Concluiu-se neste domingo, 22 de abril, o 11º Encontro da Cultura Popular no povoado do Caquende, sito no distrito de São Sebastião da Vitória, município de São João del-Rei, ao seu extremo sudoeste, às margens do Rio Grande, barrado pela Represa de Camargos. Área historicamente muito relevante, foi entrecortada pelo Caminho Velho, hoje incorporado à Estrada Real. Por ali passavam desde os primórdios da colonização mineira os viajantes que vinham de São Paulo rumo às minas de ouro.
Focado na homenagem e valorização ao trabalho tradicional e a cultura do homem do campo, o encontro álacre enaltece o lavrador, o pequeno produtor rural, o costume dos mutirões, dos toques de viola, das festas de colheita. Tudo no encontro é tematizado neste sentido, inclusive na própria ornamentação e na culinária ofertada aos grupos participantes. O seu valor cultural é inegável e o potencial turístico incontestável.
O encontro não é uma festa da igreja; não é um evento religioso. Todo o esforço, planejamento e execução parte da comunidade e em especial de um grupo de pessoas abnegadas à causa cultural, que em voluntariado, organizaram tudo.
Em tudo e por tudo é uma festa cultural. Isto não impede que o povo por si mesmo homenageie com um Pai Nosso e uma salva de palmas e vivas ao mártir São Sebastião, patrono dos agricultores, pois sua devoção é profundamente enraizada na cultura rural; São Bento foi lembrado na prece para afastar bichos peçonhentos, quando no evento, o grupo de lavradores foi à roça fazer a colheita do milho. E os visitantes se aglomeraram ao redor para ouvir cantorias, ver a quebra das espigas, a reunião das mesmas e de abóboras e morangas em grandes jacás (espécie de balaios), a sua recolhida ao carro de bois, a distribuição de pinga, broas e angu-doce servido na palha do milho aos trabalhadores. Tudo isto transcorrido, o carro veio à tenda e a colheita foi arriada. Em torno deste produto da terra, dançou-se o engenho novo, manifesto coletivo de gratidão. Aproveitando a sonorização, foi explicado a estrutura do carro de bois, cada peça, de que madeira é feita, para que serve, com a orientação do carreiro "Jaraguá". Anunciaram até os nomes dos bois, batizados tradicionalmente: Cigano, Roxinho, Tico-tico, Sabiá, Recreio e Delicado.
E os grupos, daqui e dali tocavam, dançavam e cantavam, cada qual mostrando seu saber. Estiveram presentes: da cidade de São João del-Rei o Grupo de Inculturação "Raízes da Terra", do Bairro São Geraldo, junto ao maracatu; a Folia do Divino "Embaixada Santa", do Bairro São Judas Tadeu (Caieira), a Folia do Divino das Águas Férreas, do Bairro Tijuco; de outros municípios prestigiaram o evento os seguintes congados: de Santa Cruz de Minas ("São Miguel Arcanjo" - catupé), de Prados ("Nossa Senhora do Rosário" - catupé), de Dores de Campos ("Nossa Senhora do Rosário" - marujos), de Carrancas ("Nossa Senhora do Rosário" - congo).
Por todo o largo as crianças brincavam aproveitando o gramado. Na barraca de comes-e-bebes os adultos se confraternizavam. Houve grande movimentação de visitantes, inclusive visitando a exposição de produtos artesanais e objetos
Seguiu o almoço coletivo dos dançantes. Registre-se que foi almoço de grande fartura, delicioso no sabor, apetecível no aroma, higiênico no preparo, elogiado por quantos o provaram. Logo se vê que foi feito com o tempero da boa vontade.
Cortejo na rua, de volta ao largo depois de circulá-lo, sob a tenda, transcorreram as apresentações individuais de cada grupo. Tudo em boa ordem, cumprindo o programado sem atrasos ou atropelos, fechando com a dança do pilão pelo grupo local, Pilão de Nhá, com a maestria de sempre. Ainda pelas tantas, arrematando, veio a banda de música de São Sebastião da Vitória mostrar sua arte musical tão disciplinada.
A coordenação foi cuidadosa: de alvará na mão, lutou pelo planejamento à base da união, coisa que tantos desconhecem. Superando dificuldades a luta foi vencida. Missão cumprida, agora que colham os frutos desse sucesso, um trabalho incomensurável e de extensão educativa, social e cultural incríveis, sem ajuda de quem deveria tê-la dado. Mas é assim mesmo, como quem lavra a terra bruta e nela semeia, que o grupo do Caquende faz. Que venha o próximo encontro, que certamente será tão exitoso quanto os anteriores. Fica consignado nesta postagem o mais sincero parabéns aos responsáveis pelo evento.
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Ainda vou conhecer a festa! De Caquende tenho ótimas lembranças e uns dias, em família, passados aí...
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