Uma pequena coletânea
Por
todo o mundo o homem criou em sua relação com o elemento natural um imenso misticismo,
um complexo sistema de crenças ditando regras para o convívio. As superstições
são como restrições que freiam certos atos sob a ameaça de algo dar errado. Elas
são como guias diante de algumas circunstâncias pouco convencionais.
Esta
postagem enumera uma pequena coleção de superstições coligidas em São João del-Rei
e na contígua Santa Cruz de Minas, centro-sul mineiro, Campos das Vertentes,
durante a década de 1990.
01- Anel, pulseira,
colar, brinco ou aliança de ouro escurece quando o usuário está triste;
02- anel com pedra
preta é bom contra mal olhado e melancolia;
03- se achar um
diamante no ato da garimpagem deve-se batizá-lo com sangue para quebrar seu
encanto senão ele desaparece misteriosamente. Dá-se um pequenino furo ou talho
na pele e deixa-se pingar uma gota sobre a pedra preciosa;
04- faz mal socar
um pilão vazio. Sem conteúdo, espiritualmente, soca-se a família;
05- matar o
pássaro chamado lavadeira (Fluvicola
nengeta, tiranidae) dá azar pois é bento. Diz o povo que a lavadeira é uma ave
que lavou a roupa de Nossa Senhora;
06- matar a ave
anu (gêneros Guira e Crotophaga, cuculidae) dá azar;
07- matar o
pássaro garrincha (Troglodytes musculus, trogloditidae) dá azar. Quem o fizer
leva um coice de cavalo e se for criança “toma bomba” na escola (é reprovado,
torna-se repetente);
08- joaninha
(inseto coleóptero, coccinellidae)
pousando sobre a roupa é sinal que a pessoa vai ganhar uma roupa nova;
09- coruja (aves
estringiformes) cantando perto de casa dá azar para os moradores. Se cantar em
cima da casa é prenúncio de morte de um morador. Previne-se o agouro dizendo
quando ela canta: “vai pra missa”;
10- não é bom
varrer casa com gente dormindo dentro;
11- patuá
(amuleto) feito com couro de lobo previne contra picada de cobras;
12- ter um galo ou
galinha pretos no terreiro da casa previne coisa ruim;
13- ter três galos
no terreiro afasta a pessoa dos inimigos;
14- só segurar
faca quando necessário. Segurar uma faca na mão sem necessidade o diabo atenta
e a pessoa pode cometer um ato involuntário com a arma branca;
15- apontar para
uma estrela dá verruga no dedo;
16- apontar para
uma fruta na árvore ou abóbora no pé, faz com que ela seque, apodreça, caia;
17- andorinha (ave
hirundinídea) voando baixo é sinal de chuva;
18- quando um
beija-flor do rabo branco (troquilidae)
entra em casa é prenúncio de uma visita ou carta chegando;
19- joão-bobo
(capitonidae, Nystalus chacuru)
cantando é indicativo certo de mudança no tempo: se aberto, vira para chuva;
20- formiga de
correição (taoca) andando no terreiro indica que em até três dias vai chover.
Para que não entrem em casa se risca a carvão cruzes no passeio;
21- gato ou
cachorro emagrecendo é porque comeu cobra ou sapo, ou porque está dormindo
sobre cinzas;
22- não se deve
falar enquanto passa uma estrela cadente (meteorito), senão a pessoa fica
linguaruda (maldizente). Para curar deve-se beijar o pano do altar;
23- calo doendo:
indicativo de chuva;
24- osso que já
quebrou um dia doendo: indica mudança da fase da lua;
25- lugar que cai
muito raio é porque tem ouro enterrado. O ouro atrai os relâmpagos;
26- quando se
varre uma casa não deve deixar o cisco parado pois acontecem desgraças. O
demônio pediu a Deus licença para assentar sobre três coisas: a dança da
quadrilha, o jogo e o lixo;
27- criança que
morrer pagã vira anjo do mau;
28- não pode ir no
chiqueiro ou galinheiro depois da meia-noite (zero hora), pois são lugares frequentados
por espíritos imundos. O porco sai três vezes para comer a horas mortas e então
come tudo o que vê pela frente, até o próprio dono.
Notas e Créditos
*Texto: Ulisses Passarelli
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