Consiste em um grupo abordar o outro e oferecer sua bandeira aos devotos do outro grupo, que de imediato a beijam, passando-a o bandeireiro por cada um dos componentes e em contrapartida ofertam a sua para igual saudação. Concluídos os cumprimentos, destrocam-se as bandeiras com versos laudatórios e elogiosos de parte a parte e cada grupo segue seu destino. Tem caráter ocasional, pois depende do eventual encontro.
Nas festas em geral muitos grupos se deparam, nem sempre porém o ritual ocorre, excetuando-se dois grupos muito amigos, independente da programação dos festeiros.
Em Carrancas, contudo, assisti em 07/11/2004, na Festa do Rosário, a troca como parte programática da Festa do Rosário, quando todos os ternos após o Recolhimento do Reinado, diante do Rei Congo e da Rainha Congo, assim ritualizam, tendo como anfitrião de todos a guarda de congo local. O verso de convite é:
E assim os bandeireiros respectivos trocam. A seguir o terno abordado tem o direito a cantar um verso de resposta, cordial e laudatório e depois destrocam para se repetir entre o congo local e outra guarda visitante.
Nas folias o ritual pode ser um pouco mais complexo posto que pode haver apenas a troca de bandeiras como nos congados ou o se complementar com o cruzamento das bandeiras. Eis uma chamada ao ritual:
Os dois bandeireiros ou os palhaços, seguram as bandeiras enquanto se estende um extenso ritual de cantoria de saudação.
![]() |
Cruzamento de bandeiras num encontro de folias em São Sebastião da Vitória (São João del-Rei/MG), janeiro/1996. |
Completada a saudação, as bandeiras são trocadas enquanto um folião canta e o outro ouve. Depois se cala para ouvir aquele que saudou. Só então destrocam, após verso próprio, pedindo a devolução da bandeira.
Já um encontro não fraterno não tem troca de bandeiras, ou então, no caso das folias, quando estão cruzadas, surge a demanda que se estende em forma de versos desafiadores com perguntas enigmáticas sobre as tradições fundamentais do grupo, que devem ser respondidas em verso. Em caso negativo, a bandeira é tomada e a folia passa a andar com duas bandeiras. Mas este processo de desafiar e tomar bandeira sobrevive apenas na memória dos mais velhos, pois de fato, caiu em desuso. Pelo menos aqui nesta região...
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: encontro de folias, Ulisses Passarelli; encontro de congados, Iago C.S. Passarelli.
Nenhum comentário:
Postar um comentário