Os curadores tinham fama de feiticeiros, embora não fossem exatamente isto. Recebiam o peso da discriminação e o preconceito que recai sobre esta palavra. Mas eram em geral muito temidos e respeitados por sua força. Suas preces e o conhecimento homeopático em parte se perderam pois os conservavam sigilosamente, por medo de que alguém aprendesse seus segredos e assim os pudesse derrotar. A força da repressão policial até meados do século XX também colaborou para seu desaparecimento.
Ocorre que a atividade de curador era proibida pelo código municipal desta cidade: “inculcar-se curador de enfermidades ou molestias por via do que vulgarmente se chama feitiço. Multa de 30$000 e oito dias de prisão”.
O Mestre Luís Santana me revelara cheio de satisfação e positivo orgulho que seus avós foram curadores famosos: pelo lado materno, Adão Roberto da Silva, natural de Carrancas, residente em São João del-Rei, e pelo lado paterno, Antônio Inocêncio da Caridade, do distrito de São Gonçalo do Amarante (ex-Caburu), curador do Capitão de Congado Vicente Fagundes, o mais célebre dirigente daquela centenária guarda de congo.
Por aqui eram especialmente afamados os “curadores de cobra”. Segundo vozes correntes seriam capazes de salvar uma pessoa que sofreu acidente ofídico só às custas de suas orações e preparos fitoterápicos. Há muitos casos narrados nesse sentido. Porém, quando ao se rezar para curar a picada o curador gaguejar ou misturar as palavras da prece por três vezes é sinal claro que já é tarde, ou seja, a morte é inevitável, narrou-me um de meus informante conterrâneos, na zona rural são-joanense.
É preciso não confundir porém o conceito de curador de cobra com o de "curado de cobra", de que nos fala Saint Hilaire:
"Disseram-me que havia na província de Minas e na de São Paulo pessoas que pretendem possuir segredos para preservar da mordedura das cobras mais perigosas, o que se chama curar."
Por fim vale também dizer que certos curadores detém o conhecimento de orações com que benzem os pastos das fazendas para espantar-lhes as cobras.
Os legítimos curadores estão quase desaparecidos na atualidade.
SAINT HILAIRE, Auguste de. Viagens às Nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás. Rio de Janeiro: Nacional, 1944. p. 96-7.
** Informantes:
- José Marcos Oliveira, 24/07/2009, Brumado de Cima (São João del-Rei).
- Luís Santana, 25/09/1998, Bairro São Dimas (São João del-Rei).
- José dos Santos Correia, 26/10/1997, Vila de Ponta Negra (Natal/RN).
*** Para saber mais sobre as tradições acerca das serpentes leia:
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