Nesta semana comemora-se o
DIA DO FOLCLORE, a
22 de agosto. Foi nessa data, a mais de um século e meio, que o termo anglo-saxônico foi criado pelo inglês
William John Thoms para denominar as manifestações populares tradicionais que começavam lentamente a ser alvo das atenções.
Marungos de Folia de Reis.
Outras palavras já foram propostas com objetivos similares mas nenhuma atingiu seu patamar. Naquela época os conceitos sobre o que seria ou não folclórico eram bem mais restritos. O entendimento atual ampliou em muito o campo das possibilidades para o folclorista, assim chamado o estudioso do folclore, aceitando também formas escritas, criações recentes e urbanas dentro do universo cultural folclórico.
Ocorre sobre o termo "folclore" um desgaste de significação, desviando o seu sentido para o pejorativo, num campo de rejeição, culturalmente inferior, o que é um equívoco desastroso. Algumas vezes, quando alguém conta um fato duvidoso já outrem afirma: isso é folclore! Quando o noticiário revela um fato estapafúrdio de um homem público, já se diz que faz parte do folclore da política; ou que fulano é um tipo folclórico, denotando exotismo, excrescência.
A análise dessa situação demanda uma pesquisa própria para elencar os elementos que confluíram para gerar tal situação. Já se pode antever que terão plausivelmente o seu peso no processo, mas não exclusividade, as falhas governamentais na gestão dessa importante parcela da cultura ao longo dos anos e o distanciamento do ensino de elementos do folclore nas escolas, ou quando há, o método é por vezes questionável.
Em razão desse processo de distorções muitos estudiosos preferem o termo CULTURA POPULAR em vez de folclore, de certa forma sinonimizando-os, quando de fato, o ponto de vista pode levar ao entendimento de cultura popular num sentido bem mais amplo que o do folclore em si.
Seja como for é uma tendência e sem polemizar ou confrontar as correntes teóricas, que não é objetivo desse blog, as postagem dessa página eletrônica usam ambos os termos de forma equivalente, mas nunca entendendo a cultura de massa como parte do folclore. Ainda que reconhecida sua popularidade, ela anda por outros caminhos que não os do folclore, evocador da chamada cultura de raiz.
Quantas faces tem o folclore?
Voltando à questão da distorção de conceitos, temos visto de maneira recorrente como as imagens remetem às lendas e mitos como definição do folclore. Não que não sejam, mas de tal forma polarizam atenções que induzem ou pressupõe um quase absolutismo. Pouco atrás seguem os grupos de danças, os folguedos, como elementos típicos do folclore. E pronto, quase que só... Quando se pensa então em folclore e se vai investigar suas imagens vem as figuras de sacis, iaras, mula-sem-cabeça, lobisomem e do bumba-meu-boi. É como se as outras manifestações não fosse parte do folclore, tão apagadas passam diante das acima mencionadas.
Por isto este blog tem insistido em variar os temas para mostrar a amplitude do folclore, quantos raios tem seu leque. Muitas vezes tem também abordado entre os nomes de informantes o de elementos familiares, tais como pai, mãe, avós, esposa, propositalmente mostrando que todos nós de alguma forma somos portadores do folclore e que gente muito próxima é parte deste contexto.
Conhecemos, ou nossos semelhantes conhecem: uma receita típica, um modo de fazer (sabão de bola, farinha de mandioca, um telhado, montar um carroção de rodas raiadas, um moinho, um tapete de rua, o gibão de couro de um vaqueiro...), como fazer uma renda de bilro, ou o chá adequado para uma má digestão; uma crendice, um tabu, um causo, uma velha cantiga, uma frase de para-choque de caminhão vista ainda ontem, uma reza ouvida hoje cedo de um benzedor, uma narrativa de assombração da avó da minha bisavó, a promessa para Santos Reis da vizinha, versos inúmeros de um folheto de cordel, a superstição em torno do parto, a maneira correta de dobrar e cortar papel colorido para fazer flores que enfeitarão o chapéu de congadeiros, uma fórmula escrita para não vender fiado afixada na parede do bar da esquina, um desafio de viola, uma embolada ao pandeiro, a linguagem sineira, a do apito do trem ou a do toque do berrante; a moda de viola no rancho tropeiro, a nomenclatura das peças do carro de bois, o nome das reses, as cores de pelagem do cavalo, o anedotário, os apelidos, as réplicas dos xingamentos, o mundo das adivinhas, a solidariedade dos mutirões, os cantos de trabalho, as sentinelas de defunto, cantos mortuários, o brinquedo verbal dos trava-língua, ou de rodar o pião, de soltar pipa, de rondas infantis... cirandinhas, etc, etc, etc...
Poderia listar à exaustão. Desnecessário. É preciso entender que o folclore é a essência da vida comunitária, reflexo do saber espontâneo, cultura vital vivenciada no dia a dia do aprendizado informal, que brota feito semente molhada pela chuva. Ele não está distante de nós; nós é que nos distanciamos dele, por desconhecimento, conveniência ou preconceito.
Os elementos teóricos do folclore são muitos e merecem melhor contemplação. Talvez possa ajudar aos interessados um olhar pelo texto
FUNDAMENTOS DO FOLCLORE.
* Fotos e texto: Ulisses Passarelli
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