Lei Ordinária nº 2711 de 16/08/1991 - Autoriza o Executivo Municipal a permuta de terrenos localiza dos no distrito de São Sebastião da Vitória;

2) Lei Ordinária nº 3023 de 21/03/1993 - Que considera de Utilidade Pública a Corporação Musical São Sebastião do Distrito de São Sebastião da Vitória;

3) Lei Ordinária nº 3024 de 21/03/1994 - Dispõe sobre a Municipalização do Cemitério Paroquial de São Sebastião da Vitória;

4) Lei Ordinária nº 3504 de 10/03/2000 - Denominação de Via Pública-Praça Senhor Bom Jesus-São Sebastião da Vitória;

5) Lei Ordinária nº 3584 de 26/12/2000 - Autoriza doação de imóvel-Escola Estadual Nascimento Teixeira-São Sebastião da Vitória;

6) Lei Ordinária nº 3987 de 25/10/2005 - Utilidade Pública a Associação dos Moradores e Artesãos do Distrito de São Sebastião da Vitória;

7) Lei Ordinária nº 4037 de 19/05/2006 - Utilidade Pública - Associação de Deficientes de São Sebastião da Vitória;

8) Lei Ordinária nº 4058 de 06/09/2006 - Utilidade Pública - Conselho Central São Sebastião da Vitória;

9) Lei Ordinária nº 4653 de 08/09/2011 - Autoriza pagamento subvenção Conselho Municipal Comunitário São Sebastião Vitória – CONDECOMVIT;

10) Lei Ordinária nº 4864 de 22/01/2013 - Autoriza concessão Conselho São Sebastião da Vitória;

11) Lei Ordinária nº 4882 de 24/04/2013 - Dá nova redação ao art. 1º da Lei Municipal nº 4.521- Associação Comunitária dos Moradores do Januário e Distrito de São Sebastião da Vitória;

12) Lei Ordinária nº 4995 de 20/12/2013 - Autoriza Concessão de Subvenção Social para o Conselho de Desenvolvimento Comunitário de São Sebastião da Vitória;

13) Lei Ordinária nº 5074 de 15/10/2014 - Subvenção Assosciação Comunitária Januário e São Sebastião da Vitória;

14) Lei Ordinária nº 5112 de 19/12/2014 - Concede Subvenção Social para o Conselho de Desenvolvimento Comunitário de São Sebastião da Vitória;

15) Lei Ordinária nº 5112 de 19/12/2014 - Concede Subvenção Social para o Conselho de Desenvolvimento Comunitário de São Sebastião da Vitória;

16) Lei Ordinária nº 5181 de 06/10/2015 - Utilidade Pública-Associação dos Moradores e Amigos de São Sebastião da Vitória-AMA-VITÓRIA;

17) Lei Ordinária nº 5226 de 29/04/2016 - Concede subvenção social para a Associação de Moradores e Amigos de São Sebastião da Vitória-AMA Vitória;

18) Lei Ordinária nº 5234 de 04/05/2016 - Considera de utilidade pública - Ass. Esporte Clube S.S Vitória;

19) Lei Ordinária nº 5394 de 13/12/2017 - Denominação de Via Pública-Rua São Sebastião-São Sebastião da Vitória.

Referências

A OPINIÃO. Jornal, n.102, 16/07/1910, São João del-Rei.

A COMUNIDADE. Jornal, n.12, 15/07/1969, São João del-Rei.

ATOS OFICIAIS. Jornal, n.7, nov.2006, São João del-Rei.

BARBOSA, José Victor. S. João d’El-Rey atravez suas ephemerides. São João del-Rei:Casa Assis, 1930. 47 p.il.

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Saterb, 1971.

CINTRA, Sebastião de Oliveira. Efemérides de São João del-Rei. 2v. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1982.

CMPPC. Ata Extraordinária, s/nº. São João del-Rei: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, 30 novembro 2022.

FJP. Relação de 1727 Distritos de Minas Gerais, sendo 853 Distritos Sedes Municipais Junho de 2017. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2017. Disponível em:  https://web.archive.org/web/20170810193449/http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/docman/diteg/707-relacao-de-distritos-de-minas-gerais-junho-de-2017/file Acesso em 19 maio 2025.

FOLHA DAS VERTENTES. Jornal, n.62, set./2006, São João del-Rei.

NASCIMENTO, Sílvio Firmo do, Padre. Paróquia de São Sebastião da Vitória. Diocese de São João del-Rei, 26 dez. 2011. Disponível em: https://diocesedesaojoaodelrei.com.br/paroquia-de-sao-sebastiao-sao-sebastiao-da-vitoria/  Acesso em 19 maio 2025.

O COMBATE. Jornal, n.92, 21/08/1901 - A, São João del-Rei.

