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Bem vindo!Esta página está sendo criada para retransmitir as muitas informações que ao longo de anos de pesquisas coletei nesta Mesorregião Campo da Vertentes, do centro-sul mineiro, sobretudo na Microrregião de São João del-Rei, minha terra natal, um polo cultural. A cultura popular será o guia deste blog, que não tem finalidades político-partidárias nem lucrativas. Eventualmente temas da história, ecologia e ferrovias serão abordados. Espero que seu conteúdo possa ser útil como documentário das tradições a quantos queiram beber desta fonte e sirva de homenagem e reconhecimento aos nossos mestres do saber, que com grande esforço conservam seus grupos folclóricos, parte significativa de nosso patrimônio imaterial. No rodapé da página inseri link's muito importantes cuja leitura recomendo como essencial: a SALVAGUARDA DO FOLCLORE (da Unesco) e a CARTA DO FOLCLORE BRASILEIRO (da Comissão Nacional de Folclore). Este dois documentos são relevantes orientadores da folclorística. O material de textos, fotos e áudio-visuais que compõe este blog pertencem ao meu acervo, salvo indicação contrária. Ao utilizá-lo para pesquisas, favor respeitar as fontes autorais.


ULISSES PASSARELLI




quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Procissão de São José Operário

... e os tapetes de rua das Águas Férreas

No Dia do Trabalhador, o Bairro Tijuco, em São João del-Rei, vivencia o momento culminante de um festejo católico da maior relevância, preparado por animada novena: a Festa de São José Operário, centrada da igreja matriz desta invocação. 

Igreja Matriz de São José Operário no dia da festa de seu patrono. 
O grande bairro participa intensamente. Após as cerimônias internas o povo vem às ruas para uma concorrida procissão cuja parte musical fica a cargo da centenária e respeitada Banda Theodoro de Faria, sediada na Rua Santo Antônio, neste mesmo bairro. 

A Irmandade do Santíssimo Sacramento local encabeça as duas longas fileiras com suas lanternas e ao centro vai o cruciferário, concentrado em sua função. Pelo centro vem (felizmente) um considerável número de crianças vestidas de anjos, uma antiga tradição, além de importantes corporações do catolicismo, como a Legião de Maria, o Apostolado da Oração, o Terço das Mulheres, os Ministros da Eucaristia, os Coroinhas. Então surgem os esperados andores e os fiéis se aglomeram ao redor. Estão muito enfeitados de flores, primeiro o de Nossa Senhora, depois o de seu festejado Esposo. Antecedendo-os vem os sacerdotes. 

Aspecto da procissão de São José Operário.
As fachadas das casas se encontram enfeitadas de jarras de flores e as melhores toalhas da casa. Janelas recebem cordões de bexigas coloridas de ar (balões de aniversário). Altares improvisados expõe imagens. O aspecto é festivo e o povo sacraliza as vias por onde passará o cortejo. 

Na esquina das Águas Férreas (Rua Operário Luis Andrade com Rua São José), imediatamente após a ponte, moradores desenvolvem um tapete desde a metade desta tarde, sob a liderança de um casal: Geraldo Elói e Júlia Lacerda. Há 29 anos cuidam desta tarefa. A confecção do tapete de rua é uma missão árdua, que sacrifica a coluna pela posição inclinada que se fica para confeccioná-lo, além da limitação do sistema circulatório das pernas, mas ninguém reclama. É feito pelo senso religioso e traz satisfação e a certeza de se estar agradando ao santo.

Tapetes de rua, altares improvisados e adornos de fachada para a passagem da procissão. 
Sua produção em verdade começa meses antes. Não bastando a serragem e areia como outros tapetes, e o enriquecimento de muitas flores conseguidas a pedido nos jardins de vários colaboradores, o casal junta ainda borra de café durante muito tempo, para detalhar o contorno escuro e o que é bem trabalhoso, tampinhas de garrafas de cerveja, pedidas para se juntar nos bares de conhecidos. Com elas montam figuras simples, variadas a cada ano, mas de uma característica muito peculiar. Juntam ainda pétalas e papel picado para jogar no andor. 

Os pitorescos tapetes de tampinha de garrafa de cerveja.

















O cuidado do casal é tamanho com esta tradição, que colhem uma boa quantidade do aromático manjericão para esparramar no asfalto. Quando o povo pisoteia os ramos à passagem da procissão o forte cheiro desta erva exala por todo o ambiente. 

São João del-Rei é uma terra de fé. Esforços como este, sem que ninguém mande, peça ou aconselhe, por simples vontade própria, do fundo do coração, ainda que para um resultado efêmero, o provam sobejamente. 

Notas e Créditos 

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 01/05/2014.


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