Eu entrei por mar adentro
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Lá do céu caiu um cravo
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Pra brigar com os inglês [1],
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De tão alto desfolhou;
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Bebi chumbo derretido
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Quem quiser casar comigo
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Rotei bala nove mês.
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Vai pedir quem me criou.
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Borboleta pintadinha [2]
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Fui no céu contar estrela,
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Que pintou Nossa Senhora
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Só a do Norte separei;
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Eu quero que tu me pinta
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É por ser o mais bonito,
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O braço dessa viola.
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Só contigo casarei [3].
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Subi na corda da chuva,
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Eu não caso com viúvo,
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No estrondo do trovão,
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Que viúvo viuvou;
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Desci na corda da chuva,
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Não estou pra criar pinto
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Com dois coriscos na mão [4].
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Que outra galinha criou... [5]
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Abaixa-te, limoeiro,
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Santo Antônio Pequenino
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Quero apanhar um limão,
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Tinha os olhos de velhaco;
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Quero tirar uma mágoa
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Namorou Santa Luzia
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Que está no meu coração [6].
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Espiando pelo buraco [7].
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Tenho o meu dentinho de ouro,
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Quando eu era soldado
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Adornado de marfim;
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Meu chapéu era boné,
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As moças, nasce pros moços,
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Vestido de amarelo
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Os moços, nasceu pra mim... [8]
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Da cabeça até os pés.
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Eu mesmo cortei o pau,
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No fundo da minha horta
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Eu mesmo fiz a gamela,
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Tem um pé de burdruega [9],
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Eu mesmo namoro a moça,
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Tá parecendo com a cara
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Eu mesmo casei com ela... [10]
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Da minha defunta égua.
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Duas velhas muito velhas
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Cascavel no barranco
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Duas velhas saragota,
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Eu pego com a mão;
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Ouviu falar em casamento,
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Jaracuçu por ser pequeno,
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Uma velha cagô na outra [11].
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Bainha do meu facão [12].
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O padre foi celebrar missa
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O padre foi celebrar missa
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Na capela de Belém,
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Na capela de Santa Rita,
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Foi rezar Ave-Maria,
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Foi rezar Ave-Maria,
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Disse: “Maricas, meu bem!”[13]
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Disse: “Marica, bendita!”
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Sou filho do meu pai,
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Cascavel bateu guizo,
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Sou neto do meu avô,
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Caninana repicou;
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Sou filho do ganhar dinheiro
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Quem quiser casar comigo,
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Neto do mau pagador.
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Vai pedir ao meu avô.
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Esparramei feijão de corda
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Esparramei feijão-de-corda
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Na panela de gordura,
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Na panela de feijão,
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O feijão é bom sozinho,
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O baião é bom sozinho,
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Quem dirá baião-de-dois [14].
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Quem dirá de dois baião [15].
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Minha boca tá pedindo,
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Eu não caso com viúvo,
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Minha barriga quer comer,
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Que viúvo enviuvou;
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Cala boca, minha barriga,
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Eu não tô pra criar pinto
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Deixa a panela ferver.
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Que outra galinha deixou [16].
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Da banda de lá do rio,
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O cego estava escrevendo,
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Dá banda de cá meu bem,
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O mudo estava ditando;
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De baixo do pé de louro,
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O surdo muito atrevido,
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Doce de laranja tem.
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Atrás da porta escutando ...
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Vou mandar fazer um banco
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No alto daquele morro,
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Da raiz do fedegoso,
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Passa boi, passa boiada,
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Pra sentar os conhecidos,
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Um dia passou um homem
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Principalmente os invejoso.
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Com a calça remendada [17].
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Subi na bananeira,
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Não me importa que te morda
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Pra apanhar jabuticaba
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Marimbondo de ferrão,
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Veio o dono das laranjas,
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Te cutuca no subaco [18]
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_ Não me apanha essas goiaba...
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E te manda lá no chão...
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Quero ser marimbondo,
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Uma velha, muito velha,
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Mas não quero ser abelha;
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Não comia rapadura,
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Quero ser marimbondo
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Viu falar em casamento,
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Que faz a casa na telha.
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A danada ficou dura.
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Cigana, lê minha sorte,
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Sou pequenininha
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Qu’eu te dou cinco merréis [19],
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Do tamanho de um botão
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Depois que tiver lido,
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Trago papai no peito
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Além de cinco eu dou dez.
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E mamãe no coração.
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Eu gosto de um rapaz,
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Joguei o lenço pra cima,
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Mas ele não me dá bola
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Para ver onde caía,
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Por isto vou me afogar
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Caiu no colo de um velho,
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Num copo de Coca-cola [20].
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Cruz-credo! Ave Maria! [21]
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Eu pedi um copo d’água
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Moça que casar comigo
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Ela trouxe na gamela,
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Está servida de marido:
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Você deixa a casa fechada
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No almoço come pedra,
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Qu’eu passo pela janela [22].
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Na janta caco de vidro.
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Homem que casar comigo
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Se eu gostasse de você
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Está servido de mulher:
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Como gosto de repolho,
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No almoço come pedra,
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Te mandaria pro inferno,
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Na janta o que tiver.
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Pro diabo fazer molho.
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Camisa sobre camisa,
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Namoro na escola
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Camisa do mesmo pano,
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É uma grande porcaria:
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Se você não souber esse ano,
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Começa na sala,
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Só mesmo eu te contando.
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Termina na diretoria.
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Antes eu te amava
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Na janela do meu quarto
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Como um cravo no craveiro,
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Tem Jesus crucificado
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Hoje te desprezo
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Quem roubar meu namorado
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Como um porco no chiqueiro.
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Vai morrer esturricado...
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Com Deus me deito,
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Quando eu vim da minha terra,
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Com Deus me levanto;
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Trouxe faca e facão,
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Eu beirada,
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Pra cortar tornozelo,
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A nêga no canto... [23]
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De valentão ... [24]
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Minha calça é de embira,
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No fundo da minha horta
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Suspensório de cipó,
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Tem um pé de cai-cai;
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Se quiser me namorar,
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Quem quiser casar comigo
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Olha pela manga do paletó [25].
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Vai perguntar meu pai.
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Ia passando nesse caminho
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Santo Antônio querido,
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Ramo verde me chamou;
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Vós, de quem sois?
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Cala a boca, ramo verde,
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Me arranja o primeiro marido,
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Nosso tempo já acabou!
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Que o segundo, arranjo depois... [26]
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Se a perpétua cheirasse,
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Batatinha quando nasce,
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Era a rainha das flores,
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Esparrama sobre o chão,
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Como ela não cheira,
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Mamãezinha quando dorme,
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Ela não tem seus amores [27].
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Dá um peido no colchão... [28]
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Quem quiser saber meu nome,
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Senhora dona da casa,
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Não precisa perguntar,
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Seus agrados, nem por isso...
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Meu nome é ... (fulano)
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Tô aqui a tanto tempo,
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Residente nesse lugar.
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Nem café, nem mata-bicho! [29]
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Quem quiser ter bom sono,
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O meu chapéu tem três pontas
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Há de ser com boiadeiro:
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Tem três pontas o meu chapéu,
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Tá dormindo, tá sonhando,
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Se não tivesse três pontas
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Que as vaca tá no terreiro.
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Não era o meu chapéu [30].
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Bem vindo!
Bem vindo!Esta página foi criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas, tampouco acadêmicas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.
ULISSES PASSARELLI