No catolicismo popular muitas vezes o povo se apega às
crenças de que algumas pessoas, tendo passado uma vida extremamente virtuosa, paciente e penitente, aureolada
na obra da caridade e no trabalho em prol da Igreja, alcançaram a santidade,
independente do processo oficial do Vaticano.
Assim
as pessoas consideram muitos outros “santos” que não fazem parte do hagiológio. Alguns nunca saem desta condição, mas outros são abarcados pela tramitação
documental e terminam por alcançar a beatificação, a exemplo da são-joanense de
Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno,
Nhá Chica, ou a canonização, como o paulista
Frei Galvão.
Dentre
estas personagens religiosas notáveis, algumas parece que se vão perdendo nas
brumas do passado. As novas gerações delas vão se esquecendo, como “Manuelina
de Coqueiros”
, jovem de Entre Rios de Minas que outrora era fervorosamente visitada por romeiros de toda redondeza,
inclusive muita gente daqui de São João del-Rei, que ia atrás de suas preces inclusive
à pé ou a cavalo. Outra religiosa importante e de que ora me ocupo em especial é
“Sá
Luíza da Cananéia” (Luiza Leriana, 1873-1958), que desenvolveu seu trabalho
religioso no distrito de Emboabas (ex-São Francisco do Onça), em São João
del-Rei/MG.
As
informações orais que disponho dizem que ela “virou” santa. Foi uma senhora
boníssima, justa, muito humilde, fiel da santa comunhão, caridosa, que vivia na
graça de Deus.
Morava
só, numa casa humilde, no citado distrito, próximo à localidade de Cananéia, distante cerca de 40km de São João del-Rei. Era
conhecida por “Sá Luíza da Cananéia”, cujas orações em favor de... sempre eram ouvidas pelos céus. Por isto era
procurada por fiéis.
Como
penitência costumava pegar o prato que almoçava parcamente e misturar água na
comida, fazendo uma sopa fria para atrapalhar o sabor, pois dizia que era
indigna de comer um alimento tão bom.
Certa
ocasião, um carreiro estava passando a serviço próximo à sua casa, sob uma
forte chuva e viu ao longe um vulto em cima de um cupinzeiro, debaixo daquela
chuvarada. Pensou consigo mesmo:
“uai,
sô... o que será aquilo? Curuiz Credo! É o cariá ou um pantasma?”
O carro de bois foi chegando, rangendo no seu canto melancólico o eixo de madeira. O
carreiro ressabiado persignou-se: era Sá Luíza da Cananéia que estava em cima
de um pequeno ninho de cupins, sentada, esperando o ônibus passar.
_ Ôh, Sá
Luíza!
_ Deus te abençoe!
_ Amém!
Mas... uai, Sá Luíza, quê que a senhora tá fazêno nessa tribusana?
_ Ô meu fío,
mais tá chuvêno?
E foi
então que o carreiro arrepiou-se... só então notou que ao redor dela naquele
cupim estava tudo seco, um fenômeno de sua santidade, garantiu-me meu
informante
.
Minha
bisavó pelo lado materno, Luíza dos Santos
,
tinha por Sá Luíza especial admiração e certa amizade, tendo-a visitado algumas
vezes, dizendo-a uma mulher de fé inesgotável, agraciada com o dom da cura pela
força da oração e uma pessoa muito penitente.
Sá
Luíza segundo fonte jornalística
teria angariado com muito esforço pessoal donativos para a construção da centenária
capela do lugar, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.
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Aspecto de Cananéia, em 2013.
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Notas e Créditos
* Foto e texto: Ulisses Passarelli
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