enquanto o congo marcha pela rua fronteiriça.
Mas na hora do reinado a função do mouro é outra: tirar a coroa da rainha. Mas os cercadores, trajados de azul a defendem.
Da forma como acontece na vila são-joanense não encontrei registro na literatura sobre folclore. Mas o tema da tomada de coroas ou de rainhas nos congados foi referenciado para outros locais. No sul mineiro, na cidade de São Sebastião do Paraíso, Maria José de Souza recolheu uma informação de pesquisa, da qual transcrevo abaixo um fragmento:
"Antigamente eles protegiam as Rainhas, porque senão outros ternos podiam roubar as Rainhas. Todo fardado, com espada, eles trançavam a espada quando agente puxava o Rei Congo e a Rainha" (etc., p.118)
No século XIX Melo Morais Filho viu as animadas festas de São Benedito no sertão sergipano, cidade de Lagarto, onde o congo em procissão, dividido em duas alas, vinha em luta de espadas pelos dançantes, no afã de tomar a coroa real:
"Em trânsito , seguindo o andor , uma luta travava-se entre as duas alas de negros, que disputavam, batendo-se, a coroa da que ocupava o centro, e a quem chamavam a Rainha Perpétua. E, degladiando-se com espadas de ferro, dando viravoltas e cadenciando os flancos, os Congos adiantavam-se no préstito, cantando, ao calor da peleja, no renhido combate". (etc)
A tradição dos mouros é bastante conhecida no folclore, com muitos exemplos desde o nordeste ao sul brasileiro, mas em Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno se apresentam de forma singular e felizmente, bem preservada.
Para saber mais a respeito leia: Mouros & Cercadores
SOUZA, Maria José de, Professora Tita. O Reinado dos Congos: religiosidade popular, tradição e sobrevivência do Sul de Minas. Revista da Comissão Mineira de Folclore, Belo Horizonte, n.23, ag.2002, p.97-123.
Texto e fotos (1998): Ulisses Passarelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário