Na Paraíba reconhecem a “fava boca de moça” (pequena, vermelha com listras brancas irregulares) e a “fava orelha de vó” (grande, branca com listras irregulares pretas) e com elas compõe o prato típico chamado favada – fava cozida com pedaços de carne e legumes variados, temperada com cebola e coentro.
Por aqui a fava é menos querida, mas nem por isto ausente: existe a “branca” (clara, grande), a "preta" (escura, grande) e a “belém” (vermelha, pequena).
Usamos em São João del-Rei a fava tal como o feijão, cozida e afogada com tempero a gosto, ou ainda numa de farofa de favas.
Um registro digno de nota é uso da fava como firmeza espiritual. Assim, aqui a fava-belém serve para aumentar a fartura dos alimentos e por isto tem-se alguns de seus grãos guardados nos gongás ou escondidos entre os mantimentos da despensa. Outras, habitualmente não comestíveis, servem de firmezas, acondicionadas num patuá guardado no bolso, na algibeira ou pendente ao pescoço por um cordão: fava de Ogum (grande caroço rosado-escuro, também conhecido como feijão-espadão) e a fava de Omulu (caroço cinza, graúdo, bem achatado).
O nome fava é aplicado ainda nas Vertentes a uma semente de árvore leguminosa da família fabaceae, o faveiro ou umbela, Schizolobium parahyba : fava de Santo Inácio, fava de São João, fava de umbela. É uma semente não comestível, dura, bastante achatada, de contorno ovalado, cor castanha, tamanho médio de 3 x 1,5cm. Geralmente é furada e trespassada por um cordão ou arame e usada como penduricalho contra quebranto (dizem que Santo Inácio não deixa o mal entrar na pessoa que a usa ao pescoço ou no bolso). Os passarinheiros costumam pendurá-la nas gaiolas, evitando o mal-olhado de invejosos (tal como o tento). Muito usado em colares-guias de caboclos e pretos-velhos. Tem ainda uso na crença da medicina popular: pendurada ao pescoço de crianças, creem que propicia dentição resistente. No Nordeste corre igual crença com a semente da mucunã, esclarecendo Cascudo que é por simples analogia da dureza da semente com a do esmalte dentário. Outro uso dos processos folclóricos de tratamento é contra hemorroidas, bastando carregar uma semente de fava junto ao corpo, em qualquer parte, contanto que esteja tocando a pele.
E para encerrar, quase parodiando esta expressão, segue a transcrição de um conto sobre favas. Pertence à categoria natureza denunciante - algumas favas magicamente ganham voz e denunciam um mistério insolúvel ao protagonista da estória...
Favas brancas e nas quadrículas, um prato de favas cozidas e uma vagem aberta mostrando os grãos. |
Referência Bibliográfica
*** Fotos: Iago C.S. Passarelli
*** Informante do conto: Elvira Andrade de Salles, Santa Cruz de Minas, 2001.
Meu pai falava sobre as roças do meu bisavo, que ele plantava a fava oreia de vó junto do milho e colhido o milho o pé em pé sustentava o peso da fava pra vó fazer a cata da fava orea de vó
ResponderExcluir