“Piriá” ou “P’riá” são corruptelas do nome de
alguns mamíferos da ordem Rodentia, com larga distribuição geográfica na América do Sul, histricomorfos, da família dos caviídeos, sobretudo a espécie Cavia aperea encontrada na região das Vertentes.
Habita brejos e capinzais.
Lamentavelmente é muito caçado, seja por atacar as hortas, seja pela
carne. Costumam caçá-lo com o “fôjo”, um buraco feito no chão, com tampa falsa, tipo
alçapão, com as ramas prediletas por cima (adora batata-doce). Indo comê-las, cai
no escavado e depois é só colhê-los.
Na tradição oral simboliza a vagabundagem
como quem come de graça sem trabalhar, embora seja admirado por andar muito,
pois como de fato vagueia nos capinzais. Diz o povo que em bando andam em fila indiana nos alagadiços. Os versos corriqueiros na região fixam
estas imagens:
“Minha gente venha ver
a
vidinha do preá:
morando em terra alheia
comendo sem trabalhá...”
(trova,
Santa Cruz de Minas, 1995)
“Andei
cinqüenta léguas
no lombo do piriá;
o bicho é pequenino
mas danado pra
andá!...”
(trova, Santa Cruz de Minas, 1995)
Minha
gente, venha ver,
a vida do piriá:
montado na mãe-do-ouro,
comendo sem
trabaiá!...”
(calango, Barroso, 1998)*
Por analogia aos seus dentes
proeminentes de roedor, as pessoas portadoras de maloclusão dentária do tipo classe II -
1 de Angle, são pejorativamente alcunhadas de preás, por terem dentes incisivos
superiores proeminentes, com a maxila trespassada em excesso em relação à
mandíbula (overjet).
Não se deve confundir os
préas nacionais com o cobaia ou porquinho-da-índia, seu parente andino,
Cavia porcellus, animal exótico, criado em cativeiro e usado
no jogo
coelhinho:
nos festejos de barraquinha dos santos das capelas, usava-se muito este jogo, com renda para a igreja em festa, que vez por outra alguém relembra e ainda faz nas quermesses. Um círculo de casinholas de madeira é posta em círculo largo, todas encostadas umas nas outras sem deixar espaço e com a única entrada voltada para o centro. Cada casinha é numerada, apostando-se num dos números. Ao centro da roda de casas de madeira, um caixote de madeira com a abertura virada para o chão aprisiona um desses bichos. Feitas as apostas, o responsável pelo jogo levanta o caixote e solta o cobaia, que apavorado pelas palmas, gritos, assovios e abanos de mãos dos circunstantes, corre a esconder dentro de uma das casinhas, cujo felizardo que naquele número apostou é o ganhador do prêmio.
* A décadas foi recolhido num clássico da folclorística, esta trova em João Pessoa/PB (compare-se a semelhança extraordinária):
"Minha gente, venha ver
a vidinha do preá:
deitado na macaxeira,
comendo sem trabalhar..."
In: MOTA, Leonardo Ferreira da. Violeiros do Norte: poesia e linguagem do sertão nordestino. 2.ed. Rio de Janeiro: A Noite, 1955. 298p. p.44.
** Informantes das quadras: Sta.Cruz, Elvira Andrade de Salles; Barroso, Manoel Júlio de Sousa
***Texto: Ulisses Passarelli
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