Dando prosseguimento ao registro
de parte de nosso vocabulário típico em São João del-Rei e arredores,
selecionamos algumas expressões e palavras com breve elucidação do significado.
Neste pequeno conjunto foi privilegiado a fala do homem rural, notadamente os
dizeres que se costuma ouvir quando comentam sobre seus negócio de compra ou
troca de terra e animais, nas festas de padroeiro, nos leilões, praças de gado, no dia a dia enfim, não obstante o êxodo rural tenha introduzido esse
falar nas cidades, o que é fato. Constitui um fato cultural da maior importância que enriquece o nosso regionalismo.
Aguardem edições de novos números de
continuação deste post.
- Amarilinho:
amarelozinho.
- Apirmiti:
permitir.
- Azulinho:
azulzinho.
- Barrufo: jato
de água borrifado sobre as verduras da horta.
- Batuta: esperto, perspicaz, de mente muito ativa.
- Bater na cangaia
pro burro intendê: falar o defeito ou erro de e para alguém quase que de
forma explícita, senão mesmo grosseira, pois se está fazendo de desentendido ou
de fato ignorante.
- Berganha: ou
barganha – troca. Berganhista: quem
habitualmente negocia via trocas.
- Birosca: bar de má qualidade; estabelecimento comercial ruim.
- Cara de cachorro
que peidou na porta da igreja: pejorativo para indicar grande
constrangimento.
- Chuchá a onça com
vara curta: provocar alguém muito nervoso ou poderoso sem medir as
consequências.
- Correr cutia:
desistir de um negócio já firmado em palavra. Nos meios populares é considerada
uma atitude vil. Cutiêro: quem costuma correr cutia nos negócios; desistente de
uma barganha ou venda já acertada.
- Dar manta:
obter por um objeto em venda ou troca, um valor superior ao que de fato vale.
Não é considerado pelo homem do povo índice de desonestidade mas sim de esperteza
e sabedoria.
- Dar na telha:
fixar-se num idéia; prender-se a um conceito; tomar uma atitude repentina,
inesperada.
- Desceu a catana:
bateu, no sentido de agressão física; dar um golpe corporal
- Discanelado: de
pernas alongadas
- Fazer negócio de
orêia: troca de objetos ou bens sem retorno em dinheiro ou qualquer outra
coisa, apenas o valor de um pelo valor do outro.
- Foi tintiano:
foi pelejando, tentando.
- Futrica:
mexerico, intriga.
- Invisionêra:
pessoa ambiciosa e invejosa.
- Língua de trapo:
pessoa que faz intrigas, fuxiqueiro.
- Lusco-fusco: penumbra, ambiente mal iluminado, crepúsculo ou aurora.
- Malungo: africanismo
que significa companheiro. É comum a corruptela “marungo”.
- Meia pedra, meio tijolo: expressão que indica status intermediário, mais ou menos.
- Mutungo: ou
matungo – cavalo velho. Gíria cigana incorporada ao vocabulário do homem rural.
- Não fui eu que
joguei pedra na igreja: expressão usada para indicar sofrimento pessoal.
-Não fui eu que matou
meu pai na forca (ou: a soco): idem.
- Onde o Judas perdeu
as botas: lugar muito longe.
- Onde o vento faz a
curva: idem.
- Panguá: idiota.
- Pé de boi:
pessoa que sustenta uma situação, lutando com todas suas forças para que dê
certo. Indivíduo esforçado, trabalhador. Esteio de família.
- P'rigoso:
perigoso.
- Repassar:
passar algo adquirido em negócio adiante em outro negócio. Renegociar. Dispor
de um bem. Outro sentido: experimentar uma montaria nova, sentir como o animal
pode ser cavalgado.
- Ruão: pelagem
ruiva bem forte, acobreada.
- Russo: aloirado
ou arruivado como coloração de cabelo ou pelagem. Pode ser também designativo
de uma situação ruim, difícil: “está russo!”
- Sêcorro!:
socorro!
- Tampô duê:
começou a doer.
- Tirar o orvalho do
queixo: golo de pinga ou café que se toma em jejum.
- Traquinagem:
molecagem, brincadeira de criança, “fazer arte”, aprontar algo por ser levado,
traquina, zombeteiro.
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Leilão de gado. Festa de São Vicente de Paulo e Nossa Senhora do Carmo, povoado do Fé, São João del-Rei/MG, 2012. |
* Texto: Ulisses
Passarelli
* Foto: Iago C.S. Passarelli
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