Ajoelhou, tem que rezar – começou uma ação, tem que concluí-la.
Antes só que mal acompanhado – a estar em companhia de pessoas
desonestas, de má índole, violentas, é melhor permanecer solitário.
Boca fechada não entra mosquito – não se deve falar demais pois
acaba se dizendo o que não é necessário e causa embaraço.
Boca que não merece beijo, pimenta nela! – pessoa que só fala
asneiras, ofensas, xingamentos, é logo execrada.
Cada macaco em seu galho – cada pessoa deve se ater ao assunto de
seu domínio; cada um deve se conservar nos limites de seu trabalho, sem se
preocupar com o dos outros.
Cada um sabe de si; Deus, de todos – cada indivíduo deve cuidar
exclusivamente de seus problemas, anseios e afazeres, sem se preocupar com a
vida do outro.
Cão que ladra não morde – pessoa que ameaça demais não cumpre
aquilo que ameaçou.
Dado, até injeção na testa – sendo de gratuito, tudo é válido. Variante: “... injeção na veia”.
Dar com uma mão e tirar com a outra – oferecer uma coisa e tomar
outra; trazer um benefício e um prejuízo, simultaneamente.
Deixa eu cuidar da vida que a morte é certa – dito de incentivo à
pró-atividade; cuidar das coisas necessárias ao cotidiano sem perder tempo com
o supérfluo.
Desculpa de peidorreiro é barriga inchada – sempre existe uma culpa
atribuída a algo, quando de fato depende-se da ação da pessoa.
Em festa de jacu, inhambu não entra – entre poderosos, ricos, o
desfavorecido não tem oportunidade.
Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas – onde o perigo é muito
grande, até quem tem proteção se cuida mais.
Farinha pouca... meu pilão primeiro! – quando os recursos são
minguados, primeiro se olha para as próprias necessidades, depois para as
necessidades alheias.
Gato escaldado não cai no pote de água fria – quem já caiu numa cilada,
de qualquer embuste tem medo. Variante: “... tem medo de água fria”.
Levar a fama sem deitar na cama – levar uma fama ruim sendo
inocente. É um ditado contrário a outro: “Fez a fama, deita na cama” , ou, “...
chora na cama, que é lugar quente”.
Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga – não se deve
preocupar excessivamente com o futuro. Deve-se trabalhar e confiar na graça de
Deus.
Não se quebra a perna de um burro por ele dar coice – não se pune
apenas por uma má resposta ou rispidez.
O lobo perde o pelo, mas não perde o vício – o homem maduro dá
sinais de perda da vitalidade mas não perde a libido.
O maior cego é aquele que não quer ver – diz-se da pessoa que teima
em não admitir uma verdade que está às claras, visível por todos.
O melhor da festa é esperar por ela – a ansiedade gerada pela
espera de uma acontecimento, acaba sendo mais satisfatória que o próprio evento
em si, por vezes, decepcionante.
O olho do dono é que engorda o gado – o responsável por um negócio
deve acompanhar de perto a evolução do mesmo, o que garante seu êxito.
Variante: “... engorda o cavalo”.
Papagaio come milho, periquito leva a fama – uma pessoa faz o ato,
outra leva a culpa.
Para agradar ao santo se beija as pedras – para se alcançar um
objetivo, muitas vezes é necessário tomar atitudes indesejadas.
Para quem é, bacalhau basta! – para quem não tem elegância, fineza,
polimento, qualquer coisa serve.
Para quem sabe ler um pingo é letra – para quem tem perspicácia,
qualquer sinal indica ou prenuncia o que ainda não foi revelado.
Pau que nasce torto morre torto – o defeito da personalidade não
tem correção.
Princípio de cantiga é assobio – o início dos acontecimentos é
prenunciado por pequenos fatos.
Quem nasceu para ter pena é galinha – diz-se do sentimento de ter
dó dos outros, ter pena, desestimulando-o.
Quem avisa amigo é – quem alerta o outro de algum perigo ou
problema que sinaliza proximidade é verdadeiramente um amigo.
Quem cala consente – quem é acusado de algo e não se defende está
admitindo a culpa.
Quem casa quer casa – quem ingressa num matrimônio deseja ter sua
individualidade, a própria residência, sem coabitar com outras pessoas que não
apenas o cônjuge.
Quem conta um conto aumenta um ponto – a estória ou o fato, cada
vez que é recontado, vem acrescido de novos elementos.
Quem corre atrás de muito fica sem nenhum – provérbio contrário à
ganância, estimulando a não ser usurário.
