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Bem vindo!Esta página foi criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas, tampouco acadêmicas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 3 de agosto de 2025

A Festa de Ogum e o Boi de Ronda: um breve relato - parte 2

O Boi de Ronda foi criado em abril de 2024, como um grupo cultural no âmbito da Tenda de Umbanda Ogum de Ronda, de São João del-Rei/MG, que tem sua sede provisória na Caieira (Bairro São Judas Tadeu/Jardim Central). Esta comunidade umbandista é a responsável por tal manifestação cultural e a mantém, por seus membros e com a ajuda de colaboradores externos convidados. O contexto original é o ato de resgatar a tradição dos ranchos de boi, que estão na maior parte inativos no município; no entanto, fora do ambiente carnavalesco, para ser revivido no meio religioso de matriz africana, sob a égide do Orixá Ogum e das entidades da Linha dos Boiadeiros. 

Desta maneira, fez sua primeira apresentação pública na Festa de Ogum em sua Tenda de origem em 28 de abril de 2024. No mesmo ano, apresentou-se também na Festa de Exu, tanto em sua Tenda, quanto em outra, amiga e parceira, a Tenda Espírita Umbandista Pai Benedito d'Angola, respectivamente no último sábado e último domingo de agosto de 2024. A Festa de Exu desta última acontece em plena Serra do Lenheiro, na paragem denominada Mesa do Tiriri, com previsão de repetir-se neste ano de 2025 na mesma data, onde o boi deverá se apresentar novamente. 

Já em 2025, o Boi de Ronda foi apresentado a 26 de abril, no grande pátio do ilê da Tenda Espírita Umbandista Pai Benedito d'Angola, na Travessa da Rua Jair Braga Machado, nº70, no Barro Preto de Baixo, Bairro Tijuco, em São João del-Rei, durante a Festa de Ogum, conforme fotografias que constam nesta postagem. 

Os participantes trajam-se de roupas brancas, camisetas uniformizadas da Tenda; homens com faixa estampada de ocelos atada à cintura; mulheres de pano chitado à cabeça. Dois participantes, munidos de chapéu boiadeiro e de varas de ferrão, campeiam o boi o tempo todo, que rodopia, avança, recua, investe, dança movido por um dos umbandistas oculto no interior da alegoria (Tripa ou Miolo). Adiante do grupo vai um estandarte de produção artesanal. Instrumentistas executam acordeon, violões, viola, pandeiro, meia-lua, triângulo, agogô, chique-chique. As cantorias evocam na maior parte cantos de terreiro - pontos (zuelas ou curimbas) de boiadeiros - evocando a linhagem espiritual protetora, entremeadas às quais ouve-se interjeições de incentivo aos movimentos do animal e alguns aboios curtos. 

"Boiadeiro meu: 

é de Minas Gerais;

pra ficar sem boiadeiro

meu sertão não vive em paz!"

Entre as cantigas merece destaque a Marcha do Boi, quando, o solista, com versos improvisados, canta suas frases poéticas, às quais o coro sempre responde o mesmo: "_ êh, boi!" 

_ "Lá na serra tem pedra!  _ Êh, boi!

_  Lá no mar tem onda!   _ Êh, boi!

_  Caeira o quê que tem?  _ Êh, boi!

_ Ai, tem o Boi de Ronda!  _  Êh, boi!"

Neste momento, a cantoria envolve os circunstantes, pois, variando os versos, emite agradecimentos, saúda, tece características do boi, incentiva os boieiros. Na sequência, o boi é posto no laço e puxado para junto do boiadeiro, que lhe crava um punhal no peito. 

"Se matar esse boi,

o mocotó é meu... 

pra pagar a carreira

que esse boi me deu!"


"Eu mato o boi, baiano!

O couro é meu, meu mano!"

O boi se deita, como se tivesse morrido, mas de fato está ferido. Um participante chega com uma bacia esmaltada e colhe o "sangue" do boi (vinho tinto derramado). O vinho é bento e distribuído em pequenos copos aos participante e assistência, que o consomem em dose mínima, na crença de seu poder curativo e de fortalecimento espiritual, posto que dotado de axé. Vencida esta etapa, começa a "ressurreição" do boi: o boiadeiro o rodeia, com baforadas de charuto e um bate-folhas, feito de diversas ervas. Aos poucos o boi vai se tremendo todo, se ergue, volta a dançar, curado da ferida cruenta, ainda com mais vigor para a sua despedida, ante vivas e aplausos. 

"Levanta, meu boi,   BIS

e vem trabalhar!"

Embora recente em sua composição, o Boi de Ronda é antigo em seu formato, e segue despertando atenções e curiosidades por onde passa. 

01- Aspectos devocionais.

02- O boi dançando no abaçá do terreiro. 

03- O boi no pátio. 

04- Roda de boieiros. 

05- O boi e o sanfoneiro. 

06- Sangria do boi. 

07- Agôgô e caixa - esta sob cuidados do grande colaborador Jailton Antônio Braga, 
Zelador de outro terreiro, a tradicionalíssima Tenda Espírita Pai Joaquim de Angola. 

08- Benzedura para reanimação do boi.

09- Porta-estandarte e violeiro.

10- Boiadeiro traz o boi. 

11- Fogueira ritual durante o encerramento. 

Créditos

- Texto: Ulisses Passarelli. 

- Fotografias: Viviane Lins (02 a 07); Ariany Fonseca (01, 08 e 09); Betânia Nascimento Resende (10). 

Notas


- Sobre este mesmo assunto, leia também neste blog: A Festa de Ogum e o Boi de Ronda: um breve relato - parte 1.