Dando seguimento à série de exposição da coletânea de trovinhas românticas, o blog apresenta mais uma postagem com cinquenta quadras populares. Até cerca de duas décadas ou pouco mais faziam parte do galanteio, escritas em cartas e bilhetes enviados aos pretendidos, numa época que não se dispunha de recursos eletrônicos como hoje, nem redes sociais e mecanismos de mensagem digital. As jovens colecionavam trovas anotadas em cadernos próprios, reserva para o uso na ocasião propícia.
Nas outras edições desta temática, lincadas ao final desta postagem o leitor se depara com outras coletâneas de quadras e de informações complementares sobre este assunto.
Sentadinha na graminha,
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Da sua casa na minha
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Molhadinha de sereno,
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Tem vinte e cinco passadas;
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Vou escrever uma cartinha
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Se eu não te quisesse bem
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Mandar pro meu moreno.
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Não trazia elas contadas.
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Esta carta vai te ver,
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A folha da ... (bananeira, ameixeira, etc.)
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Vou também te visitar;
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De tão verde amarelou;
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Como não posso ir
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A boca desse menino,
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Mando ela em meu lugar.
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De tão doce açucarou.
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Vai cartinha venturosa
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Coqueiro tão alto
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Por esse caminho sem fim,
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Tá correndo ouro na ponta;
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Vai ver se meu amor
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Os olhos desse moreno
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Ainda gosta de mim.
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Tá correndo por minha conta.
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Quando essa carta chegar
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Encosta na parede
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Em suas mãos de marfim
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Que a parede larga pó;
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Você olha no galho de flor
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Encosta no meu peito,
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Dá um suspiro pra mim.
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Que eu sou firme a você só.
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Pega aqui na minha mão
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Não quero sua camisa
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Vou te dar meu desengano;
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Nem o seu botão do peito;
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Peço a Deus que você seja
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Quero só que você dê
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Meu amor por muitos anos.
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A sua mão direita.
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Bota fogo na fundanga
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Da roseira nasce a rosa,
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Tira esse mal de mim;
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Da rosa nasce o perfume;
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Numa fumaça que sobe,
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Do perfume nasce o amor,
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Traz meu amor pra mim. [1]
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Do amor nasce o ciúme.
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Escrevi seu nome na areia,
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Do céu quero a estrela,
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A onda veio e apagou;
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Da terra quero a flor,
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Escrevi que te amo,
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De você quero um beijo
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Você veio e me beijou.
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Dado com muito amor.
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Esta noite eu tive um sonho,
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Você disse que me amava,
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Na praia do mar sereno,
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Um dia tão gentil;
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Sonhei que estava beijando,
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Pena que aquele dia
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Um lindo rosto moreno.
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Era primeiro de abril. [2]
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Na folha da bananeira
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Teu olhar me domina
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Seu nome vou escrever
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Teu rosto me deixa louca,
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Se eu não for feliz contigo
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Teus lábios me adormecem
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Com outra não quero ser. [3]
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Com um só beijo na boca.
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Se você ama a Deus
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Dos pássaros da mata
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Que morreu por tanta gente,
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O mais lindo é o beija-flor;
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Porque não ama a mim
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Da casa da minha sogra,
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Que morro por ti somente.
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O mais lindo é o meu amor.
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Neste dia de festa
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Desde que te conheci
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Se quiseres ser feliz,
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Começou meu sofrimento,
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Me dê um beijo na testa
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Pois seu rosto encantado
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Ou debaixo do nariz.
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Não me sai do pensamento.
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Um dia você me deu o fora
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O teu sorriso é lindo
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Pensando que eu choraria,
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Só me traz felicidade
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Não choro por pai e mãe
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Por viver longe de ti
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Vou chorar por porcaria... [4]
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Vivo sempre com saudade.
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Brilham cinco estrelas no céu
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Todo amor que morre
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Brilham cinco rosas no jardim
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Me deixa sem ar,
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Brilham mais seus olhos
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Todo amor que começa
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Quando olham para mim.
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Me ensina a respirar.
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Deitado na cama
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Amo e não sou amado,
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Teu lindo nome escrevi
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Quero e não sou querido,
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Soletrando letra por letra
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Mas um consolo tenho
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Sorrindo adormeci.
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Amo e não sou fingido.
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Quando o céu da imensidade
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Quando eu te amava
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Cobre a tarde da beleza
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Era a flor do meu canteiro.
