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domingo, 22 de abril de 2018

11º Encontro da Cultura Popular do Caquende

Concluiu-se neste domingo, 22 de abril, o 11º Encontro da Cultura Popular no povoado do Caquende, sito no distrito de São Sebastião da Vitória, município de São João del-Rei, ao seu extremo sudoeste, às margens do Rio Grande, barrado pela Represa de Camargos. Área historicamente muito relevante, foi entrecortada pelo Caminho Velho, hoje incorporado à Estrada Real. Por ali passavam desde os primórdios da colonização mineira os viajantes que vinham de São Paulo rumo às minas de ouro. 

Focado na homenagem e valorização ao trabalho tradicional e a cultura do homem do campo, o encontro álacre enaltece o lavrador, o pequeno produtor rural, o costume dos mutirões, dos toques de viola, das festas de colheita. Tudo no encontro é tematizado neste sentido, inclusive na própria ornamentação e na culinária ofertada aos grupos participantes. O seu valor cultural é inegável e o potencial turístico incontestável.

O encontro não é uma festa da igreja; não é um evento religioso. Todo o esforço, planejamento e execução parte da comunidade e em especial de um grupo de pessoas abnegadas à causa cultural, que em voluntariado, organizaram tudo.

Em tudo e por tudo é uma festa cultural. Isto não impede que o povo por si mesmo homenageie com um Pai Nosso e uma salva de palmas e vivas ao mártir São Sebastião, patrono dos agricultores, pois sua devoção é profundamente enraizada na cultura rural; São Bento foi lembrado na prece para afastar bichos peçonhentos, quando no evento, o grupo de lavradores foi à roça fazer a colheita do milho. E os visitantes se aglomeraram ao redor para ouvir cantorias, ver a quebra das espigas, a reunião das mesmas e de abóboras e morangas em grandes jacás (espécie de balaios), a sua recolhida ao carro de bois, a distribuição de pinga, broas e angu-doce servido na palha do milho aos trabalhadores. Tudo isto transcorrido, o carro veio à tenda e a colheita foi arriada. Em torno deste produto da terra, dançou-se o engenho novo, manifesto coletivo de gratidão. Aproveitando a sonorização, foi explicado a estrutura do carro de bois, cada peça, de que madeira é feita, para que serve, com a orientação do carreiro "Jaraguá". Anunciaram até os nomes dos bois, batizados tradicionalmente: Cigano, Roxinho, Tico-tico, Sabiá, Recreio e Delicado.

E os grupos, daqui e dali tocavam, dançavam e cantavam, cada qual mostrando seu saber. Estiveram presentes: da cidade de São João del-Rei o Grupo de Inculturação "Raízes da Terra", do Bairro São Geraldo, junto ao maracatu; a Folia do Divino "Embaixada Santa", do Bairro São Judas Tadeu (Caieira), a Folia do Divino das Águas Férreas, do Bairro Tijuco; de outros municípios prestigiaram o evento os seguintes congados: de Santa Cruz de Minas ("São Miguel Arcanjo" - catupé), de Prados ("Nossa Senhora do Rosário" - catupé), de Dores de Campos ("Nossa Senhora do Rosário" - marujos), de Carrancas ("Nossa Senhora do Rosário" - congo).

Por todo o largo as crianças brincavam aproveitando o gramado. Na barraca de comes-e-bebes os adultos se confraternizavam. Houve grande movimentação de visitantes, inclusive visitando a exposição de produtos artesanais e objetos

Seguiu o almoço coletivo dos dançantes. Registre-se que foi almoço de grande fartura, delicioso no sabor, apetecível no aroma, higiênico no preparo, elogiado por quantos o provaram. Logo se vê que foi feito com o tempero da boa vontade.

Cortejo na rua, de volta ao largo depois de circulá-lo, sob a tenda, transcorreram as apresentações individuais de cada grupo. Tudo em boa ordem, cumprindo o programado sem atrasos ou atropelos, fechando com a dança do pilão pelo grupo local, Pilão de Nhá, com a maestria de sempre. Ainda pelas tantas, arrematando, veio a banda de música de São Sebastião da Vitória mostrar sua arte musical tão disciplinada.

A coordenação foi cuidadosa: de alvará na mão, lutou pelo planejamento à base da união, coisa que tantos desconhecem. Superando dificuldades a luta foi vencida. Missão cumprida, agora que colham os frutos desse sucesso, um trabalho incomensurável e de extensão educativa, social e cultural incríveis, sem ajuda de quem deveria tê-la dado. Mas é assim mesmo, como quem lavra a terra bruta e nela semeia, que o grupo do Caquende faz. Que venha o próximo encontro, que certamente será tão exitoso quanto os anteriores. Fica consignado nesta postagem o mais sincero parabéns aos responsáveis pelo evento.  



Grupo Pilão de Nhá, do Caquende, preparando-se para se apresentar na tenda:
autenticidade, identidade, dedicação, esforço, ensaio.  

Um par de bonecos, referência aos espantalhos e joões do mato. 

Recepção festiva na tenda. 

Folia da Caieira. 

Manejando uma serra de desdobrar. 

Colheita do milho. 


Congado de Santa Cruz de Minas. 

Congado de Dores de Campos. 

Carro de bois da Zueira.

Congado de Prados.  

Folia das Águas Férreas. 
 
Congado de Carrancas. 

Painel montado na praça contendo cartazes das festas anteriores:
memória, registro, história, referência, folk-comunicação. 

Notas e Créditos

* Texto e fotografias: Ulisses Passarelli
** Revisão: 11/03/2024

Um comentário:

  1. Ainda vou conhecer a festa! De Caquende tenho ótimas lembranças e uns dias, em família, passados aí...

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