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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




terça-feira, 5 de maio de 2015

Folias e congados expressam sua fé e cultura

Desde a mais remota origem em Portugal, as festas dedicadas ao Espírito Santo conservam uma relação muito íntima com a cultura popular. As manifestações folclóricas sempre foram parte importante das Festas do Divino, integradas aos elementos cerimoniais, compondo um conjunto festivo, alegre, cultural e evangelizador. Para que assim seja não deve ser mera apresentação. Deve haver conexão, para que a intimidade da alma devota se externe espontaneamente para o sagrado.

Esta sua identidade pode variar conforme a região, mas em geral é assim: no Brasil, em Minas, aqui em São João del-Rei. Pois no Bairro de Matosinhos, no atual santuário, este é o espírito de jubileu, onde a música, o canto e a dança se aliam em júbilo, em prece, como ferramentas de louvação, com respeito e sinceridade de coração, de nossos esforçados devotos e em especial, dos foliões e congadeiros, desde o resgate de 1998.

Antecedendo a festa, bem antes da novena, as folias do Divino já iniciam sua jornada visitando residências, onde, com a bandeira do Paráclito na dianteira, cantam louvores, recolhem donativos para o evento religioso e anunciam a comemoração, convidando os moradores a participar do jubileu, bem à moda portuguesa e açoriana. Com seus instrumentos e vozes, as folias, após dias de jornada pelas ruas, se reúnem na véspera de Pentecostes para a Procissão do Imperador Perpétuo e para a missa do último dia das romarias. Sua participação é da maior relevância e sempre atrai muita gente. No coreto armado no adro, especialmente para esta festa, arrematam seu giro anual no encontro das bandeiras, cantando todos os grupos ao público leal à tradição.

No dia maior, domingo de Pentecostes, é a vez dos congados, dos mais diversos estilos _ moçambiques, catupés, congos, caboclos, vilões, marujos _ que desde cedo chegam com um batuque de ritmos ancestrais, heranças musicais dos africanos. O canto congadeiro é um louvor, sua dança é uma saudação, seu toque é uma reza... o que o dançante faz é um ato de resistência cultural, mostrando a força do negro e sua fé viva. Os tambores elevam clamores! São porta-vozes ... precisam ser ouvidos.

Já hoje, felizmente, alcançados alguns avanços à custa de grande e longa luta pelos direitos de igualdade, mas ainda com muita estrada a trilhar, muita coisa a se conquistar, vemos, contudo, a alegria da confraternização como brasileiros de fé, povo mesclado de etnias tão antigas, ricas e complexas, trazendo às novas gerações cantares, ritmos e danças variadas, emoldurados por trajes coloridos, chapéus enfeitados de fitas e flores. O corpo em dança descreve a trajetória do povo. É sua própria história dramatizada que ali vemos com emoção. No braço da viola, no fole da sanfona narram sua crença viva.

Não pode acabar; não deve parar! Os mestres foliões e os capitães congadeiros sofrem pelejas diversas e a cada dia percebem a dificuldade em recrutar o jovem para a renovação e continuidade de seus grupos.

O sofrido devoto se reafirma no congado e na folia. Mostra para quê veio, que existe..., que tem força e devoção, que merece ser visto e ouvido, prestigiado. O Espírito Santo é a sua luz e direção, lado a lado ao rosário de Nossa Senhora, e todo o complexo cultural que traz consigo. A folia e o congado é parte da história do bairro e está ano a ano construindo um novo capítulo da história desta festa admirável, que é dinâmica e atrai os moradores de Matosinhos, do restante da cidade, da zona rural e das cidades próximas, além de turistas de longe.

A Festa do Divino é a oportunidade especial de presenciar e demonstrar esta maneira de ter fé e cultura. Em sintonia e harmonia, o povo de Deus festeja o Paráclito no império da cultura popular. A Comissão do Divino como gestora deste evento tem uma joia nas mãos, que merece o polimento e o cuidado sob as diretrizes do Imperador de cada ano. 

Congado do Bairro São Dimas, da Capitã Maria Auxiliadora, adentra
o adro do Santuário de Matosinhos. 08/06/2014.

Folia do Divino do Bairro Guarda-mor, dos foliões Fanico, Virgilinho e João Bosco,
apresenta-se no coreto da festa em Matosinhos. 26/05/2012. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli
*** Obs.: este texto foi escrito para o Informativo da Festa do Divino de 2015, nº18, boletim anual publicado pela comissão organizadora deste jubileu. 

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