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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Dia da Consciência Negra no Quilombo do Palmital

A pequena comunidade quilombola do Palmital, no município de Nazareno/MG, no Campo das Vertentes, festejou o Dia da Consciência Negra, a efeméride que rememora os feitos históricos de Zumbi dos Palmares, neste último 20 de novembro.  

É uma localidade recôndita, entre cerrados e filões de matas remanescentes, onde, a julgar pelo nome, outrora devesse abundar a palmeira-juçara ou içara (Euterpe edulis, Arecaceae), fonte do palmito, alimento muito procurado, razão de elevado extrativismo, que aliado à destruição da Mata Atlântica pôs esta palmeira em risco de extinção.  O nome tem procedência indígena, do tupi, "yu'sara", que significa "palmito doce". 

Entremeio pequenas propriedades rurais esparsas, centraliza a comunidade uma igreja dedicada a São Sebastião. Diante dela se descortina um grande largo, carente de todo e qualquer tratamento urbanístico. Algumas casas se concentram em redor. Logo se destaca uma gigantesca árvore seca, cujo tronco, judiado pelo tempo, parece ser muito simbólico para a comunidade. 

No meio da manhã já grupos culturais convidados animavam o lugar: o Moçambique Santa Efigênia, formado por congadeiros de São João del-Rei e Santa Cruz de Minas, o grupo de Inculturação Afro-descendentes Raízes da Serra, de São João del-Rei, a Capoeira Biriba de Ouro, da mesma cidade e a Folia de Reis de Coqueiros (Nazareno), que traz como lema na camisa a curiosa expressão "Vai da boa vontade". 

Os grupos se apresentaram livremente e visitaram a igreja. Foi-lhes servido lauto almoço, com destaque para a feijoada e o frango com ora-pro-nobis e para completar, como sobremesa, canjica, arroz-doce e doce de leite, maravilhas da culinária típica. Diga-se de passagem, o almoço foi franqueado aos presentes em geral e não apenas aos dançantes. 

Na parte da tarde aconteceram apresentações individuais junto ao palanque. O povo do lugar prestigiou intensamente as manifestações. No todo a festividade se equipara à do Jaguara, outra comunidade quilombola do mesmo município, que motivou uma postagem deste blog ano passado (vide link ao final desta). 

Observando o lugar, sua riqueza humana, as possibilidades múltiplas que a natureza possibilita, vislumbrando sua cultura, é de se pensar no potencial do quilombo alicerçado num projeto amplo e criterioso de sustentabilidade e manutenção do homem na terra, com nuances sociais, educacionais, culturais, ecológicas, arqueológicas, etc. Seria muito bem vindo um bom projeto para o lugar. 

Igreja de São Sebastião, Palmital (Nazareno). 

Grupo de Inculturação Afro-descendentes Raízes da Terra,
de São João del-Rei. 

Plantação de mandioca e uma casa no Palmital.

Para chegar à festa, o povo vem à cavalo, ou de motocicleta... 

... mas também vem ao festejo a pé. 

Festa é ocasião de reencontro, bate-papo, confraternização. 

Entrada da comunidade quilombola. 

Alguns participantes da Folia de Coqueiros. 

Passagem de um rally.

Capoeira. 

Largo em festa: moçambique, folia, capoeira. 

Todos os grupos culturais, visitantes e moradores se irmanam dançando e cantando
 em redor da grande árvore seca, símbolo do lugar.  

Córrego do Palmital junto ao povoado e tubulação de água.
Afluente da margem esquerda do Rio das Mortes.
  
Créditos

Texto: Ulisses Passarelli.
Fotografias: Iago C.S. Passarelli, 20/11/2016.

Notas 

Revisão em 08/04/2025. 
Leia também: JAGUARA... QUE NOME É ESTE?   

Referências na internet

Içara (palmeira). Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/I%C3%A7ara_(palmeira)

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