O intenso costume de dar presentes encontra sua culminância no ciclo festivo do Natal. Ainda é tempo de tecer alguns breves comentários a este respeito, pois segundo as tradições populares este período só encerra no dia de Nossa Senhora das Candeias (02 de fevereiro).
A pesquisadora paraense Maria Brígido estudou a origem da troca de presentes natalinos, atribuindo-a a antiquíssima tendência gregária humana, desde os clãs primitivos, passando pelos pagãos da antiguidade, lembrando das ânforas de perfume nos túmulos reais egípcios; os presentes fartos a Janus, deus romano do primeiro mês do ano; os Pastores de Belém, ofertando na tradição oral leite e lã ao Deus Menino, ou os Magos do Oriente, trazendo o ouro, o incenso e a mirra; os presentes de fundo fetichista dado às crianças, como amuletos para lhes livrar de mal olhado e os presentes doados pelo bispo europeu de Myra, São Nicolau, origem do personagem Papai Noel.
Outrora o costume rural do leste das Vertentes (Bias Fortes, Antônio Carlos) adentrando pela Zona da Mata era uma troca de presentes em seqüência: quem o recebia no Natal, retribuía na passagem do ano. Entre estas pessoas, novo presente era dado no Dia de Reis e retribuído no Dia de São Sebastião, segundo nos informou a saudosa dona Elvira Andrade de Salles, nos idos dos anos noventa.
A crença popular, segundo anotações feitas de diversos informantes de São João del-Rei, enxerga
alguns sinais indicativos de que a pessoa ganhará algum presente:
1) se lhe
pousar na roupa uma joaninha irá ganhar uma roupa nova;
2) vestir por distração
uma roupa do lado avesso, sem o propósito de fazê-lo;
3) se a manga da camisa ficar
virando do avesso sozinha, mesmo se for repetidas vezes desvirada;
4) se
aparecer uma mancha branca na unha (leuconiquia), circunscrita, à guisa de pinta.
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Mancha na unha à qual se credita um sinal de que a pessoa em breve ganhará um presente. |
A tradição da mancha na unha pode ter porém um sentido muito diverso. Entre 1992 e 1998, residindo em Natal/RN, ouvi várias vezes dizer que mancha na unha é sinal de que a pessoa falou alguma mentira.
Como práticas favoráveis ao recebimento de presentes, colhidas ainda em São João del-Rei, registra-se:
1) o papel
de presente deve ser guardado debaixo do colchão, entre este e o estrado da cama, pois logo se ganhará outro
presente. O próprio presente de Natal que recebem as crianças é posto sob a
cama, exceto se seu tamanho for muito grande, quando então é posto junto à
árvore natalina.
2) pendurar numa janela uma meia ou sapatinho de criança,
às vezes alegórico, dentro do qual se põe uma cartinha a Papai Noel, com o pedido deste ou daquele presente.
O conteúdo
destas cartas, que as crianças escrevem, serve de excelente motivo à pesquisa
de folk-comunicação, conforme será abordado neste blog oportunamente.
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Carta a papai-noel. São João del-Rei, Centro, 1996. |
Referência Bibliográfica
SANTOS, Maria Graziela Brígido dos. Coletânea de textos sobre o Ciclo do Natal. In: Cadernos de Folclore, São José dos Campos, Museu do Folclore, [s.d.].
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Ulisses Passarelli (carta) e Iago C.S. Passarelli (unha)
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