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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Na Minha Terra se Fala assim - parte 2

Dando prosseguimento ao registro de parte de nosso vocabulário típico em São João del-Rei e arredores, selecionamos algumas expressões e palavras com breve elucidação do significado.

Neste pequeno conjunto foi privilegiado a fala do homem rural, notadamente os dizeres que se costuma ouvir quando comentam sobre seus negócio de compra ou troca de terra e animais, nas festas de padroeiro, nos leilões, praças de gado, no dia a dia enfim, não obstante o êxodo rural tenha introduzido esse falar nas cidades, o que é fato. Constitui um fato cultural da maior importância que enriquece o nosso regionalismo.

Aguardem edições de novos números de continuação deste post.

* * *

- Amarilinho: amarelozinho.
- Apirmiti: permitir.
- Azulinho: azulzinho.
- Barrufo: jato de água borrifado sobre as verduras da horta.
- Batuta: esperto, perspicaz, de mente muito ativa. 
- Bater na cangaia pro burro intendê: falar o defeito ou erro de e para alguém quase que de forma explícita, senão mesmo grosseira, pois se está fazendo de desentendido ou de fato ignorante.
- Berganha: ou barganha – troca.  Berganhista: quem habitualmente negocia via trocas.
- Birosca: bar de má qualidade; estabelecimento comercial ruim. 
- Cara de cachorro que peidou na porta da igreja: pejorativo para indicar grande constrangimento.
- Chuchá a onça com vara curta: provocar alguém muito nervoso ou poderoso sem medir as consequências.
- Correr cutia: desistir de um negócio já firmado em palavra. Nos meios populares é considerada uma atitude vil. Cutiêro: quem costuma correr cutia nos negócios; desistente de uma barganha ou venda já acertada.
- Dar manta: obter por um objeto em venda ou troca, um valor superior ao que de fato vale. Não é considerado pelo homem do povo índice de desonestidade mas sim de esperteza e sabedoria.
- Dar na telha: fixar-se num idéia; prender-se a um conceito; tomar uma atitude repentina, inesperada.
- Desceu a catana: bateu, no sentido de agressão física; dar um golpe corporal
- Discanelado: de pernas alongadas
- Fazer negócio de orêia: troca de objetos ou bens sem retorno em dinheiro ou qualquer outra coisa, apenas o valor de um pelo valor do outro.
- Foi tintiano: foi pelejando, tentando.
- Futrica: mexerico, intriga.
- Invisionêra: pessoa ambiciosa e invejosa.
- Língua de trapo: pessoa que faz intrigas, fuxiqueiro.
- Lusco-fusco: penumbra, ambiente mal iluminado, crepúsculo ou aurora. 
- Malungo: africanismo que significa companheiro. É comum a corruptela “marungo”.
- Meia pedra, meio tijolo: expressão que indica status intermediário, mais ou menos. 
- Mutungo: ou matungo – cavalo velho. Gíria cigana incorporada ao vocabulário do homem rural.
- Não fui eu que joguei pedra na igreja: expressão usada para indicar sofrimento pessoal.
-Não fui eu que matou meu pai na forca (ou: a soco): idem.
- Onde o Judas perdeu as botas: lugar muito longe.
- Onde o vento faz a curva: idem.
- Panguá: idiota.
- Pé de boi: pessoa que sustenta uma situação, lutando com todas suas forças para que dê certo. Indivíduo esforçado, trabalhador. Esteio de família.
- P'rigoso: perigoso.
- Repassar: passar algo adquirido em negócio adiante em outro negócio. Renegociar. Dispor de um bem. Outro sentido: experimentar uma montaria nova, sentir como o animal pode ser cavalgado.
- Ruão: pelagem ruiva bem forte, acobreada.
- Russo: aloirado ou arruivado como coloração de cabelo ou pelagem. Pode ser também designativo de uma situação ruim, difícil: “está russo!”
- Sêcorro!: socorro!
- Tampô duê: começou a doer.
- Tirar o orvalho do queixo: golo de pinga ou café que se toma em jejum.
- Traquinagem: molecagem, brincadeira de criança, “fazer arte”, aprontar algo por ser levado, traquina, zombeteiro.

Leilão de gado. Festa de São Vicente de Paulo e Nossa Senhora do Carmo, povoado do Fé, São João del-Rei/MG, 2012. 

* Texto: Ulisses Passarelli
* Foto: Iago C.S. Passarelli

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