Bem vindo!

Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




domingo, 22 de setembro de 2013

Lista de congados desativados em São João del-Rei


Ao longo dos anos de pesquisas das tradições populares regionais, os capitães de congado que entrevistei, deram-me algumas informações orais sobre certos grupos folclóricos são-joanenses que se extinguiram, desaparecendo das festas de reinado. 

Julguei por bem listá-los e acrescentar as poucas informações colhidas, que ficarão como uma memória e outrossim, como reconhecimento aos seus esforços e ensinamentos, que repassados à geração atual, possibilitaram a manutenção da tradição do rosário ativa aqui em São João del-Rei.

Esta listagem foi elaborada a alguns anos com o objetivo de conservar um registro dos grupos de congado que existiram em São João del-Rei, segundo a tradição oral, enumerados a partir de informações prestadas por diversos capitães citados neste post

Como a data abordada retrocede em até uns oitenta anos, poderia ter incluído os grupos dos então distritos, ora já emancipados, Ritápolis, Conceição da Barra de Minas e Nazareno, pois estavam vinculados ao município estudado no espaço temporal abordado. Contudo o critério adotado foi o de restringir as referências ao território atualmente abrangido por São João del-Rei. 

Esta postagem originalmente foi incluída em maio do corrente no blog Matosinhos: história & festas, com o título "Uma contribuição para a história dos congados",donde foi extraída, revista, ampliada e acrescida de novas fotografias.

*  *  *

Zona Urbana

01- Congo - na antiga Rua das Flores (que em 1938 mudou de nome para Rua Maestro Batista Lopes), Bairro Tijuco – Capitão João Lopes (primeira metade do século XX). Consta por via oral que festejava com seu Congo na Igreja do Rosário do centro histórico e que tinha excepcional domínio da tradição congadeira. 

02- Congo - Rua São João, Bairro Tijuco – Capitão José Francisco (primeira metade do século XX). Participava como o anterior, sendo seu coetâneo, com quem disputava a primazia dos festejos, até o começo dos anos 1940. Ajudou a colher donativos para a edificação da primitiva capela de origem à Matriz de São José Operário, no Tijuco, então sob o orago de Nossa Senhora da Conceição.

03- Congo - Águas Férreas, Bairro Tijuco – Capitão Geraldo Elói de Lacerda (primeira metade da década de 1980). Em todos os aspectos gerais seguia aos moldes do centenário congo do distrito de São Gonçalo do Amarante, ainda ativo.

Congo das Águas Férreas numa procissão de Nossa Senhora Aparecida no Bairro Guarda-mor. Foto: autor não identificado, 1983; gentilmente cedida para reprodução pelo Capitão Geraldo Elói.

04- Moçambique bate-paus - Bairro São Dimas – Capitã Márcia Aparecida Lopes (1999-2002). Grupo infanto-juvenil, feminino, chamava-se “Frutos do Rosário”. A mesma equipe mantinha concomitantemente um relevante trabalho de inculturação, que dava suporte às então chamadas "Missa Afro".

Apresentação do grupo de inculturação "Frutos do Rosário" durante o
Encontro das Bandeiras da Festa do Divino em Matosinhos,
São João del-Rei. Fotografia: João Hipólito, 10/06/2000. 

05- Moçambique Bate-paus - Rua do Ouro, Bairro Alto das Mercês – Capitão Tadeu Nascimento de Sousa. Surgido com forte ligação ao centro umbandista “Mãe Joana D’Arc”, aliás, primeiro nome da guarda, que surgiu composta por adultos (1997-1999). Depois de um ano desativada, o mesmo capitão levantou outra guarda, desta vez com crianças, sob o nome de “Anjos do Rosário”. Cerca de 2001 encerrou suas atividades.

Guarda "Mãe Joana d'Arc" em frente ao Salão Comunitário Santa Rita de Cássia, no Araçá, quando buscava o Reinado. Capitão Tadeu Nascimento de Sousa. Foto: Ulisses Passarelli, 1997. 
Guarda "Mãe Joana d'Arc" em frente ao Salão Comunitário de São Geraldo e a igreja desta invocação, em momento de apresentação coreográfica. Capitão Tadeu Nascimento de Sousa. Aos fundos observa-se a guarda do Capitão Luís Santana, da mesma cidade. Foto: Ulisses Passarelli, 1997. 
Capitão Tadeu, na mesma ocasião das fotografias anteriores. 

Guarda "Anjos do Rosário" posando para retrato no ano 2000.
Autor não identificado. Fotografia gentilmente cedida para reprodução
pelo capitão da mesma. 
Guarda "Anjos do Rosário" em apresentação no pátio de uma escola no ano 2000.
Autor não identificado. Fotografia gentilmente cedida para reprodução
pelo capitão da mesma. 

06- Mocambique / Catupé – Vila Nossa Senhora de Fátima (Matosinhos), Capitão “Geraldão”. Guarda mista, inicialmente com predomínio de Moçambique, quando de sua fundação pelo Capitão “Geraldão”, na década de 1950, e depois com maior tendência para o Catupé, pelo seu continuador, o Capitão “Zé Tita”, que morava na Horta Velha (Bom Pastor de Baixo, Matosinhos). Teve também ajuda do Capitão “Chico Zacarias” ( ou "Chico da Inês"), que substituiu Zé Tita. Suas atividades vieram até meados da década de 1980.