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Vê-se a imagem da saudade
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Agora, que te odeio,
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Sobre o altar da natureza. [5]
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É o porco do meu chiqueiro...
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Amo uma linda menina
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Queria ser um cigarro
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Que tanto me faz sofrer
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Para seus lábios encontrar
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Meu maior desejo
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Mas como não sou
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É nos braços dela viver.
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Quero seus lábios beijar.
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Felicidade, meu bem,
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A paixão e a saudade
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É tudo que agente sente,
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São duas fiéis companheiras:
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Quando gosta de alguém
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A paixão dura pouco,
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Que também gosta da gente.
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A saudade, a vida inteira...
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Sou jovem criança
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Quem ama sofre calado
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Que neste mundo apareço
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Ocultando sua dor;
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Amar e não ser amado
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Não há silêncio mais lindo
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Isto não mereço.
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Que o silêncio do amor.
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O cravo também se muda
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Amo a rosa branca
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Do jardim para o deserto
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Que nasceu em teu jardim;
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De longe também se ama
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Amo tua mãe querida
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Quem não se pode amar de perto.
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Que criou você pra mim.
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Meu caro beija-flor,
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O sol prometeu à lua
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Que mora na pedra oca:
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Uma fita com dois laços,
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Toda menina bonita
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Eu prometo a você
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Merece um beijo na boca.
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Muitos beijos e abraços. [6]
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Se o dia escurecer
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O coração é ingrato,
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E a tarde chover
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Só faz aquilo que sente,
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Lembre-se que são meus olhos
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Faz agente gostar
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Que choram por não te ver.
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De quem não gosta da gente.
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Eu não quero mais amar
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O mundo não é dois mundos,
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Pois faz a gente sofrer;
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O céu não tem várias cores,
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Pois aquele que a gente ama
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Quem te deu um coração,
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Nunca sabe agradecer.
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Não pode ter dois amores.
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Sei que você não me quer
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Sua boca é pequena
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Sei que você não me ama,
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Tão pequena e singela
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Mas quero que seja feliz
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Eu não sei como cabe
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Nos braços de quem te ama.
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Tantos beijos dentro dela.
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Da amizade ao amor,
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O jasmim para ser gostoso
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Do amor à saudade,
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Tem que ser pesado,
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Da saudade à tristeza
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O beijo para ser gostoso
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De quem ama de verdade.
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Tem que ser demorado.
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Sua boca é uma rosa
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Quer saber meu nome,
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Seu nariz é um botão,
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Vá à noite no jardim.
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Dentro dos teus olhos tem um laço
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Meu nome está escrito,
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Que prende meu coração.
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Numa folha de jasmim.
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Notas e Créditos
* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Agradecimento especial: Cida Salles, pela cessão do caderno com anotações das quadras, colhidas em Santa Cruz de Minas entre 1994 e 1996.
*** Veja também neste blog as outras postagens desta série clicando nos links abaixo:
QUADRINHAS DE AMOR - parte 4
[1]
- Fundanga: o mesmo fundenga, pólvora. Esta quadra nitidamente é uma referência
a rituais de terreiro. Nalgumas casas de umbanda usa-se queimar pequena porção
de pólvora, quase sempre polvilhada sobre um ponto de entidade riscado no chão,
com o intuito de descarregar as energias mais pesadas e negativas que
acompanham o consulente. Enquanto a fumaça da queima sobe, o sujeito da trova
faz seu pedido.
[2]
- Primeiro de abril: tradicionalmente conhecido por Dia da Mentira, quando se usa pregar peças, contar pequenas
mentiras por divertimento, armar situações supostamente verdadeiras só por
gracejo.
[3]
- Esta quadra é um tanto mais rara por se referir a um desejo do homem, muito embora
facilmente adaptável para uso feminino. Na imensa maioria o escrito parte da
mulher.
[4]
- Trova de amor do grupo dos desencantos, desilusões, relativamente numerosas.
Algumas são chulas e sarcásticas, senão mesmo, ácidas. “Dar o fora” é rejeitar (expressão popular).
[5]
- Rima incomum nas trovas populares: ABAB
(rima alternada, cruzada ou entrelaçada) enquanto a imensa maioria adota o
esquema ABCB (rima misturada). É
visível a influência erudita na forma e no enunciado, absorvida na mesma funcionalidade.
[6]
- A poesia popular romântica considera o sol e a lua namorados
desencontrados... um surge no céu, outro se vai.
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