É chegado o dia oficial das crianças. 12 de outubro alegra a humanidade melancólica. Dizia-me um guia num trabalho de terreiro: "nunca deixa a criança morrer dentro de você, canfio, que você vence!" Muitas vezes a labuta diária retira nosso equilíbrio, o bom humor, a espontaneidade dos gestos ou o sorriso. Essa a criança que matamos dentro de nós.
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Jovem componente de uma folia de Reis de São João del-Rei/MG. Jan.2004. |
Num tempo nebuloso vemos os menores aliciados para o crime, sofrendo os horrores da pedofilia, vitimadas muitas vezes pela violência física e moral, bombardeados dia a dia por cenas chocantes. A falta de carinho e paciência com as crianças em muitos lares é notável. E por aí vai, com problemas no sistema educacional e no código protetivo.
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Aprendiz de mouro, no congo de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno. Out.2011. |
No desesperado corre-corre contemporâneo está se fragmentando o sistema educacional dos pequeninos, que depois se perdem na vida adulta. Mas como sementes do porvir, nos cabe zelar por eles e envolvê-los nas coisas boas que existem em nossa comunidade, nos processos de educação ambiental, cívica, patrimonial, social, religiosa, cultural, enfim, algo que lhes acrescente valor para o futuro e que permita a continuidade da transmissão oral de saberes, sem prejuízo de, ou, para outros processos.
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Integrante da dança de São Gonçalo, de Santana do Garambéu/MG. Out.2011. |
Dentro da temática dominante neste blog, a cultura popular, nota-se que os grupos folclóricos e tradições populares só tem perspectiva de sobrevivência se conseguem incorporar a criançada. Levar a cultura até eles e trazê-los até a cultura dá-lhes entretenimento e saber, contribuindo para afastá-los do fatídico ditado do povo: "a mente desocupada é oficina do demônio."
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"Para a cera do Santo Sepulcro": pedido de ofertas na Quinta-feira de Trevas (Semana Santa) em São João del-Rei. Abr.1999. |
Não tem sido pequena a luta dos mestres para manter as crianças em seus grupos ou incentivá-los a aprender seus ofícios, técnicas e costumes. Os mais diferentes setores podem se valer dos recursos culturais em seus trabalhos com as crianças, de catequistas a professores, valendo-se da vasta lúdica infantil, expressa nas rondas, brinquedos e jogos. O campo de possibilidades didáticas vai além, perpassando as lendas, jogos, artifícios de linguagem, lendas, danças, etc.
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Princesa e Príncipe num reinado na Caieira, São João del-Rei, out.1999. |
É mister trabalhar por todos os meios lícitos na valorização do sistema cultural, prestigiando esses esforços em prol das crianças, com resultados preventivos em vista da inclusão sócio-cultural que promovem. Também é (e deve de fato ser) direito das crianças, o acesso à cultura.
* Fotos e texto: Ulisses Passarelli.
** Obs.: todas as fotografias de crianças aqui postadas tem o objetivo único de homenagem, pela valorização de sua inclusão no contexto cultural.
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