O COMBATE. Jornal, n.101, 14/09/1901 - B, São João del-Rei.

O COMBATE. Jornal, n.166, 16/04/1902, São João del-Rei.

O REPÓRTER. Jornal, n.12, 09/04/1905 - A, São João del-Rei.

O REPÓRTER. Jornal, n.36, 24/09/1905 - B, São João del-Rei.

O REPÓRTER. Jornal, n.46, 10/12/1905 - C, São João del-Rei. 

O RESISTENTE. Jornal, n.412, 15-17/08/1901, São João del-Rei.

PASSARELLI, Ulisses. Pequena Cronologia Distrital. Revista do Instituto Histórico e Geográfico. São João del-Rei, v.12, 2007.

PASSARELLI, Ulisses (A). Velhas Notícias Distritais – parte 1. Tradições Populares das Vertentes, 09 jan. 2015.  Disponível em: https://folclorevertentes.blogspot.com/2015/01/velhas-noticias-distritais.html Acesso em: 16 maio 2025.

PASSARELLI, Ulisses (B). Velhas Notícias Distritais – parte 2. Tradições Populares das Vertentes, 23 abr. 2015.  Disponível em: https://folclorevertentes.blogspot.com/2015/04/velhas-noticias-distritais-parte-2.html Acesso em: 16 maio 2025.

SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. São Sebastião da Vitória. Tribuna Sanjoanense, n.1.044, 31 out. 2000. São João del-Rei.

SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Algumas elucubrações sobre o distrito de São Sebastião da Vitória, sobre a falta de documentos, sobre a memória oral e a necessidade de “falarmos do nosso quintal”. Pátria Mineira, maio/2023. Disponível em: https://patriamineira.com.br/wp-content/uploads/2023/05/Distrito-de-Sao-Sebastiao-da-Vitoria.pdf  Acesso em: 19 maio 2025.

SÃO JOÃO DEL-REI. Corporação Musical Aquiles Rios e Banda Lira São Sebastião: Inventário de Patrimônio Cultural. São João del-Rei: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural; Secretaria Municipal de Cultura e Turismo / Prefeitura Municipal, 2022.

SÃO JOÃO DEL-REI. Grupo Cultural Pilão de Nhá: Inventário de Patrimônio Cultural. São João del-Rei: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural; Secretaria Municipal de Cultura e Turismo / Prefeitura Municipal, 2023.

SÃO JOÃO DEL-REI. Decreto nº 11.558. Diário Oficial Eletrônico, ed. 1.138, ano 6, 18 dez. 2024. São João del-Rei: Prefeitura Municipal, 16 dezembro 2024. Disponível em: https://www.saojoaodelrei.mg.gov.br/Obter_Arquivo_Cadastro_Generico.php?INT_ARQ=177687&LG_ADM=undefined  Acesso em 19 maio 2025

SÃO JOÃO DEL-REI. Leis. São João del-Rei: Câmara Municipal, 2025. Disponível em: http://www.camarasaojoaodelrei.mg.gov.br/?Meio=Busca  (palavra-chave: “Vitória”)  Acesso em 19 maio 2025.

SILVEIRA, Lucas. Em clima de festa, Paróquia de São Sebastião da Vitória completa 100 anos de criação. Diocese de São João del-Rei (site), 20 mar. 2025. Disponível em: https://diocesedesaojoaodelrei.com.br/em-clima-de-festa-paroquia-de-sao-sebastiao-da-vitoria-completa-100-anos-de-criacao/  Acesso em 19 maio 2025.   

Imagem de São Sebastião, na Igreja Matriz de São Sebastião da Vitória, 22/07/2014. 

 Créditos

- Texto e fotografia: Ulisses Passarelli.

Notas

- Acervo hemerográfico consultado: Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei.  


[1]- A Diocese de São João del-Rei somente seria criada em 1960. Ver: https://diocesedesaojoaodelrei.com.br/historico-da-diocese/

[2] - Segundo NASCIMENTO (2011), os padres que serviram à Paróquia foram os seguintes: Cônego João Batista da Trindade, Padre Pedro Onclin, Padre Miguel Afonso de Andrade, Padre Antônio Domingos Batista Lopes, Padre José Roberto Vale Silva, Padre Fábio Rômulo Reis, Padre Sílvio Firmo do Nascimento e Padre Rogério Antônio Zanolla. Ora a paróquia é atendida pelo Padre Admilson Heitor de Paiva. Sobre o centenário de instalação da paróquia, ver: https://diocesedesaojoaodelrei.com.br/em-clima-de-festa-paroquia-de-sao-sebastiao-da-vitoria-completa-100-anos-de-criacao/

[3] - Referência ao Prefeito José do Nascimento Teixeira, que à época inaugurou o prédio.