Flagrante da primeira Festa do Rosário no Bairro São Geraldo, em São João del-Rei.
A esquerda, congado do Capitão Geraldão (moçambique); à direita, congado do Capitão Luís Santana (catupé);
aos fundos o Reinado, observando-se quão numerosos eram os reis, rainhas, príncipes e princesas; 

na mesa ao centro, o sacerdote e pessoal da Igreja.
Ano: 1958. Autor: não identificado. Fotografia gentilmente cedida para reprodução pelo Capitão Luís Santana. 

Congado do Zé Tita, que está adiante do grupo com o tamborim. 
Foto: autor e data não identificados. Provavelmente década de 1960. 
Gentilmente cedida para reprodução pelo saudoso Capitão Altamiro Ponciano. 
Congado do Capitão Chico Zacarias numa Festa do Rosário no Bairro São Dimas em
São João del-Rei provavelmente na década de 1980. Autor: não identificado.
Fotografia integrada ao acervo do projeto Encontro Congadeiro nas Vertentes, gentilmente cedida
para reprodução pela senhora Celina Batalha.  
Detalhe do Capitão Chico, com o tamborim nas mãos. Fotografia da mesma fonte da
anterior, editada por este blog para evidenciação. 

07- Catupé “Nossa Senhora das Mercês” – Bairro Alto das Mercês, Capitão: Wilson Bernardino. Grupo de vida efêmera, esteve ativo entre 2007 e 2008.

08- Catupé  - Bairro São Dimas, Capitão Raimundo "Camilo" (Raimundo Marino da Silva). Guarda sob a bandeira de Nossa Senhora do Rosário foi das mais importantes em São João del-Rei, fundada em 1962 pelo Capitão José Camilo da Silva (1904-1994), pai de Raimundo. Nos tempos iniciais o segundo capitão era o sr. Valdemar Fagundes, que já fora também capitão no distrito de São Gonçalo do Amarante. Outros capitães fizeram parte da guarda, como Jesus da Silva, Altamiro Ponciano, Luís Carlos Rosa e Luthéro Castorino da Silva. Sofreu uma paralisação em 1994 à época do falecimento do fundador e foi recuperada quatro anos depois em grande parte graças aos esforços do capitão Luthero, por ocasião da reativação da Festa do Divino no Bairro de Matosinhos, primeira ocasião que voltou às ruas, em 1998. Desativou-se em 2009.

Congado do Capitão Raimundo Camilo em marcha pela Rua Joaquim Zito de Sousa,
em Matosinhos, durante a Festa do Divino. 31/05/1998.  



Congado do Raimundo Camilo recolhe uma Juíza de Ramalhete na Caieira, 
durante uma Festa do Rosário. Foto: Ulisses Passarelli, 1999. 

Mesmo terno da foto anterior, momentos antes, recolhendo o Reinado. 

  
Outras imagens do Reinado na Caieira. 

Detalhe da bandeira do rosário e da bandeira
durante uma Festa do Rosário no Bairro São Geraldo. 

Terno de Raimundo Camilo nas imediações da Gruta do Divino
durante a Festa do Espírito Santo de 2006. Na caixa o Segundo Capitão
José Adnei da Luz. 

Zona Rural

09- Congo - Povoado da Canela, Capitão “Procópio da Maria Joana”. Grupo nos moldes do que ainda existe em Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, com o qual tinha franca colaboração e vice-versa, tanto que, desaparecido o da Canela, aquele faz a festa do povoado, sempre em novembro. 

10- Congo - Povoado de Januário. Extinto a muitos anos. Capitão: "Zarias". Desenvolvia-se nos moldes do grupo da Canela e Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno. Década de 1960.

11- Catupé - localidade de Mestre Ventura, Capitão “Saturnino”. A minúscula povoação só existia em função da estação férrea que ali havia, ao longo da “Linha do Sertão”, da Estrada de Ferro Oeste de Minas, km 127, inaugurada na década de 1930. Com a erradicação dos trilhos (1983), o lugar tão isolado e sem outra perspectiva econômica, se esvaziou e hoje se resume a apenas duas fazendas. Tudo o que restou da estação são os vestígios da plataforma de pedra e a caixa d'água que abastecia as locomotivas. Saturnino seria natural do então distrito de Conceição da Barra onde tinha sua guarda mas mudou-se para Mestre Ventura onde montou esse pequeno Congado. Dizem que era rixento e que mesmo sem convite, querendo participar com seu Congado na Festa do Rosário da vila de São Gonçalo do Amarante numa época em que apenas o Congo local a fazia, para lá marchou com sua turma, mas logo à entrada teve de fazer meia volta pois seu grupo foi banido por um enxame de marimbondos, que ali os aguardava às custas de rezas fortes arranjadas pelo famoso capitão José Fagundes, do Congo da vila. Ao que parece, foi o fim deste Catupé.

12 - Moçambique bate-paus - Povoado do Caquende, década de 1970. Organizador por Raimundo Marçal, filhos e crianças da comunidade, segundo referência José Antônio de Ávila Sacramento (*). 


Notas e créditos

In: Caquende, Jornal de Minas, São João del-Rei, 28/05 a 03/06/2010, n.125, ano 10. p.2.
**Texto e fotografias (exceto indicação em contrário): Ulisses Passarelli. 
*** Pesquisa, texto e acervo fotográfico: Ulisses Passarelli.

Nenhum comentário:

Postar um comentário