Quem deve a Deus paga a Deus; quem deve ao diabo, paga ao diabo –
quem deve paga de qualquer jeito, mas paga a quem deve: se a dívida é com o
lado do bem, pagará aos bons, não aos maus; mas sempre pagará. É um provérbio
que contraria o seguinte desta listagem e em geral é dito entre pessoas de
formação espiritualista. De alguma forma ele vai reiterar o ditado “Fuja de
dever, quer pagar é certo...”, que assegura que de qualquer forma uma punição
virá. Estes provérbios referem-se a uma dívida moral, espiritual, por uma
atitude indevida. Não é dívida monetária.
Quem deve a Deus, paga ao diabo – erros de conduta, as contas serão
cobradas pelo maligno.
Quem gosta de bucho é panela de pressão – ditado comparativo: “bucho”
é termo usado com referência à pessoa indesejada, mal quista; “bucho” de fato é
o termo popular para designar o estômago da vaca, usado como alimento, cozido,
matéria-prima do prato “dobradinha”. O sentido alegórico indica que a pessoa
não tolera pessoa intratável (“bucho”).
Quem gosta de casamento é padre e fotógrafo – referência às
dificuldades e dissabores de uma vida matrimonial. O provérbio é zombeteiro,
referindo-se que quem gosta de casamento é quem ganha dinheiro com ele.
Quem já foi rei nunca perde a majestade – quem teve um cargo
importante, uma vez saído dele, permanece com a empáfia que sustentava enquanto
empossado no mesmo.
Quem morre por gosto, regalo da vida – referência às pessoas que se
habituaram a queixar-se de tudo, a lamentar da sorte, a prenunciar sua própria
doença e morte, sem reagir ou tomar atitude. No geral se refere às pessoas que
exacerbam pequenos problemas para aparentar ao outro grande sofrimento.
Quem não arrisca não petisca – quem não tenta, aposta, arrisca, não
terá chance de alcançar resultados.
Quem nasceu para ter coleira é cachorro – provérbio que renega a
submissão, afirmando com convicção a condição de independência e liberdade.
Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza – quem não
experimentou um prazer da vida, quando o prova, insiste nele até ao exagero.
Quem quebra galho é macaco gordo – a expressão “quebrar galho”
significa fazer favores, prestar benesses. O ditado, em forma de analogia,
renega esta atitude, estimulando que cada um resolva seus próprios problemas.
Quem tem filho barbudo é gato – sentido: que tem de cuidar de
pessoa já adulta, barbado, é a própria pessoa, não outrem. Ditado contrário ao
abuso de quem sem agir, conta com a ajuda alheia.
Quem tem quem por si chora, todo dia morre – quem vive lamentando e
encontra quem consola, não deixa de lamentar; vicia na prática do queixume.
Quem vê cara não vê coração – quem observa apenas a aparência não
capta a essência da pessoa, seu caráter, a personalidade, os valores humanos.
Sua cabeça é seu guia – cada um faz o que quer; o que deve fazer,
orientado pela própria consciência ou desorientado pela falta dela.
Todo pé torto tem seu chinelo velho para calçar – a pessoa por mais
desprovida de atributos que seja _ sempre encontrará alguém que possa agradar
dela e fazer par. Um ditado equivalente é: “Toda panela velha tem sua tampa”.
Um boi solto lambe-se todo – a pessoa que vivia sem liberdade,
quando a alcança, perde-se inebriado pela sensação da liberdade.
Um burro carregado de livro não é doutor – uma pessoa com muito
estudo, mas sem polimento no trato com o próximo não é digno da intelectualidade
adquirida. “Burro” se diz de quem tem pouca inteligência ou estudo, ou no
sentido exato deste provérbio, “burro” é o indivíduo grosseiro, deselegante,
que trata o próximo com rispidez. “Coiceiro”.
Um pai cuida de dez filhos, dez filhos não cuida de um pai – quando
o progenitor precisa de atenção e ajuda, os filhos não fazem pelo pai o sacrifício
correspondente que o pai fez por eles. Uma variante substitui a palavra “cuida”
por “trata”. Esta expressão consta de uma famosa e educativa e emblemática canção
da música caipira, “Moda do Couro de Boi”.
Um tatu cheira o outro – as pessoas se aproximam para convívio por
afinidade de comportamento.
Uns agradam dos olhos, outros da remela – tem pessoas que aparentam
se prender aos defeitos explícitos que o companheiro apresenta, renegando
outras pessoas quem excedem em qualidades. “Remela” é termo popular para a secreção
que se junta no ângulo interno dos olhos.
Notas e Créditos
*Texto: Ulisses Passarelli
Muito bom o resgate destes ditados, sabedoria popular.
ResponderExcluirConheço de outra forma a expressão: "Farinha pouca... meu pirão primeiro."
Gostei
ResponderExcluireu conheço "um gambá cheira o outro"
ResponderExcluiressa do tatu nunca ouvi falar.
Conheço outra... em rio de piranha macaco toma água de canudinho
ResponderExcluirO quê que dizer quem convida dá banquete?
ResponderExcluirReconheci alguns, aprendi muitos! Ótimo!
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